Already Fallen escrita por lmbrasileiro


Capítulo 14
O quinto tópico.




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Depois da aula fui direto pra casa. Tentei, de verdade, chegar no horário, mas ainda assim, quando abri a porta, eu estava dez minutos atrasada.

Pode parecer pouco, mas na minha rotina, nao é. Dez minutos é o tempo necessário para que eu nao encontre com meu novo padrasto pela casa. Minha agenda girava em torno de sua presença e em uma maneira de evitá-lo. Ainda assim, demos de cara um com o outro.

–Veja só quem resolveu nos dar o ar de sua graça! - Ele falou levantando o cigarro de maconha.

Ele era pelo menos uns dez anos mais novo que minha mãe. E mesmo que tivesse um rosto bonito, fedia, bebia e jogava. Pensei em responder pra ele, mas nao estava no clima, só revirei os olhos e fui direto para meu quarto.

Nao é que quisesse mamãe se transformando em uma solteirona solitária , ou que voltasse com o papai (deus me livre), mas é só que... ele era um saco. Ele nao respeitava a mim nem a ela.

Sempre que ela dava as costas ele tentava me convencer de nós deveríamos ter um caso. Digo isso com palavras educadas e polidas, mas ele nao falava assim. Por deus! Como eu queria que ele falasse assim...

Apesar de eu tentar sempre ignorar sua presença. E ele fazia o mesmo quando mamae estava em casa, isso acabava tornando as coisas mais fáceis. Mas tinha dias em que ele acordava inspirado, e nesses dias quem pagava o pato era eu.

No meu quarto, tranquei a porta e examinei minha lista de acontecimentos suspeitos com cuidado, acrescentei o que eu gostaria de ter acrescentado se nao tivesse sido interrompida pelo prof. Sebastian. No final a lista ficou assim:

1- Prof. Sebatian nao chama Cameron e Anne pelo sobrenome.

2-"Nao diga nada desnecessario, NEFIL"

3-Meus pesadelos.

Eu bem sei que meus pesadelos nao deveriam entrar na lista, sempre os tive desde pequena. O problema é que eles pioravam a cada dia, desde que eu entrei naquela escola.

O resto dos tópicos que tentei levantar se resumia a Cameron e a todas as coisas que ele ja tinha dito, por isso preferi resumir tudo em um quarto topico que denominei "Cam".

De tarde quando chegou na hora de ir para a casa de Daniel, eu me levantei e me arrumei. Por algum motivo, decidi por um short. Péssima escolha avaliando minhas condiçoes. Antes de sair, meu padrasto fez questao de fazer uma piadinha.

–Luciana estudar? Em casa de garoto? RÁ! Pelo amor de deus! É obvio que essa menina vai fazer tudo, TUUUDO, menos estudar!

Olhei para ele com tanto odio que senti meu corpo queimar. Vi uma faca em cima do balcão e por pouco nao peguei e a arremessei na direçao do maldito. Respirei fundo e fui até a cozinha.

Encarei minha mãe com o meu pior olhar. Ela sabia que eu a odiava por isso. Ainda que nao chegasse perto do ódio que eu tinha por ele. Peguei uma maçã e voltei para a porta. Ele segurou meu pulso quando passei pela poltrona.

–Ta levando camisinha boneca? - Ele sussurrou para que mamae nao ouvísse. - Nao quero que nenhuma criança entre nesse seu bucho e estrague esse corpinho antes que eu possa provar.

Levantei minha mão o mais alto que pude e então desci com toda minha força no rosto mal lavado de Pete. Ele apertou meu pulso com mais força e cheguei a pensar que fosse quebrar.

–AI! - Gritei de dor e ele me jogou contra a parede.

–PARA PETE!! - Minha mae gritou. Contudo, a semente do mal estava lançada. Ela me deu um olhar de suplica e disse: - Por quanto tempo isso ainda vai continuar?

– EU É QUE PERGUNTO! - Gritei me levantando do chão. Pete encarava minhas pernas.

Fiquei furiosa! Um homem estranho batia, assediava verbalmente, humilhava a filha dela e ela só se importava com o fato de eu estar tendo aulas particulares na casa de um menino. Virei as costas para que ela nao visse minhas lagrimas e segui em direção a porta.

–LUCIANA! - Ela gritou da cozinha. - QUE HORAS VOCE VOLTA?!

–NAO SEI! - Corri para a fora escondendo o rosto. Mas no meio do caminho mudeu de idéia, virei para tras, mamae viu minhas lágrimas e tomou um susto - Só ponho os pes nessa casa de novo quando esse filho da puta sair...

Minha voz saiu grave e minha expressão era séria. Mamãe sabia que eu falava a verdade. E eu sei que ela se perguntava o que havia feito com que eu explodisse daquela forma. É claro... Ela nao ouvia o que eu ouvia.

Nem adiantava falar. Ela diria que eu estava mentindo como sempre fez. Sempre.

–Taadinha deela! Luciana vai ficar sem casinha... - Disse Pete aparecendo por trás de mamae e abraçando sua cintura. Tive vontade de vomitar.

Subi na bicicleta e pedalei o mais rápido que pude, tudo para nao voar em seu pescoço. Era dificil de guiar com a vista embaçada, por isso caí duas vezes. Mas nao parei.

Quando cheguei a casa de Daniel, toquei a campainha torcendo para que ele ou um dos gemeos atendesse. Se eu disse a Aurora o que havia acontecido... Eu nao tinha ideia do que ela faria.

Daniel atendeu a porta, eu estava transtornada, quando o vi suspirei de alivio, mas ele ficou paralisado ao ver lagrimas em meus olhos, por fim me abraçou. Enquanto estava envolvida por seus braços nao me importei com mais nada, porem cedo demais ele me largou.

– O que aconteceu Luciana? - Em meio a soluços, lhe contei tudo sobre meu "padrasto", sobre meu irmao estar longe, sobre minha mae achar que eu era uma vadia. Ele ouviu tudo com atenção, a cada palavra minha, seus olhos ficavam mais e mais cinzentos, enfim me abraçou de novo.

Ele olhou com carinho para as marcas de dedo que Pete deixara no meu braço. Tocou de leve no local e eu senti que ele queria chorar tanto quanto eu.

Ficamos assim por um bom tempo, ate que ouvimos a voz de Aurora vindo de dentro da cozinha. Daniel fechou a porta devagar e sussurou no meu ouvido:

–Vamos para longe daqui ok? - Fiz que sim com a cabeça.

Fomos até a garagem e ele subiu em sua moto. Subi na garupa sem fazer peguntas. Passei os braços em volta de sua cintura e nós partimos.

Nao importa para onde iamos, naquele momento, so o que eu queria era contiunar ali, sentindo o cheiro suave de Daniel. Seu perfume era masculino, mas doce. Entrei em transe, e nem percebi quando chegamos ao nosso destino. Ele havia me levado a praia. Eu sorri.

Adorava o mar, o cheiro do sal, o som das ondas. Andamos por alguns minutos com os pés na agua, ate que Daniel disse que queria me mostrar um lugar, eu o acompanhei sem medo.

Ele me levou para um lugar mais afastado da praia, dois montes de areia haviam preso a agua, criando um pequeno lago de agua salgada por conta da maré seca. O lago era relativamente grande, e um tanto fundo. Um trapiche cortava-o ao meio.

Havia uma camada fina de neblina cobrindo aquele pedaço da praia, e pouco a pouco o sol começava a se esconder. Nao havia mais ninguem alem de mim e Daniel.

Sentamos no meio do trapiche, nossos ombros se encostavam. De repente peguei a mao de Daniel e ao contrario do que imaginava, ele nao recuou. Enquanto ficavamos ali, de maos dadas, os vultos negros apareceram.

Apertei a mão de Daniel e ele retribuiu. Meu corpo pegava fogo, e quanto mais me aproximava de Daniel, mais vultos surgiam.

Naquele momento decidi qual seria o quinto topico para minha lista, ele se chamaria "Daniel".


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