Tentei com todas as minhas forças fechar os olhos, eu queria dormir, queria acordar com uma aparência renovada, infelizmente, meu cérebro parecia ter outros planos. Aquele maldito sonho nao queria sair da minha cabeça. Ja havia me esquecido da maior parte, mas os olhos permaneciam grudados em minha memoria, olhos de umvioleta forte, brilhantes. Eles chamavam por um nome, e por mais que eu tentasse, nao conseguia me lembrar do maldito nome.

Olhei fixamente para a parede durante horas, na esperança de que o sono viesse, não veio. Desisti de lutar e me levantei, ja que nao havia outra escolha, minha unica opçao foi calçar minhas pantufase me dirigir ao meu ateliê, que ficava nos fundos da casa. Tentei ao máximo nao fazer barulho algum ate sentir o doce aroma de tinta, lapis de cor e papel.

Uma vez lá, nao precisava ter medo de acordar ninguem, as paredes forradas eram minha proteção, e aquele comodo era o meu santuario. Abri a gaveta maior e retirei de duas folhas de papel canson na abri a sengunda gaveta colhi lapis e borracha, com muita cautela, destranquei a terceira gaveta, e furtivamente peguei meu maço de cigarros. Era a unica coisa que podia me acalmar naquela noite.

Passei horas desenhando aqueles olhos, lembrando da voz que me chamava. Quando dei por mim, ja havia fumado todos os meus cigarros, abri as cortinas e levei um susto ao perceber que ja era de manha, subi correndo antes que minha mae acordasse, tomei banho a fim de tirar o cheiro de tabaco do cabelo e me deitei, fingindo dormir.

Ouvi seus passos sairem do quarto ate acozinha, em seguida, ouvi sua voz chamar:

-LUANA! JA CHEGA DE DORMIR! DESCE E VEM TOMAR CAFE! 

Lavei o rosto, e troquei de roupa, coloquei uma calsa legging rasgada nos joelhos, meu all-star mais surrado (por sinal, meu preferido) e uma blusa velha e larga que havia roubado do meu irmao, Frederick, nela havia escrito "beatiful loser", e havia desenhos de rosas, ja desbotadas.

Minha mae olhou com desprezo para meu visual, mordeu a lingua para nao falar nada, mas nao se conteve:

-Voce vai assim?

-Vou! por que? - respondi mal-criada.

-No primeiro dia de aula? - ela disse me olhando da cabeça aos pés.

-Qual o problema mae? - Falei com um tom um pouco mais ríspido do que desejave me servindo de uma farta xícara de café preto. Sem açucar.

-Parece que voce pulou na gaveta de um brecho e saiu do outro lado com o que tinha la dentro. - Ela disse passando geléia na torrada de uma forma tão violenta que esperei pelo momento de a pobre torrada começar a sangrar.

Nao conseguir prender o riso, as piadas da minha mae eram aquele tipo de piada que fazem voce rir por pena, so para dar um consolo. Logo me lembrei que aquilo era um cabo de guerra, e se eu afrouxasse, acabaria indo pra escola de festido rendado e sapato de boneca lustrado, por isso disse sarcasticamente:

-Tem razao, melhor ir sem nada! - Minha mãe levantou os olhos imediatamente, ela sentia que eu nao ia deixar barato. Eu mantive meu sorriso mais deslavado no rosto.

Tirei a blusa no meio da cozinha e joguei no chao. Antes de desabotoar a calça, minha mae pediu desculpas pelo comentario, do jeito dela. Me deu um tapa na parte de tras da cabeça, e perguntou se eu tinha ficado louca, juntou a blusa do chao e disse que se eu nao me vestisse e tomasse cafe logo iria chegar atrasada, atrasada e cheia de hematomas. Ri baixinho de suas ameaças, sabendo que nunca teria coragem para cumprir.

A caminho da escola, me perguntei o que meu irmao estaria fazendo agora. Provavelmente abrindo cadaveres so pra ver de que sao feitos, como se ja nao soubessem. Meu irmao fazia medicina em Harvard. Eu sempre disse que ele era a parte inteligente da familia, e eu a parte bonita. Ele sabia que eu tinha razao.

-Mãe, Frederick ligou? - Eu disse enquanto mordia minha torrada (aquela que havia sido espancada minutos antes). Sem ligar muito pro horário.

-Ligou... Pelo que parece ele nao vai vir pros feriados esse ano. De novo. - Ela suspirou. Nós duas sabíamos o motivo de ele nao vir. Mas eu nao disse nada, só terminei o café e deixei mamãe me levar para a escola.

Quando desci do carro, senti um aperto no estomago, todas as meninas incrivelmente maquiadas, com salto altissimos, roupas coladas, cintilantese curtas, muito curtas. Segui para meu armario, ja havia pego a senha na tarde anterior, quando minha mae me obrigara a ligar para o diretor para perguntar. Chequei meu horario e vi que tinha aula de religiao, odiava aula de religiao.

Relutante segui para a sala, rezando para que nao houvesse nenhuma menina incrivelmente produzida lá, a caminho da sala, esbarrei com uma jovem de cabelos pretos curtos, ela usava um tubinho preto e uma maquiagem incrivelmente pesada, por incrivel que pareça, ela me deu um sorriso agradavel como se me conhecesse a muitíssimo tempo e seguiu para sua sala de aula, acompanhada por duas outras garotas.

Aquilo me acalmou, e por um minuto me senti bem, por um  breve minuto. Quando entrei na sala, tomei uma susto tao grande, como se tivesse levado um tapa na cara, senti meu coraçao bater tao forte ao ponto de explodir, meu joelhos perderam as forças e começaram a tremer, meu estomago virou do avesso e senti todo meu cafe subir ate a garganta. Sentado de cabeça baixa, ele estava lendo, exitei. Quando levantou os olhos, minhas duvidas sumiram. Olhos violeta, pensei. Depois disso, nao pensei em mais nada.