"America Singer, aceita se casar comigo?"

***

No instante em que Maxon me fez aquela pergunta, o meu mundo inteiro pareceu se dividir em dois. De repente, parte de mim estava feliz, mas o resto estava completamente... Quebrado. Tudo o que eu tinha feito desde o início, já não valia mais nada, porque agora ou eu dizia sim e me dava uma chance para ser feliz, ou eu dizia não e correria o risco de perder tudo o que eu ainda tinha.

Então eu respondi:

– Maxon Schreave, é claro que eu aceito me casar com você.

Mas não foi apenas um sim. Naquele instante, a mesma dor que eu sentira ao ver Jason indo embora voltou... Eu não entendi. Casar com Maxon não era tudo o que eu queria? Onde estava o amor que eu sentia por ele? Não poderia ter simplesmente sumido...

E se tivesse, eu o acharia de volta.

***

Sete dias se passaram desde que Maxon e eu anunciamos para o castelo sobre nosso noivado. Logo todo o país saberia que nos casaríamos, e pra mim era estranho o fato de que o príncipe mais cobiçado de todo o mundo havia pedido minha mão e eu pensara demais antes de responder, fora o fato de que eu não precisei ter ganhado nenhuma competição para saber que, no fim, Maxon realmente queria ficar comigo.

Na noite passada, eu e Maxon tivemos de abrir o castelo para a visita da rainha da França, que havia sabido da notícia do casamento. Marie Deveraux, a princesa que tinha a minha idade, chegou no palácio excitada pela ideia, e foi um evento absurdamente elegante e animado. Inicialmente, seria apenas um almoço e uma conversa nos jardins, mas acabou que a família real se interessou tanto pelo casamento do príncipe e pelo paradeiro da Seleção que o evento se estendeu até de noite, quando Marie e seu irmão Pierre fizeram uma serenata em homenagem á Maxon e eu.

Definitivamente, eu não poderia voltar atrás. Não depois de todo o mundo estar esperando ansiosamente pela troca das alianças.

Com tantas coisas na minha cabeça, tive um sonho esquisito. Mas logo fui acordada com alguém batendo um travesseiro no meu rosto.

– America!

– Hum... Só mais cinco minutos... - resmunguei e me virei de lado, mas ao ver de relance cabelos loiríssimos, abri os olhos esperança e dei de cara com a pessoa que eu mais queria ver no mundo. - Meu Deus, Marlee? Como você conseguiu... - exclamei surpresa, mas Marlee me interrompeu.

– O rei me concedeu liberdade! - ela respondeu alegre. - Mas agora levanta, temos muita coisa para por em dia, tsc tsc. - Marlee fez cara de séria e eu ri.

– É tão bom te ver! - eu falei e lhe dei um abraço apertado. - Como assim o rei te deu liberdade?

– Ah... Você sabe, é uma história que se resume á bondade de Maxon. - Marlee disse num sorriso de orelha á orelha. - O que acha de descermos ao salão das mulheres e aproveitar seus últimos dias de "solteira" hein?

Olhei para Marlee fingindo uma expressão de ofensa, mas logo nós duas acabamos rindo e caímos da cama. Rapidamente me aprontei para descer, estranhando o fato das criadas não terem aparecido, e então eu e Marlee fomos até o Salão das Mulheres. Ao chegar lá, vi a rainha folheando uma revista com suas criadas ao redor e o café da manhã exatamente na minha cadeira.

Ao me ver, Amberly deu um largo sorriso.

– America, vejo que sua amiga já te acordou! - Amberly falou sorrindo. Ela parecia feliz, mais até do que o normal. - Pedi que preparassem seu café aqui, pois Marlee me disse que gostaria de passar a manhã com você.

– Ah, obrigada, rainha Amberly. - eu falei dando uma reverência engraçada da qual a rainha abafou um riso, fazendo Marlee e eu rirmos.

– Hoje é um dia especial! - Amberly disse se levantando. - Por causa da sua ótima recepção á família real francesa, te darei um dia inteirinho de folga, - a rainha piscou - para fazer o que quiser, e usar a roupa que quiser!

– Oh meu Deus, isso é sério? - perguntei animada. Marlee sorria para mim.

– Sim, é merecido. Bem, agora eu tenho de ir encontrar com Clarkson, nós temos de tratar alguns assuntos. Aproveite, America. - a rainha anunciou e então saiu, deixando o salão inteiro apenas para Marlee e eu.

Ah, finalmente uma coisa boa.

***

Marlee e eu conversamos por um bom tempo, até que Samantha e Anna desceram ao salão. As duas estavam esplêndidas, com calças jeans de boca de sino, jaquetas e regatas de grife. Anna estava de óculos e ao passar por mim fez uma cara de desdém, já Samantha riu e nos cumprimentou brevemente. Depois disso, as duas sumiram... Não que eu quisesse me meter na confusão que elas aprontariam. Mal entendia como Maxon não pirou ao saber que uma sulista e uma mercenária estavam no castelo...

– Então, America, eu guardei essa pergunta durante a manhã inteira... - Marlee disse - mas preciso muito te perguntar uma coisa. - um silêncio brutal pairou no salão e eu a olhei desconfiada. - É realmente o que você quer?

– É claro que sim, Marlee! - eu disse feliz. - Casar com Maxon é o que eu quero desde o começo, estou apenas seguindo a ordem natural das coisas...

– America... - Marlee disse rodeando-me com receio - Não foi isso o que eu quis dizer.

– Ah, está falando de Jason, não é? - eu perguntei e me virei para a janela.

– Não quero te ver sofrer, America. Mas se você estiver cega pela dor, é meu dever te fazer abrir os olhos para os seus sentimentos... Os de verdade. - Marlee disse com firmeza. A forma como ela disse cada palavra me fez sentir tudo voltar... E esse lado dela eu não conhecia.

– Não vou mentir, é claro que não é mais a mesma coisa depois de Jason, mas eu não posso arriscar perder tudo de bom que ainda tenho, Marlee. - confessei com lágrimas nos olhos.

– Mas você ainda ama Maxon? - ela me perguntou olhando em meus olhos.

– Eu... Eu... Não sei. - eu respondi, me surpreendendo ao dizer essas palavras.

***

Faltavam poucos dias até que eu desse minha festa de despedida da vida de "solteira", mas tudo isso foi ideia de Marlee, que tentou de todas as formas me distrair de tanta confusão. Eu a deixei planejar tudo, e logo soube que Nicoletta e suas primas seriam convidadas. Ah, agora sim seria uma festa de verdade!

Antes de dar a festa, porém, eu queria passar mais tempo com Maxon. Não sei como, mas de repente eu estava carente dele, e queria cada vez mais estar com ele. Talvez o amor que eu sentia finalmente estivesse voltando.

O sol nascia enquanto eu observava da sacada do meu quarto a paisagem linda que se formava no horizonte. Foi então que ouvi batidas na porta, batidas que eu conhecia muito bem...

– Maxon? - eu perguntei surpresa.

– Já estava acordada? - ele perguntou aliviado.

– Não consigo dormir... - eu disse - E você?

– Também não. - ele riu, me fazendo descompassar o ritmo cardíaco. "Bom sinal!" eu pensei.

Não resisti e coloquei meus braços em volta de seu pescoço, dando-lhe um longo beijo. Ele passou as mãos por minha cintura, quando sem querer esbarrei na maçaneta e caí no chão, levando-o comigo. Foi então que um guarda passou pelo meu quarto e ao ver Maxon caído ofereceu, desesperadamente, sua ajuda, mas Maxon disse que não e em seguida nós começamos a rir.

– Então, qual o plano de hoje? Vamos fugir? - eu perguntei em brincadeira.

– É quase isso, mas posso reconsiderar. - Maxon sorriu malicioso. - Eu estava pensando que nós poderíamos sair por aí...

– Para fora do castelo? - perguntei incrédula.

– Sim, mas com disfarces. - ele disse e me levantou.

– Haha - eu ri me divertindo com a ideia - e onde conseguiremos disfarces? Você vai de Sherlock Holmes?

– Eu estava pensando em Tarzan, mas Sherlock é legal. - Maxon disse e eu ri. - É tão bom te ver feliz... - ele falou olhando em meus olhos e então me deu outro beijo. - Eu subirei ao meu quarto, onde tenho algumas roupas que jamais usaria.

– Vou descer até o ateliê das minhas criadas e ver se encontro algo. - eu anunciei e nós nos separamos.

Eu desci as escadas até o ateliê, me divertindo com os tipos de fantasias que encontrei por lá. Depois de escolher uma saia de tule com bolinhas, uma blusa de gola branca e um óculos de coração, resolvi subir até o pavilhão onde ficava o quarto de Maxon. Me sentei no sofá que se encontrava perto da janela, e esperei que ele finalmente aparece.

Dez, quinze, trinta minutos se passaram, e nada de Maxon dar as caras. Cansada de esperar, resolvi bater na porta, mas ninguém abriu. Então decidi entrar, correndo o risco de vê-lo numa ridícula fantasia de rei da floresta, mas apenas o encontrei fazendo umas poses hilárias com um chapéu holandês em frente ao espelho.

– Que demora! - reclamei indo em direção á ele.

– Não consigo decidir... Esse, ou esse? - ele me apontou dois chapéus muito esquisitos. Eu retirei um preto básico, que o camuflou perfeitamente, e ele sorriu, me dando um beijo em seguida.

– O que leva um príncipe a fazer uma loucura dessas? - eu perguntei em seus braços.

– Uma ruiva que não merece a chatice do palácio. - ele falou me beijando mais intensamente. Ele segurou minhas pernas e me sentou na sua escrivaninha, onde tinham algumas fotos que ele mesmo tirava. Nós nos beijamos por mais alguns segundos, até que eu sem querer esbarrei (eu já disse que sou desastrada?) numa foto. Me afastei de Maxon devagar para observá-la, pois parecia ser uma foto diferente e eu nunca havia visto essa ali.

A foto era de dois garotos, deviam ter mais ou menos seis anos. Os dois estavam num descampado que ficava dentro do castelo, perto do camping, e seguravam uma bola de futebol como se fosse um prêmio. Um deles era Maxon, pude perceber no momento em que vi os cabelos loiros bagunçados. Mas o outro, apesar de não reconhecê-lo de primeira, me era incrivelmente familiar. Ele possuía cabelos negros que escorriam pela testa, olhos azuis intensos e um sorriso de lado que não tinha igual.

Droga. Eu conhecia aquele garoto.

– Maxon, quem é esse garoto? - eu perguntei.

– Eu... Não sei. - ele me respondeu coçando a nuca e surpreso por não saber quem era o provável amigo da próprio foto. - Nunca prestei atenção nessa foto. Por que?

– Maxon, esse garoto é Jason. - eu respondi.