A Seleção-Interativa escrita por Alice Zahyr


Capítulo 41
Capítulo 41 - Segredos e mais segredos


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeeeey! Esse capítulo será narrado por Jason, e vocês finalmente saberão onde é que ele anda e porque ele realmente "largou" a America u_u
Gent to vendendo paçoca pra Neon Lights Tour, caso queiram ajudar >>>> 1 real huehuehue



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Demorei exatamente trinta horas para chegar até a Base Mercenária. O lugar era hostil, escondido no meio de uma floresta que dava para, simplesmente, lugar nenhum. Só um tolo seria burro o suficiente para dar um de investigador de rebeldes e procurar por essa base, na esperança de sair de lá vivo. Os mercenários não são como os sulistas. Eles matam, sem piedade alguma. Tudo isso por dinheiro.

O dinheiro sempre foi a origem de toda a sujeira dos mercenários.

Mas agora eu finalmente poderia terminar com isso. De uma vez por todas.

Assim que me embrenhei pela mata, deixei que me pegassem como se eu fosse uma vítima. Acabei pegando no sono embaixo de uma árvore, totalmente ciente de que quando fechasse os olhos, todos os meus planos estariam dando certo. E assim foi.

***

Abri os olhos e me encontrei numa gruta velha que cheirava á mofo. Mercenários são assim, adoram cavernas. Eu poderia rir disso, se não estivesse pendurado pelos braços com correntes de metal que me suspendiam no ar. Minha camisa estava arrancada, e minhas calças surradas. Não entendi o motivo real de toda a tiração das roupas, já que as mercenárias não eram fáceis de se seduzir (nem preciso citar Anna como exemplo, já tentei várias vezes paquerar aquela morena, mas desisti ao perceber que é mais fácil um mercenário cantar uma canção de ninar). Mas logo entendi o óbvio quando duas mulheres altas e com farda entraram na gruta. As duas tinham armas nas cinturas, e seguravam uma, uma faca, e outra um chicote.

"E que comece a encenação" Pensei, me preparando psicologicamente para toda a dor que viria á seguir. Provavelmente um ser humano comum pertencente á vida em Illéa morreria se fosse submetido ás esses mercenários, mas eu já passei por coisa muito pior. Ser um sulista também não é como brincar de detetive, as coisas são sérias. Minhas missões sempre foram muito árduas, onde tive de aprender a sobreviver sozinho e a suportar testes insuportáveis.

Não que eu gostasse de apanhar. Mas eu já vim preparado para o pior. E naquele momento, olhando para aquelas mulheres á minha frente, respirei fundo, com, obviamente, uma considerável dose de medo. Mercenárias não são como mulheres lindas e carentes, elas são as mais cruéis que, provavelmente, existem na face desse planeta. Seus olhos verdes e seus lábios sedutores são como veneno, e eu sei que a culpa da maldade toda é em parte delas, já que são elas quem têm seus filhos e os criam com tanta crueldade. As duas olhavam para mim sem uma expressão sequer, e isso porque, tipo, eu sou um cara gato.

Mas logo, logo, eu viraria um estrogonofe de gato.

A primeira delas se aproximou e golpeou minha perna com a faca, que raspou minha pele ruidosamente. Seus cabelos longos e cacheados e toda a beleza sumiu no momento em que ela, sarcasticamente, chamou a outra com um sinal de cabeça. A mais baixa e loira foi até minhas costas, e começou a tortura.

Quando a dor enfim começou a ser sentida por ter ultrapassado meus limites, me deixei desmaiar para dar o prazer que aqueles monstros queriam. Os mercenários só param quando têm certeza de que a vítima está mal o bastante para que possam rir da nossa cara á vontade, então virei os olhos e caí, minha visão apagando ao mesmo tempo em que eu ouvi um grito.

"Tirem essas vadias daqui! Saiam! Suas cadelas inúteis!" Foi tudo o que eu ouvi.

***

Possivelmente eu estava morto.

Foi uma pena ter percebido meu engano de achar que estava no céu, já que bastou olhar para a frente para perceber que aquele era, na verdade, o inferno. Não era mais a gruta, nem havia correntes me suspendendo, sequer aquelas mercenárias malignas com chicotes e facas. O lugar onde me puseram era uma espécie de cortiço, como sempre com um cheiro horrível e algumas toalhas ensaguentadas (nem me pergunte sobre isso, por favor) jogadas no chão. Um odor de sangue invadia o lugar, eu quase vomitei.

Mas o que chamou minha atenção foi o homem que estava á minha frente. Por Deus, se eu acreditasse em magia acharia que tinha viajado no tempo e virado um mercenário. Ele era alto e másculo, com uma cicatriz no lábio inferior e tatuagens nos bíceps. Seus olhos eram azuis - tão intensos quanto os meus - e o cabelo era negro, cortado como os de um soldado. Nada nele parecia bom, e possuía um ar de crueldade que me impedia de fazer piadas sobre o quanto parecia com um pirata do século XV. Sim, sulistas sabem mais do que a parte normal das pessoas. Nós temos a verdadeira informação.

– Cadê os seus capangas? - ele me perguntou, sua voz soou como um trovão.

– Não tem capangas, colega. - eu respondi sentindo dores no abdômen que escondi facilmente com meu sarcasmo. - E os seus?

– Não tem - o cara limpou a garganta - Você é muito tolo de vir até aqui, rapaz. Deveria ter ficado quieto na sua base, continuando a espiar mulherzinhas no castelo. - ele cuspiu no chão.

– Oh, desculpe, preferi vir aqui levar uma surra de duas mulheres. Bem gostosas, por sinal. - eu falei sorrindo de lado. Ele parecia incomodado com meu cinismo. "Ponto pra mim" pensei.

– Elas não servem para isso, se é o que está pensando. As mulheres de nosso povo são mais do que bolos e bebês.

– Uma pena. Eu gosto de bolos. E de bebês, quem sabe - respondi sem expressão.

O homem riu com gosto.

– É esse sarcasmo seu que irrita as pessoas. É DNA, inegável.

– DNA, certo? Que papo furado é esse, cara? Vamos conversar como homens - eu falei, fingindo-me de confuso.

– Você deveria ser mais cauteloso. O que pensou que encontraria aqui? Uma festa de boas vindas? - o homem pegou uma garrafa de uísque que estava no chão e bebeu alguns goles. Ele me ofereceu, mas eu cuspi - Teimoso, valente e cínico. Você nasceu pra ser sulista - ele disse com sarcasmo e bebeu mais uísque.

– Eu sei, sou um cara irresistível. Mas não sabia que os mercenários podiam... Você sabe. Mudar de time - eu ri, com tanta raiva daquele cara que mal podia controlar os reflexos. Ele me olhou com raiva e sua expressão mudou. Se levantou da cadeira e pôs um canivete em meu pescoço.

– Não pense que só porque ainda não te matei, isso significa que eu não te mate – ele disse com raiva, mas eu mantive meu sarcasmo.

– E você mataria seu próprio filho? - perguntei, soltando uma bomba psicológica em suas mãos. Ele se afastou de mim e me olhou, analisando se era verdade o que eu dissera. Poucos segundos depois, sua expressão tornou-se levemente comovida. Eu senti mais nojo ainda daquele ser, porém precisava de sua fraqueza emocional para terminar meu plano.

– Jason. Como sabe disso?

Nasci pra ser sulista.

Ele me olhou de lado como se eu fosse uma espécie de bicho totalmente desconhecido. Ficamos nos encarando, até que ele finalmente desistiu e sentou novamente na cadeira.

– Sabe quem é sua mãe? - ele perguntou entre um gole e outro de uísque. Eu cuspi em seus pés.

– Como você consegue não ter nojo de si mesmo? Não cuidou da própria mulher. Só de olhar pra essa sua cara, com esses olhos e esses cabelos que eu herdei, dá vontade de vomitar. Você é tão repulsivo que eu não entendo como minha mãe foi capaz de te amar. Ela amou um monstro. Você nunca se importou com ela - eu falei cada palavra de forma casual, mas com uma real repulsa que ele percebeu. - Deixou que a pegassem. Nunca a protegeu. Ela concebeu um filho teu, e você a jogou para os porcos!

– Eu não tive culpa! Mandei que não tocassem na mulher grávida! - ele gritou a plenos pulmões - Eu mesmo matei com minhas mãos o homem que a forçou!

Eu dei um suspiro e ri.

– Não tive culpa, não tive culpa, não tive culpa. - repeti as palavras dele com uma voz alterada - É tão covarde assim? Se eu fosse você, me matava, pois assim a inutilidade na Terra acabaria. A sua presença aqui só trouxe caos. Guerra, sangue, destruição, mortes... É até admirável sua capacidade de se aguentar. Olha, achei algo bom em você. Talvez tenha um homem bondoso e são por trás dessa culpa toda.

– Você está pedindo para morrer.

– Mate-me! - gritei - Mate, assim você provará mais uma vez que não teve culpa de nada. Imbecil. Será que nunca entenderá? Você é apenas um peão, sabe que o motivo de pagarem vocês para destruir Clarkson é, na verdade, apenas um: querem o trono de volta. Esqueça as historinhas sobre Clarkson e a mãezinha mercenária, esqueça tudo isso. A América nunca se reerguerá, agora é apenas Illéa, e só - contei á ele erguendo as sobrancelhas, já entendiado.

– Mas ele não pode ser filho de uma mercenária. Eu mesmo matei a mulher que apareceu grávida de um americano - ele falou, receoso.

– Um mercenário, e tão fraco... Ah, você é mesmo uma criança assustada. Só deixa eu te dizer uma coisa: nós, sulistas, sabemos de tudo. Sabemos da verdade, de toda a verdade. Nada, exatamente nada, nos escapa. E a verdade é que a mercenária que você matou, era a irmã da verdadeira. Clarkson nasceu, e foi jogado num abrigo. Toda a gravidez da rainha foi uma farsa, pois ela era estéril. Ela o adotou, e ele é um herdeiro ilegítimo. O rei e a rainha não sabiam de suas origens, mas quando descobriram... Já era tarde demais. Clarkson já casara com Amberly, e seus pais já não tinham poder sobre sua tirania. Ele sempre foi ruim, desde que nasceu, é o DNA, inevitável .- sorri de lado, cinicamente, para ele. - Depois de casar-se com Amberly e descobrir que ela não podia ter herdeiros homens, Clarkson fez um tratamento. Mas durante esse tratamento, o médico descobriu que seu DNA não tinha nada de seus pais. Quando Clarkson soube pelo médico que era um Mercenário-Americano, fez questão de tentar logo ter um herdeiro para fugir de seu passado. E então nasceu Maxon, sabe-se lá como. Os ataques só pioraram a partir daí, e eu me perguntava porque. Foi então que eu descobri que vocês me queriam. Sabiam sobre minha mãe, sabiam sobre Lucy, e queriam me tirar da vida no castelo, o que eu não entendi. Mas eu logo soube porquê. Você tinha medo de que Clarkson descobrisse que eu sou seu filho e me usasse para encontrar os Mercenários. Eu era a sua fraqueza. Seria o fim da sua raça. Ele acabaria com todos vocês - prolonguei o "todos" - e então, reinaria em paz. Mas algo ainda me incomodava. Por que o seu pai formou o grupo Mercenário? O que o levou a se rebelar contra Clarkson?... Por tempos não compreendi a razão da existência dos mercenários, até que eu descobri que o meu avô é nada menos do que irmão adotivo e mais novo de Clarkson. Meu avô vivia na realeza e, por lei, seria o príncipe, mas por ser o mais novo e menos preferido pela rainha, perdeu o trono para Clarkson. Com raiva, fugiu para essa merda de lugar e iniciou um grupo rebelde. - eu tomei ar para acabar de vez com a historinha... E então soltei: - Se meu avô é irmão de Clarkson e herdeiro legítimo da coroa, então eu sou seu neto.

– Onde está querendo chegar? - meu pai me perguntou confuso.

– Todos nós estamos ligados á família real. E se você não acabar com essa palhaçada, eu mesmo o farei.

– Qual a sua condição?

– Eu te darei os livros sobre a América, e você some com toda a sua matilha de cãezinhos. Se eu vir algum rastro de vocês, o bicho vai pegar. - eu falei firmemente.

– E por que eu vou obedecer um garoto á base da arrogância?

– Porque por ser seu filho, você sabe muito bem do que eu sou capaz para proteger as pessoas que amo. Some. E eu não mato nenhum de vocês. É a minha palavra final.

– Você não tem medo do perigo, garoto? - ele se levantou e ergueu os ombros á minha frente.

– Eu sei sobre a filha da rainha. - eu anunciei. - Quer que mais pessoas saibam desse escândalo, ou não? - ele balançou a cabeça, morrendo de medo. - Então chega de bagunça. Leva seu acampamento nojento e ensanguentando pro Leste, onde as terras do governo estão perdidas e destruídas pela guerra. Comece a sua própria história, e deixe de viver á sombra dos problemas dos outros. - me levantei e disse. Olhei para ele por alguns últimos segundos, e então me virei.

Passei pelo meio do acampamento com dores insuportáveis. As pessoas me olhavam sem uma expressão certa, todos alienados e confusos. Não sabiam fazer mais nada além de seguir ordens, nada além de matar. Nasceram para isso, e faziam apenas isso. Não eram pessoas, não tinham vida, e os poucos que nasciam com mentes abertas e não obedeciam ao sistema, como Anna Parker, viraram traidores, em busca de um sentido de vida que não fosse obedecer ás ordens de um general tão perdido quanto eles. Todas aquelas pessoas se sentiam poderosas por ter uma metralhadora na mão. Mas nenhuma delas sabia da verdade. Da verdade sobre tudo, sobre a história, sobre a realeza, e sobre Clarkson ser um rei ilegítimo. E uma pessoa não é nada sem saber a verdade.

Subi na moto, morrendo de dor, e liguei para Hans para anunciar o fim dos Mercenários. Acelerei o máximo que pude, e parti em direção ao castelo. Depois de ter abandonado America, eu imaginara as piores coisas possíveis, e a que mais me assustava era a ideia de um casamento.

Eu era um sulista treinado, forte e arrogante. Sabia aguentar á dor, resistir á doenças e á florestas, e por mais que meu bordão fosse "Estou preparado para isso, capitão!" eu nunca estaria preparado o bastante para perder America.


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Notas finais do capítulo

Comeeeeeeeeeeentem. E por favor gente, nada de "Legal" ou "Continua" ou "Amei". Eu amo reviews, mas esses são tipo AHBSAHSVAUTSVAHS muito desanimadores kkkkkkkk
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Sei que muitos estão confusos, então vou explicar melhor. O rei Clarkson é filho de Tevon. Tevon tinha uma irmão mais velho, que era adotado. Esse irmão adotado se rebelou e fugiu pro Sul. Esse irmão adotado é o avô de Jason, foi ele que iniciou os Mercenários. Jason é filho de um Mercenário com Lucy, a empregada de America. Qualquer dúvida pergunte nos comentários u_u