Peter Pan escrita por ThegleameyesGin


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Pessoas lindas, perdoem a Gin.
Eu sei que prometi pra mim mesma que nunca na minha vida shipparia UsUk, e eu AINDA sou FrUk - e serei pra sempre.
Mas acho simplesmente lindo demais esse Peter Pan da Disney, e ele meio que me lembra o Alfie, então simplesmente saiu ;-;
*voz de locutor de rádio* E agora, direto do Nyah! Fanfiction, a primeira e única UsUk que Gin-awesome-chan-san jamais escreverá novamente!
Boa leitura ♥

P.S.: Clair, considere esse seu presente de aniversário, de natal, de ano novo e de tudo o possível xD



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Aquele era o dia de número oitenta e três. O tempo estava, para seu alívio, ameno o bastante para permitir a blusa branca de renda semitransparente que ela usava sobre a camiseta com a bandeira da Inglaterra. A calça skinny preta estava um pouco larga na cintura – o que delatava a perda de peso que ela sofrera, considerando que a calça costumava ter um caimento perfeito.

Alice se sentia um pouco idiota, parada na fila e sendo a mais alta de todas as crianças ali – se ignorássemos as mães que carregavam seus filhos de três ou quatro anos no colo. E seus dezesseis anos também faziam dela a mais velha, já que a maioria não passava dos dez anos de idade, algumas acompanhadas pelos pais, outras apenas vigiadas a distância – como ela mesma.

Convencer os pais a levá-la ali lhe tomara vinte e sete dias, e algumas horas. Tempo demais, em sua opinião, mas um tempo compreensivelmente longo, considerando os dezessete primeiros dias, que ela passara trancada do quarto – isolada de tudo e de todos. Alice compreendia a hesitação deles em liberá-la para fazer todo o caminho de Londres até ali, principalmente sozinha – coisa que eles não fizeram, já que estavam logo ali, a menos de cinco metros, encarando-a como se ela fosse virar um monstro verde e matar todo mundo a qualquer momento, ou algo assim.

Um murmúrio geral a fez parar de encarar os próprios sapatos e erguer os olhos para ver, por cima das cabeças pouco mais baixas que ela, Peter Pan se aproximando com um sorriso matreiro e os olhos azuis brilhando divertidamente. O cabelo era tingido num tom cobre – com o tipo de tinta que sairia no primeiro banho, provavelmente – assim como as sobrancelhas bem feitas.

Ele parecia ser, ela ponderou, um bom ator.

Com vozes cada vez mais altas, as crianças chamavam por ele – por Peter, não pelo ator – ao que o rapaz acenou animadamente de volta e correu os olhos pela fila de crianças.

Obviamente, ele a viu. O sorriso dele falhou, por um único segundo. Então, ele já sabia o que Alice fazia ali. Ela desviou o olhar para baixo, para o caderno de assinaturas e a sacola de papel onde estavam os bombons que ela comprara para ele.

Alice estava nervosa. Ansiosa, para ser mais específica. Segundo sua psicóloga, ainda era muito cedo para sair de seu país e fazer todo o caminho até Orlando para encontrar um desconhecido. Sua resposta foi considerada rude, apesar de ter colocado um fim na discussão. “Eu quero, eu vou.” E ali estava ela.

Foram cinco princesinhas fofas, e dois meninos vestidos de pirata. E então ela. Sabia que seus pais observavam seu progresso, assim como sabia que eles desejavam que ela desistisse e saísse da fila. Na verdade, ela sentia uma vontade semelhante de fugir.

Talvez a psicóloga estivesse certa. Oitenta e três dias não eram nada. Dois meses e alguns poucos dias. Nada. Passaram-se dois meses, e ela ainda não conseguia dar bom dia ao próprio pai sem tremer. Não conseguia ir à escola, nem passear na rua sozinha. Era frustrante admitir, sem dúvida, mas ela ainda não conseguia viver.

Apertou com mais força os objetos em sua mão. Respirou fundo ao ver o flash da câmera, anunciando que o menino vestido de jedi já ia embora, acompanhado pelo pai. Estremeceu. Era sua vez. Ergueu os olhos e lutou para se controlar ao perceber que estava a um fio de cair no choro.

Oitenta e três dias atrás: a última vez que ela chorou. E seu último dia de vida, também.

– Oi. – A voz dele chamou-a de volta a realidade. Ele provavelmente exigia uma atitude, já que ela continuou parada no mesmo lugar. Respirou fundo.

Cinco passos para frente, um para trás. Dois metros e meio a separavam de Peter Pan. Aquilo a frustrou, ao mesmo tempo em que a deixou aliviada. De início, ela pensou que não conseguiria chegar perto dele, mas aquilo era um avanço. Era mais do que o bastante, pensou consigo mesma.

E então, de rompante, ele estava bem ali, perto demais, e o bastante para que ela conseguisse ouvir sua respiração. Sentiu seu corpo todo ficar tenso e congelar. Ele se curvou e ergueu as mangas de sua blusa, buscando por cicatrizes que não estavam lá. Alice piscou, recuando ao perceber o quão perto ele esteve.

Peter Pan sorria para ela, mas dava para perceber que o rapaz por detrás do personagem estava preocupado consigo. Ela não deveria ter vindo. Não deveria ter...

– Então, você é uma das heroínas que fugiram do Gancho? E sem nenhuma cicatriz, ainda! Impressionante!

Piscou, surpresa.

–... Você é o único herói aqui. – Discordou, franzindo o cenho. Esfregou o pulso que ele segurara com a outra mão, sentindo-o queimar com o contato prévio. A psicóloga estava certa, afinal. Ela já sentia as pernas tremerem, e ele ainda nem tentara abraçá-la.

– E então, veio se unir aos meninos perdidos? – Ele recomeçou, ignorando a postura defensiva que ela adotara. – Eu abriria uma exceção, pra alguém incrível assim.

– Não sou incrível. Só vim te agradecer-

– A mim? – Ele ergueu uma sobrancelha. – E pelo que? Não me lembro de ter te salvado.

–... Você não saberia.

Um silêncio desconfortável se instaurou, e ela pensou seriamente em fugir dali. Já obtivera sua cota de humilhação pública, e não pretendera tirar a foto desde o início. A ideia de tê-lo lhe abraçando a fazia querer chorar. Olhou para baixo, lembrando-se do caderno de assinaturas, e dos bombons.

– Ah, isso... É... É pra você. – Ela empurrou a sacola de papel e o caderno. O rapaz aceitou o último item e ignorou completamente o primeiro, puxando uma caneta e abrindo na primeira página.

Ele pareceu surpreso por ver o caderno vazio, mas não fez qualquer comentário enquanto o assinava. Quando esticou o braço para devolver o objeto, percebeu que Alice ainda oferecia a sacola com os doces, e não pode evitar o olhar inquisidor.

–... São para você. – Ela murmurou, ao que Peter automaticamente negou com a cabeça, um sorriso de desculpas tomando os lábios.

– Não posso aceitar, sinto muito. A política do parque não-

– Eu não queria essa assinatura. – Ela interrompeu-o, encarando a primeira página do livro, que estava preenchida com uma dedicatória simples e assinada por “Peter Pan” e uma carinha feliz. – Quero a sua assinatura, não a do personagem.

O rapaz remexeu-se, desconfortável, e as crianças começaram a resmungar na fila.

– A minha-

– Sua. Você é o herói, não o carinha do desenho. Sabia que no conto original Peter Pan matava os meninos perdidos quando eles cresciam?!

Se possível, Alice conseguiu piorar a situação. Agora as crianças mais próximas a si pareciam assustadas.

– Mamãe, do que a moça ‘tá falando?

– Nada, querida, ignore ela.

O ator corou e olhou em volta, sem saber o que fazer. A menina, porém, ignorou todo o resto e esticou o caderno mais uma vez.

– Eu não quero a foto. Só a assinatura.

Viu-o hesitar antes de aceitar novamente o objeto, abrir em uma das últimas páginas e escrever algo rapidamente, fechando-o logo em seguida. Então, ele devolveu para ela e abriu um sorriso sem graça, como se suplicasse para que ela fosse embora.

– Obrigada. – Ela falou simplesmente, sem parar para procurar a página.

Agora ela tremia por inteiro. Tinha acordado o mais cedo possível para evitar multidões, mas o parque já estava bem mais cheio, e ela se sentia doente. As pessoas a encaravam, algumas aborrecidas, outras incomodadas. Ela não olhou para nenhuma delas.

Sua mãe entrelaçou o braço no seu, guiando-a para longe, ao que ela soltou um suspiro aliviado e agradecido. Duvidava que fosse conseguir sair dali, se estivesse sozinha.

Eles pararam num banco, já bem longe de Adventure Land, e Alice ouviu seus pais sussurrando um com o outro enquanto ela se limitava a colocar a cabeça entre as pernas e tentar respirar. Sabia o que falavam, sabia que estavam preocupados e sabia que tinha o dever de dizer que estava bem.

A questão era: ela não estava.

Não deveria ter saído de Londres, não deveria ter discordado da psicóloga. Em casa ela estaria segura, tentou se convencer, o vôo estava marcado para noite seguinte. Falta pouco. Respirou fundo.

Sentou-se corretamente e puxou para o colo o caderno, folheando as páginas em branco em busca do que quer que o rapaz tivesse escrito ali. Encontrou-a mais rápido do que achou que conseguiria. A letra dele era garranchada e nem um pouco bonita, diferente da escrita floreada de Peter Pan. Isso a deixou satisfeita.

“Para a senhorita esquisita, não destrua os sonhos das crianças. Obrigado pelos bombons, eu vou aceitar. Meu horário de almoço é daqui à uma hora, me encontre no restaurante da Ilha da Aventura.

Alfred F. Jones”

Ao terminar, ela tinha o cenho franzido. Alfred.

O nome dele era Alfred.

Ele não tinha cara de Alfred. Tinha cara de Peter. Soltou uma risada baixa, chamando a atenção dos pais, que agora pareciam discutir se seria mais sensato ir embora agora ou se deveriam visitar mais alguma das atrações antes.

– Querida? – A voz de sua mãe chamou-a de volta a realidade. Ela sorria gentilmente, do jeito que fazia quando não queria assustar Alice. – Você está bem?

– Tudo bem, mãe. Obrigada. Eu vou almoçar sozinha, então você e o papai podem se divertir. – Tentou soar segura de si. Viu o sorriso da mãe falhar, e o semblante do pai vincar-se em preocupação. – Eu vou ficar bem. Estou com o celular.

Pensou que seu pai fosse discutir, mas não foi o que aconteceu. Sua mãe ergueu-se e puxou o marido para cada vez mais longe, e ele foi quase que sem reclamar. Alice observou-os desaparecendo na multidão que se formava na rua principal para o desfile de meio-dia.

Ergueu-se, deduzindo que seria mais seguro buscar pelo tal restaurante agora, quando estaria vazio. Não foi difícil encontrar o lugar, principalmente porque era uma construção grande e caracterizada.

Alice optou por uma mesa do lado de fora – principalmente porque suas opções para uma possível fuga eram mais variadas ali do que do lado de dentro.

Viu-se brincando com a alça da sacola enquanto esperava, e então lendo e relendo ambas as assinaturas que conseguira. Apenas uma vez a moça foi abordada por uma garçonete que impacientemente advertiu-a que as mesas eram apenas para clientes, ao que ela foi forçada a explicar, aos tropeços, que estava esperando por alguém.

Alfred F. Jones chegou atrasado, e ainda fez o favor de fazê-lo por trás dela, curvando-se e sussurrando a pergunta que geralmente ele não precisava fazer.

– Suicídio?

Ela quase pulou de susto, mas optou por virar-se e encontrar um rapaz loiro e de óculos, usando uma jaqueta de aviador – o tempo tinha fechado durante a hora que ela passou esperando e esfriado consideravelmente, tornando sua escolha aceitável.

Ah. Ele tinha cara de Alfred. Ainda haviam algumas mechas do cabelo em que a tinta vermelha permanecia, o que a ajudou a reconhecer o rapaz por detrás de Peter Pan. Ele sentou-se na cadeira de frente para a sua, do outro lado da mesa – para seu alívio eterno.

Percebeu que ele ainda esperava por sua resposta, mas não pode deixar de gaguejar antes de dá-la.

– Estupro.

Alfred F. Jones acenou a cabeça afirmativamente em resposta. Os olhos por detrás dos óculos eram azuis, como o céu estivera naquela manhã. Era estranho, mas o silêncio que se seguiu não era desconfortável. Ele parecia pensativo, e ela se limitou a observá-lo, buscando interpretar possíveis reações.

– Qual seu nome? – Ele perguntou de repente, um tempo depois.

–... A-Alice. Alice Kirkland.

O sorriso dele foi muito mais sincero agora. Ela não pode evitar a vermelhidão que dominou sua face.

– É um nome bonito.

– Obrigada. Oh, sim! Seus bombons. – Ela empurrou para ele a sacola, puxando a mão de volta quando ele esticou as próprias.

Alfred percebeu o movimento, é claro. Provavelmente tirou as próprias conclusões, mas ela não conseguiu expressar o pedido de desculpas que pensou em fazer. No fim, tudo o que pode fazer foi desviar o olhar para o chão.

–... Como foi que eu te salvei, afinal? – Aparentemente, sua incapacidade de agir como um ser humano normal não o impedia de continuar o interrogatório. Alice deduziu que era seguro erguer os olhos e encará-lo de volta.

– Internet... As pessoas comentam sobre você. – E então, percebendo que ele não havia entendido o que ela quisera dizer, tratou de se explicar. – Ahn... As garotas que vem aqui para te conhecer, todas elas comentam sobre como você é gentil, e como você as trata super bem... Sem querer te tratar como um animal de zoológico, mas quando eu fiquei sabendo sobre você, tudo no que pude pensar é que precisava te conhecer. Como dizer... Ahn... Pra mim, você é o mais perto possível de um homem confiável, no momento.

Tomou fôlego ao terminar, e então corou ao perceber o quanto dissera, e o conteúdo de suas afirmações. Apertou o lábios e considerou a possibilidade de fugir. Parecia uma boa deixa para se esconder do mundo para o resto da vida.

Alfred F. Jones, porém, riu. Não, melhor, ele gargalhou. Enquanto ela o encarava, ainda sem saber se morria de vergonha ou de raiva, ele lutou para controlar as risadas e a olhou com os olhos azuis brilhando.

– Obrigado... Eu acho. Eu pretendia te fazer pagar, mas já que esse é o caso, o herói aqui vai te pagar um hambúrguer. O que vai querer?

Como esperado, Alice gaguejou ao fazer o pedido, e encolheu-se quando ele arrastou a cadeira para trás e entrou na construção com o objetivo de pedir o almoço de ambos. Durante os curtos vinte minutos que o rapaz passou do lado de dentro, ela travou uma guerra interna sobre esperar por ele ou não.

Antes que conseguisse fugir, ele já estava de volta. Alice pedira o mínimo possível, envergonhada com a ideia de ter seu almoço pago por um estranho, mas quando recebeu sua bandeja, não encontrou um combo júnior, mas um pedido bem mais caro – e mais gostoso, também.

Alfred por sua vez não teve escrúpulos ao pedir dois dos maiores hambúrgueres, além do maior copo de refrigerante do lugar. Enquanto ela lutava para terminar a própria comida, o rapaz devorou seu lanche e passou a roubar as batatas dela, fazendo comentários avulsos sobre o parque, ou sobre a cidade, numa tentativa de manter um dialogo. Alice limitou suas respostas a monossilábicas, parte por vergonha, parte por não saber o que dizer.

Duas semanas isolada no próprio quarto tiraram dela boa parte de sua capacidade de se socializar – ou pelo menos aquela era sua desculpa. Quando ela terminou o sanduiche, percebeu que Alfred também lhe fizera o favor de acabar com metade de seu refrigerante em seu lugar, e não pode evitar uma risada nervosa.

Ele parecia tão irritantemente confortável com aquilo que ela simplesmente não conseguia evitar a própria admiração. Em um ato impensado e descontraído, ela esticou o braço para reivindicar sua Coca-cola.

Num primeiro momento foi tranquilo, Alice puxou o copo e ele nem mesmo resistiu. Mas então ela sentiu seus dedos roçarem-se nos dele, e uma corrente elétrica percorreu todo seu corpo, desde a área de contato.

Foi puramente um ato de defesa. Ela soltou o copo e bateu na mão de Alfred, afastando-o de si. Então, recuou a cadeira e se ergueu, dando um ou dois passos para trás antes de perceber o que fazia e conseguir se controlar.

Do outro lado da mesa o rapaz a encarava, completamente chocado com a reação exagerada dela perante um nível tão bobo de contato. Alice começou a tremer. Sem pensar muito ela voltou a sentar-se e colocou a cabeça entre ambas as mãos, já que colocar as pernas para cima da cadeira era impossível no momento. Tampou os ouvidos e repetiu mentalmente que estava tudo bem.

– Ei, ei! – Alfred deu a volta na mesa, sem perceber que sua presença só piorava a situação. – Desculpe, ok? Você tá legal?

Respirou o mais fundo que conseguiu. Ainda não conseguia forçar-se a falar. Por fim, tudo o que pode fazer foi balançar a cabeça afirmativamente e erguer uma das mãos, pedindo um minuto. Viu pelo canto dos olhos o rapaz voltar para a própria cadeira. Alice não pode deixar de se surpreender por ele ter escolhido continuar ali depois de tal cena.

Ela precisou de exatos três minutos para se acalmar. Depois, voltou a apoiar as costas no encosto da cadeira e fixou os olhos verdes em um ponto qualquer acima da cabeça de Alfred.

– Desculpe, estava... Ahn... Estavam melhorando. As crises, eu quero dizer. Meus pais não queriam me deixar vir por isso, mas eu precisava te ver.

– Tudo bem, a culpa foi minha... Essas crises acontecem o tempo todo? Tipo a de agora a pouco?

– Não! – E então franziu o cenho. – Bem, sim. Aconteciam. No primeiro mês foi bem ruim. Mas tem melhorado bastante. Se não, eu não teria conseguido nem ficar na fila, hoje.

Ele sorriu.

– Você é mesmo uma heroína.

– Não, não sou. Tudo o que eu posso fazer é sobreviver.

Mas Alfred negou com a cabeça, um sorriso gentil brincando nos lábios.

– Estar aqui significa que você ‘tá tentando. Quanto tempo faz desde... Bem, quanto tempo?

– Oitenta e três dias. – Ela foi sincera. Porque não ser, afinal? Não veria aquele rapaz nunca mais. Era muito mais fácil se abrir com um estranho do que com sua psicóloga, ou com a própria família. Talvez o fato de não serem nem do mesmo país ajudasse.

–... Isso dá o quê? Dois meses e uns quebrados?! Cara, isso é incrível! Tipo, pensa só em quanto progresso você fez em tão pouco tempo. Você viajou da Inglaterra – quer dizer, essa bandeira é do seu país mesmo, né? – até aqui, só pra me ver. E eu sou homem.

– É diferente. Quer dizer, você é diferente... Você é um herói e-

– Não sou, não. Sou só um ator, um cara que trabalha aqui no parque. E eu ainda estou me aproveitando de você, porque esses bombons são muito bons.

Ela não tinha percebido que ele comia. Talvez fosse a forma dela de canalizar o nervosismo... Ou talvez não.

– São de uma loja perto da minha casa. Não tem por aqui.

Os olhos azuis brilharam por detrás das lentes.

– Vê? Você se deu o trabalho de me comprar doces, apesar de nunca ter me visto antes.

– Eu conheço você, é diferente. – Alice lutou para encontrar as palavras certas. Agora aquilo a irritava. Ser incapaz de se expressar sempre fora seu defeito, mas estava piorando. Como explicar que ele a salvara de uma reclusão total? Como dizer que se não fosse por ele, ela nunca teria buscado tratamento médico? As palavras simplesmente não vinham.

– Para de negar! Você é incrível. Eu provavelmente ainda estaria trancado no quarto, se eu fosse você.

– Eu também, se não fosse por você.

Aquilo pareceu surpreendê-lo.

– Como assim?

– Eu não... – Ela tentou uma vez, e então outra, e mais uma antes de conseguir falar. – Antes de ficar sabendo de você, eu passei duas semanas sem sair do quarto nem comer nada. Você foi o motivo de eu ter procurado por ajuda. Eles... Meus pais disseram que me deixariam te conhecer se eu prometesse ir a uma psicóloga.

A moça quase que cuspiu tudo de uma vez, e quando terminou, ficou encarando as próprias mãos entrelaçadas em cima da mesa, sem coragem de erguer os olhos para saber qual seria a reação dele. Alice desejou estar em casa, mas não se moveu dali.

–... Deve ter sido uma droga. – Foi a resposta dele. Ela ergueu os olhos verdes, surpresa com a afirmação, e então percebeu que ele sorria.

– Bem, sim. Foi. – Em oitenta e três dias, foi a primeira vez que ela sentiu vontade de sorrir junto com alguém. Coçou a própria nuca. Porque não? Sua mente questionou-a. Se queria sorrir, porque não? E ela sorriu.

– Ah! Finalmente! – Alfred exclamou, assustando-a. – Eu sabia que você ficava mais bonita assim. Você deveria sorrir mais.

Não pode evitar, corou.

– Obrigada... Acho.

O sorriso dele lhe deu certeza.

– Então... Acho que terminamos.

Alice encolheu-se e olhou em volta, percebendo que tudo o que restava sobre a mesa era lixo. Não queria se despedir. E arregalou os olhos ao perceber aquilo. Ela não queria se despedir. Pensou em dizer aquilo à ele, mas Alfred foi mais rápido.

–... E já que eu paguei o almoço, nada mais que justo você me fazer companhia, certo? – Os orbes azuis brilhavam com tal expectativa que Alice não pode evitar um sorriso ao concordar.

Afinal, aquele estava sendo um dia de "primeiras vezes".

Eles passaram as duas horas seguintes caminhando a esmo pelo parque. Antes da primeira hora Alice percebeu que o rapaz só a levava aos lugares menos frequentados, e se esforçava para manter um diálogo decente com ela, de forma que foi impossível não aproveitar o passeio.

Como ela já esperava, o contato foi inevitável. Daquela vez, porém, ela estava preparada, e quando ele buscou por sua mão, sua reação limitou-se a um estremecer leve e um frio desconfortável na espinha.

O sorriso que recebeu em resposta valeu o esforço.

– Você sabe que seus pais estão nos seguindo, né?

Alice nem precisou olhar para trás. Já tinha percebido que era vigiada bem antes, mais precisamente desde a hora do almoço. Deu de ombros, um sorriso divertido brincando nos lábios. As mãos estavam suadas e ela ainda tremia um pouco, mas podia se considerar acostumada ao contato... Pelo menos ao dele.

Andaram por mais um tempo até Alfred arrastá-la para um banco, já de volta à praça principal. Ao invés de sentarem-se, o loiro parou frente a frente consigo e, abrindo um sorriso matreiro, aproximou seus rostos.

– Se eu te beijar agora, acha que seu pai me bateria?

–... Provavelmente não, eu te bateria antes.

Alfred se afastou com uma gargalhada.

– Eles estão muito irritados. Acho que é melhor eu ir. – A recém imposta distância foi desconfortável. Ter de volta a própria mão não era tão bom quanto pareceu nos primeiros cinco segundos de contato. – Você pretende continuar a vista amanhã?

Não soube dizer o que a deixou mais surpresa, o desejo por contato ou a vontade de vê-lo outra vez – ou talvez o fato desta vontade ser recíproca. Soaria falso dizer que ela queria poder voltar? Provavelmente sim.

–... Eu vou no Epcot amanhã. – Usou o melhor tom de desculpas, mas para sua surpresa, Alfred sorriu.

– Ótimo. Amanhã é meu dia de folga. Ah, eu estou atrasado! – E com isso o rapaz se afastou acenando animadamente. – Te vejo às dez!


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Ein? Ein? Ein?! *u*
Espero que tenham gostado. Esse é meu máximo, pelo menos xD mais fluffy que isso, só se tivesse SueFin UASHUASHAUSHUASHS
Para aqueles que desconhecem a lindeza que é o Peter Pan da Disney, aqui está: http://dreamasthoughyoullneverdie.tumblr.com/post/53232641449 -podem chorar agora

Meus lindos leitores fantasmas, sejam ainda mais lindos e deixem comentários! *u* Para os que não conhecem a Gin, prazer lindezas o// comentem também. E pros leitores amados do meu heart, Gin-chan ainda ama vocês x3 (E sexta feira tem FV! *u*)
Até a próxima, babies =*
Gin-chan

P.S.: Inicialmente eu pretendia terminar a fic com um comentário do tipo "Dat ass" por parte da mãe da Alice... Só pro caso de vocês estarem mesmo lendo isso aqui AHSUASHUAH



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