O plano de Jack, o coelho branco, não tinha falhas. Angelique o encontraria em breve e sua curiosidade seria tanta que não resistiria em segui-lo até a toca do coelho. Ele teria o primeiro lugar na corrida, como todos os outros de sua família. Exceto por um pequeno detalhe...

Entre um bar e uma boate, ali estava Sebastian, esperando pacientemente por uma luz que indicasse seu caminho para um dos dois locais. Talvez ele não fosse, pela primeira vez na vida, a pessoa errada no local errado no momento errado. Não naquela noite.

Nancy, a esperta mas não tão inteligente coelha negra, não tinha um plano. Mal sabia o que fazer, era sua primeira corrida. Tudo que lhe passava em mente era o que comeria naquela noite. Porém ela tinha algo a seu favor que nem mesmo ela havia notado: Sebastian era homem.

Finalmente sua luz, uma mensagem piscou na tela de seu celular, parece que a despedida de solteiro de seu amigo seria na boate. Lá ia Sebastian, que exatamente como Nancy, só pensava no que comeria aquela noite... Em outro sentido.

Nancy por outro lado, seguiu sua "luz" pelos bastidores. Uma loira baixinha, uma coelhinha rosa... Nancy até chegou a pensar que era outra de sua espécie... Esgueirando-se pelos fundos, entrou em um tipo de vestiário. Para Nancy era estranho ver mulheres se vestindo de coelhas, uma vez que ela não precisava de arco algum para erguer suas grandes orelhas pretas e aveludadas.

– O que está fazendo? Por que ainda não está pronta? - Uma ruiva bem aparentada gritava por cima da música para Nancy. A falta de crachás podia ser um problema, mas não para Nancy, obviamente.

Nancy apenas deu de ombros, para ela tudo era muito novo, tão novo que a fazia esquecer dos velhos afazeres.

– Toma aqui, vista isso e vá! - Um maiô preto e meias-calças pretas, um belo par de saltos e parece que a ruiva acertara em cheio na cor que combinaria perfeitamente com Nancy.

Sem nem pensar duas vezes, ao ver o riso estampado nos rostos e tantas risadas, Nancy vestiu-se logo e seguiu a música. Pobre Nancy... Pobre Nancy? Não, ela realmente estava se divertindo vendo mulheres dançando em barras, tantas luzes, música, tanta gente dançando na pista. No fundo, ela queria estar ali.

Sebastian que acabara de entrar, já tinha uma lata de energético na mão e um pequeno sorriso cafajeste no rosto. Ele não reconheceria Nancy, porém ela sim. E ela o reconheceu. Há metros de distancia.

A festa continuou, dança, bebidas, pegação, coisas típicas de uma boa despedida de solteiro. Nancy ainda não sabia como chegar em Sebastian, ela sabia que era necessário, mas até mesmo para ela era estranho a ideia de chegar para um estranho e dizer "Precisamos ir até o País das Maravilhas". Mas que outra escolha ela teria naquele momento.

Mas ela não precisaria de tal abordagem...

Foi no instante em que Nancy subiu ao palco que Sebastian a notou. Pele morena, longos cabelos negros encaracolados, olhos amendoados e profundos olhando bem em sua direção. Ela dançava com uma graça desconhecida até então naquele lugar, ao ponto de fazer alguns muitos olhares congelarem. Sebastian achara sua presa, seu jantar.

Já passava das três da manhã, e com muito álcool no sangue, Sebastian chegou em Nancy antes mesmo que ela tivesse a chance de sua investida.

– Olá, senhorita... - Ele puxou o assunto com o olhar mais sedutor que conseguiu fazer em seu estado de quase coma alcoólico.

– Meu nome é Nancy. Me chame de Nancy. - Nancy viu ali sua chance. Ela abriu a boca para falar, mas Sebastian a interrompera.

– Por que não vamos para algum outro lugar? - Sugeria Sebastian, para alegria de Nancy e sua própria desgraça.

Jamais se vira um sorriso tão radiante quanto o que surgira no rosto de Nancy naquele momento. Com um aceno, ela conseguira tudo que precisava em um instante. Sem planos, sem pensar, apenas ao acaso. Ela estava com sorte.

Jack estava preparado para ter seu primeiro lugar, porém desconsiderou o pequeno fato de que o alvo de sua rival era um homem fraco e provavelmente bêbado. E naquele momento, entre beijos e amassos, Nancy conseguira conduzir Sebastian à sua casa... À sua verdadeira casa.

Talvez no dia seguinte, ao acordar, Sebastian percebesse que aquilo não era uma cortesia da playboy, mas então, já seria tarde demais.