Contenda escrita por Anastacia B, Kah Correia


Capítulo 10
Capítulo 10 - A Mina




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Eu só ouvi um grande estrondo e então um corpo voando. O corpo de um dos guardiões bem a nossa frente. O Strigoi lançou a mulher para longe, fazendo com que um grande estrondo fosse ouvido a distancia. Sem armas ou qualquer opção de reagir, comecei a acuar em direção as paredes. Dimitri ficou bem na minha frente, enquanto aguardávamos o próximo passo do Strigoi. Era um homem. Um homem velho eu diria, com um pouco mais de cinquenta anos. Sua expressão era sombria e ele destilava ódio através das pupilas vermelhas.

–Rose, quando eu der o sinal, você corre para o lado dos Moroi. Ouviu? – Dimitri aproveitou a distração do Strigoi com o outro guardião bem a frente dos Moroi, para me alertar.

Eu sinalizei de forma muda e foi então que o Strigoi saltou. Eu peguei a brecha e corri em direção aos Moroi, no mesmo instante que Dimitri saltou para o Strigoi. Uma luta começou a ser travada entre os três, enquanto a mulher Moroi choramingava como uma louca.

–Se acalme. Vai ficar tudo bem. – Argumentei mais para mim do que para ela, enquanto com os olhos, eu observava a mulher guardiã, dando sinais de vida no chão. Finalmente ela estava acordando. Graças a Deus. Ela se levantou e começou a caminhar em direção a Dimitri e o outro guardião. Estavam bem perto agora de estacar o Strigoi. Ele provavelmente seria velho e experiente, o que dificultava mais ainda sua morte rápida.

Minha felicidade não durou muito, pois logo outros dois Strigois surgiram do nada, encerrando por completo nossa tentativa de escapar pela entrada principal da mina. Literalmente. Um homem e uma mulher. Dada sua altura e porte, eles eram guardiões antes de se tornarem Strigoi.

–Oh que merda. – Choraminguei olhando ao redor em busca de alguma opção de fuga. Não tinha nada.

–Rose! – Dimitri gritou. – Corra com eles, agora! Vá em direção as pessoas e encontre uma saída!

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo e vendo. Três Strigoi lutando com três guardiões, e nitidamente a guardiã mulher estava em desvantagem. Se ela caísse, eles teriam um grande problema.

Dimitri deve ter visto a indecisão em meus olhos, pois logo voltou a falar.

–Corre, agora!

Totalmente em choque, comecei a empurrar os dois Moroi na direção da aglomeração de pessoas, às pressas. O choro da Moroi loira estava me deixando ainda mais apavorada.

–Pelo amor de Deus pare de chorar! – Sibilei enquanto corríamos contra o chão úmido. –Vai atrair ainda mais atenção para nós!

Freei bruscamente com eles atrás de mim, quando nos deparamos com um tipo de bifurcação. De um lado, quase não se via iluminação e do outro, algumas lâmpadas ainda brilhavam.

–Definitivamente, não vamos pelo lado escuro. – Limpei minha testa suada com uma mão, enquanto olhava ao redor em busca de alguma coisa que eu pudesse usar como arma. Por que eu simplesmente não tinha uma estaca como qualquer um?

Amaldiçoando, encontrei um pedaço grosso de madeira e o quebrei ao meio, para que ficasse pontiagudo. Funcionou.

Eu estava prestes a voltar a caminhar, quando algo me ocorreu. Estava silencioso demais.

–Parem de chorar um minuto. – Sibilei para os dois atrás de mim. – Preciso ouvir algo.

Assim que eles pararam de fungar, a minha ficha caiu.

–Onde está o som do grupo de turismo? –Perguntei mais para mim mesma do que para os dois atrás, que tinham a respiração presa. Quase que automaticamente, um cheiro de ferrugem inundou minhas narinas. Sangue.

Eu tive vontade de gritar. Eu decididamente precisava gritar. Aquilo não poderia estar acontecendo. Não agora e não com Dimitri sozinho lá trás. Mas mesmo assim, eu precisava agir. Eu tinha uma obrigação independente de como eu realmente me sentisse por dentro.

Respirando fundo, dei dos passos em direção à entrada clara e inalei. Sem dúvida alguma, o cheiro vinha de lá.

–Mudança de plano pessoal. Vamos por aqui. – Mantendo os Moroi bem perto de mim, apertei mais minha mão contra o pedaço de madeira e começamos a caminhar.

O lugar estava com menos lâmpadas acessas, ainda mais para frente. Nossos calçados em contato com o chão empoeirado era o único som que ainda se escutava. Felizmente os Moroi haviam parado de choramingar, quando percebemos o meu grande dilema entre mantê-los vivos e achar uma saída daquele maldito passeio.

–Vamos todos morrer. – O homem choramingou de repente, quebrando o silêncio absoluto.

Eu estava prestes a comentar, quando notei adiante um vislumbre do que parecia ser uma saída. Virei para informar meus dois seguidores, quando meus olhos focaram em dois pontos brilhantes e vermelhos.

–Corram para luz agora! – Sem saber ao certo o que eu estava prestes a fazer, corri em direção ao Strigoi, enquanto os dois Moroi foram à direção da luz. O golpe foi seco e dolorido em meu estômago e eu gritei. Meu agressor que era uma mulher ruiva e baixa demais para um Moroi, me estapeou a face e logo dirigiu seu olhar aos dois que escapavam. Aproveitei-me de sua distração, e empurrei meu pedaço de madeira contra seu corpo com força. Ela gritou, embora eu soubesse tão bem quanto ela, que aquilo não iria lhe causar grave dano. Encolhi-me diante do que eu esperava ser um golpe fatal, quando Dimitri entrou no meu campo de visão e saltou sobre ela. Os dois rolaram, levantando poeira para todos os lados.

Senti uma urgência em ajuda-lo, mas quando o outro guardião apareceu no meu campo de visão, eu corri para auxiliar os Moroi. O casal estava do lado de fora chorando desesperadamente, em frente a uma dupla de outros guardiões que eu desconhecia. Quando eles me viram, vieram ao meu encontro às pressas.

–O que houve lá dentro? – Um dos homens me perguntou as pressas. Sua voz era tensa.

Abri minha boca para contar sobre o que havia acontecido, quando alguém falou atrás de mim.

–Strigoi. – Me virei em direção à voz e respirei aliviada ao ver quem era. Dimitri. Sua roupa estava uma confusão completa de cortes e sangue, mas ele parecia estar bem. Quem realmente não estava bem, era o homem pendurado em seu ombro, mancando e meio acordado. Em sua testa havia um corte enorme que me fez revirar o estômago. Os guardiões o ajudaram a sentar e então seguiram para uma conversa agitada com Dimitri. Era bastante estranho, mas ele parecia conhecer todo mundo.

Em silêncio sentada próxima do casal de Morois, eu aguardei.

Quando a conversa pareceu realmente ter um fim, um dos dois homens pegou um telefone e uma conversa foi iniciada a um tom, que eu não podia ouvir muito bem. A citação de mortes, chacina e Moroi, foram citadas um par de vezes. Meu estômago voltou a protestar.

–Rose? – Dimitri se agachou na minha frente e com uma mão, começou a tocar meu rosto, provavelmente em busca de algum hematoma. – Você está bem?

–Sim, estou. – Sorri da melhor forma que pude, mas na verdade, eu queria gritar.

Dimitri sinalizou com a cabeça e então se levantou.

–Vamos tirar eles daqui. Está anoitecendo. – Ele se dirigiu aos outros Dhampirs que prontamente assinalaram.

–Hey espere. – Me levantei quando percebi que estávamos em movimento de partir. –E a outra moça?

Dimitri me deu um longo olhar cheio de significado. Ela estava morta. Morta assim como todos os outros humanos.

Tudo depois começou a se passar em câmera lenta. Graças a Deus, os guardiões estavam de carro. Seguimos com eles para o centro da cidade, onde eu e Dimitri recebemos ajuda médica e em seguida, fomos para o nosso hotel descansar. Durante duas horas seguidas, Dimitri ficou pendurado no telefone e eu sabia com quem ele estava falando. Com St. Vladimir.

Mesmo depois do jantar, eu não consegui dormir. Os rostos dos humanos e do casal Moroi assustado, ainda me atormentava bastante. Muita coisa ainda não havia sido explicada, e eu me sentia extremamente ansiosa.

–Como eles puderam matar todos eles? – Deixando de encarar o teto, girei meu rosto para encarar Dimitri, que estava de pé olhando a janela.

–Eu não sei Rose. – Sua voz era vaga, assim como sua postura.

–Eram quatro Strigoi juntos. Isso não se encaixa bem e mesmo que isso fosse possível, eles vieram de direções diferentes! – Sentei na cama. – Você sabe que poderíamos estar mortos.

Ele me olhou e em seus olhos castanhos eu vi compaixão.

–Mas não estamos. De acordo com a conta dos guardiões, não houve morte de Morois.

–Exceto é claro pela morte da guardiã. – Murmurei de mal humor. – Ninguém contabiliza isso?

–Claro que contabiliza, mas você sabe. – Ele pausou para passar a mão em seu longo cabelo agora molhado, graças ao banho recente. – Isso não conta muito.

Sim, na verdade eu sabia. Infelizmente vivíamos em uma situação bastante complicada entre nós mesmos. Só o Moroi era importante. Só o Moroi precisava ser salvo no final do dia. Dhampirs? Era apenas um número no final da página.

Cansada de tudo aquilo, eu me levantei da cama e comecei a andar em círculos pelo quarto.

–Como eles mataram mais de trinta pessoas? Quatro Strigoi, Dimitri? Só quatro acabaram com mais de trinta pessoas? –Eu estava beirando o histerismo. –Isso não esta errado? Era dia....Coisas ruins não acontecem durante o dia. E quatro Strigoi? Ou será que eram mais?

Dimitri apenas me olhou falar. Sem comentar. Sem opinar.

Em dado momento, apenas senti seus braços ao meu redor me puxando pra ele.

–Deus, eu estou tão feliz que esteja bem. – Ele murmurou contra meu cabelo. –Você não faz ideia do pânico que senti, quando eu te vi na frente daquele Strigoi. Eu não queria que passasse por isso ainda. Ainda não.

A voz de Dimitri era ansiosa. Tão ansiosa que não me permiti fechar os olhos e simplesmente aproveitar o momento entre nós. Estávamos vivos.

–Eu estou bem. – Me distanciando um pouco, toquei seu rosto e senti sobre a pele de meus dedos, as partes ásperas dos minúsculos ferimentos em seu rosto. Dimitri fechou os olhos.

–Entende por que não podemos ficar juntos? – Dimitri beijou minha palma delicadamente, enquanto abria os olhos. – Entraríamos um na frente do outro.

–Mas eu me sai bem, quando me pediu para cuidar dos Moroi. – Continuei tocando seu rosto enquanto sussurrava.

–Mas você hesitou Rose. Você hesitou quando me viu lutar, da mesma forma que eu me joguei na sua frente, quando avistamos o Strigoi.

–Eu sei que você tem razão. – Baixando meu olhar, encarei meus pés.

–Mas mesmo assim... – Dimitri levantou meu rosto para o seu e um esboço de sorriso surgiu em suas feições. –Mesmo assim você desempenhou muito bem seu papel. Estou orgulhoso de você.

Não consegui evitar sorrir.

***

O caminho de volta a casa de Art foi extenso e muito, mas muito cansativo. Dimitri e eu não havíamos pregado os olhos durante a noite. Cada um, em seu mundo pessoal de pensamentos em conflito. Sim, aquela situação era uma merda.

Paramos uma vez para abastecer, mas eu dispensei qualquer tipo de comida. Meu estômago estava enjoado desde o dia anterior, e eu me negava a ingerir qualquer coisa líquida, que não fosse água. Eu me sentia ansiosa pelas coisas que haviam acontecido e também, por finalmente segurar meu primeiro diploma em mãos e o leva-lo comigo na mala de Lissa, de volta para a Academia.

–Eu nem usei os sabonetes cheirosos. – Resmunguei no banco do carro, assim que avistei a placa de Billings.

Dimitri pareceu achar meu comentário engraçado, mas ele limitou-se somente a sorrir.

–Terão outras oportunidades.

–É – Respondi vagamente.

–Não fique assim Rose. Você vai superar isso. – Dimitri tirou uma mão do volante e pegou a minha, que estava em cima de uma de minhas coxas. Automaticamente seu toque me esquentou. Merda. Bufei alto.

–O que foi? – Ele tirou sua mão da minha perna e me olhou rapidamente, parecendo confuso.

–Nada camarada. Nada.

Chegamos à casa dos Badica por volta das duas horas da tarde e por causa do grande problema com a Mina, acabamos nem podendo ficar mais. Dimitri havia recebido ordens diretas e expressas sobre voltarmos o mais rápido possível para a Academia. Art estava em serviço quando chegamos e sem querer atrapalha-lo, apenas pegamos o certificado que ele deixou para nós com outro guardião, junto de uma pequena nota, nos informando que logo ligaria para nós em busca de notícias. Ele também me desejou sorte em minha longa jornada. Me senti feliz.

–Agora eu já tenho meu primeiro diploma, camarada – Apontei o envelope branco para Dimitri, com minhas iniciais na frente.

Ele sorriu.

–Eu disse que iria tudo dar certo.

–Eu só me sentiria melhor, se não tivéssemos presenciado aquele número horrível de mortes. – O rosto da senhora gorda e seus dois filhos, foi o que voltou a minha mente.

–Infelizmente em algum momento da nossa vida, precisamos passar por esse tipo de coisa, Roza. É nosso trabalho.

–São como ossos do ofício. – Foi minha vez de pegar sua mão. Dimitri pareceu um pouco surpreso, mas apertou meus dedos gentilmente.

–Sim, como ossos do ofício.

FIM


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