Fui andando em meio á passagem como se aquilo fosse um duto de ar enterrado no chão. A cada passo que Jason dava, eu sentia vontade de falar alguma coisa. Volta e meia eu esbarrava nele á medida que a passagem ia afunilando, de forma que chegou um momento em que tivemos que andar lado a lado.

E isso não ajudou em nada. De fato porque nossos braços ficavam roçando o tempo todo e eu já não aguentava mais controlar.

Até que explodi.

– O que foi aquilo? - perguntei, me virando pra ele e colocando-o na parede. Jason olhou nos meus olhos e arqueou a sobrancelha, mas não parecia surpreso.

– Você não quer uma resposta. - ele comentou, me encarando. - Ou quer?

Eu mordi o lábio, nervosa. Ele tinha razão. Eu sabia muito bem o que tinha acontecido.

– Por que quis me beijar? - eu perguntei novamente. Esperei que ele me virasse e desse um fim àquela conversa, quando ele soltou um riso e olhou para o chão.

– Há! - ele riu - Você fala como se não quisesse.

Eu fechei os olhos e respirei fundo, contando até cinco. Jason definitivamente era tão esperto quanto eu.

– Tudo bem. - eu o soltei. Ele passou a mão pelos cabelos outra vez e olhou para mim:

– Se você for ficar estranha depois disso, me avise logo, porque eu troco de lugar com alguém.

Eu olhei para ele com raiva. Ele não poderia me abandonar na Base Sul por causa disso.

– Podemos continuar? - ele pediu.

Eu assenti, com raiva. Ele era um completo idiota.

– Não pode me deixar agora. - eu falei, brava.

– Você é quem manda, senhorita. - Jason disse rindo.

Eu odiava quando ele fazia aquilo. Soava tão... Aspen.

Seguimos o túnel até que chegamos á outra parte. Jason subiu primeiro e depois eu subi. Ainda estávamos na floresta, mas logo vi que lugar era aquele.

"Base de Ataques". Era lindo, por Deus. Um grande ginásio iluminado sem teto. De longe pude ver alguns estouros dentro do ginásio, barulhos de tiro e fogos de artifício. Estremeci ao pensar no objetivo daqueles fogos.

– Ei, relaxa. Não temos Illéa como foco por enquanto. Na verdade, quase nunca a atacamos. - Jason me tranquilizou. Como ele conseguia ler minha mente daquela forma?

– Certo. - eu suspirei. - Mas então quem... - eu queria muito perguntar, mas naquele momento alguém segurou minhas mãos por trás. Eu me virei num sobressalto, me esquivando do possível ataque.

– Olha, ela é boa! - uma pessoa se pôs na frente de Jason. Não pude ver quem era porque estava tão fardada quanto eu, mas logo soube que era uma garota.

A garota empurrou Jason fingindo iniciar uma luta enquanto ele ria dela.

– E aí, Samantha? - ele a cumprimentou com um toque.

Samantha?Quem?

Olhei em seu bordão e quase exclamei de surpresa. "Chefe de Inteligência"? Ah,não...

– Quem é essa... - Samantha perguntou, olhando para minha farda. - Chefe de Inteligência? - ela ergueu as sobrancelhas.

– Esta é America. America, Samantha. - Jason nos apresentou, dizendo meu nome para ela. O que diabos ele tinha feito ao me entregar?

– Ah, há há. - Samantha sorriu sarcástica. - Jason, você enlouqueceu? Está camuflando uma selecionada... entre nós!

Hello-oh, eu estou aqui!

– Qual é, Samantha! - Jason resmungou. - Você a idolatra!

Ops. Aquilo provavelmente não deveria ter sido dito. Samantha encarou Jason com uma expressão visivelmente furiosa, e ele se pôs atrás de mim. Diga alguma coisa, ele sussurrou.

– Sim, sou America. - eu afirmei. - Jason é realmente louco. - tentei soar o mais durona possível para me igualar á Samantha. - Um idiota.

Se eles fossem amigos, provavelmente eu havia ganhado pontos com Samantha.

Acertei.

– Gostei de você. - ela sorriu e me estendeu a mão. - Sou Samantha. Samantha Campbell. Chefe de Inteligência. Como é estar na minha roupa? - ela perguntou, parecendo se divertir com a situação.

Olhei para Jason furiosa. Ele havia me emprestado a roupa de Samantha? Droga.

– Venham. - ela chamou. Jason me agradeceu com o olhar e eu lhe dei uma expressão de sarcasmo. Samantha nos guiou até a entrada da base, guardada por dois soldados completamente mascaradas e munidos de armas enormes. Um deles se dirigiu até Samantha e cochichou algo em seu ouvido. Ela disse que voltaria em minutos, e saiu junto com o soldado.

Jason olhou para mim e eu balancei os ombros. O que faríamos ali?

– Vou te mostrar um lugar. - ele disse, estalando os dedos. - Vem!

Seguimos por um corredor reto até chegar a uma área ao lado do ginásio.

– O Arsenal. - ele apresentou, abrindo as mãos e mostrando o lugar.

Por Deus, que loucura era aquilo! A área era repleta de motos enfileiradas, prateleiras cheias de armas de todo tipo, uma parede de bombas inativadas, paredes só para fuzis e balas e finalmente, uma cabine de vidro cheia de pequenos robôs enfileirados. Eles tinham algo dourado dentro de si, o que me chamou a atenção. Me aproximei da vitrine e toquei num deles. Uma faísca se acendeu no robô, quando Jason pulou em cima de mim e me derrubou.

– Cuidado! - ele gritou, e então caímos no chão. Quando olhei para a vitrine, o robô estava em chamas.

– Desculpe! Não sabia que eram... sensíveis ao toque?– perguntei confusa. Aquilo sim era tecnologia de ponta!

Jason me ajudou a levantar e passou a mão nos cabelos. Ele parecia assustado.

– Esses robôs ainda estão em fase de teste. Não percebeu que estão isolados do resto do Arsenal? - ele perguntou. - Você poderia ter morrido.

– Desculpe. - pedi. Na mesma hora Samantha entrou no Arsenal.

– Não posso sair um minuto que vocês já fazem isso? - ela perguntou, fingindo estar brava. Jason deu-lhe um sorriso falso e ela estalou a língua, se divertindo com a situação.

– O que eles queriam? - Jason perguntou á Samantha.

Samantha abriu um sorriso radiante no rosto.

– Preciso mostrar uma coisa pra vocês! Rápido!

Jason e eu a seguimos por um corredor reto e descemos algumas escadas, até chegarmos a uma sala cuja porta era gigante e de metal puro. Perguntei por um momento qual a chance de entrarmos ali, já que nem fechadura a porta tinha. Mas Jason apenas me puxou para longe da porta enquanto Samantha passava a mão na porta, que abriu como mágica. Vendo a minha expressão, ele riu.

Samantha entrou na frente sem nem hesitar, mas logo que a porta se abriu por inteiro fiquei cega por alguns segundos. A sala parecia estar tomada por uma forte neblina, e no momento que entrei algo fez meu corpo perder o equilíbrio. Eu teria caído se Jason não tivesse me segurado nos braços,.

Quando abri os olhos, não acreditei.

– Contemplem, - Samantha levantou as mãos, definitivamente tão arrebatada quanto eu e Jason - nossa primeira máquina!

Por Deus, aquilo era loucura. Eu nunca tinha visto tanta tecnologia em minha vida, aquela coisa era incrível. Não atentei ao resto da sala, perdidamente surpresa. Jason parecia tão maravilhado quanto eu.

Ficamos por alguns segundos ali, parados, só observando.

Até que Samantha montou naquela coisa e a sala toda estremeceu.