Just Justice escrita por Sophie Queen


Capítulo 25
Enfim Para Todo o Sempre (pt. 1)




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DISCLAIMER: Eu não sou proprietária ou dona da saga TWILIGHT, todos os personagens e algumas características são de autoria e obra de Stephenie Meyer. Mas a temática, o enredo, e tudo mais que contém na fanfiction JUST JUSTICE, é de minha autoria. Dessa maneira ela é propriedade minha, e qualquer cópia, adaptação, tradução, postagem ou afins sem a minha autorização será denunciado sem piedade. Obrigada pela atenção.
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N/A: Olá meus amores!

Como todo mundo anda por aqui? Sim eu sei, eu sei que desapareci deste universo e nem dei explicações. Mas quem acredita que foi esse capítulo o responsável pelo meu sumiço? Acreditem se quiser, este capítulo conseguiu me consumir durante 16 dias! Diz que não é coisa pra ficar maluca?!

Mas enfim, com ajuda das forças celestiais e o incentivo de todos direta ou indiretamente consegui concluir. O capítulo ficou imenso. O maior desta fic, mas não o maior que já escrevi. 39 páginas, 18.500 palavras foi o resultado final. Resultado que conforme escrevia, me emocionava, sentia o pesar da situação em alguns pontos, mas também aproveitei a emoção de concluir mais uma fic. Ainda falta o epílogo que deve vir lá pelos meados de abril, mas em tese esta fic está terminada.

Agradeço imensamente a todos que acompanharam e leram, foram vocês que incentivaram a concluir esta fanfic. Vou me despedindo por ora, por aqui, e um conselho: peguem seus lencinhos, pois lágrimas ocorrerão.

Nós falamos mais no final. Boa leitura a todos. ;D

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JUST JUSTICE

capítulo vinte e quatro
Enfim Para Todo o Sempre

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“Jamais se desespere em meio às sombrias aflições de sua vida,
pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda.”
-Provérbio Chinês -

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Isabella Swan

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A escuridão é uma maneira de trazer medo extremo, como também uma tranquilidade confortadora. Contudo, pela primeira vez, a escuridão que me encontrava não me deixava com medo ao extremo ou tranquilamente confortável, ela me deixava sufocada, constringida, incomodada. E por mais que eu tentasse abrir meus olhos e escapar dela, para enfim encontrar a claridade que me daria às respostas necessárias, não conseguia. Era impossível.

Sons metálicos, atrito de tecidos, zumbido de equipamentos eletrônicos, vozes humanas, tudo eram captados pelos meus ouvidos, contudo ainda eram inteligíveis para mim o que diziam ou de onde partiam. E toda vez que me esforçava para ouvi-las, uma dor como a de um machado afiado penetrando minha cabeça e cérebro me tomava, retornando a mesma escuridão sufocada de anteriormente.

Não sei dizer quantas vezes estava prestes a sair do limbo da negritude quando de repente voltava a cair nas profundezas dela, mas nunca de maneira inoportuna. Sempre confortável.

Foi libertador quando, finalmente, meus olhos se livraram da escuridão incomoda e encontraram a claridade apática de sabe-se lá onde estava. Ao encarar o teto do lugar que me encontrava, imediatamente uma sensação de perda, de dor, de compaixão me dominou. Era tão forte que podia sentir todos os meus órgãos se apertando ou então se revirando, em um claro sinal de nervosismo, medo, ansiedade.

Com uma força hercúlea, que nem imaginava ser necessária para me movimentar, virei meu rosto para analisar as paredes do lugar que me encontrava. Brancas e verde-claras. Frias e apáticas. Tristes e melancólicas. Doentias e mórbidas.

Tinha uma vaga ideia de onde eu poderia estar, mas para confirmar o meu pensamento encarei os aparelhos que estavam conectados ao meu corpo emitindo sons mecânicos, robóticos e contínuos. Senti milhares de picadas de agulhas intravenosas espalhadas pela extensão dos meus braços, os deixando gélidos e doloridos. Em meu rosto uma sonda para alimentação impedia que o ar entrasse puro pelas minhas narinas indo aos meus pulmões. Outras sondas acompanhavam a que estavam em meu nariz, desta vez, conectadas em meu corpo.

Hospital. Eu estava em um hospital. E eu odiava hospitais.

Odiava porque eles sempre trazem más recordações. Me recorda dos meus acidentes na infância. Me recorda pela morte sofrida de minha avó. Me recorda pelas dores e aflições que senti. Mas principalmente, me recorda da vez que perdi meu filho.

Filho. Eu estava grávida.  

Levei minhas mãos instantaneamente a minha barriga, sentindo uma longa e grossa bandagem a cobrindo. Imediatamente me perturbei ao não conseguir sentir a pele do meu ventre. Minha garganta se fechou e a sonda que estava em meu nariz me afogou por alguns segundos,  impossibilitando toda e qualquer passagem de ar. Pelo eletrocardiograma ouvi meus batimentos acelerarem violentamente, apitando estridentemente indicando que estava prestes a ter um colapso.

A porta do quarto abriu em um rompante revelando um homem e uma mulher, ambos vestidos de brancos e com expressões nervosas e aflitas. Antes que eu pudesse expressar qualquer palavra ou som, a mulher, que parecia uma enfermeira munida de uma seringa com um sedativo a conectou em um cateter em meu braço onde o medicamento caiu em minha corrente sanguínea me tranquilizando imediatamente e me arrastando mais uma vez a escuridão confortável, porém incomoda de antes.

XxXxXxXxXxX

Voltei a abrir meus olhos, não sei quanto tempo depois, livrando-me por fim da escuridão incomoda em que estava mergulhada desta vez sendo trocada pela escuridão noturna. Ainda sentia os efeitos do sedativo em meu sangue; não sentia dor, não conseguia colocar meus pensamentos em ordem, não sentia absolutamente nada. Um frio cortante assolou meu corpo, o arrepiando completamente, assim como um tremor propagava por todos meus ossos e músculos.

Desta vez, antes que eu pudesse entrar em pânico, uma mulher entrou no quarto, com uma expressão preocupada em seu rosto. Antes de dizer qualquer coisa, ela conferiu o prontuário que estava preso ao leito em que estava, e depois verificou os equipamentos que estavam ao lado da cama. Quando finalizou sua checagem a mulher, enfim, acendeu uma luz ao lado de onde eu estava tirando, assim, o quarto da penumbra em que se encontrava.

Um sorriso sincero estampava o rosto gentil da mulher. Me senti confortada com aquele gesto e mesmo impossibilitada pelos inúmeros equipamentos médicos tentei retribuir.

- Vejo que a senhora está melhor. – compadeceu a mulher. – Eu sou a Dra. Eve Jones. – apresentou-se.

- O que aconteceu? Por que estou com uma bandagem em minha barriga? E como está meu bebê? – perguntei em uma torrente, sentindo o nervosismo aumentar novamente, algo que foi comprovado pelos aparelhos ao meu lado.

- Isabella, acalme-se. – pediu a Dra. Jones pacientemente. – Ou terei que sedá-la mais uma vez.

Fechei meus olhos cadenciando minha respiração e meus batimentos cardíacos. Contudo o nervosismo que sentia por nada se enfraquecia, fazendo assim que sentisse meu coração se apertando, minha traquéia comprimindo e meu estômago revirando.

- Isto. Tranquilize-se. – solicitou a médica.

Foi lento o processo de aquietação, mas mesmo assim um sentimento de perda ainda me dominava. A Dra. Jones notando que ainda estava inquieta instruiu-me em alguns exercícios para acalmar, o que lentamente ajudou um pouco o incomodo da mão invisível que apertava meu coração. Ela sorriu simpática e solidariamente para mim, antes de se acomodar ao lado do meu leito, meio sentada, segurando com firmeza as minhas mãos.

- Isabella, você se recorda do porque veio parar no hospital? – perguntou lentamente.

Me forcei a relembrar o que havia acontecido para que eu fosse parar ali. Contudo as minhas memórias estavam nubladas e confusas. Recordava de gritos, sons angustiantes, sons de cápsulas metálicas, ecos horrorizados. Recordei no medo nauseante e congelante que dominou todo o meu corpo, entretanto, minhas memórias não iam além disso.

Uma lágrima solitária e gélida caiu de meus olhos, correndo por todo o meu rosto, caindo por fim sobre os lençóis brancos do hospital. Não fazia ideia porque estava chorando, mas sabia que as minhas lágrimas tinham tantas explicações, tantos fundamentos, que só de pensar no que quer que fosse meu coração pesava, como se tivesse amarrado a ele um pedaço de concreto e este caísse em alto mar, para as profundezas inexploradas do oceano.

- Acalme-se, Isabella. – pediu mais uma vez a médica.

A voz calma e tranquila da Dra. Eve Jones ia me ajudando a me acalmar, era tão confortável, que as minhas pálpebras tornaram-se pesadas. Sobressaltei-me quando o timbre de soprano da médica me retirou da semi-inconsciência adormecida que me encontrava.

- Isabella, você me ouve? – pediu serenamente. Confirmei com a cabeça, mas antes que ela me pedisse para dizer algo; resolvi fazer por mim mesma.

- Sim. – murmurei em um sussurro. Ela deu um meio sorriso no mesmo instante que balançava sua cabeça.

- Certo. – concordou, assinalando algo em sua prancheta, que até então não tinha visto. – A senhora e seu esposo, o agente Edward Cullen, deram entrada em nosso hospital as nove e quarenta e sete da noite, da sexta-feira, dia onze de março. – começou dando alguns dados, o que não me ajudou muito a assimilar tudo. – Ou seja, a cerca de cinco dias. – completou.

- Eu... eu fiquei cinco dias desacordada? – perguntei aturdida.

- Não. Você ficou em coma induzido, minha equipe e eu achamos mais aconselhável pelo estado que a senhora estava. – explicou pacientemente.

Engoli em seco, com dificuldade, uma vez que a minha garganta voltou a se constringir.

- O... o que aconteceu? Em que estado eu estava? – questionei nervosamente, tentando, em vão, me sentar.

- A senhora e seu marido conseguiram encontrar uma informação sobre um grupo de criminosos que há meses estavam investigando, e estes, pelo que me parece, ficaram sabendo e os cercaram em uma rua atrás do Capitólio. – expôs ligeiramente confusa.

“Pelo o que o Secretário de Segurança me informou, ouve uma troca de tiros. Seu esposo Edward, tentou protegê-la, mas ele não foi muito bem sucedido, pois acabou sendo atingido.” – completou laconicamente, tentando controlar o desconforto que pesava sobre seus ombros.

- Edward está bem? – me vi perguntando inesperadamente, temerosa pelo que pode ter acontecido a ele.

- Está se recuperando bem. – sorriu saudosa. – Está no quarto aqui ao seu lado, acredito que amanhã você irá poder vê-lo. – explanou compreensiva.

- O-ok. – respondi tolamente. Acredito que ninguém no hospital saiba que Edward e eu somos somente marido e mulher no papel, que em nossa vida não cumprimos este papel há muito tempo. Ignorando os pensamentos negativos e controversos sobre meu casamento com o ruivo, questionei sobre o que mais importava no momento. – Mas o que aconteceu? Por que estou aqui? O que aconteceu com meu bebê?

- Calma, Isabella. – pediu a médica, ao verificar pelos equipamentos que meus batimentos cardíacos e pulsação começaram a acelerar.

Desta vez o meu processo de tranquilização foi mais lento do que eu e a Dra. Jones prevíamos, mas mesmo assim ela não acelerou ou desistiu de terminar a conversa que estávamos tendo. E algo no meu íntimo me dizia que o pior ainda estava por vir.

- Bom, continuando. – voltou a contar a história, com um semblante sério. – Você e Edward, foram atingidos. Edward com quatro tiros, um em seu ombro esquerdo, um em sua coxa direita e dois em suas costas, mas como eu disse anteriormente ele está se recuperando bem. – explanou disfarçando uma preocupação latente em seu rosto.

“Você foi menos atingida que Edward, mas também teve alguns ferimentos sérios, mas que felizmente conseguimos intervir a tempo.” – encarou-me profundamente, antes de continuar. – “Você levou três tiros, um de raspão em sua perna esquerda que precisou somente de uma limpeza e um curativo; outro que acertou o seu ombro esquerdo, mas que após uma cirurgia conseguimos remover a bala, e o outro...” – começou, mas hesitou por longos segundos.

- O que aconteceu, Doutora? Onde foi este terceiro tiro? – inquiri nervosamente.

- Isabella, acalme-se. – pediu com autoridade.

- Só se a senhora me contar o que realmente aconteceu! Eu tenho o direito de saber! – exclamei nervosa.

- Sim, você tem o direito de saber, mas o seu estado clínico não está totalmente recuperado e como sou sua médica, posso me abster de te contar, caso você não se acalme. – expôs com arrogância.

- Tudo bem, eu vou me acalmar, mas Doutora... Eve, por favor, se ponha em meu lugar, eu preciso saber o que aconteceu com o meu bebê! – exclamei alucinadamente, sentindo o gosto do desespero em minha boca, e as grossas lágrimas se acumulando em meus olhos, contudo , me bastava saber se seriam de pesar ou alívio.

- Isabella, eu sei que é algo terrível o que aconteceu. Sei também que você sofreu um aborto devido há um acidente a quase cinco anos em Boston, mas... – ela novamente hesitou, fechando seus olhos, antes de me encarar novamente. – Infelizmente, um dos agressores que cercaram você e seu marido, o que desferiu todos os tiros, não foi nenhum pouco piedoso com nenhum de vocês, e em um dos seus últimos golpes, ele...

Dra. Eve Jones engoliu em seco. Seu rosto tinha uma estranha expressão de pesar. Seus olhos estavam baixos e temerosos, mas ela mantinha a sua postura profissional e a voz firme quando voltou a falar.

- O agressor, propositalmente, segundo as pessoas que se encontravam no local – falou, claramente rodeando a questão principal. -, que ele não satisfeito em acertar dois tiros em você, decidiu acertar um último – ela tomou uma respiração profunda, e encarou meus olhos. – em seu ventre. De caso pensado. – completou pesarosa.

Uma sensação como a de uma bola de ferro caiu pelo meu estômago. Sentia-me doente, mas ainda eu precisava ter certeza. Precisava ouvir com todas as palavras o que tinha acontecido.

- E meu bebê? – perguntei lentamente sentindo um nó se formando em minha garganta.

- Isabella. – começou a Dra. Jones, com lágrimas discretas banhando seus olhos castanhos claríssimos. – O tiro perfurou a placenta, e o bebê, que segundo seu obstetra estava com catorze semanas, foi atingido... – ela fechou os olhos novamente. – Ele tinha pouco mais de nove centímetros e cerca de vinte e quatro gramas, era perfeitamente saudável. Mas o corpo miúdo não foi páreo para um projétil de dois centímetros de diâmetro e acabou... – ela tornou a tomar uma respiração profunda, para em seguida continuar. – se alojando na cabeça dele.

Não sei dizer o que aconteceu primeiro. Se foram as minhas lágrimas caindo copiosamente, ou se foram os aparelhos que estavam ligados ao meu corpo, medindo meus batimentos cardíacos e pulsação que começaram a apitar estridentemente, indicando que meu estado nervoso; ou ainda se foram ambos juntos.

Eu me sentia como se estivesse caindo em um buraco fundo e sem fim, como a Alice de Lewis Carroll, porém sem a curiosidade dos itens surreais, ou atrás de um coelho branco com um relógio. Era um buraco sem fim de dor, desespero, angústia, temor, pesar, tristeza. Eu sentia como se estivesse sendo morta mais uma vez. Perdendo mais um filho. Entrando novamente no mesmo trauma.

A médica tentava me acalmar, me amparar com palavras doces e calmantes, mas nada o que ela dizia era suficiente para sanar a dor que sentia. O pedacinho de James que eu carregava já não existia mais. E não existia tudo por causa daquela informação que ele me deu. Por causa da amaldiçoada máfia italiana.

- Isabella, tente se acalmar. – pediu com urgência a Dra. Jones.

- Que me acalmar o caralho! – explodi, sentindo todas as dores dos meus ferimentos e mais algumas desconhecidas repuxando meu corpo. – Eu perdi mais um filho! Como o mundo pode ser tão injusto? Por que sempre tem que existir um desgraçado para acabar com a minha vida? O que eu vou fazer agora? O que será de mim? – gritava a plenos pulmões insanamente, lutando contra as mãos da médica que tentavam tocar a minha pele.

- Eu vou sedá-la. – informou a médica para alguém que não era eu no quarto.

Em questão de segundos senti meus músculos relaxarem contra a minha vontade, a sensação de incomodo passar e meus olhos pesarem, sendo encobertos pela inconsciência. A última coisa que visualizei diante meus olhos – ou talvez tenha imaginado – fora um pequenino caixão branco, a cor da pureza, onde seria a morada eterna de mais um filho que nunca poderei criar por conta de todas as fatalidades que me cercam.

XxXxXxXxXxX

Poderia ter se passado um minuto ou uma década, a dor que pesava em meu coração – mesmo com o excesso de tranquilizantes em meu sangue – ainda comprimia meu peito de maneira pungente. Um vazio asfixiante impedia que eu respirasse sem a ajuda de aparelhos. Minha cabeça era um rodamoinho de sentimentos penosos. Meu corpo era a visão da miséria, da dor, do desespero.

Mesmo sendo sedada quando descobri sobre a fatalidade que havia desmoronado mais uma vez sobre a minha vida, e ficando assim mais de vinte horas mergulhada na inconsciência induzida dos medicamentos, a sensação de dor, de tristeza não enfraquecia ou extinguia. Ela permanecia imutável e crescente em meu íntimo.

O estado que me encontrava poderia ser explicado por uma única palavra: catatônico. Claro que notava a movimentação contínua no meu quarto, seja por enfermeiros, médicos ou técnicos, mas nem mesmo aquelas pessoas, que tentavam arduamente conversar comigo estava conseguindo me tirar daquele estado de inexpressivo temor. Nem mesmo o Dr. Stuart, meu terapeuta, que já estava habituado com meus traumas, e normalmente conseguia me guiar sabiamente não conseguia uma reação sequer.

Eu queria sim falar. Mas a minha voz havia sumido, assim como a vontade de expressar qualquer coisa. Somente meus pensamentos, ou sentimentos – não saberia definir – suicidas conseguiam ter um lugar claro em minha cabeça, juntamente com a enchente de lágrimas dolorosas e tristes que parecia nunca secar.

Sobressaltei-me quando inesperadamente a Dra. Eve Jones, acompanhada do Dr. Henry Stuart, dois enfermeiros e um homem desconhecido que deduzi ser um outro médico adentraram o meu quarto. Notei a Dra. Jones verificando meu prontuário, seguido pela checagem dos aparelhos que estavam ao meu lado. Fora só depois de anotar tudo no papel preso na prancheta transparente que a médica disse alguma coisa.

- Boa tarde Isabella, eu sei que você ainda está abalada diante dos fatos que a senhora descobriu recentemente, mas o Dr. Jack Cooper que está conduzindo o tratamento de seu esposo Edward gostaria muito de lhe falar. – expôs de maneira ácida, parecia que ela não queria que a sua paciente, no caso eu, fosse incomodada com os problemas de qualquer pessoa, seja o grau de proximidade que tenha comigo.

Olhei para o médico que não reconhecia. Era um homem bem apessoado e extremamente novo. Não possuía as rugas que o Dr. Henry Stuart trazia em torno de seus olhos ou o cabelo branco da Dra. Eve Jones. Percebi que o Dr. Cooper era um homem jovem, porém com um ar de competência que transparecia por seus poros, pelo seu olhar e pela sua postura. Ali estava um homem que faria de tudo ao seu alcance para salvar seu paciente, nem que neste caminho tivesse que incomodar um paciente de outro médico que estava em estado crítico.

- Boa tarde senhora Cullen. – saudou o médico me fitando com seus grandes olhos verdes claros. – Demonstro o meu pesar pelo que lhe ocorreu, e sei que este não é a melhor hora para lhe pedir qualquer coisa, mas acredito que já posterguei este momento por um longo tempo, e analisando os documentos de Edward, e depois, obviamente, o consultando, a senhora é a única que pode tomar a decisão ao lado dele sobre que tratamento lhe devo dirigir. – narrou lentamente.

“Contudo, esta decisão deve ser tomada em conjunto por vocês dois. E por conta disto solicitei esta ‘reunião’ com a Dra. Jones e o Dr. Stuart. Eu preciso levá-la até onde está Edward para explicar a situação aos dois e assim ambos decidirem o que fazer.” – o Dr. Jack Cooper lançou um olhar de esgoela para Eve Jones que mantinha uma expressão de poucos amigos. – “Eu gostaria de trazer Edward até aqui, para que assim eu pudesse conversar com os dois, sem mover à senhora, mas não é o caso. Seu marido está se recuperando de quatro ferimentos à bala, extremamente graves e se movê-lo o mínimo que for pode causar alguma sequela ou dano irreparável.” – completou.

- Isabella, se você não quiser não precisa ir – começou o Dr. Stuart lentamente, lançando um olhar de compreensão entre seus dois colegas. -, mas acredito, e aqui vai o conhecimento que tenho de sua mente e da proximidade que partilhamos por conta de suas sessões terapêuticas, que seria bom se você se ocupasse com outra coisa, ou pensasse em outra questão. – disse o homem que há anos vinha esmiuçando a minha mente, conhecendo vastamente todos os meus medos, aflições, traumas, tristezas e até mesmo minhas poucas felicidades.

Deliberadamente encarei os olhos castanhos escuros, quase negros, de meu terapeuta e pela primeira vez vi uma urgência pungente para que a minha resposta fosse positiva para ir ao quarto ao lado ver Edward.

- Tudo bem. – disse com um fio de voz, que saiu tão baixo que se tornou inaudível devido aos equipamentos ao meu lado que abafaram o som de minha voz. – Eu vou. – completei um pouco mais alto.

Os dois médicos do sexo masculino que ali se encontravam suspiraram aliviados, em contrapartida a médica bufou irritada lançando um olhar repressor ao seu colega mais novo, que provavelmente estava de plantão com ela na noite que demos entrada naquele hospital. Se o Dr. Cooper notou o olhar da Dra. Jones, ignorou muito bem, pois no segundo seguinte orientava os dois enfermeiros em algo.

A minha ida ao quarto em que Edward estava foi feita de maneira bastante lenta. Como ainda aparelhos estavam conectados ao meu corpo, precisou que fosse feita a substituição por alguns destes móveis, assim como os bolsões de soro que estavam interligados ao meu corpo por agulhas intravenosas.

Os três médicos me acompanharam ao quarto onde meu esposo estava. Segundo entendi, todos eles iriam participar dessa tal ‘reunião’ caso algo desse errado para nos acudir com mais rapidez.

Da mesma maneira que era decorado o quarto em que estava, era o de Edward. A única diferença, é que Edward não se encontrava catatônico como eu deveria ter estado em meu quarto nos últimos dias. O ruivo tinha a sua atenção toda a um livro que lia com demasiada concentração.

Visualizei que tinha, assim como tinha comigo, aparelhos e agulhas intravenosas ligados a Edward, entretanto, ele ao contrário de mim, parecia sequer ligar para aqueles mecanismos incômodos.

Olhei para Edward. Seus cabelos de um tom singular de bronze mantinham a bagunça rotineira. Sua pele ainda era tão clara e pálida como a minha. Seus olhos verdes como esmeraldas brilhavam enquanto corriam palavra por palavra sobre o livro. Notei uma atadura em seu ombro e outra em sua coxa, assim como outros ferimentos de pequeno porte em seu rosto e braços, porém não fora nada disso que me perturbou. O que abalou foi ver as pernas tão bem torneadas e esguias de Edward estendidas sobre a cama. Elas pareciam sem vida. Elas estavam... mortas.

Tive que engolir em seco, no mesmo instante que Edward levantava a sua cabeça e via a multidão que havia entrado em seu quarto. Contudo ele não se sobressaltou como eu imaginei, ele se manteve impassível, porém quando me viu no meio daquele mutirão de pessoas com jalecos brancos, seu famoso e único sorriso torto brotou em seus lábios.

- Bella! – exclamou com uma felicidade palpável e totalmente inapropriada para a situação.

Sem conseguir pronunciar uma palavra sequer, por conta do nó que se acumulava em minha garganta, sorri tristemente.

- Oh querida – começou rindo. -, não se preocupe com isto – apontou despreocupadamente para suas pernas. – é temporário, não é mesmo Jack? – questionou divertido para o médico que olhou preocupado para seus colegas profissionais e depois de mim a Edward.

- Edward. – ele começou lentamente.

Senti novamente uma bola de ferro caindo pesadamente em meu estômago, enquanto meu coração e traquéia eram comprimidos e lágrimas dançavam em meus olhos, embaçando a minha visão.

- O que aconteceu? – perguntou com urgência Edward, percebendo que algo muito ruim estava acontecendo naquele leito de hospital. – Jack... – clamou encolerizado.

- Edward, por favor, acalme-se. – pediu a Dra. Jones com sua voz tranqüilizadora de soprano.

- Não Doutora. Como vou conseguir me acalmar se todos estão com cara de velório? – rebateu asperamente.

Percebi o Dr. Cooper fechar seus olhos como se fizesse uma prece, em seguida respirando profundamente, para enfim abrir seus olhos e encarar seu paciente.

- Edward, você se recorda sobre o que conversamos assim que você saiu do coma? – questionou lentamente.

- Sim. – respondeu prontamente Edward. – Que meus ferimentos, principalmente os da coluna foram bastante graves, porém estavam todos bem. Não haveria sequelas.

- Você também se recorda que esse quadro poderia mudar, devido à natureza das lesões, correto? – pressionou mais uma vez o médico.

- Sim me recordo. – concordou Edward. – Jack, por favor, me diga o que está acontecendo, por que sinceramente não estou conseguindo acompanhar o seu pensamento.

Jack Cooper hesitou por meio minuto, e foi com um tom de pesar que resolveu não mais postergar o inevitável.

- Edward, nos exames que realizamos ontem, eu e minha equipe conseguimos enfim ver o tamanho do dano que o projétil que o atingiu em sua lombar causou. – começou explicando limpidamente. – Eu tinha esperanças, antes de realizar os exames, que a lesão se reestruturasse e você por fim recuperasse os movimentos dos membros inferiores, mas...

Edward que percebendo onde iria parar aquela conversa, endureceu seus olhos verdes e travou seu maxilar, inflando suas marinas com raiva. Seus pulsos se fecharam em nós, suas veias ali saltavam com a pressão. Por fim, agindo de maneira rude e sem nenhuma polidez interrompeu o médico e explanou sem rodeios:

- Eu estou paraplégico. Para sempre. – o âmago em sua voz, fez com que sentisse o mesmo em mim. Edward, que sempre fora uma pessoa cheia de vida, alegre, cheia de esperança mudou sua expressão para uma triste, amarga e sem nenhuma esperança.

- Edward, ainda é cedo para avaliarmos a extensão do dano e se ele será permanente. – contrapôs o médico vendo a fisionomia de seu paciente.

- Me responda Dr. Jack Cooper, quantas pessoas o senhor conhece que levou um tiro em sua coluna e não morreu ou ficou para sempre inválido? – perguntou cheio de escárnio. – Eu não conheço e não imagino que exista nenhum. – respondeu amarguradamente.

- Senhor Cullen – começou o Dr. Stuart. -, eu imagino o quão difícil está sendo processar esta informação, mas existem grupos de apoio para pessoas na sua situação. Não é como se tivesse acabado a sua vida. Você ainda pode ter uma vida normal, ter filhos, trabalhar no FBI, tudo como fazia antes.

Pela primeira vez desde que havia descoberto a notícia, Edward encarou meus olhos lacriminosos. O vi travando o maxilar.

- Filhos? – perguntou cheio de menosprezo. – Já contaram a minha esposa, que só esta esperando o mês de setembro chegar para assinarmos finalmente o nosso divórcio, que ela não poderá ter mais filhos? – questionou cheio de ódio.

Pela minha visão periférica vi a Dra. Eve Jones levar suas mãos a boca, se contendo para não rebater aquela informação, porém, sua postura indicava que Edward estava correto no que dizia. Encarei os olhos verdes de Edward, que estavam escurecidos como jade, duros e frios e notei que ele dizia a mais pura verdade.

- É verdade, Dra. Jones? – perguntei lentamente, sentindo grossas lágrimas rolando por meus olhos.

Fora a vez da médica que estava depositando seus cuidados a mim, fechar os olhos e fazer uma prece silenciosa aos céus.

- Isabella – começou lentamente a médica. – é uma questão que não posso afirmar com clareza. A natureza toma caminhos que a ciência ainda não pode explicar. – justificou.

- Doutora? Eve? – implorei.

- Não posso dizer com absoluta certeza o que realmente irá acontecer, mas o projétil que lhe acertou no ventre, rompeu um tecido de seu útero. Não sabemos dizer se ele irá se regenerar ou não, ou então se terá capacidade de gerar um feto. – explanou. – Caso você consiga gerar uma nova criança será uma gravidez complicada, onde você, provavelmente, terá que passar os nove meses em repouso, senão resultar em uma cesariana antes do tempo. Sinto muito, Isabella. – ponderou sinceramente a médica.

Tentei segurar as lágrimas que insistiam em cair por meu rosto, encarando todas as pessoas que estavam naquele quarto, deixando por último Edward, que mantinha um semblante duro, revoltado, cheio de ódio. Seus olhos verdes me desafiavam de maneira grotesca.

- Vai me acusar disso também? – provocou raivoso.

- Sua vida não acabou. – rebati pesarosa.

- Engano seu, Isabella. – replicou irritado. – Você ainda poderá andar com suas duas pernas, quem sabe adotar uma criança, enquanto eu... bem... eu ficarei preso para o resto da minha vida em uma cadeira de rodas. – vociferou.

- Como você pode ser tão... tão egoísta neste momento? – devolvi, desta vez me rendendo as lágrimas que inundavam meus olhos.

Edward riu sarcástica e arrogantemente.

- Pelo menos eu comecei a ser agora e com motivos aparentes. Ao contrário de você que sempre foi uma puta egoísta. – devolveu com repugnância.

- Seu... – explodi, no mesmo instante que os aparelhos ligados a mim, começaram a brandir, instantaneamente a Dra. Jones interrompeu:

- Devemos levá-la ao seu quarto, foi um dia cheio de emoções. – disse atrapalhada enquanto verificava os aparelhos e dava ordens aos enfermeiros.

- E não precisa voltar. – clamou Edward arrogantemente.

- Eu não vou! – brandi desesperada enquanto um dos enfermeiros empurrava a cadeira de rodas que estava de volta ao quarto em que fiquei nos últimos dias.

Não percebi os enfermeiros me colocando de volta no leito, ou então re-conectando os aparelhos médicos a mim. Meu desespero era tamanho que sequer eu ouvia o que era pronunciado, e não foi surpresa nenhuma, pelo menos não para mim, que a Dra. Jones entrou em meu quarto, munida de uma seringa com tranquilizantes que rapidamente injetou em minha corrente sanguínea finalmente me acalmando através de um sono sem sonhos.

XxXxXxXxXxX

Os dias no Hospital Geral de Washington passavam-se melancólicos e habitualmente iguais. Do quarto que ainda estava em recuperação, uma semana depois da trágica conversa com Edward, conseguia ouvi-lo reclamando, xingando, vociferando críticas ou reclamações a tudo e a todos. Todos que tentavam conversar com ele eram rebaixados e expulsos do quarto aos berros. A desculpa que ele usava a plenos pulmões para o seu comportamento era que ele agora era um inválido.

Sua rabugentisse perante a sua deficiência recém adquirida era enervante, desgastante e incomoda. Até mesmo as suas meninas – Alice, Rosalie e Angela -, que sempre ficaram ao lado dele nas situações mais complexas no FBI de Los Angeles e até mesmo desde que vieram para Washington foram expulsas aos berros e se encontravam chateadíssimas com a atitude do chefe-amigo. As únicas pessoas com quem Edward maneirava na questão de gritos eram os médicos, Eleazar e em raras situações seus pais, que o pareciam o culpar pelo que aconteceu, por Carlisle ter se desvirtuado e se aliado ao inimigo.

Assim como os pais de Edward, os meus também vieram ao Distrito de Columbia. Minha mãe, Renée, sempre tão sentimentalista e preocupada expressou seu terror diante de tudo o que havia acontecido, afirmando que eu nunca deveria ter escolhido esta profissão. Meu pai, Charlie, como um bom chefe de polícia, demonstrou obviamente sua preocupação, mas vendo que eu estava me recuperando bem se tranquilizou e passou a tentar fazer o mesmo com a minha mãe.

Nos dias que ainda estava no hospital, recebi visitas dos agentes da minha equipe, e alguns membros de outros departamentos do FBI, assim como as visitas diárias de Eleazar, que mostrava uma preocupação fraternal em mim e em Edward.

Fora em uma de suas últimas visitas, que apesar dele querer colocar Edward e eu em uma mesma sala, foi recomendado pelos médicos de nós dois a não fazer, que estava dando a nós algumas semanas de licença, e quando esta expirasse ele desejava que nós dois tivéssemos superado nossos problemas porque necessitava, sim, de uma reunião conjunta para decidir as nossas novas funções.

Nenhuma palavra sobre a Camorra, Aro Volturi, Riley Clark, Carlisle Cullen ou Jacob Black fora dita por Eleazar ou na imprensa sobre o tiroteio desenfreado ocorrido atrás do Capitólio, a única informação que saiu nos jornais – por ser impossível esconder algo deste tamanho da mídia – foi que dois agentes federais haviam sido atingidos em ação. E por conta disso que todas as vezes que tentava questionar algo a Eleazar, ele me dizia que aquele não era o momento para se conversar qualquer coisa.

Edward deixou o hospital durante a manhã do último dia de março. Segundo Alice, ele por fim havia aceitado os conselhos médicos e os pedidos de seus pais e iria passar as próximas semanas em Chicago, junto com a família, participando de programas de reabilitação para pessoas na mesma situação que ele, que haviam perdido os movimentos nos membros inferiores.

Eu, que também deixaria o hospital naquele dia, porém à tarde, havia me decido refugiar estas semanas de licença em Forks. Minha mãe que odiava o clima frio e chuvoso de Forks protestou continuadamente do porque eu não iria para Flórida com seu clima tropical e com sol escaldante. Por fim, ela aceitou as minhas condições e iria passar esses dois meses comigo e com meu pai na cidade que mais odiava no mundo.

Forks, como logo constatei, assim que entramos naquela cidadezinha minúscula com menos de quatro mil habitantes seria uma estadia longa e sem nenhuma novidade. Gostava de Forks, porém para ficar alguns dias, no máximo uma semana. Ficar ali durante oito semanas por conta de férias forçadas seria quase que uma tortura.

Meus pais me incentivavam a ir aos parques nacionais próximos a cidade, ou então ir ver o mar, pela praia de La Push, contudo voltar a La Push estava fora de cogitação. Lá eu tinha muitas lembranças com Jacob, e ainda aceitar que ele havia traído todo o país e por fim sentenciado a mim e a Edward a uma vida de amargura ainda era enervante e imperdoável.

Renée todos os dias tentava me convencer a ir para Flórida, afirmando que o clima tropical seria muito melhor para a minha recuperação; mas nenhuma de suas palavras conseguiu me persuadir do contrário. No momento nada melhor do que o clima bucólico de Forks para me ajudar nesta situação de dificuldade.

Abril e maio passaram num piscar de olhos, principalmente por ficar estas oito semanas não fazendo absolutamente nada na modesta casa do meu pai. Foi em meio a um dia quente atípico de Forks que voltei para a Capital Federal.

Estava temerosa com o que encontraria no apartamento que um dia dividi com James, que agora seria onde viveria sozinha. Alice, Rosalie e Angela, agindo de uma maneira totalmente estrangeira para mim, que nunca confiei em uma mulher, haviam contratado alguém para limpar e organizar o apartamento, e também ao meu pedido redecoraram o mesmo para que não sentisse tanto a presença de James ali.

Meu avião pousou no Aeroporto Ronald Reagan Washington Nacional sobre uma leve garoa, contrastando com o dia abafado que fazia na Capital do Governo Americano. Peguei as minhas malas na esteira e quando estava saindo da sala de desembarque, me surpreendi ao encontrar Jasper e Emmett me esperando.

- O que vocês fazem aqui? – perguntei surpresa.

- Você nos subestima, Bella. – declamou Emmett fingindo ultraje.

- Queríamos que na sua volta a Washington, você encontrasse com alguns rostos amigos. – ponderou Jasper.

- E eu sou a única que recebi este tratamento? – questionei desconfiada, por saber que hoje também seria a volta de Edward.

Jasper e Emmett trocaram um olhar e riram nervosos diante da minha percepção.

- Alice e Rosalie já estão com ele. – explicou concisamente Jasper.

- Hum... – me fiz de desinteressada, mas a minha hesitação foi o suficiente para atrair a atenção do sempre muito perceptivo Jasper.

- Ele melhorou o comportamento, Bella. Pelo que Alice me disse, e também o que pude comprovar nas conversas com Edward, estas semanas na reabilitação lhe deu uma nova perspectiva. Óbvio que deve ser traumático saber que nunca mais você irá poder andar com suas próprias pernas, e é claro ele terá momentos frágeis e de erupção nervosa diante da deficiência, mas tudo é possível mudar. – disse sensibilizado.

- É... assim espero. – murmurei fingindo desinteresse, procurando meu celular em minha bolsa para ligá-lo.

Emmett e Jasper, como dois excelentes amigos, antes de me levarem ao meu apartamento, me levaram para jantar em uma churrascaria brasileira. Algo não muito típico de cidadãos estadudinienses, mas que depois de nos fartamos de diversas carnes, saladas e comidas típicas da culinária do maior país da América do Sul, comprovei ser algo maravilhoso.

Depois da comilança exagerada, entrar no apartamento que um dia já compartilhei com James foi surpreendente. Não havia absolutamente nada que remetia a antiga decoração. A única recordação de que um dia aquele apartamento foi um lar de um casal prestes a se casar, era uma imensa fotografia minha e de James emoldurada sobre o aparador na entrada do mesmo. Fiz uma anotação mental de agradecer as meninas, antes de ir para o quarto onde agora deveria passar as minhas noites sozinhas.

Foi o tempo de tomar um banho morno, vestir um pijama e deitar na imensa cama, que já estava mergulhada na inconsciência dos sonos.

XxXxXxXxXxX

Despertei-me antes do despertador soar. Me sentia estranhamente ansiosa para a reunião com Eleazar e consequentemente ver Edward depois de mais de dois meses. As lembranças do nosso embate ainda estavam vivas na minha memória. As palavras de Edward naquela situação foram rudes e sem nenhuma espécie de tato, e não importava que naquele momento ele havia acabado de descobrir que não poderia mais andar, ele não necessitava agir daquela maneira comigo.

Meus pensamentos permaneceram em imagens de como seria este nosso reencontro quando tomava um banho, me arrumava, tomava café e depois pegava um taxi para ir ao Departamento do FBI de Washington, já que o meu carro havia sido completamente destruído no tiroteio que causou tantas fatalidades.

Foi soltando uma lufada de ar, que não fazia ideia que estava segurando, que sai do táxi que estava, quando este parou em frente do prédio de pintura acinzentada que era da Polícia Federal dos Estados Unidos.

O salto do sapato que usava ecoava pelos pisos de granito do hall de entrada. Várias pessoas, algumas conhecidas outras não, me davam as boas vindas, pelo que parecia a notícia do que realmente havia acontecido naquela noite de onze de março não era segredo dentro daquele prédio.

Agradecendo timidamente as boas vindas, caminhei diretamente para o elevador que me levaria até o andar onde ficava a sala de Eleazar, já que foi esta a instrução que recebi do mesmo: ir direto para a sua sala assim que pisasse naquele edifício.

Tudo, como logo percebi quando as portas prateadas do elevador se abriram, continuava igual. Os móveis tinham as mesmas disposições de quase três meses atrás, bem como Lauren, a secretária de Eleazar, continuava com sua postura arrogante atrás de sua mesa de trabalho. Ela não me desejou boas vindas ou sequer me cumprimentou, somente disse secamente que Eleazar estava aguardando a minha chegada e que eu poderia entrar.

Eleazar, que sofria praticamente um colapso dentro da segurança do país, principalmente por conta do caos que a descoberta de três agentes do FBI e da Interpol envolvidos com um grande esquema do crime organizado estava causando, aparentava uma expressão de cansaço e fadiga. Imensas olheiras arroxeadas se acumulavam sobre seus olhos que estavam vermelhos e vidrados. Sua pele tão sempre corada estava com um aspecto doentio e abatido. Ele havia perdido peso nestes últimos meses, como logo constatei.

- Isabella. – saudou-me. – Sente-se, Edward deve estar chegando em alguns minutos, parece que ouve um problema de acessibilidade na sua chegada ao prédio. – avisou despreocupadamente Eleazar.

Limitei-me a sorrir, imaginando se Edward sofreu um problema de acessibilidade na entrada do prédio ele deveria estar com um humor terrível. Senti um âmago de preocupação, que durou apenas dois segundos, já que a imensa porta de carvalho se abriu revelando Edward Cullen guiando sua cadeira de rodas.

Edward, apesar da deficiência que havia paralisado suas pernas, continuava lindo. Os cabelos bronzes estavam costumeiramente desalinhados. A pele branca estava mais translúcida do que me recordava. O verde de seus olhos, entretanto, não possuía o brilho esmeraldino de outrora, eles estavam opacos e se vida, escuros como uma esmeralda sem lapidar. Exatamente da mesma forma que vi pela última vez.

As pernas, agora imóveis dele, mesmo cobertas pela calça social negra, já começava aparentar a atrofiação dos músculos inutilizáveis; o que era um contraste enervante com os músculos de seus braços, que mesmo escondidos por debaixo do blazer negro marcava o quanto estes haviam aumentado nas últimas semanas.

Meu marido lançou-me um olhar inexpressivo e gélido, do qual ele não demonstrou nenhuma afeição, reconhecimento ou sequer uma saudação. Eles demonstravam desgosto de me verem.

Tive que engolir em seco.

Eleazar deve ter notado o clima de apreensão e hostilidade, pois rapidamente saudou Edward, pedindo para que nos acomodássemos para iniciar a reunião.  Antes que o Secretário de Segurança dissesse qualquer coisa, virei para Edward e o saudei.

- Olá Edward. – sibilei com uma falsa despreocupação. Notei o ruivo travar seu maxilar e fechar suas mãos em punho.

- Isabella. – disse entre os dentes, sem sequer olhar em meu rosto. Senti meu estômago revirar. A indiferença de Edward tinha um gosto amargo.

O olhar altivo de Eleazar percebeu a animosidade entre Edward e eu, contudo ele não disse uma palavra sequer sobre, iniciando sem delongas a reunião que havia nos convocado.

- Fico imensamente feliz em vê-los depois desse longo e merecido descanso que tiveram. – iniciou Eleazar sentando-se em sua cadeira de couro negro em frente a nós. – Compreendo que ambos passaram por situações complicadas que requerem um tempo de adaptação e terapia. – seu olhar foi de mim para Edward, repousando por fim em sua cadeira de rodas. – Mas acredito que uma mente desocupada não auxilia muito na recuperação psicológica de vocês.

“Visto isso, e observando também as novas circunstâncias.” – Eleazar olhou para as pernas de Edward, mais uma vez. – “Acredito que devemos ter um novo remanejamento de cargos. Na ausência de vocês, comecei a demandar alguns agentes para outros departamentos, para auxiliar outras equipes. Entre estas mudanças estão alguns membros da equipe que ambos lideraram. Indiquei Jared Brown e Paul Adams, para os cargos vagos no setor da Interpol que trabalham junto com o FBI.” – pontuou, dando breves relances em um papel sobre a sua mesa. – “Pedi para que o agente Eric York se unisse a Heidi Collins no comando da equipe de ciberguerra. E também, durante a ausência de ambos, demandei que os agentes Emmett McCarty e Jasper Whitlock ficassem no comando da equipe de crimes organizados. Os dois, como ex-soldados das Forças Armadas, se mostraram muitíssimo competentes para a tarefa, contudo falta um teor de liderança que somente você, Isabella, consegue dar.” – sorriu torto me encarando com seus profundos olhos castanhos.

“Desta maneira, acredito que você deveria continuar no comando da equipe águia, juntamente com dois subchefes, os agentes McCarty e Whitlock.” – pontuou Eleazar, me entregando um documento para que lesse e assinasse, contendo exatamente o que ele havia acabado de me dizer.

- Obrigada, Eleazar. – agradeci, enquanto passava o olho pelo papel.

- De início, Isabella, eu gostaria que você não saísse para nenhuma missão de campo, que ficasse somente com a questão interna. Tudo para evitar qualquer dano. – ordenou demorando seu olhar por um longo tempo em meu ventre que havia sido atingido por uma bala e causado danos irreparáveis em mim.

- Ok. – respondi com um aceno mínimo de cabeça, voltando a ler o documento que ele havia me entregado, tentando disfarçar a emoção que queria me tomar.

- Por sua vez, Edward. – disse Eleazar, voltando o seu olhar para Edward. – O conselho interno do FBI gostaria que te aposentasse por invalidez – sibilou com pesar, atraindo a minha atenção para longe do papel. Notei o pomo de adão de Edward mexer-se incomodamente, mas mantendo uma expressão neutra em seu rosto. -, contudo, eu fui contra esta decisão. Você, Edward, é um excelente agente, que infelizmente foi vítima de uma fatalidade que não existem palavras para explicar ou lastimar, partindo disso decidi lhe dar o cargo que antes era ocupado pelo responsável por essa tragédia. – ponderou o Secretário de Segurança com um meio sorriso em seu rosto.

“Gostaria que você assumisse não só o posto de Chefe do Departamento do FBI de Washington, como gostaria que você assumisse o posto de Chefe Geral do FBI.” – expôs com prudência Eleazar.

Percebi pela a minha visão periférica Edward ficando surpreso com a nomeação do novo cargo, porém no mesmo instante que um lampejo de preocupação tomava seu rosto, que era praticamente um espelho do meu. Uma vez, acredito que meu cônjuge deve ter se lembrado do atual Chefe Geral, o Comandante John Sacks.

- E o que será do Comandante Sacks? – perguntou Edward, visivelmente preocupado. Notei Eleazar sorrindo, percebendo que apesar da atitude hostil, arrogante e egoísta de Edward, ele ainda se preocupava com o bem-estar de outras pessoas. Ou quase todas as pessoas, pois parecia nem querer saber se eu estava bem ou não.

- Bom, acredito que ambos devem ter percebido que este excesso de trabalho que coloquei em cima de mim nos últimos meses, desde a morte de Thompson, causou alguns problemas a minha saúde. – sorriu descontraído. – Já não sou mais um novo General com vontade extrema de trabalhar. – divertiu-se de si mesmo. – A idade está avançando e me condenando. Desta maneira, decidi voltar ao meu posto de Secretário de Segurança, enquanto o Comandante John Sacks se tornará o novo Superintendente, assumindo as funções de Thompson que acabei assumindo após seu assassinato. – pontuou com clareza. – Era algo que eu gostaria de fazer a tempos, mas o envolvimento que tive no caso do crime organizado italiano só fez com que eu postergasse este momento. – com um gesto de aceno Eleazar ilustrou a palavra ‘postergasse’.

“Assim, Edward, você aceita o cargo que estou lhe oferecendo?” – questionou sério, mudando num piscar de olhos seu semblante antes descontraído para sisudo, juntando suas mãos e apoiando-as sobre sua mesa de madeira de lei.

Por mais que eu não quisesse olhar para Edward, foi impossível não voltar meu rosto para o dele. Um sorriso genuíno e torto brotava em seus lábios e um brilho flamejante piscou em seus olhos, contudo, durou apenas alguns segundos. Suas mãos que estavam fechadas em nós se relaxaram.

- Eu estava achando que seria descartado em algum departamento sem importância. – disse Edward com um leve tom de surpresa em sua voz. – Mas nunca, nem no meu sonho mais delirante, imaginava assumir um cargo dessa magnitude. Obrigado Eleazar, e ficarei honrado em assumir a Chefia Geral do FBI. – afirmou com um sorriso torto, enquanto as suas mãos apertavam e relaxavam contra o metal frio que o permitia movimentar suas ‘novas’ pernas, sua cadeira.

Eleazar sorriu amplamente o que foi seguido por Edward que estendia a sua mão para que o Secretário de Segurança a apertasse. Me vi sorrindo com a cena e inesperadamente sentindo uma grossa lágrima correr por meu rosto. Sim, eu estava feliz por Edward, por mais que estivéssemos, como nunca antes, tão afastados um do outro. Antes que a minha comoção fosse percebida pelos dois homens, tratei rapidamente de me recompor, esperando o que mais Eleazar teria para nos dizer naquela reunião.

- Distribuição de cargos decidida – iniciou novamente Eleazar. -, vamos agora para assuntos não tão agradáveis. – uma sombra de preocupação e ódio cruzou pelo seu olhar.

“A informação que o agente James Scott lhe deixou Isabella foi algo que nunca imaginei, tamanha a grandiosidade desta. Além da descoberta dos três pérfidos que auxiliavam no plano do Sr. Aro Volturi, descobrimos também como funcionava todo o esquema. Quem eram os criminosos dentro do país que permitiam o crescimento do crime organizado, do qual a muito trabalhamos para extinguir.” – expôs detalhadamente. – “Conseguimos desmembrar boa parte da quadrilha, mas ainda existem peças que nem mesmo James ou os infiltrados conseguem explicar através da delação.” – afirmou com um ar irritado e cansado.

- Hum... Eleazar – começou Edward, interrompendo a explicação que o Secretário nos dava. – O que aconteceu naquela noite? No dia onze de março? – questionou curioso, algo que também guardava dúvidas para mim, mas que estava temerosa demais para questionar.

Eleazar deu um meio sorriso e acenou com a cabeça, lançando um longo olhar em mim.

- A estratégia que Isabella montou ao lado do agente Whitlock foi o que nos ajudou a conseguir as informações, executar as prisões e prevenir um desfecho pior do que ocorreu. Como ele e a agente Brandon sabiam do conteúdo do cofre e tinham elementos que conseguiam comprovar a veracidade, conseguimos adiantar muitas coisas e traçar uma estratégia enquanto esperávamos o retorno dos dois. Todavia, isso foi antes que percebêssemos que havia acontecido algo a vocês. Foi o agente McCarty que nos deu o alarme de que vocês haviam sido descobertos e estavam no alvo deles. – o rosto de Edward estava endurecido e atento a Eleazar, que esquadrinhava o rosto do ruivo de maneira curiosa.

“Felizmente chegamos a tempo de executar pelo menos cinco prisões, contudo, tarde para evitar certas tragédias.” – novamente Eleazar demorou longos segundos observando a cadeira em que Edward estava e depois meu ventre. – “Carlisle Cullen e Jacob Black, junto com mais três criminosos perigosos que fugiram de um presídio na Geórgia, contratados pelos italianos, foram presos na ocasião, mas infelizmente não fomos capazes de executar a prisão de Riley Clark, que fugiu assim que percebeu que vocês os haviam delatados.” – expôs com pesar.

Eleazar calou-se por alguns segundos, percebendo que tanto eu quanto Edward estávamos absorvendo o que ele nos disse, a respeito das prisões que havia feito.

- Foi complicado o interrogatório dos dois. Jacob Black se recusava a dizer qualquer coisa. Enquanto Carlisle afirmava não saber nada, que somente entrara no esquema por segurança, já que Riley o havia ameaçado por ter descoberto algo envolvendo desvio de verbas federais. – continuou sem nenhuma emoção. – Por fim, depois de muitas horas em vão, Carlisle Cullen se abraçou ao instituto da delação premiada e da possível redução de pena e contou o que sabia sobre as operações dentro do FBI. – Eleazar se segurou para não rolar os olhos.

“Riley, segundo Cullen, era quem comandava as operações. Era o único que de fato tinha uma ligação próxima com o il dio ou que falava com ele. E assim distribuía as funções entre os dois subordinados infiltrados e mandava dados sigilosos de nossas investigações ao chefão da Camorra. Também foi relatado por ele, que as suas funções eram de somente alterar e acrescentar informações equivocadas no sistema que tínhamos acesso e por vezes fazer as ligações a Itália, que eram recebida sempre por Felix De Nicola.” – Eleazar lançou um olhar no monitor de seu computador, para em seguida abrir sua gaveta e tirar um frasco com medicamentos, onde retirou dois comprimidos e o engoliu, em seguida bebendo um copo de água que estava ao seu lado.

“Para o cansaço.” – respondeu a pergunta silenciosa que provavelmente eu e Edward fazíamos com nossos olhares. – “Carlisle também confirmou que era Jacob Black quem apagava os empecilhos, por assim dizer. Foi ele o responsável pelo assassinato de Laurent Thompson, Sam Uley, Emily Young, James Scott e pelos tiros que os acertaram, como vocês devem ter conhecimento.” – disse amargurado.

“Depois que Carlisle nos disse tudo o que podia, chamamos Jacob para um novo interrogatório, onde ele sem hesitar ou titubear confirmou os assassinatos e a tentativa de encerrar a vida de ambos, como também revelou ser quem criou o programa de ligações codificadas, podendo fazer as chamadas de dentro do departamento, e também como também ele que havia instruído Royce King a trabalhar para a Camorra na Itália, o que iniciou através de uma ameaça pensada pelo próprio Jacob.” – uma expressão de desgosto tomou o rosto de Eleazar, antes que ele continuasse.

“Jacob Black também nos informou, depois de muita pressão, os motivos que o levaram a se unir ao crime organizado, e como vocês devem supor, foi por causa de poder, dinheiro, reconhecimento. Riley o ‘convocou’ logo nos primeiros meses que ele começou a trabalhar para o FBI, quando o apadrinhou.” – Eleazar me viu movimentar inquieta. – “Ele também tinha a intenção de te recrutar, Isabella, mas acabou desistindo, segundo Black.” – explicou e imediatamente me senti mais tranquila. Tudo o que eu não precisava neste momento era ser acusada de traição. – “Voltando à história de Jacob; quando o questionei do por que Riley Clark o convocou ele deixou escapar, sem querer, algo que ele depois tentou reverter, que tudo iniciou porque Riley é um filho bastardo de Arthuro Lewis Giordano.” – um sorriso malicioso e frio apareceu nos lábios do Secretário de Segurança a minha frente.

A surpresa que recaiu sobre mim e Edward ao ouvir aquela sentença foi enervante, como assim Riley Clark era filho de Arthuro Lewis Giordano? Me recordava de ver nas informações de James, e nelas afirmavam que Riley não tinha nenhuma ligação com italianos, a não ser o seu pai que trabalhou na fazenda dos Lewis.

- Vocês estão considerando certo. – pronunciou Eleazar que havia se encostado ao encosto de sua cadeira e nos encarava. – A mãe de Riley, a senhora Rebecca Watson, foi junto com o marido para a fazenda dos Lewis no Colorado e teve um caso muito tórrido com o então Arthur Lewis, e desse romance proibido gerou Riley. Contudo, nossas investigações apontaram que a senhora Rebecca Watson convenceu seu marido, Joshua Clark, que a criança era filho dele. – sorriu em contragosto. – Riley só soube que Aro ou Arthur era o seu pai em dois mil, e depois de um longo reencontro entre pai e filho, Riley começou a fazer tudo o que o papai demandava. – completou com sarcasmo.

Eleazar fez uma longa pausa, admirando o rosto meu e de Edward e depois demorando seu olhar pelas largas janelas de seu escritório que se viam todo o percurso do Capitol Hill.

- Nossas investigações não estão sendo muito bem sucedidas – voltou a falar Eleazar, ainda mantendo o seu olhar sobre o obelisco Washington Monument que ficava ao fim do percurso que iniciava no Capitólio. – a fuga de Riley Clark, motivou o envolvimento da CIA, como também algumas agências internacionais. A Polícia Federal Italiana conseguiu ordens judiciais para investigar todo o clã Giordano e seus comparsas, e exigiram a presença de Aro Volturi na Corte Judicial para explicações. – narrou sem emoção.

“Mas como o filho de uma puta se declamava o ‘deus’, il dio, e não se submete a nada, nem mesmo a lei é páreo para ele. E assim, querendo um final épico se isolou em sua ilha particular na Grécia e cometeu suicídio. Fez o que Eurípedes foi convencido a não fazer. Encerrou a sua vida num cenário onde a mitologia diz ter sido a morada de muitos deuses, algo que ele buscou tanto ser.” – o amargor na voz de Eleazar era palpável.

“Sua vida pode estar morta, mas o seu legado nunca estará.” – disse reflexivo. – “Já foi localizado outros ramos da máfia ou quadrilha internacional, a meu ver, no meio de grupos extremistas e nem um pouco amigáveis, tornando impossível a erradicação disso tudo. E pelo que parece, mas não posso afirmar com cem por cento de certeza, Riley se tornará o novo ‘deus’, ele que herdou todo o legado do pai e está escondido em meio a grupos de milícias, bem mais armados do que a minha imaginação permite imaginar.”

Uma risada rouca e atípica saiu pelos lábios de Eleazar.

- O filho de uma puta é tão filho daquele desgraçado que agora está apagando todos os rastros, ou pessoas que poderiam levar a ele ou lhe causar problemas. – expôs o Secretário de Segurança.

- O que você quer dizer, Eleazar? – questionou Edward curioso, quando percebeu que Eleazar estava nos escondendo algo.

- Ontem eu recebi um comunicado da Prisão de Segurança Máxima da Virginia, onde os indivíduos presos naquela noite fatídica estavam. – explanou. – Nenhum dos sistemas de segurança, pessoas ou animais treinados conseguiram encontrar nada, o que me leva a crer que alguém dentro do presídio trabalha para o jovem e novo senhor Lewis. Um bolo ou pão, não consegui compreender muito bem, foi entregue na cela de Jacob Black. Este alimento estava contaminado com elementos químicos que causam envenenamento, desta maneira, levando a óbito em instantes o Senhor Black.

Ao ouvir as palavras de Eleazar um sentimento estranho apertou meu coração. Jake havia traído a nação, traído a mim, traído a Edward, assassinado uma legião de pessoas, entre elas James, tentado me matar, assim como Edward; mas um carinho, devido ao tempo que passamos juntos na nossa infância e adolescência em Forks, a amizade que compartilhamos, como também ao fato de que gostaria de ver Jacob pagar pelos seus crimes não se livrar deles, aceitar o seu assassinato era algo difícil de processar.

- E Carlisle? – questionou Edward, com um olhar duro a Eleazar.

- Depois que descobrimos a ameaça, mandamos Carlisle para outro presídio de segurança máxima, no Texas. – respondeu firmemente, percebi Edward respirar aliviado.

- Porém, devido a este quadro controverso em que nos vemos sem poder comprovar absolutamente nada ou indiciar ninguém pelos crimes mais gravosos, a nossa investigação sobre a Máfia Camorra foi arquivada pelos meus superiores. – declarou amargurado Eleazar. – As investigações agora passaram todas para a Polícia Federal e Serviço Secreto Italiano, nos desvinculando totalmente do caso.

“Entendo perfeitamente que este não era o desfecho que vocês, nem ninguém gostaria, ainda mais depois de sofrerem perdas inigualáveis e danos irreparáveis. Mas infelizmente é o que aconteceu. Espero, com sinceridade, que Riley Clark ou Riley Lewis, como estão chamando-o agora, volte a tentar dominar o nosso país, para que assim, vocês ou agentes que irão continuar nosso trabalho consiga dar um fim a tudo.” – o tom de derrota de Eleazar era inaceitável para a situação. – “Com isso, peço um último favor aos dois, como agentes responsáveis por toda a operação, pelas investigações e por fornecer informações importantíssimas gostaria que fizessem um último relatório sobre as atividades realizadas. Eu sei que já se passaram quase três meses dos eventos, e também tenho conhecimento que eles possam soar um tanto emocional, mas imploro – e aqui mais como um amigo do que como um superior – que não se limitem a dados técnicos, exponham a verdade do que realmente se passou naquele momento.” – decretou Eleazar.

Um silêncio de expectativa recaiu sobre a sala. Era visível que cada um ali estava refletindo sobre os acontecimentos.

- Estão dispensados. – pronunciou Eleazar, levantando-se de sua cadeira e caminhando deliberadamente até a porta a escancarando, em um claro sinal para que saíssemos.

Edward foi o primeiro a sair, guiando com perícia a sua cadeira para fora da sala de Eleazar. O que rapidamente foi seguido por mim, com um olhar cabisbaixo e tenso. Dei um sorriso confortador a Eleazar que somente acenou com a cabeça, fechando em seguida a sua porta.

XxXxXxXxXxX

A minha sala estava da mesmíssima maneira que havia deixado há três meses. Notei a camada de pó sobre os papéis, eletrônicos e móveis que ali ficavam. Pela primeira vez, encontrar um lugar onde eu ficava boa parte do meu dia, daquela maneira, não foi incomodo nenhum. Bati com as minhas mãos para afastar um pouco da poeira para enfim sentar na minha cadeira, no mesmo momento em que ouvia Edward praguejando a plenos pulmões sobre a falta de acessibilidade de sua sala.

Tive o instinto de ir ajudá-lo. Eu ainda me preocupava com Edward, mas qualquer movimento meu ao seu redor poderia ser recebido como uma afronta pessoal. Contive meu anseio de auxiliá-lo, sentando-me na minha mesa de trabalho e iniciando meu computador.

Nestes últimos quatro anos sendo agente e depois acumulando o cargo de chefe, me auxiliaram muito, principalmente na confecção de relatórios sobre as missões que trabalhava. Contudo, este último relatório sobre a Máfia Napolitana tinha o gosto amargo da derrota.

Enquanto estive em Forks tentei ao máximo bloquear a dor que sentia, por perder uma vida inocente e também por nunca mais gerar uma. Óbvio que tinha meus momentos de crises aonde ia para a uma clareira a alguns poucos quilômetros da casa de Charlie, meu pai, e chorava copiosamente. Chorava por não ter esperança. Chorava por ter falhado. Chorava por ter feito de minha vida um túnel escuro e inabitável.

Me continha para não cair no desespero, no limbo da tristeza, da depressão outra vez, ainda mais na frente dos meus pais, mas aquilo tudo parecia tão impossível, porém de alguma maneira atípica eu consegui.

Ou esperava ter conseguido.

Assim que a primeira palavra fora escrita no arquivo do relatório, lágrimas desesperadoras e sofridas tomaram o meu rosto, e meus pensamentos me levaram a reviver aquele momento fatídico.

O medo, o frenesi, o barulho, as vozes, os tiros, a dor. Um caleidoscópio de sensações e sentimentos que me deixavam apática e temerosa.

Demorei horas até conseguir concluir cinco páginas de relatório, algo que fazia em no máximo uma. No momento que terminei e pedi para que imprimisse, me dei conta de que deveria ir até a sala de Edward para que ele assinasse o meu relatório e eu pudesse assinar o seu. Tentei controlar o meu choro, e tirar o aspecto de desespero que aparentava para enfim enfrentar o leão selvagem recém enjaulado.

Pelos vidros que delimitavam a sua sala, notei um Edward cabisbaixo que vez ou outra admirava o monitor a sua frente, e cada vez que fazia isto um lampejo de ódio inarrável cruzava seu olhar. Engoli em seco antes de bater na sua porta e entrar.

Notei logo de início que Edward estava impaciente me esperando.

- Ah... Aleluia a chefinha resolveu dar o ar de sua graça. – pronunciou cheio de sarcasmo. – Achei que teria que ficar esperando-a eternamente, algo que não tenho a mínima vontade de fazer outra vez.

Eu vi vermelho. Pelo que parecia Edward iria me culpar pelo que aconteceu com ele.

- Perdão a minha demora Senhor Cullen, mas redigir esse relatório foi algo muito sofrível e emocional para mim. – devolvi ácida.

Edward arqueou suas sobrancelhas grossas e bem desenhadas, enquanto seus olhos esquadrinhavam o meu rosto.

- Sofrível? Emocional? – questionou retoricamente, antes de rir em escárnio. – Você não perdeu nada, Isabella. Você não sofreu nada. Você não faz ideia do que é ficar emocional. – cuspiu irritadiço.

- Ah, então você acha que só você sofreu? Só você teve consequências emocionais? Acorda, Edward! Uma vida inocente foi tirada com extrema violência em meu próprio ventre! Você faz ideia do que é perder outro filho de maneira tão violenta? – retruquei irritada.

- Agora para somar com a história de que eu sou um assassino a história do bastardinho. – provocou irônico.

- Por que você está fazendo isso, Edward? Por que você está agindo dessa maneira? Você disse que queria criar aquela criança ao meu lado, o que mudou? – perguntei confusa, me sentando ereta em uma poltrona de frente para ele.

Suas narinas inflaram enquanto ele me encarava com ar de repugnância.

- Eu nunca quis criar o filho de outro homem. – afirmou sem pestanejar. – Sim, eu disse que ficaria ao seu lado, mas estava torcendo para que você perdesse essa criança, que seria uma lembrança eterna para mim da sua escolha. Você sempre escolheu ele, e iria escolher ele se Jake não o tivesse assassinado. Eu nunca fui nada para você, a não ser um brinquedinho no qual você se divertiu. Usou e abusou e depois no primeiro e único erro jogou fora como se não fosse nada! – seu corpo inconscientemente se curvou para frente, enquanto seus olhos duros e frios encaravam o meu rosto. – Eu te amei, Bella. Te amei de verdade, a ponto de me deixar insano, mas você nunca retribuiu o amor que eu sentia por você. Você sempre foi egoísta, sempre amou mais a você mesma do que qualquer outra pessoa. Mas agora compreendi seu joguinho e não vou cair nele outra vez, por nada nesse mundo! – vociferou, batendo seus punhos fechados contra a mesa, ecoando o barulho oco de madeira pela sala de vidro.

- Você é patético. – brandi com ódio. – Todo se fazendo de vítima por que ficou paraplégico. Acorda Edward, o mundo não gira em torno de você! – exclamei. O ruivo riu em escárnio.

- Nem em torno de você, querida. – contrapôs sarcástico.

- O que você quer, Edward? – perguntei exaltada. – Quer que eu assuma a culpa por você estar nessa cadeira de rodas?

- Seria bom, afinal, só vim parar aqui porque tentei te proteger. – replicou.

Meus olhos se arregalaram. Senti a cor sumir do meu rosto. Minhas pernas ficarem moles como gelatina, meu estômago revirou e minha traqueia e coração foram comprimidos por uma mão invisível.

- Eu não pedi isso. – murmurei com um fio de voz.

- Claro que você pediu. – devolveu lentamente. – Você me consome, quer dizer me consumia tanto, que quando você estava em perigo eu te defendia. Para evitar que acontecesse qualquer coisa com você, eu entraria na frente de um tanque, levaria tiros por você. O amor que tinha por você era doentio, e só consegui perceber isso quando aconteceu a porra desta tragédia. Você sequer me agradeceu por salvá-la. Você não me perdoa por um erro cometido quando estava em um estado de conturbação, e vire e mexe taca isso na minha cara, mas quando eu tento te salvar, te proteger, você não me dá um obrigado sequer.

“Você é egoísta e arrogante, Isabella. Eu deveria ter te dado ouvidos e sumido desta cidade, da sua vida naquele maldito baile em que Thompson foi assassinado. Eu fui um idiota teimoso, eu tinha esperanças de te conquistar” – riu em escárnio. – “você ainda se recorda o que eu te disse naquela noite? Enquanto nós estávamos naquele jardim verdejante e escuro e nosso Superintendente era assassinado pela pessoa que nos apresentou?”

“Você disse com todas as palavras Isabella, que o nosso romance, se é que pode ser chamado assim, era doentio, suicida, homicida. E olha como você tinha razão... justamente Jake que nos apresentou, me motivou a te conquistar, a ficar com você, tentou nos assassinar. E quase conseguiu, mas o destino...” – riu sem nenhuma diversão. – “Essa porra de destino que designou que nos conhecêssemos só fodeu com a nossa vida, ou pelo menos a minha. Por sua causa Isabella eu estou inválido para todo o sempre e você, como uma puta egoísta que é, só consegue se preocupar com a merda do filho que perdeu.” – o rosto de Edward estava lívido. Eu estava lívida. Não conseguia compreender como ele pode estar me acusando de ser a culpada de tudo! Mas se ele queria colocar a culpa em cima de mim, que assim seja.

- Chega! – vociferei, ficando de pé enquanto batia uma de minhas mãos na mesa de Edward para em seguida estender o meu dedo em riste em sua face. – Quer me culpar por tudo? Me culpe! Só que não preciso ficar ouvindo você me ofendendo. – puxei o relatório dele que estava em uma pilha no canto extremo de sua mesa e o assinei. – Você pode entregar a Eleazar os dois relatórios. – falei, empurrando o seu e o meu para ele e saindo o mais rápido possível de sua sala, mas não sem antes ouvi-lo comentar exacerbado.

- Sua covarde! – meus instintos gritaram para mim voltar àquela sala e acertar o rosto de Edward com as minhas mãos e dizer tudo o que estava implorando para sair de mim. Mas me contive. Não daria este gosto para ele. Se ele não quisesse nunca mais me ver, assim seria. Faria o possível e o impossível para não cruzar com ele pelos corredores daquele edifício e se mesmo assim ocorresse, não hesitaria em pedir a minha exoneração da Polícia Federal Americana.

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CONTINUA....



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