Contenda escrita por Anastacia B, Kah Correia


Capítulo 2
Capítulo 2 - Viajantes Noturnos




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-Rose? – Senti um cutucão no meu ombro. Assustada, virei tão rápido que quase senti meu mundo girar. Dimitri tinha estacionado o carro e estava tirando seu cinto de segurança. Olhei ao redor e notei que havíamos parado em uma das vagas de um tipo de parada para viajantes, bem de frente há um posto de gasolina. O lugar estava quase deserto, dado o horário da madrugada.

-Você deve estar com fome. – Dimitri sugeriu, enquanto me observava olhar ao redor. – De qualquer forma, eu preciso abastecer. Então posso te encontrar lá dentro?

Me virando para encara-lo, eu respondi

-Claro. Eu vou comer alguma coisa e usar o banheiro. – Sem esperar por um segundo incentivo de Dimitri, eu abri a porta do quarto e comecei a caminhar. A noite estava particularmente fria, fazendo com que eu me encolhesse cada vez mais em meu moletom conforme eu andava.

Abri a porta do restaurante e olhei ao redor. Meus dentes chiavam e eu me xinguei mentalmente, por não ter pegado uma das camisas térmicas que eu havia comprado com Lissa no shopping. A memória me fez enrugar meu nariz. O shopping estava automaticamente ligado a Victor Dashkov e a sua filha Natalie. Infelizmente, Natali havia morrido durante todo o processo de quase tentar me matar. Eu devo admitir, que se não fosse por Dimitri ter aparecido bem na hora do golpe final, eu me manteria dessa vez morta.

-Moça? Precisa de ajuda? – Uma voz aguda me fez girar a cabeça. Uma moça magra com cabelo loiro e preso, me olhava com expectativa enquanto lustrava um balcão com um pano úmido.

-Eu estou procurando uma mesa. – Tirei minhas mãos dos bolsos e alisei a jeans. O mesmo infelizmente não funcionaria para o meu cabelo, que eu tinha certeza estar um caos.

-Tem várias disponíveis. Você vai sentar sozinha? – Ela deu a volta no balcão e me apontou em um canto ali próximo.

-Estou com um... – A palavra amante de repente palpitou na ponta da minha língua. –Amigo. – Completei.

Ela então sorriu e me acompanhou até a mesa.

-Os banheiros ficam do lado de fora? – Perguntei enquanto analisava o cardápio mais uma vez. Meus olhos ainda pareciam desfocados, graças ao sono profundo no carro de Dimitri. E por falar em Dimitri, onde diabos ele havia se metido?

-Tem banheiros aqui dentro também e eu até aconselho você a usa-los. – Ela olhou ao redor baixando o tom. – Existem muitos homens aqui e quem sabe algum deles, pode resolver infernizar mais uma garotinha.

A forma que ela pronunciou garotinha, realmente me incomodou. Quem ela pensava que era? A senhora super-idosa e experiente? Não mesmo, com aquele rosto só meio acabado de trinta e tantos anos. Ignorando meu sarcasmo, eu resolvi começar meu pedido.

-Eu quero um duplo x-burguer, uma batata grande, uma coca-cola, um pedaço de bolo de chocolate e também um cheese cake para viagem.

A mulher anotou o meu pedido em silêncio, parecendo meio perplexa. Eu ia fazer um comentário esperto, quando Dimitri abriu a porta principal. Ao contrário de mim, Dimitri parecia ainda mais leve e gracioso naquele longo casaco marrom. Suas pernadas eram precisas e seu olhar afiado, enquanto ele me buscava com os olhos.

-Ai está você. – Ele comentou sentando bem na minha frente na mesa de dois lugares. Dimitri tinha um jeito único de mesmo com aquele tamanho todo, parecer extremamente gracioso. Automaticamente os olhos escuros da garçonete pousaram nele com interesse.

-E você? Vai querer algo para comer? – Eu quase poderia sentir seu tom sugestivo, de tanto ela se empenhava em tentar parecer atraente.

-Eu agradeceria se me trouxesse um café, por favor. – Dimitri então sorriu e ela se afastou. Meus olhos encontraram suas costas.

-Está tudo bem? – Ele perguntou depois de um momento.

Forçando-me a desviar o olhar, o encarei.

-Nada. Estou apenas com fome. – Menti, dando de ombros.

Dimitri ainda me encarou durante uma batida de coração, mas logo dispersou o olhar.

Nossa comida, ou melhor, minha comida e o café de Dimitri, não tardaram a chegar. Comi tudo em um tempo recorde e então, me recordei que precisava ir ao banheiro antes de voltarmos para o carro. Sinalizei para Dimitri enquanto ele seguia para o caixa, e fui para o banheiro.

-Mas que coisa não? – Virei os olhos, observando a grande placa “manutenção”, bem na porta do banheiro. –E aquela história toda sobre banheiros externos? – Murmurei mal humorada, enquanto pegava um atalho para o lado de fora do restaurante. Felizmente este estava aberto e para meu incomodo, estava tão deserto como a loira havia descrito. Sem tentar não me preocupar com a possível invasão de óvnis ou algo do tipo, segui em frente. Assim que terminei de lavar as mãos com uma barra de sabonete tão áspera quanto uma lixa, comecei a caminhar para fora do banheiro.

Um movimento estranho me chamou a atenção. Pausando minhas mãos frenéticas na jeans, comecei a caminhar em direção ao som. Era um choramingo. Olhei ao redor em busca de alguém, mas não havia nada e o pior, nem vestígios de Dimitri. A parte menos corajosa dentro de minha mente, implorava para que eu desse meia volta e encontrasse Dimitri, mas eu não consegui me impedir.

Caminhando com o mínimo de ruído possível no chão coberto de neve, me aproximei de uma enorme carroceria de caminhão e então, o som se fez mas audível. Era um choro. Um choro de uma mulher. Tapando minha boca pela surpresa, dei a volta e então, encontrei o origem do problema. Um homem gordo um pouco mais alto do que eu e em trajes imundos, estava prensando uma mulher humana e loira contra a carroceira de um caminhão. De longe eu senti o cheiro de álcool.

-Cala a boca vadia. – Ele dizia em tom ríspido. – Eu paguei pelo serviço completo, então você vai ter que cooperar. – Enfiando sua mão no decote dela, ele abriu um rasgo imenso na blusa justa que ela estava usando por cima de uma saia tão curta, que até pra mim era demais. Seu sutiã ficou exposto e eu arfei.

-Não, por favor não. – Ela implorava e eu vi lágrimas brilharem em suas bochechas. –Eu faço o que quiser, apernas não me machuque.

O homem gordo riu amargamente e então sem mais delongas, lhe estapeou a face.

-Não! – Disse de forma decidida, enquanto saia das sombras. – Solte ela agora! – Vociferei e ambos me olharam assustados. A mulher fungou mas o homem, tinha uma expressão doentia no rosto.

-Sai daqui garotinha. Ou vai acabar sobrando pra você. – Ele então me mediu dos pés a cabeça, me causando ânsia. – Pensando bem. – Ele jogou a loira no chão e começou a caminhar em minha direção. A mulher então se pôs de pé e correu, apoiada em seus saltos já gastos pelo concreto. Dei um passo involuntário para trás –Você é bem bonita e vai servir para o propósito. – Ele voltou a se aproximar e eu estava prestes a gritar por ajuda, quando alguém entrou na minha frente e empurrou o humano. Dimitri.

O homem caiu brutamente no chão e Dimitri então se virou para me encarar. Seu olhar era frio como gelo.

-Eu não posso te deixar sozinha por dois minutos, que já arruma confusão? – Sem esperar uma resposta ele se voltou para o homem -Suma já daqui antes que você realmente lamente por ter me conhecido. – Sua voz era amarga e ao mesmo tempo perigosa. Gemi.

O homem então meio bêbado e tão covarde quanto, se levantou e começou a correr na mesma direção que a loira havia ido.

Dimitri não falou mais. Ele apenas fez sinal para que o seguisse em direção ao carro e o fiz sem protesto.

Girei meus olhos, quando ele ligou o rádio na mesma estação dos anos 80. Agora a música se tratava de uma briga pessoal entre o compositor e seu suposto cúpido. Fechando meu olhos eu me forcei a dormir mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Mas que coisa nao? Rose sempre arruma um jeito de se meter em confusão rsrsrs

O que acharam?


Beijos



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