"Olhe para mim

Olhe para você

Agora olhe para mim de novo

Veja, não somos nada diferentes"

– Together (Demi Lovato ft. Jason Derulo)

Pov. Austin

Uma noite sem sonhos.

Era isso o que eu queria ter quando deitei na minha cama já fechando os olhos e ainda pensando nela.

Ao invés disso,devo ter acordado pelo menos umas oito vezes por causa de alguns sonhos. Meu pedido não foi atendido.

Acordei novamente as 6 e meia da manhã. Estava um pouco suado e não pensei duas vezes antes de me despir e entrar debaixo do chuveio. Tentei lembrar de algum dos sonhos,mas não conseguia.

Decidi me arrumar mais cedo para ir pra escola já que estava acordado mesmo. Enquanto estava indo pra cozinha,passei na frente do escritório do meu pai - que ficava no caminho - ,pude ouví-lo no telefone. Ele realmente acordava cedo por causa do trabalho. Talvez eu seja mesmo um fofoqueiro por ter parado na porta tentando ouvir o que ele falava. Era em italiano.

Pelo menos eu acho que todas aquelas palavras eram italiano. Desisti de tentar entender sua conversa.

Suspirei e caminhei até a cozinha.

– Austin - Rose que era nossa empregada a mais de 10 anos me cumprimentou assim que entrei - Acordou mais cedo hoje ? - Ela perguntou,gentilmente.

Nunca perguntei ou soube a idade dela,mais deveria ser mais de 40. Ela tinha os olhos escuros e cabelos da mesma cor e longos. Mas no seu horário de trabalho,sempre estava preso num coque. E acho que raras vezes a vi sem aquela uniforme cinza que minha mãe a obrigava a usar. Grande idiotice.

– É,acho que sim. Um grande milagre não é ?

Ela deu uma risadinha fraca sem mostrar os dentes e me alcançou um prato com algumas panquecas.

– Sorte sua que já estava preparando o café. - Ela disse enquanto me entregava.

– Muito obrigado. - Agradeci. - Sabe que horas meu pai acordou ?

– A pouco tempo,eu acho. Apenas pegou uma xícara de café e saiu. Provavelmente para o escritório. - Ela respondeu pensativa,como se repasse os fatos.

– Ah,não sabia que ele acordava tão cedo.

Ela ficou em silêncio por um tempo. Não demorei muito para começar a devorar minhas panquecas. Rose me alcançou também um copo de suco e voltou a arrumar alguma coisa no balcão da pia.

– Ah,Austin - ela começou - Esqueci de avisar que sua irmã ligou ontem. Ela queria falar com um de vocês,mas já estava tarde e todos tinham ido se deitar.

– Tudo bem. Minha mãe vai gostar de saber disso,ela deve estar louca pra falar com Emma.

Rose sorriu novamente.

Terminei de comer minhas panquecas e de tomar meu suco. Levei o prato e o copo até a pia. Me despedi de Rose,peguei minha mochila e fui até o carro para ir pra escola.

( ... )

Devo ter sido o primeiro aluno a chegar na escola. Eu realmente acordei muito cedo. Apenas alguns minutos depois que eu cheguei,que o resto começou a chegar. Minha primeira aula era de inglês,então,sem esperar Dez,fui direto para a sala.

Tínhamos horários diferentes.

O ruim dessa aula,era que eu fazia junto com Kira. E ela podia ser muito mais do que irritante quando queria. Entrei na sala que estava praticamente vazia,e fui para meu lugar.

– Austin ! - Ouvi aquela vozinha irritante me chamando.

Para o meu completo azar,me virei e vi Kira com um enorme sorriso - falso - no rosto.

– Oi. - Disse desanimado.

– Tudo bem ? - Ela perguntou - Você parece meio cansado.

É,nisso ela tinha razão. Afinal eu quase não tinha dormido de noite e toda hora que conseguia pegar no sono,algum sonho me acordava.

– Não dormi muito bem. - Disse rapidamente.

Ela se sentou na cadeira ao meu lado enquanto passava as mãos no cabelo tentando arrumá-lo. Me lembrei de como Ally fazia isso. Não era nem um pouco parecido. Pra ela,era apenas uma mania. Já Kira realmente deveria querer que seu cabelo parecesse perfeito.

– Sabe o que seria legal ? - Neguei - Se a gente saísse um dia! - Ela disse como se tivesse acabado de ter a ideia,e como se fosse brilhante.

Definitivamente não era. Dei graças a Deus quando o professor entrou na sala.

– Depois a gente se fala. - Ela disse chateada pelo professor ter chegado e atrapalhado nossa conversa.

( ... )

Ally revirou os olhos.

Por algum motivo,ela achava a ideia de sair comigo praticamente impossível. E ainda alegava que eu deveria ser preso por persegui-la nos corredores da escola.

– Eu não te persigo. Só temos caminhos muito parecidos - Sorri para ela que suspirava,irritada.

– De qualquer maneira,acho que já tenho o que fazer essa tarde - Ela disse.

– É ? O que ?

Ela olhou para o chão enquanto caminhávamos e me fitou por um instante. Logo,voltou sua atenção para os pés,como se decidisse se me contaria ou não.

– Eu preciso arrumar um emprego. - Ally,por fim,disse.

– Sério ? Pensei que trabalhasse na livraria com a sua mãe.

– Não,eu só ajudo ela algumas vezes. Mas, Penny ainda está brava comigo,e eu queria ajudá-la.

Olhei em seus olhos,pareciam tristes.

– Eu posso te arrumar um emprego - falei, - mas só se você sair comigo essa tarde.

Ally me olhou esperançosa por um momento. Depois,sorriu sapeca como uma criancinha sabendo que está fazendo algo errado.

– Isso é sério ? - Ela perguntou,ainda sorrindo.

– Claro.

– Você está perdendo seu tempo comigo,loirinho. - Ela disse,debochada.

– Você é o tipo de perda de tempo que vale a pena.

– Como sempre sabe o que dizer ?

– Da mesma maneira que você também sabe.

Ela me encarou,um pouco pasma. Mas assim como naquela noite,no quarto dela,ela estava sendo diferente. Não a Ally que me chamava de idiota todos os dias e que tinha como seu hobbie preferido,me ignorar. Ela estava agindo como se realmente acreditasse em mim,exatamente como naquele dia.

A lembrança daquela noite,e as possíveis possibilidades de estarmos nos aproximando cada vez mais,me fizeram sorrir.

– Tenho um amigo que trabalha no Aquário Municipal, - comecei - Minha irmã fez um estágio lá um tempo atrás,quando ela estava tentando provar ao nosso pai que era independente o bastante pra não depender do dinheiro dele. Ela não durou muito tempo - Ri,lembrando de quando ela praticamente foi derrotada - Não é um emprego difícil. Se você não se importar de alimentar tartarugas.

– Isso parece ótimo. Eu amo tartarugas. - Ela sorriu.

Um pequeno brilho começava a aparecer nos seus olhos,tirando um pouco da tristeza.

– Então,não vai se importar de passar uma simples tarde comigo,não é ? - Ela fez cara feia - Não vai ser tão ruim,tomar um sorvete talvez ? Não vou te obrigar a ir num jantar cheio daquelas palhaçadas dos filmes de romances que garotas adoram.

– Isso parece uma boa ideia.

– O sorvete ou o jantar cheio de palhaçadas ?

Ela deu uma pequena gargalhada. Um som,quase grutal,como se ela não tivesse acostumada a rir. E provavelmente deveria ser isso. Á essa altura,já estávamos parados na frente do ármario dela. Exatamente aonde nos beijamos pela primeira vez.

– Sorvete.

– Então me espera depois das aulas.

– Tudo bem,prometo não fugir. - Ela deu um meio sorriso enquanto eu me virava para ir até a sala da minha próxima aula.

E por incrível que pareça,ela não fugiu.

Estava me esperando na frente da sala,quando eu saí.

– Nossa,você deve tá muito empolgada,não é ? - Perguntei assim que fui até ela.

– Talvez. - Ela disse,me surpreendi pelo fato de não ter nenhum índice de piada na sua voz. Era quase sério.

( ... )

– Acho que tem um pouco de sorvete no seu rosto - Menti.

– Aonde ?

– Aqui. - Peguei a casquinha da mão dela e encostei a ponta no seu nariz.

– Você não fez isso. - Ally resmungou brava.

Pegou o seu sorvete de volta da minha mão,limpou o pouco do que tinha ficado no seu nariz. Ri da expressão brava ainda no seu rosto.

– Do que está rindo ? - Ela perguntou,irritada.

– De você. - Disse ainda rindo.

Ela pegou a minha casquinha de sorvete e praticamente jogou contra a minha cara. No mesmo momento,ela começou a rir como uma louca.

– Isso sim tem graça - ela disse no meio das risadas. - Toma. O cara do sorvete me deu alguns guardanapos.

Ela me estendeu um deles e rapidamente passei na minha bochecha - agora,toda lambuzada. Olhei em volta - para as pessoas que caminhavam tranquilamente no parque - e percebi que estava praticamente vazio.

Ally ainda gargalhava. Depois de um segundo,comecei a rir junto com ela. Estávamos sentados num banco da praça,virados de frente um para o outro e nossas pernas se tocavam.

– Viu ? Não somos tão diferentes.

– É,talvez não. - Ela disse como se avaliasse numa escala.

– Você fica muito melhor assim,Alls.

– Assim como ?

– Sorrindo.

Ela franziu a testa por um momento,mas logo voltou a normal. Me olhou como se repensasse cada uma das minhas palavras,e por fim,deu um leve sorriso tímido.

– Você realmente se importa com isso ? - Perguntou.

– Sim,eu me importo.

É como se ela tivesse ficado tensa por tempo. Mas logo relaxou.

– Esse é um ótimo "Não-Encontro". - Ela disse.

Franzi a testa,confuso.

– O que ?

– Não-Encontro. É como se fosse um encontro,mas não é.

Ela sorriu,aprovando sua própria lógica e eu a acompanhei. Sorri. Ally estava sendo legal. E não pude perceber o quanto ela parecia encantadora nesse seu "outro lado". As coisas pareciam mais simples ali,agora,nesse momento. No nosso "Não-Encontro".