Pov. Austin

A tela da televisão brilhava com as várias cores do videogame que Dez tinha trazido. Estávamos jogando isso praticamente a tarde toda. Era uma maneira de me distrair,na verdade.

– Essa foi a primeira briga de vocês, não é ? - Dez perguntou,se referindo a Ally. Eu nem sei por que tinha contado tudo pra ele. Tudo bem, o ruivo é o meu melhor amigo,mas pode ser bem idiota as vezes. Ou quase sempre.

– É,foi. Tipo, uma briga séria,sim.

– Cara, isso foi pesado. A primeira briga sempre é horrível. Ela deve estar brava.

Afundei o dedo no controle e um segundo depois me perguntei como aquilo não tinha quebrado.

– Por que ela estaria ? Eu que deveria estar bravo. - Suspirei. - Na verdade,eu estou mesmo.

Desviei meu olhar da tela por um momento, e meu personagem acabou morrendo baleado. Muito triste pra ele. A voz do videogame soou dizendo "Game Over".

– Você perdeu. Nós dois perdemos a missão. - Ele parecia realmente frustrado por causa do maldito jogo. - Talvez ela nem soubesse o que estava fazendo. Foi um dia ruim pra ela. Você viu o nariz da Kira,não viu ? Acha mesmo que ela vai deixar assim ? - Dez parou de falar,e antes de continuar,deu uma risada. - Tudo bem, foi realmente engraçado o que ela fez. Kira mereceu.

– É,isso é verdade. Mas o que eu tenho a ver com isso ? Ally não precisava descontar tudo em mim.

– Garotas são estranhas. Você deveria saber disso. Um "não" quer dizer "sim", ou um "sim" quer dizer "não". Ou não é não mesmo. Não sei como funciona o cérebro delas.

A parte idiota do Dez falando. Apenas dou de ombros. Nada é assim como ele está falando,mas fingo entender os seus tipos estranhos de conselho. E penso por um segundo,como as coisas seriam mais fáceis se eu pensasse em tudo de maneira simples e fácil,como ele.

– É,acho que é por aí. - Murmurei.

De qualquer jeito, eu não imaginei que ela pudesse me falar todas aquelas coisas. Eu queria ajudá-la,eu me importo com ela. De verdade. E, Ally era provavelmente o lado mais interessante da minha vida agora. Gostava de estar com ela, e a mesma parecia gostar de estar comigo.

E depois da noite da festa ... Eu realmente pensei que pudéssemos ter algo.

Pensei errado, é claro.

– Vocês pareciam um casal. - Dez comentou. - Tipo, vocês já se beijaram umas quinhentas vezes e na noite daquela festa do Dallas, pareciam estar em combustão.

– A gente transou, tá legal ? Só isso.

– Você fala assim agora porque está bravo. - Ele falou. - Acho que você deveria ir com a gente na Viagem de Feriado. Vamos pra fora da cidade, pra uma casa no campo, e você vai ter bastante tempo pra pensar e apreciar o ar fresco ...

Tudo bem, ele parecia ainda mais estranho ao falar desse jeito. A Viagem de Feriado ... Parecia idiota pra mim. Quase 5 horas dentro de um carro pra ficar em uma casa num campo, com várias pessoas com a sua mesma idade,aonde provavelmente vão ter festas,bebidas e coisas piores.

Mas claro, era a Viagem de Feriado. E Dez parecia muito feliz por estar fazendo parte disso. Mais alguns colegas nossos vão, e desde que chegou aqui em casa,está tentando me convencer a ir junto também.

– Você disse que a Trish vai não é ? - Ele assentiu. - Então,provavelmente, a Ally também vai estar lá. E eu realmente estou a fim de deixá-la em paz.

Dez sacudiu a cabeça, não acreditando no que eu estava falando.

– Não acredito que está mesmo falando isso. As vezes,garotas dão indiretas,talvez ela queira que você vá atrás dela.

Garotas. Ally não é como qualquer garota. E se a conheço bem, talvez ela também não queira ir nessa viagem idiota,mas Trish provavelmente vai convencê-la.

– Tá,olha,eu juro que vou mesmo pensar sobre essa viagem. - Por fim, falei.

– Ótimo. - Dez disse. - Podemos jogar mais uma partida agora ?

Assenti. Pegamos o controle e então,começamos a jogar novamente.

( ... )

Não queria parecer,mas estava mesmo ansioso para vê-la de novo. Quer dizer, eu meio que tinha um plano na cabeça: Não vou fazer nada, não vou mesmo chegar perto dela. Ignorá-la parece ser o melhor.

Pra ela,quero dizer. Porque isso não vai ser nada bom pra mim. Não tinha se passado nem 24 horas desde a nossa briga,e eu já sentia sua falta.

E também estava preocupado. Ally não parecia nem um pouco contente com a volta do seu pai. E na verdade, ele parecia sério demais quando nos encontrou na praça e ela assustada com a sua presença. Ouvi Cassidy dizer que a Ally não está mais morando na casa da família Starr. Então, ela deve estar com seu pai.

E não deve estar feliz por isso.

Não sei como, não me lembro de ter dado a ordem para as minhas pernas se mexerem,mas assim que a vi entrando no prédio da escola, fui em sua direção no corredor, mas ao em vez de ir falar com ela,apenas passei reto. Sem ao menos a olhar direito. Deixei minha cabeça erguida olhando ao redor, para o teto, para a parede,menos pra ela. Meu braço roçou delicadamente no seu e rápido demais. Podia sentir seu olhar em mim ainda até quando já estava de costas pra ela.

Sorri para mim mesmo. Isso era idiota. Mas eu queria saber como ela se sentiria. Queria saber se ela se importava comigo, se tinha pelo menos um pingo de consideração. Eu não posso evitar, eu sinto alguma coisa por ela.

Esse não era o meu plano original. Mas eu sabia desde o dia que nos conhecemos e sei até agora. Era fácil: Eu a queria. Só era muito mais difícil pensar nisso antes.

Eu passei o dia assim: A ignorando.

Na aula de matemática, quando o Sr. Laurent sugeriu que fizéssemos o trabalho juntos,eu apenas disse:

– Não posso fazer sozinho ?

Sr. Laurent franziu a testa, afinal, sempre fizemos juntos as coisas da aula dele,e ele mesmo tinha testemunhado nosso primeiro beijo.

Ally se sentava na minha frente,e não se virou pra mim em nenhum momento. O professor perguntou se tudo bem pra ela, e a garota só assentiu.

Logo depois, ela passou as mãos no cabelo, suspirou alto o bastante para que eu pudesse ouvir e começou a fazer os exercícios. Gostaria de saber o que ela estava pensando. Só sei que ela terminou o trabalho rápido demais e saiu para o intervalo bem mais cedo do que o resto de nós.

Quando cheguei no refeitório, ela estava sentada na mesma mesa que Dez e Trish. Me sentei ao lado de Dez e tentei entender alguma coisa do que os dois estavam falando:

– Minha prima, a Grace, está no segundo ano aqui na escola,e eu a convidei pra ir junto. Tudo bem ? - Trish perguntou a Dez. Afinal,ele que estava organizando tudo, e a casa no campo era do seus pais.

– Claro. Quanto mais gente melhor. - O ruivo sorriu,animado.

Manti meus olhos fixados nos dois ou na minha própria comida. Ally também estava em silêncio, e com os olhos no prato. Seus cabelos pareciam estar com mais cachos hoje. E embora ela estivesse quase inexpressiva, parecia incomodada.

Percebi tudo isso a olhando pelo canto do olho,disfarçadamente enquanto tomava meu suco ou mordiscava o hambúrguer.

– Então, Ally, você vai com a gente ? - Trish perguntou. A empolgação presente na sua voz. - Você pode até levar a sua irmã.

A irmã da Ally estava na cidade ? Me controlei o máximo possível pra não a perguntar sobre isso e acabar estragando todo o meu "plano". Ally balançou a cabeça negativamente,como se estivesse apavorada com a ideia de envolver sua irmã nisso.

– Não. De jeito nenhum. Nem pense na ideia de Lindsay ir junto.

– Tá,como você quiser. Mas você vai ou não ?

Ally suspirou. Batucou os dedos na mesa como se estivesse pensando. Continuei comendo meu almoço tranquilamente como se o dedilhar de seus dedos não estivesse me irritando. Até que ela enfim, disse:

– Tudo bem,eu dou um jeito de ir.

Trish sorriu animada e bateu as mãos uma na outra num gesto contente. Dez também sorriu e comemorou o fato de mais uma pessoa ir pra sua lista.

– Está tudo perfeito até agora. Ah, preciso ir falar com a minha prima. - Trish disse. - Vamos comigo, Ally ?

– Claro.

Então, as duas saíram da mesa em direção a saída do refeitório.

Suspirei de alívio por ela já ter ido. Essa coisa de a ficar ignorando não é mesmo fácil. Olhei pra Dez, e ele tinha um olhar de desaprovação no rosto.

– Você não deveria fazer isso. - Ele disse.

– Não se preocupe,vou fazer tudo do meu jeito.

– Austin, acho que só falta você decidir se vai ou não.

Pensei em Ally. Até ela ia nessa estúpida Viagem de Feriado, que começaria amanhã de noite. De algum jeito, eu teria que fazer as pazes com ela. Não queria que ficássemos nesse silêncio insuportável pra sempre. Mesmo que por enquanto, seja até mesmo bom. A viagem em si não vai ser incrível por causa da quantidade de adolescentes. Mas e daí ? Eu também sou um adolescente. E eu conheço a casa,conheço o lugar. É tudo muito bonito lá. Pensei em Ally de novo. Então,por fim,tomei minha decisão:

– Dez - chamei o ruivo que olhou diretamente pra mim - Pode colocar meu nome na sua lista. Eu vou sim na viagem.