–HAHAHA! QUE IRADO! - Ele balançava o cabelo. O loiro parecia mais dourado e a pele de Daniel, mais bronzeada.

–Daniel! - Eu disse em tom de impaciencia.

–Luciana, é só uma coincidencia... Deixa disso...

–Daniel, nós encontramos esse diario dentro de um armario cercado por sombras que só nos vemos... Eu nao acredito mais em coincidencias!

–Tem razao...

–Quem é o inutil agora?

–Va se fuder!

Descemos juntos de maos dadas e tomamos cafe antes da mae de Daniel levantar.

Infelizmente, Larissa estava acordada e atenta à tudo ao seu redor. Ela me lançou um olhar de morte, Daniel abafou o riso e se aproximou dela, disse alguma coisa em seu ouvido e ela se acalmou.

Foi entao a MINHA vez de ficar zangada. Qual era a relação deles afinal? Qual era a nossa relaçao? Eu era por acaso só mais uma Gabi para ele?

Daniel percebeu que eu estava chateada e nao disse nada, só o que fez foi me preparar o melhor cafe da manha de todos os tempos. Esquentou cafe, fez omeletes, sanduiches e panquecas, sem falar no suco de maçã. Quando vi tudo aquilo fiquei de boca aberta.

–VOCE COZINHA?! - Eu falei em voz alta e Larissa revirou os olhos estendendo o prato para receber a panqueca.

–Haha! Nem todo mundo é inutil como voce Luciana. - Ele falou virando com a expressao tipica dele, somente a sobrancelha esquerda levantada e um meio sorriso, sem falar em seu olhar sedutor.

Respirei fundo para acalmar meu coração. Eu nao podia esquecer que estava com raiva dele...

–Vai se fuder. - Eu disse por fim, mas queria dizer muito mais.

Sentei na mesa ao lado de Daniel, em frente a Larissa. Se na noite anterior ela tinha conversado comigo e sido minimamente educada, agora ela era fria e rude...

Fiquei um pouco sem graça, e por incrivel que pareça nao fiquei chateada com ela. Estava furiosa com Daniel. Ele percebeu e manteve sua distancia.

Mais tarde voltamos para o quarto de Daniel, ele ia se arrumar para o colegio, e eu iria ficar sozinha em sua casa à espera do telefonema de minha mão avisando o fim da era Pete. Como se isso fosse possível.

Mas Aurora, a mae de Daniel, nao deveria saber que eu nao havia ido pra aula, e nem voltado para casa, muito menos dormido no quarto de Daniel. Eu ficaria dentro da casa clandestinamente.

Enquanto Daniel se arrumava em seu banheiro, eu fiquei sentada na cama sentindo o cheiro dele invadindo meu corpo através de seu pijama.

–O que foi? - Ele disse com a escova de dente na boca.

–Eu nao quero ser mais uma Gabi... Nem mais uma larissa... - Respirei fundo e balançei a cabeça. - Mais importante que isso, qual era mesmo o nome do seu avô?

–Miguel. - Ele respondeu depois foi a pia cuspir. Voltou com uma toalha de rosto pendurada no ombro. - Mas meu bisavô chamava-se Gabriel... Ele era o dono do diário.

– Hm... - Eu disse voltando meu olhar para o caderno. Daniel suspirou e se sentou ao meu lado.

–Em relação ao outro comentario... - Mais um suspiro. Dessa vez bem longo. - Voce nao é outra Gabi. E se te acalmar, prometo nao sair mais com a Gabi...

–Hm... - Eu respondi sem olhar para ele. Devagar, Daniel puxou meu queixo para sua direçao e me beijou.

–Estamos bem? - Ele disse pousando a mão no meu joelho e eu sorri. Ainda com raiva.

–Estamos regular. - Respondi. - Ficaremos bem depois de descobrir o que é esse caderno...

–Ah... - Daniel disse apertando os olhos em direção ao relógio. - Vou chegar atrasado...

Eu sorri e saí do quarto em direção ao quarto de hospedes. Troquei de roupa a contragosto, e subi novamente para a frente do quarto dele.

–Siga o plano direito ok? - Ele me disse quando descemos as escadas pela terceira vez. Eu concordei com a cabeça.

O plano era simples, eu fingia sair mais cedo para pegar minhas coisas em casa. Logo depois que Aurora saisse com Daniel, Larissa e as crianças eu voltaria para a casa dos Grigori.

Daniel iria esconder as chaves em um vaso de flores. Mais tarde, antes de Aurora voltar do trabalho eu iria sair e fingir chegar mais tarde na casa para a aula particular. Era simples, eu so precisava ficar de olho no relogio e seguir o combinado a risca.

As coisas correram bem pela manhã. Passei o tempo inteiro na casa, trancafiada no quarto de Daniel, mergulhada no maldito livro escrito a mão.

Pesquisei o maximo que pude, mas aquelas palavras nao faziam sentido algum. Usei todas as ferramentas possiveis, livros, dicionarios, sites de busca. Mas nada ajudou.

Quem quer que fosse o autor, escreveu em linguas variadas e muito antigas. Ele nao queria que qualquer um pudesse ler o que estava escrito ali.

Voltei então para a página onde vi o nome de Daniel escrito. Nada além do que eu ja havia visto. Suspirei e resolvi analisar os desenhos no início do caderno. Olhar mais a fundo...

A princípio nao notei nada, mas depois de um tempo me assustei. Era como se Daniel tivesse desenhado aquilo, era exatamente seu estilo, a força aplicada pelo lapis no papel, o sombreamento, as linhas, tudo lembrava o modo de Daniel desenhar.

E o desenho era sempre de mulheres. De vários lugares e vários países. Mas uma coisa em comum. A mesma expressão triste e de dor profunda em seus olhos. Uma dor que eu quase podia sentir.

Procurei por mais pistas mas nada apareceu e no meio de um ataque de frustração, arremecei o caderno sobre a parede. Quando caiu no chão, a capa do caderno se rasgou mostrando que haviam na verdade uma outra capa por debaixo daquela.

E entre as duas, havia uma porção de papéis. Peguei todos e coloquei-os em cima da mesa. Eles estavam na minha lingua! Quase gritei de alegria! Olhei bem para cada folha de papel.

A tinta estava intacta e a grafia era bonita e levemente torta. Uma grafia simples. Comecei a ler o conteúdo das folhas e quase chorei de excitação.

Os papéis eram cartas. Cartas de amor endereçadas a Daniel...