Pov. Austin

– Então, - Ally começou - nós não vamos mesmo ir com eles ? - Perguntou. Havia movimento no primeiro e boa parte do segundo andar da casa. Eles já deveriam ter saído á um bom tempo mas estão sempre atrasados. Até quando simplesmente não tem hora pra nada.

– E você quer ir ? - Perguntei, ficando quase emburrado. Estávamos deitados na cama, lado a lado, encarando o teto, nos olhando depois de alguns minutos e conversando. - O pessoal vai fazer uma trilha, praticamente, vai ter árvores, mosquitos, insetos e talvez esteja quente demais. - Fiz uma cara de nojo e ela revirou os olhos, parecendo não se importar com nenhuma dessas coisas. - Isso não te incomoda ?

– Não. - Respondeu, parecendo mesmo sincera. Mas, qual é, que garota realmente gostava dessas coisas ?

– Sério ? - Perguntei. - Que tipo de garota você é ?

Com certeza, nem um pouco igual ás outras.

Pensei. E isso era verdade. Eu sabia. Mas eu queria ficar com ela, sozinho. Parecia que nenhum tempo que tivéssemos juntos era o bastante. Não era o bastante pra mim. Eu poderia ficar o dia todo simplesmente admirando os raros momentos - que estão começando a se repetir, - em que suas bochechas coravam; ou olhando para os seus olhos castanhos sempre arregalados e atentos; ou olhando para seus lábios rosados, finos e carnudos, que eu gostaria de beijar por um longo tempo.

Mas acho que isso não importa muito.

– O tipo que gosta de desafios. - Ela disse, balançando a cabeça como se lembrasse dela. - O tipo que daria uma bolada de propósito na cara de vadia da princesa da escola e que riria muito feliz com isso. - Ela sorriu, lembrando do "acidente" com Kira e uma bola de vôlei. - O tipo que fica brava quando alguém derruba suco em você.

Ai, essa era uma coisa complicada.

Digamos que, a primeira vez que vi Ally na escola foi um pouco estranha. Logo depois dela ter lido aquele texto - ou poesia -, na aula de literatura, eu a procurei na hora do intervalo. Curiosidade, talvez, mas eu sempre senti que precisava estar com ela, de qualquer maneira possível.

– Aquilo foi a Kira. - Falei, me lembrando do suco voador, ou pelo menos eu chamei assim na hora.

– Eu sei. - Ela disse. - Eu deveria ter jogado alguma coisa nela também.

Sorri, me lembrando daquele dia. Não foi exatamente bom, mas foi a primeira vez que nós conversamos. Bem, não foi exatamente uma conversa, mas é, ainda conta.

"Assim que o sinal tocou, dando fim á aula de literatura, vi a garota nova parecer mais relaxada, provavelmente louca para sair da sala, como todo mundo. Eu estava olhando pra ela, quase que fixamente,notando como ela fechava e guardava seus cadernos rápido e como parecia meio atrapalhada. Ri com aquilo. Ela foi a última a sair da sala, quer dizer, a penúltima, porque eu tinha ficado realmente ocupado demais a observando e não me toquei de que tinha que sair também.

Depois do meu pequeno transe, segui para fora da sala com os passos tão rápidos quanto os da garota. Na verdade, eu estava a seguindo. E isso era estranho, afinal, eu não a conhecia, não sabia nem sequer seu nome, absolutamente nada. Mas minhas pernas continuavam se movendo em direção á ela. Parei, quando ela parou também. A morena se virou, certamente com a impressão certa de que estava sendo seguida, e eu me virei também, como se estivesse seguindo na direção contrária. Quando olhei de volta, seus passos já estavam acelerados de novo.

Ela parou quando chegou ao seu armário. E eu estava decidido a ir até ela, já estava quase chegando quando fui parado por uma mão no meu peito.

Eu estava ocupado demais perseguindo a novata que não vi Kira quase ao meu lado.

– Você não me cumprimentou hoje. - Ela reclamou, fazendo biquinho. O que era, honestamente, ridículo quando se tratava dela e toda sua falsidade e insanidade.

– Eu não te vi antes.

– Isso é mentira. - Kira disse, quase cantarolando, mas sua voz estava num tom irritante, o tom que ela usava porque era mimada e mal acostumada, como se aquilo fosse a fazer ter mais atenção. - Nos vimos na entrada, mas você me ignorou.

É, isso era verdade. Mas eu estava a evitando. Eu sempre a estava evitando. E o fato de não sermos amigos e nem um pouco próximos irritava meu pai por causa da sua amizade com Jimmy, e todas aquelas merdas do trabalho deles juntos. Mas eu simplesmente queria distância dela e do seu mundinho inventado. Na verdade, seria muito engraçado a ver encarando o mundo real, aonde as pessoas tem que lutar para terem o que querem e não simplesmente estalar os dedos, como ela sempre fazia.

– É, eu ignorei. - Falei, grosso. Talvez ser mais estúpido com ela a faça entender que eu quero distância. - E se você não se importa, eu estou querendo realmente fazer algo importante.

Tirei sua mão do meu peito, mas antes que eu pudesse andar até a garota, que parecia realmente irritada com alguma coisa no seu armário, Kira disse:

– O nome dela é Allyson. - Ela pronunciou cada palavra com total desprezo. - Eu vi você olhando pra ela, não sei o por quê de tanto interesse seu, mas ela não é nada.

– Eu não me lembro de ter te perguntado alguma coisa, Kira. - Falei, usando o mesmo tom desprezível que ela.

– Não seja assim, Austin. Você sabe que não quer.

Revirei os olhos. Continuei andando normalmente como se a maluca não estivesse me seguindo com os braços cruzados e a cara fechada.

A garota nova derrubou um livro do armário, quase que no mesmo momento em que eu finalmente havia chegado perto dela. Juntei seu livro e a entreguei.

– Obrigado. - Ela disse, amargamente, sem ao menos olhar pra mim. Seus olhos eram incrivelmente grandes, redondos e castanhos. Pareciam cheios de dúvidas e angústias. No mesmo instante fiquei curioso para saber o por quê daquilo.

Ela fechou o armário, e estava se virando para sair quando Kira apareceu bem na sua frente com um copo cheio de suco que eu não fazia a menor ideia da onde ela tinha tirado.. Acredite, eu já tinha visto aquela cena antes. Kira estava ficando um pouco repetitiva. Segurei seus braços, me colocando na sua frente para impedi-la de atirar aquilo na garota, mas ela conseguiu, quase que por cima do meu ombro, até mesmo respingando um pouco na minha camisa. O suco voador tinha atingido a novata, na sua blusa e um pouco no seu cabelo.

– Por que fez isso ? - Perguntei, apertando seus braços enquanto a garota saía apressada, provavelmente procurando pelo banheiro.

– Me solta! - Ela praticamente gritou, e saiu, com sua postura convincente de sempre antes de responder minha pergunta.

Caminhei rápido pelos corredores, abrindo caminho entre os alunos que tinham parado para ver aquilo e até mesmo aqueles que estavam apenas caminhando, sem ter visto mais uma cena ridículo da Kira.

– Você está bem ? - Perguntei, quando encontrei a garota. Ela estava saindo do banheiro, com a roupa ainda bastante manchada e uma expressão zangada no rosto.

– Estou ótima. - Ela respondeu, com sarcasmo. - Realmente muito contente por estar com a minha roupa toda suja por causa da idiota da Kira.

– Você a conhece ?

– Longa história. E não tenho tempo agora. - Ela disse, apressada, já voltando a caminhar.

– Bom, pode me dizer pelo menos se seu nome é mesmo Allyson ? - Perguntei, me colocando ao seu lado, tentando acompanhar seus passos.

– Ally. - Ela disse, apenas. - E eu preciso ir agora, seja-lá-qual-for-seu-nome.

– Austin. - Eu disse, alto, para que ela pudesse me ouvir enquanto praticamente corria pelos corredores. - Austin Moon.

Ela assentiu, não ligando pra isso, e só o que eu continuei vendo foram seus cabelos balançando enquanto ela corria apressada de um corredor para o outro."

Já fazia algum tempo desde que eu relembrava esse dia. Parecia realmente algo distante, de muito tempo atrás. Mas era mais ou menos três meses, eu acho.

– É, mas nunca é tarde para uma vingança. - Eu disse, sorrindo travesso. Lembrar daquele dia, me fazia querer ver Kira do mesmo jeito.

– Mesmo, Moon ? Pensei que você não guardasse mágoas. - Ally disse, se virando pra mim, com um sorriso meio bobo no rosto.

Me virei para ela também e pensei em como esses momentos eram bons pra mim. A ter daquele jeito, quase vulnerável, ao meu lado, sabendo que eu posso tocá-la, me fazia delirar.

Passei um dos meus braços pela sua cintura, a puxando pra mim e encostando nossas testas.

– Isso não importa agora. - Murmurei.

– Acho que não. - Ela confirmou, me olhando diretamente nos olhos e eu a olhei de volta, do mesmo jeito. Eu quase podia enxergar sua alma, tinha a sensação disso. Talvez eu estivesse a vendo de verdade agora, e não só uma máscara. - Me beija ? - Ela pediu, com os olhos grandes ansiosos.

Sorri com aquilo. Ela estava ansiando por um beijo meu ? Talvez isso mesmo seja uma grande evolução.

Coloquei a mão no meu peito, em cima da onde fica o coração, como se eu estivesse com dor.

– Você está mesmo pedindo para que eu a beije ou isso é só um sonho ?

– Idiota - ela deu um tapa leve no meu braço.

A apertei mais contra mim antes de selar nossos lábios.

E o beijo mal tinha começado quando fomos interrompidos por batidas na porta.

– Ei! - Nos separamos quando ouvimos as batidas e a voz familiar nos chamando. Pensei que, talvez, fosse Dez, mas a voz era diferente. - Eu detesto terminar com o clima de vocês, mas precisamos ir! - A voz detrás da porta era de Adam. Um garoto da minha turma de espanhol que tinha as sobrancelhas quase juntas e era meio baixo. Mas era um cara legal.

As vezes esqueço de que não estamos sozinhos naquela casa.

– A gente vai ? - Ally perguntou, com expectativa.

– Você quer ? - Eu já tinha perdido a conta de quantas vezes havia a perguntado aquilo.

Ela assentiu, sorrindo, tentando me convencer. Me dei por vencido menos de dois segundos depois. Eu não resistiria ela.

Era estranho todo esse poder que atualmente ela possuía sobre mim. No entanto, eu gostava, ainda achava bom.

Eu gostava de estar apaixonado por ela.