Tudo pode mudar por causa de um Nome escrita por HeyLay


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Olá, eu tive de postar esse mais cedo porque essa semana eu tenho prova. Espero que gostem! beijos.

Música do Capítulo: I need you - The Beatles.

"Você não percebe o quanto
Eu preciso de você.

[...]

Você disse que tinha uma coisa ou duas
Para me contar..."



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A ruiva estava deitada no chão, sem mais forças para gritar. Estava vermelha e suada. Parecia com bastante sede, mas o que me chamava a atenção de verdade era o machucado em seu braço.

Havia veias altas e à mostra, o braço estava vermelho, mas parecia paralisado no local mais alto do ferimento. Em sua outra mão, Rachel deixou uma adaga cair, fazendo um barulho metálico no solo desértico. Ao seu lado, havia o criador de toda a dor que a menina parecia sentir.

Um escorpião amarelo enorme e, aparentemente, geneticamente modificado. Quase não dava para percebê-lo na areia, mas o movimento que ele fez quando Peeta me puxou para seus braços como forma de não me deixar aproximar e ser atacada pelo animal, deixou-o bem nítido a mim.

O animal venenoso deixou o espaço como quem não quer nada. Como se matar uma pessoa com seu veneno idiota fosse uma coisa normal e sem muita importância.

Eu queria tentar respirar normalmente, queria ter ficado calma. Mas a raiva com a qual eu me encontrava em relação à Capital era enorme e eu sabia que não conseguiria me conter. Mas então eu me lembrei de que minha amiga morria aos poucos ali. As veias expostas já estavam maiores em tamanho e quantidade, Rachel estava ficando cada vez mais fraca e sem voz. Eu não conseguia vê-la sofrer daquele jeito. Deveria ter alguma maneira de salvá-la. Esse pensamento esfriou minha cabeça e deixou a minha fúria pela Capital um pouco de lado.

Peeta me soltou ao perceber que eu estava mais calma e que não corríamos mais perigo. Ele começou a cantarolar a música de Katniss e aquilo me acalmou um pouco. Mas aí eu me lembrei da música francesa de Rachel e tudo veio à tona novamente. Ela não teve tempo de me ensinar... e quem teria? Eu tinha a chance de nunca mais ouvir a voz dela pronunciando as palavras desconhecidas que eu tanto amava...

— Por favor, Peeta. Pare... - pedi, as lágrimas descendo por meus olhos.

— Mas, você ama essa música!

— Sim, ela me acalma... mas não é um bom momento agora, O.K.? Por favor...

— Tudo bem.

Ele bufou, como se não soubesse mais o que fazer para me ajudar. Eu já estava agradecida por ele tentar, afinal quem é que iria querer fazer isso quando sua vida corre perigo? Eu devo ter feito uma boa escolha ao decidir fazer com que ele voltasse para casa e eu sabia que eu já tinha ido longe demais para desistir, mas eu me colocaria à frente de qualquer perigo para, pelo menos, tentar minha amiga.

A face de Rachel começou a perder o rosado ocorrido devido ao seu sangue quente. Os olhos já começavam a ficar vidrados, nada além de pequenos sons saíam de sua boca. Eu não conseguiria aguentar ver aquela cena, pois sabia que me atormentaria para o resto de minha vida, eu queria vomitar, jogar tudo pra fora como em um momento de catarse, mas eu não podia. Eu falia aquilo. Por ela.

E então a raiva pelo mundo bizarro em que eu vivia voltou quando eu me lembrei de que, enquanto eu chorava, tanto por dentro quanto por fora, lamentava e tinha medo e receio de ver aquilo, pessoas comemoravam a morte de Rachel causada por um perigo da arena. Não seria tão comemorada quanto seria caso ela estivesse morrendo pelas mãos de outro tributo. Ou tanto quando seria caso eu a tivesse traído e matado, mas eu nunca faria isso e a questão é que estão comemorando uma coisa que deveria ser lamentada! Como se fôssemos meros bárbaros dos tempos antigos que lutavam no Coliseu contra leões e gladiadores para a diversão da Roma devido à política do Pão e circo - Panem et Circenses.

Eu não queria ser aquilo. EU não seria apenas mais um dentre outros. Eu morreria, mas deixaria minha marca. EU buscaria a revolução mesmo que isso resultasse em punição. Pois eu sabia que um simples gesto poderia mudar tudo... assim como um simples nome. Talvez esse nome seria o meu. Talvez eu apenas pensasse assim pois sabia que morreria e não em importava com os outros. Mas sim, eu me importava com minha mãe, com Gale e com Katniss. EU me preocupava com todos aqueles que amo e que não amo, até com Madge. Eu me importava com as pessoas e perdoaria aquelas que riram de nossas caras enquanto vimos a morte de nossos amigos. Mas eu não perdoaria um regime opressor como aquele... e bastou um nome, um sentimento, uma pessoa... para que eu visse isso.

Em um momento de desespero, sabendo que Gale estaria assistindo, levei os três dedos de minha mão esquerda até meus lábios e os ergui em sinal à todos aqueles de meus pensamentos anteriores. De todos aqueles que morreram por não terem opção. De todos aqueles que acreditaram em mim. E, de repente, para concluir o meu objetivo, a palavra sem som pulou de minha boca.

"FUJA."

Ele entenderia.

Ao balançar o braço com raiva de mim mesma depois do que fiz e depois do que não pude fazer, senti algo metálico em minha cintura. Era um pote. Abri-o rapidamente e encontrei o resto do remédio que Rachel usara em mim.

Com as mãos trêmulas, levei dois dedos ao gel gelado, agachei-me e emplastei o braço da ruiva com o produto. Rachel pareceu estremecer. Ainda estava viva. Um sorriso de alívio apareceu, involuntariamente, em meus lábios. Dei um beijo na bochecha da ruiva e sussurrei em seus ouvidos:

— Vai ficar tudo bem, vai dar tudo certo.

Foram as mesmas palavras que ela usara para me acalmar quando eu decidi procurar por Peeta. Foi a mesma coisa que ela me disse quando eu estava desesperada. Vai ficar tudo bem. Pode ser uma mentira para mim mesma, mas eu sabia que daquela vez era verdade. Rachel ficaria bem.

A mentira é algo estranho, devo dizer. Eu posso tentar ficar sem mentir, mas nunca conseguirei. Posso estar o fazendo comigo mesma de modo que eu nem perceba. Posso estar fazendo-o involuntariamente. É algo necessário, é algo do instinto humano... é algo que eu acabara de fazer.

— Prim... esse remédio não é para picadas... - Peeta me tirou de meus devaneios.

— Mas o quê...? Eu usei esse remédio em minha cintura e...

— Cada caso é um caso... não há nada o que podemos fazer.

E meu mundo desabou. Os olhos de Rachel ficavam cada vez mais sem vida. O gel gelado apenas fez com que ela acordasse um pouco, mas apenas a temperatura influenciou em algo. Cada caso é um caso... e o meu era: eu tinha a mania de mentir para mim mesma.

[...]

Um barulho estranho tomou conta do lugar de repente, mas eu estava com as vistas embaraçadas demais para conseguir ver algo, ou ouvir, mesmo que isso não influenciasse em nada na visão. Parecia que meu cérebro bloqueava todos os meus sentidos externos. Tudo o que eu via era o corpo cada vez mais envenenado de Rachel. Eu não sabia quando tempo duraria, mas eu não conseguiria vê-la sofrer por mais um minuto. Eu queria que algum outro bicho venenoso passasse e me mordesse também, mas ela não ia querer isso. Rachel me pedia com os olhos quase sem vida para que eu não fizesse aquilo comigo mesma.

Em um momento de descuido, deixei que minhas mãos agarrassem a adaga de prata que a menina roubara dos carreiristas. Sorri ao me lembrar da esperteza de Rachel e do modo como ela sempre deixava tudo melhor para mim. Depositei um beijo em sua testa e deixei as palavras mais estranhas do mundo soarem como algo mais.

— Eu te adoro, Rachel... - falei, engasgando. - Junte-se à sua mãe... não deixei que tirem mais nada de você.

Estiquei o braço para o alto e o abaixei com força.

Eu pensei que sim, mas acontece que o braço nem chegou a se abaixar. Senti algo prendendo minhas duas mãos no alto. Soltei a adaga de modo que ela caiu ao lado de Rach e me deitei na duna de areia aparentemente infinita. Eu tinha sede, mas não conseguia senti-la. Eu tinha fome, mas nada no mudo, nem necessidade biológica nenhuma, me faria sentir pior do que aquilo.

As lágrimas vieram sem mesmo eu conseguir pensar. Eu não via nada, assim como antes. Apenas o que eu queria ver. A areia se misturou aos meus olhos e eu nem me importei! Eu nem me importava com o que aconteceria depois. Se eu ficasse cega por causa da areia... que seja, eu já não tinha mais nada naquele lugar a não ser eu mesma e Peeta. Mas eu sabia que ele ganharia... eu depositava todas as minhas apostas nele apesar de Cato. Eu nunca senti tamanha dor dentro de meu coração.

Já me machucara tentando atravessar a cerca, já levara um empurrão de Lady, minha cabra, por tentar tirar o que era dela e até perdi meu pai, mas era pequena demais para entender a importância da perda. Agora que eu estava grande o suficiente para morrer e ver outros morrerem... bem, já é de se imaginar que eu faça um escândalo.

O barulho chato de antes parou por completo, o que me deixou perplexa, afinal o que era aquilo? Deixei os braços caírem para os lados. Fechei os olhos calmamente por uns segundos e me levantei, tirando a areia que restara em minha face.

Lá estava ele. Peeta. Com a adaga na mão, com uma expressão de cortar o coração. Como se se questionasse: ela faria isso mesmo?

Na outra mão ele segurava um paraquedas, mas não se movia.

Levei meu corpo até perto de Peeta da melhor maneira possível e arranquei o paraquedas de seus braços. Ele permaneceu com a expressão perplexa por causa do meu showzinho para a população nobre de Panem. Abri a primeira divisão e havia duas coisas lá dentro: um papelzinho que voou carregado pelo vendo e que pousou em meus pés, e uma caixinha metálica como a que estava presa em meu cinto.

Abaixei-me para pegar o papel branco e tudo o que eu li foi:

"Cada caso é um caso. Aplique no coração. Francamente, loirinha... espernear? Bem, pelo menos amoleceu o coração de seus patrocinadores mesmo que o remédio não fosse para você. Tome cuidado com as mensagens que anda mandando para casa, é só um aviso; a Capital não é burra, querida. Esse remédio dura apenas um dia. Aproveite mais um pouco ao lado dela, ou arranja um remédio definitivo, e fique viva. - H"

Um novo sorriso de alívio tomou conta de mim, mas dessa vez eu sabia que ele duraria mais que alguns segundos. Abri a caixinha gelada por causa do material usado na fabricação e encontrei uma seringa com um líquido azul. Bem, Capital era Capital. Dei de ombros, destampei a ponta da seringa, deixando uma agulha enorme à mostra.

Eu já tinha feito aquilo antes... mas os casos eram diferentes. Eu estava tentando salvar alguém com quem realmente me preocupava e não apenas ajudando minha mãe. Sem contar que eu tremia muito.

Olhei para o lado na esperança de Peeta conseguir fazer o trabalho, mas ele ainda estava na mesma posição de antes, com a adaga de prata nas mãos, encarando o lugar onde eu estava anteriormente.

Bem, terá de ser eu mesma..., pensei.

Aproximei-me do corpo de Rachel e percebi que as veias envenenadas já estavam por todo o braço e que tomavam uma cor de apodrecimento. O veneno tomava outra rota... o coração.

Era onde eu deveria aplicar. Aquilo deve ter custado caro, eu sabia, e não poderia desperdiçar... acho que Rachel valia à pena. Assim como eu percebi que Haymitch achava que eu valia à pena. A amizade poderia ser um problema para mim, afinal eu sacrifiquei meus presentes para salvá-la enquanto a mentora com nome de garoto nem deve ter se esforçado, ou se esforçou junto de Haymitch por sermos uma equipe. Mas eu sabia que poderia confiar em Rachel.

Sem pensar por mais um minuto, mirei no coração da garota e encravei a seringa em sua pele. Rachel deixou um som estranho ultrapassar sua garganta. Talvez um grito em baixo volume... talvez ela ainda sentisse. Fechei os olhos e apertei a parte de cima da seringa para liberar o líquido curativo.

As veias altas e expostas que antes estavam apodrecendo o lugar por onde passavam, tomaram uma coloração azulada quando consegui abrir os olhos para ver o resultado. O rosto da menina tomou outra expressão, talvez alívio. O machucado da picada estava quase que cicatrizado. A pele dela tomara sua coloração avermelhada devido ao sangue quente novamente. Os olhos retornaram a ter brilho, mas ela ainda não havia acordado.

Eu queria falar para ela, o mais rápido possível, o quanto eu gostava dela e que a considerava minha irmã, mas só de saber que ela viveria por mais um pouco... eu estava feliz.

[...]

— O que devemos fazer agora? - perguntei minutos depois.

Rachel ainda não acordara, Peeta estava imóvel e eu a encarava. Olhei a meu redor enquanto esperada a resposta do menino.

— Aqui não é um lugar seguro de se ficar. - afirmou.

— Nenhum pedaço desse lugar é bom. - corrigi sua linha de pensamento. - Até mesmo a cornucópia tem seu perigo além dos Carreiristas. - peguei a adaga de Rach e comecei a cutucar a areia. Uma lagartixa branca, quase transparente, saiu correndo assim que encostei a ponta da faca na mesma.

— Isso é um pouco contraditório, afinal a Cornucópia era pra ser um lugar seguro. - Peeta retoma sua fala segundos depois.

— Como é? - questiono mais calma. Talvez fosse essa calma toda que estivesse proporcionando a nós esse diálogo mais leve.

— Eu... digo...

— Desembucha logo, Peeta! - peço lançando um sorriso.

— É que a cornucópia é uma metáfora, Prim. Eu pude ler algumas coisas enquanto Effie pesquisava sobre a arma. - deixou escapar, mas falava tão baixo que eu duvidava que a Capital ouvia. - Reza a lenda que uma cornucópia mágica dava tudo de bom para quem a encontrasse e pensasse em coisas boas. Por isso as armas ficam lá e não em qualquer lugar da Arena. Por isso escolheram esse nome...

— Faz sentido... - admito.

— É lógico que faz.

— Mas a magia não existe. - afirmo.

Peeta apenas assente. Mais alguns minutos se passam e nada de Rachel acordar. Continuo brincando com a areia. Será que Rach conseguiria sobreviver? Como eu conseguiria o resto do remédio? Eu deveria mesmo buscar sua cura ou deveria deixá-la partir de uma vez para facilitar o adeus e não me culpar tanto?

Eu não sabia.

— Quantas horas acha que é? - Peeta perguntou fazendo com que eu me afastasse dos pensamentos.

Olhei para o céu. Ainda estava azul claro. Encarei mais ao longe, as outras fendas já estavam escuras e algumas estrelas apareciam lá em cima.

— Supondo que no inverno já escureceu e que nas outras duas fendas está quase de noite, mas que aqui no verão ainda é dia... - eu tentava me lembrar do termo correto para esse fator. -

— Quer dizer que é "horário de verão"?

— É isso! horário de verão! - exclamei. - Já passou das seis da tarde.

— Prim, você é incrível! - falou admirado.

— Eu sei disso... - brinquei.

— Qual é?! Não exagera... - respondeu com o mesmo tom.

Alguns segundos se passaram e eu voltei com a expressão de seriedade.

— O que acha que devemos fazer? Ficar aqui onde não temos nada além de frutas para nos alimentar ou voltar para a primavera? Responda rápido, por favor. Não devemos deixar que tudo fique escuro para sairmos... sabemos dos perigos.

Peeta pensou por um pouco.

— Tenho uma ideia bem melhor. - uma expressão de genialidade e ideia surgiu no rosto do garoto. Seus olhos se iluminaram. Eu sabia o que aquilo queria dizer... ele tinha um plano perfeito. E era isso o que eu amava nele.


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Notas finais do capítulo

Fic chegando à reta final... :(
Beijocas.