Abri meus olhos em espanto, mas logo me rendi aos encantos do meu mentor mais velho. Fechando meus olhos, o puxei para mais perto e abri meus lábios pra ele. Para Dimitri. Ele me empurrou contra a fileira de armários na parede, apoiando seu corpo totalmente contra o meu, enquanto nos beijávamos e beijávamos.

Senti o exato momento em que suas mãos seguiram para a barra da minha camiseta e passaram a tocar minha pele por dentro da roupa. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas não iria perder a oportunidade de jeito nenhum. Levei minhas mãos à barra de sua camiseta azul, precisando desesperadamente sentir a textura de sua pele. Foi quando Dimitri se distanciou bruscamente.

-Não! – Ele virou de costas e tocou sua cintura. – Não Roza. Isso não esta certo.

Aturdida demais com seu duplo temperamento, abri e fechei a boca algumas vezes, sem conseguir pronunciar nada coerente.

Dimitri começou a se distanciar. Foi quando meu sangue voltou a ferver.

-Hey!

Ele me olhou por cima do ombro. Novamente sua expressão estava desprovida de qualquer sentimento. Vazia.

-Por que diabos está fugindo? – Fechei meus olhos e os abri, sentindo minha ansiedade e nervoso.

-Eu já disse. Não é certo.

-E você também já disse que não podemos ficar juntos. – Apontei, ajeitando minha postura. Dessa vez Dimitri girou completamente o corpo e passou a me encarar, com os braços cruzados.

-Sim. E o que sugere? Que continuemos o que estávamos fazendo? Isso não vai acabar bem Rose e você sabe tão bem quanto eu, do que estou falando.

Meu sangue todo deve ter se transferido para o meu rosto, mas não me importei.

-Ainda não sou a guardiã dela. – Foi minha vez de cruzar os braços. – E nem você.

Dimitri respirou fundo e abriu e fechou os olhos um par de vezes, antes de voltar a falar.

-Isso não vai dar certo Rose. Já tivemos essa conversa antes.

-Mas estávamos cercados de gente e não como agora, escondidos dentro de uma casa do meio do nada e sozinhos.

Dimitri esboçou um meio sorriso triste, mas logo desviou o olhar.

-Não é só o problema de sermos guardiões de Vasilisa. Tem todo um problema por trás. Sua idade por exemplo.

Dessa vez eu virei os olhos.

-Oh não venha com essa. Eu já disse a você que não me importo e de qualquer forma, você não parece me ver como uma criança. – Sorri intencionalmente e pareceu ter funcionado, pois Dimitri começou há suar um pouco e então desviou o olhar novamente. Ponto pra mim! Eu havia deixado o guardião fodão desconsertado.

-E então? – Apoiei um de meus pés na frente de meu corpo e comecei a meche-lo impacientemente, enquanto aguardava.

-Rose, isso é uma loucura. – O tom de voz de Dimitri era quase entregue. Eu estava ganhando a batalha e ele sabia disso. Aproveitando-me da situação e recusando-me a ceder, comecei a caminhar em sua direção e só parei, quando estávamos frente a frente. Dimitri me encarava com intensos olhos castanhos e seu rosto estava parcialmente corado. –Isso é uma loucura. – Ele repetiu, quando sentiu a ponta de meus dedos em seu rosto.

-Eu sei que é, mas não consigo evitar. – Sussurrei, ficando na ponta de meus pés.

-Eu não te vejo como criança e sabe disso. –Ele respondeu no mesmo tom rouco que o meu. Ele estava prestes a me beijar. Eu podia sentir seu hálito fresco fazendo cócegas sobre a minha pele, enquanto ele impulsionava pra frente.

E novamente a porta se abriu. Dimitri foi quem se distanciou, por que honestamente, eu não tinha humor suficiente para aquilo. Eu queria gritar e expulsar quem quer que fosse que estivesse nos interrompendo mais uma vez, mas minha raiva foi interrompida, quando uma criança entrou no cômodo. Um menino de não mais que cinco anos com intensos olhos azuis e cabelo castanho, sorriu pra mim. Um Moroi criança.

-Kevin, eu já disse que precisa bater antes de entrar. – Eu ouvi a voz de Arthur e ele logo entrou atrás do pequeno garoto. Ele também estava sorrindo.

Art deve ter percebido minha expressão, pois logo improvisou sua resposta.

-Este é Kevin Badica. O filho mais novo de Oswald Badica – Logo seus olhos pousaram na pequena criança. - Kevin, cumprimente os dois guardiões.

O menino então a passos decididos veio até mim e ergueu sua pequena mão pálida.

-Muito prazer. Sou Kevin Badica. – A formalidade em sua voz me fez sorrir. Tão pequeno e gracioso, como um Moroi da realeza. Mas ao contrário de muitos, ele ainda tinha e sensibilidade de uma criança.

-Muito prazer Kevin. – Ergui minha mão e apertei a dele suavemente. – Sou Rose e este é Dimitri. – O menino seguiu e repetiu o mesmo gesto com Dimitri ao meu lado.

-Muito prazer Kevin. – Ele respondeu suavemente. Percebi ali que Dimitri tinha uma inclinação por crianças. Sua expressão era bastante relaxada e seus olhos brilhavam um pouco.

O menino então se distanciou e foi para perto de Art, que o envolveu com um braço.

-Kevin sempre está perto de mim. Ele adora conversar com os guardiões. –Novamente Art sorriu. Nitidamente ele tinha um afeto pela criança Moroi. Era uma coisa bastante curiosa. Não que realmente não existisse algum tipo de afeto entre guardiões e seus protegidos, mas era raro encontrar algum caso como o meu, por exemplo, com Lissa. Não era algo natural. Era mais para um acordo mútuo.

-Ele parece ser bastante esperto para uma criança. – Dimitri apontou e logo se ajoelhou no chão, chamando Kevin. –Quantos anos tem Kevin?

O menino então se encolheu um pouco e olhou Art, que logo sinalizou.

-Cinco anos.

-Oh. Cinco anos. – Dimitri sorriu. Um amplo sorriso brilhante. Algo se remoeu dentro de mim. Algo parecido com inveja.

-Rose, você está louca. – Repeti mentalmente a mim mesma.

-E o que gosta de fazer? – Dimitri insistiu e então Art bateu gentilmente nas costas de Kevin, o incentivando a se aproximar. O menino então seguiu e parou bem a frente de Dimitri.

-Eu gosto de brincar de ser um guardião. Tio Art me deixa lutar junto com ele. Ele disse que quando eu crescer, eu vou ser um bom lutador.

Wow, aquilo era realmente fantástico. Sorri.

-Ah claro. – Dimitri o incentivou.

Cruzei meus braços na altura de meus seios e apenas observei.

-E você quer me mostrar o que está aprendendo?

Kevin abriu bastante seus olhos azuis, se sentindo nitidamente empolgado pela iniciativa.

-Claro! – Ele então pegou a mão de Dimitri que prontamente se levantou com cuidado, e o guiou para a área da sala, onde começaram a “brincar de luta”. A cena era hilária e por duas ou três vezes, Dimitri fingiu ter sido atingido, recebendo uma risada alta de Kevin.

-Ele realmente gosta disso. – Comentei com Art, enquanto nos dirigíamos para a mesa da cozinha.

-Está falando de Dimitri ou Kevin? – Ele perguntou sabiamente. O encarei.

-Dimitri também me parece gostar de crianças. Quero dizer, o Guardião Belikov. – Corei, enquanto me sentia estúpida por não me lembrar de que para o resto do mundo, eu e Dimitri tínhamos um relacionamento estritamente profissional.

Art me encarou por um longo momento sem dizer nada. Senti o rubor de minhas bochechas aumentarem ainda mais, diante de seu olhar inquisidor.

-O segredo de vocês está guardado comigo. – Ele falou sem rodeios um tempo depois, enquanto voltava a encarar Dimitri e Kevin.

Minha respiração cessou por completo. Do que diabos ele estava falando?

-Eu...Não sei do que você está falando

Art voltou a me fitar e eu vi um esboço de sorriso transparecer em suas feições rígidas e sérias.

-Oh jura? É muito óbvio pra mim que acontece algo entre vocês dois. Eu já havia suspeitado quando vi vocês juntos pela primeira vez. Mas a forma como ele olha pra você e você retribui, não me restaram dúvidas.

Eu estava prestes a ter um ataque cardíaco naquele exato momento. Eu suava tanto, que parecia estar diante de uma mesa de interrogatório, sob pena de morte. Art também percebeu isso, pois logo riu. Uma baixa risada nasal.

-Olhe só pra você.

Ele não precisou continuar. Por Deus, eu estava me entregando sozinha. Fechei e abri meus olhos uma única vez, enquanto respirava fundo. Ou era isso, ou eu estava correndo um sério risco de colocar a reputação de Dimitri na linha do tiro. Se para Art eu estava sendo tão transparente assim e ele me conhecia a não mais que dois dias, para Lissa, ou pior, para Kirova e Alberta, eu deveria estar parecendo um livro aberto. Logo todos iriam perceber aquilo e eu definitivamente, não poderia deixar aquilo acontecer.

-Eu, não sei do que você está falando. – Disse com voz mais firme do que esperava.

-Olha Rose. – Ele coçou sua testa, parecendo um pouco cansado. – Eu sou velho sabe. Eu já vi muita coisa nessa vida e entendo por que esteja mentindo pra mim. – Os olhos sábios de Art seguiram novamente para a brincadeira na sala. –Mas eu não vou insistir. A única coisa que peço a vocês é que tomem cuidado. Você é aluna dele e eu conheço Dimitri melhor do que muitas pessoas. – Ele voltou a me encarar. –E eu sei muito bem, onde isso pode dar, se vocês dois não forem cuidadosos.

Sem mais muralhas ao meu redor, resolvi ser honesta.

-Nós não, estamos juntos. – Desviei o olhar dele para minhas próprias mãos que agora, estavam sobre a mesa de madeira. –É só um pouco complicado, mas Dimitri é responsável por nós dois. – Sorri de forma triste. – Ele nunca deixaria nada acontecer com Lissa. Ele é muito responsável.

-Ele com certeza é responsável sim, mas não se esqueça nem se quer por um momento, que ele ainda é homem Rose. – Art baixou um pouco mais sua voz. –E você é uma moça muito bonita que com certeza, o atrai.

Voltei a ficar rígida em minha postura.

-E vocês tem um bem em comum. A princesa Dragomir. Você deixaria que alguma coisa acontecesse com ela?

Uma explosão de medo de fez dentro de meu estômago. Ele tinha razão e mesmo sem continuar, eu compartilhava exatamente as mesmas palavras não pronunciadas por Art. Lissa era a prioridade. Lissa era a nossa protegida.

“...Se eu me permitir amar você, eu não vou entrar na frente dela. Eu vou entrar na sua frente.”

As palavras de Dimitri ecoavam agora em minha mente e eu me senti desesperar. O que diabos eu estava fazendo? Eu estava colocando a vida da minha melhor amiga em risco, por um capricho meu? Oh não. Dimitri era muito mais do que um capricho pra mim. E assim como Art sugeriu, eu estava apaixonada por ele. Oh Deus.

Sem que eu me desse conta, baixei minha cabeça entre minhas mãos e fiquei de olhos fechados durante um longo tempo. Aquilo pareceu chamar a atenção de Dimitri.

-Rose?

Eu ergui minha cabeça e foi quando nossos olhos se encontraram. Art permaneceu em silêncio ao meu lado e logo se levantou indo na direção dos sofás.

-Kevin, precisamos ir jantar ou seus pais vão brigar comigo. – Suavemente ele pegou a mão do menino agora ofegante pela brincadeira, e seguiram para a porta, mas antes de sair, ele se voltou para nós. Seus olhos passando sabiamente por mim e em seguida, por Dimitri. – Conversem entre vocês. Vocês precisam de um tempo pra isso. Amanhã pela manhã eu passo aqui para continuarmos Rose. – Art piscou e então saiu pela porta.