Hora da Festa!

Todos os olhares pairavam sobre Angelique, a mais nova autora de um best seller da pequena cidade de Cleverland, porém os da desajeitada moça se incomodavam apenas com um dos convidados. Parado em um canto qualquer do salão, enquanto todos os outros se divertiam em um baile de máscaras em homenagem ao best seller de Angelique - Universo Paralelo - ali estava o que Angelique descrevia em sua mente como a "mais pura expressão de tédio e impaciência". Não podia ser diferente, aquele homem alto de longos cabelos loiros, terno branco e máscara de coelho era Jack.

Diferente de todos os outros no centro do salão, Jack não estava interessado em nada daquilo. Nem canapés, nem champanhe, nem mesmo música. Apenas olhava seu pequeno relógio de bolso a cada 10 minutos esperando que não fosse tarde demais para retornar ao seu lugar de origem, porém com toda calma para não perder sua missão que o fazia perder tanto tempo.

Angelique só queria entender o porque de alguém não estar se divertindo em sua festa, afinal, jovens de 18 anos são sempre as melhores quando o assunto é "agito". Talvez por ter seu orgulho ferido, ou por ter seu interesse despertado, foi que se aproximou pela primeira vez daquele que seria seu passaporte para o tipo de lugar que antes só existia em suas histórias.

– Então, explique-me o que um garoto faz tão impaciente em uma festa tão divertida? - Angelique se jogou contra a parede ao lado do coelho de branco, esperava que talvez ele estivesse passando mal, ou quem sabe fosse apenas um chato.

Jack não a olhou. Apenas respondeu secamente.

– Explique-me a senhorita o que de divertido teria em uma festa de bêbados lunáticos que festejam o que desacreditam?

Talvez aquela tenha sido a primeira e mais sólida crítica que Angelique recebera, mas sabia que a crítica não era direcionada a ela. Girou sobre o salto até estar de frente para o rapaz que lhe parecia um poste - mal sabia que para ele, era ela quem parecia uma anã.

– Pois me mostre o que seria o mais correto de festejar, senhor coelho.

Angelique tinha o sorriso mais divertido em seu rosto, mas não foi o suficiente para mudar a expressão fria de Jack.

– Sou Angelique Haidee. Sua anfitriã. - Tornou a falar agora encarando as unhas (algo que o incomodava mais que o fato de estar em uma missão tão arriscada).

– Jura? - Perguntou ironicamente. - Sou Jack. Peço educadamente que me siga.

Talvez aquilo pudesse ser simples, pensava Jack.

– Onde vamos?

Mas para Angelique não era tao simples assim seguir um desconhecido por aí.

– Terá que vir para saber.

Pela primeira vez na noite um sorriso surgiu no rosto de Jack, que ao guardar seu relógio de bolso seguiu em direção ao jardim sem ao menos olhar atrás.

Eram muitos para cumprimentar, Angelique não tinha tempo para coelhos chatos e rabugentos, porém algo naquele rapaz de terno branco a chamava. Um convite ao desconhecido, tudo que Angelique sempre esperara. Ótimo, ela estava decidida, e talvez fora perceber isso que fizera Jack dar seu primeiro pulinho ao caminhar para fora, ele sentia que estava tendo algum avanço.

Algumas pessoas paravam Angelique para uma curta conversa em seu jardim, porém lá estava Jack, sempre à distância, esperando que o visse e desse o próximo passo. Foi assim que exatamente meia noite, Jack e Angelique chegaram ao centro daquela estufa cheia de plantas e flores diversas.

– O que você quer? Onde quer chegar?

Agora a impaciência estava no rosto de Angelique que acabara de retirar sua máscara, enquanto uma enorme serenidade invadia Jack, fazendo-o relaxar os ombros e os músculos.

Jack não lhe deu uma resposta, ele não sentia necessidade de fazê-lo. Apenas estendeu a mão em sua direção com um sorriso no rosto, e ali estava Angelique... Confusa, com um estranho, sem entender o sentimento que a preenchia. Talvez fosse atração, talvez algo mais... Ela apenas aceitou a mão que lhe foi estendida.

Algo que não fazia o menor sentido.

Algo que não poderia ser real.

Lá estava ela, deitada em sua cama, e lá estava ao seu lado um pequeno bilhete: Siga o coelho!

Jack soube ao primeiro olhar, aquela seria a captura mais fácil. Sua "alice" estava pronta para cair.