Contenda escrita por Anastacia B, Kah Correia


Capítulo 8
Capítulo 8 -Trabalho de Campo




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Os outros dois dias passaram como um verdadeiro borrão.

Art finalmente havia passado a me avaliar de forma física e nunca mais, havíamos tocado no assunto anterior referente à Dimitri e eu. De certa forma aquilo acalmou um pouco meus ânimos e assim, eu consegui melhor desempenho nos primeiros testes de luta e condicionamento físico.

Embora Arthur se negasse a me dar alguma resposta sobre como eu estava me saindo afinal, os sorrisos de aprovação de vez em quando vindos de Dimitri, me mantinham na linha do que aparentemente, estava sendo um bom aproveitamento. Tudo iria correr bem eu sabia. Ele iria me aprovar.

Dimitri e eu, ainda mantínhamos a linha de autocontrole bastante forte entre nós. Ou melhor, ele o mantinha forte e eu ocasionalmente, me pegava desejando livra-lo de suas pesadas roupas de frio e coloca-lo junto comigo, naquela imensa cama gelada. Eventualmente minhas ideias nunca foram concretizadas é claro. Uma por que eu estava bastante preocupada com os testes, e isso acabava tomando uma grande parte do meu tempo e outra, por que Dimitri mantinha a famosa distância segura entre nós na maioria das vezes. Eu agora estava usando calças também. Calças e meias e camisetas compridas.

–Você esta usando camiseta de manga comprida, mais uma vez – Dimitri apontou rindo, enquanto me observava entrar na cozinha, para o café da manhã. –E também calças compridas. – A ênfase desnecessária dele, me fez bufar.

–Eu não vejo graça – Virei os olhos, sentindo meu humor matinal me invadir. Enquanto eu me sentia horrível e desesperada, Dimitri parecia lindo e inabalável naquele suéter verde de gola alta e jeans.

Jeans? O que eu havia perdido?

–Estamos vestidos para sair hoje. – Foi minha voz de sorrir, enquanto sentava na cadeira da cozinha.

–Ah sim. – Dimitri corou um pouco e olhou a si mesmo. –É por que hoje, nós vamos dar uma volta.

Eu quase cuspi meu chocolate quente.

–Quer dizer sair? – O encarei com expectativa. Um sorriso diabólico cruzou o rosto de Dimitri.

–Exatamente. – Ele deu a volta e seguiu para o forno e de lá, retirou alguns pães escuros. –Fiz pra você. É a receita da minha mãe.

–Oh – Sem me preocupar com queimaduras, peguei dois de uma única vez –Obrigada!

Enquanto passava manteiga em um, resolvi continuar com minha especulação particular.

–E isso quer dizer o que? Digo, a respeito de sair e tudo mais.

Dimitri sorriu e logo devolveu a assadeira ao forno.

–Eu conversei com Art e realmente ele esta satisfeito com seu desempenho nesses últimos dias. Dessa forma, ele concordou em dar uma folga pra você.

–Está falando sério? – Perguntei de boca cheia, incapaz de conter minha excitação. Minhas preces finalmente haviam sido atendidas. Dimitri e eu iriamos ter um momento a sós em algum tipo de atividade, que não envolvesse mortes, sangue e Strigoi. Definitivamente eu esperava que isso envolvesse um hotel de luxo com hidromassagem e um quarto bem grande, com uma cama imensa coberta por lençóis egípcios.

Não percebi estar tão alienada, até que Dimitri me chamou.

–Rose?

–Sim – respondi, voltando ao mundo real.

–Você ouviu o que eu disse? – Ele franziu o cenho confuso, enquanto olhava pra mim.

–Não. O que era?

–Você está afundando sua mão no pote de margarina. – Ele tocou seus lábios, claramente segurando uma risada histérica.

–Ow! – Olhando para minhas mãos, percebi que ele tinha razão. Embaraçada demais para responder, limitei-me a retirar minhas mãos do pote e ir lava-las em seguida na pia. Quando retornei, Dimitri havia sentado a minha frente e tinha os braços cruzados sobre a mesa.

–Então. – Ele retomou a conversa, enquanto me observava comer. –Eu tenho algumas opções pra você. Os Badica hoje receberão visita, e então Art estará ocupado até que eles partam. Isso nos dá aproximadamente um dia e meio ou dois de folga. Quando voltarmos, ele irá finalmente nos dar o veredicto. Seu primeiro certificado.

Wow! Era ainda melhor do que eu imaginava. Dois dias somente com Dimitri fazendo coisas normais e ainda para melhorar tudo, eu estava a menos de dois passos do meu primeiro certificado oficial.

–Vamos dormir fora? – Foi minha primeira pergunta.

–Talvez. – Ele respondeu vagamente.

–Vamos viajar de carro?

–Sim. Vamos de carro.

–Ótimo. – Sem esperar pelo término do chocolate quente, me levantei e comecei a caminhar até as escadas.

–Rose!

–Sim? – O olhei por cima do ombro. Eu tinha coisas para arrumar.

–Você nem ouviu as minhas propostas. – Ele apontou meio perdido.

–Não preciso camarada. Se eu estarei com você, vou ficar bem. – Piscando, dei as costas e segui para o segundo andar.

Não demorou nem meia hora para que eu organizasse minhas roupas e as tacasse de uma única vez na mala. Dimitri me olhou perplexo quando em tempo recorde, consegui juntar tudo e colocar as coisas no carro, bem antes dele.

Art apareceu quando estávamos prestes a fechar o porta-malas.

–Vejo vocês em dois dias. – Art me abraçou e em seguida Dimitri. – Cuidado com a dama, Belikov. As estradas são traiçoeiras ainda mais a noite. Evitem ficar expostos após o por do sol e lugares cheios, definitivamente não são opção por aqui.

Dimitri abriu um amplo sorriso.

–Eu sei de tudo isso amigo, e pode ter certeza, que vou cuidar bem da dama. – Dimitri piscou pra mim e em um gesto bastante suicida, eu corei como um tomate maduro. –Vamos tomar cuidado e obrigado pela preocupação.

–Tchau Art! – Voltei a abraça-lo. –E obrigada pela folga. Nos vemos em breve, pra você me entregar o meu primeiro diploma. – Pisquei pra ele marota, que também sorriu.

–Você vai ser uma guardiã espetacular um dia.

–Tenho certeza disso. – Foi Dimitri que se pronunciou. Ele abriu a porta pra mim e então se colocou no banco do motorista.

–Tchau Art! – Abri o vidro e me arrependi no exato instante, que uma massa de neve que estava em cima do carro, caiu sobre meu casaco. – Oh merda. – Protestei e eles riram.

***

Dimitri pegou a estrada. Eu não entendi muito bem para onde estávamos indo, até que avistei a placa para Livingston, que era uma cidade vizinha a Billings. Segundo o mapa local que Dimitri havia comprado pra mim em um posto de gasolina, estávamos há um pouco mais de três horas, do local desejado.

–Vamos voltar aos cowboys? – Murmurei mal humorada, quando Dimitri ligou o rádio. Ou era isso, ou era o silêncio mortal.

O dia estava parcialmente encoberto, mas algumas fresas de sol ainda apareciam de vez em quando pela estrada, trazendo uma falsa sensação de calor. Mesmo com o aquecedor ligado do carro, eu ainda sentia meus pés e mãos gelados.

–Ou as músicas dos anos oitenta. – Dimitri completou de forma irônica, similar a que eu sempre fazia.

–Isso não é engraçado camarada. – Mordi os lábios para não rir da minha tristeza. – Já podemos parar? Estou com fome.

–Rose, nos paramos não faz nem uma hora. – Dimitri virou os olhos e eu sorri.

–Eu só fui ao banheiro da última vez. Agora eu quero mesmo comer. – O encarei e no mesmo instante me arrependi. Dimitri estava deslumbrante em sua postura no carro, com os cabelos soltos e tão sedosos, que estavam implorando pelo toque. Definitivamente a cor verde caia muito bem pra ele também.

–O que foi? – Ele perguntou segurando o riso.

–Nada – Desviei o olhar, me amaldiçoando por se quer ainda me imaginar sem roupas com ele. Aquilo iria ser a minha desgraça.

–Você está emburrada. – Ele continuou em seu tom descontraído. – Está com fome mesmo não é?

–Ah sim. Muita fome. Você não faz ideia de quanto. – Mal reparei no meu tom grave, mas Dimitri sim. Em um instante apenas, sua expressão mudou para desconfortável. Ele sabia bem o que eu queria dizer.

Ironia ou não, acabamos por parar em um restaurante Country onde algum tipo de festa de aniversário, estava sendo contemplada. Não ficamos por muito tempo, mas foi o suficiente, para Dimitri conseguir alguns números de telefone, enquanto eu pedia outra coca no balcão. Ele não comentou nada e eu muito menos, perguntei o que ele iria fazer com aquilo. Não era do meu interesse. Eu precisava acreditar realmente nisso.

Chegamos ao nosso destino um pouco mais das duas horas da tarde e acabamos decidindo por nos hospedar primeiro, e depois nos dispersarmos para os passeios. Eu não fazia a mínima ideia do que Dimitri tinha planejado, mas resolvi que iria seguir com aquilo sem protestar.

–Infelizmente só dispomos de um quarto, senhor – A loira de cabelos cacheados sorriu. Virei os olhos, me sentindo a pior das criaturas, por estar tendo que passar por aquilo mais uma vez, quando eu queria simplesmente socar todas elas. Eu odiava o efeito que Dimitri tinha sobre o público feminino, e odiava mais ainda, eu não poder fazer nada para evitar aquilo tudo.

–Que seja então. – Finalmente Dimitri pareceu considerar a oferta de ficarmos no mesmo quarto. Sem esperar por ele pegar a chave, comecei a seguir o carregador de malas, em direção aos elevadores.

O quarto era razoavelmente grande. Nem perto do que eu havia esperado em meus sonhos eróticos com meu instrutor, mas era o suficientemente bom para nós dois por uma noite. Havia uma grande lareira de pedras grafite em um canto com duas poltronas, um armário pequeno de roupas com um gaveteiro e uma grande cama king size bem no centro. Em cima da cama também estavam algumas pétalas de rosas vermelhas.

–Acho que estavam esperando um casal em lua de mel. – Dimitri comentou em voz firme, mas eu sabia que ele estava pensando a mesma coisa que eu.

–É – respondi vagamente, enquanto caminhava até o banheiro. – Wow! Veja isso aqui!

Dimitri se aproximou assim que soltou nossas malas. A visão da grande banheira de hidromassagem era espetacular. Frascos e mais frascos do que pareciam ser aromatizantes e sabonetes, coloriam uma fileira transparente de vidro. Soltei minha mochila no chão e comecei a tocar as embalagens.

–Morango com chantilly. – Eu ri de minha própria piada. –Oh esse é melhor. Framboesa silvestre e amêndoas. – Enruguei o nariz. –Você já imaginou misturar... – Meu argumento morreu quando girei para encarar Dimitri. Ele estava olhando pra mim. Ou melhor, estava olhando pra mim e para a estante atrás de mim. A estante com as coisas coloridas e cheirosas para se usar no banho.

Não sei por que motivos eu simplesmente parei de respirar. Talvez fosse por causa do seu olhar intenso, ou talvez, mas provavelmente, fosse pela minha vontade louca de pular no pescoço dele. Uma vontade tão grande, que estava por me entupir quaisquer pensamentos coerentes. O ar se tornou denso de repente.

Forçando-me a focar em algo que não fosse Dimitri, eu e a banheira, respirei fundo e passei por ele. Tirei meus tênis e sentei na cama, folheando uma revista que estava ali, sem realmente vê-la.

Dimitri também recuou e tirou os sapatos, sentando em uma das poltronas com uma das revistas do quarto.

–Você está com a revista de ponta cabeça. – Ele interrompeu o silêncio de repente, nitidamente segurando uma risada.

–Ah. – Quando foquei de vez no objeto que eu tinha em mãos, me senti corar. -
Eu estou treinando com o outro lado do meu cérebro.

Ele gargalhou e eu também ri.


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Notas finais do capítulo

Então é isso... O que acharam?!



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