Just Another Problem escrita por Anji Anderson


Capítulo 1
Just Another Problem


Notas iniciais do capítulo

Apenas uma história dentro de outra história. É assim que a vida é feita, uma mistura de histórias, muitas inacabadas.
Espero que entendam ser apenas uma fase da vida de Sophie.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/429480/chapter/1

Não posso dizer que aprendi que não existem apenas os meus problemas no mundo da pior forma possível, não seria verdade. Sempre soube disso, e não é agora que irei me esquecer. O grande problema é que falar isso para alguém é muito difícil, principalmente se é um amigo.

Minha voz ficava presa e eu não tinha a coragem necessária para olhar nos olhos dela.

-Então? O que queria falar comigo?- Sua voz pareceria rude para outras pessoas, mas eu sabia que ela estava apenas preocupada, infelizmente, com seus problemas particulares.

Por um momento fechei meus olhos, essa era minha preparação para o que estava por vir, provavelmente o meu problema se tornaria o nosso problema, era sempre assim com Nadia, ela tomava as dores das outras pessoas para si. Abri os olhos e encarei suas orbes castanhas. Respirei fundo e engoli em seco.

-Nadia, você se lembra do dia em que descobrimos tudo isso? Todo esse mundo escondido dos olhos mortais?

-Exatamente como os nossos.- Ela falou um pouco rápido demais e eu neguei com a cabeça.

-Não, exatamente como os meus.- Respondi pesarosa. Ela pareceu se lembrar de algo muito ruim e franziu os lábios.-Mas você se lembra?

-Sim.-Agora sua voz estava realmente fria, se lembrar de que já não era humana a afetava bastante, e esse era um de seus problemas.

-E veja como as coisas mudaram, não?!-Minha voz começava a ficar embargada pelo choro e Nadia percebeu pois parou de olhar para o chão e fixou seus olhos em mim.-Me lembro que fazíamos as noites de quinta, filmes, jogos e comida chinesa, e o Josh adorava levar chocolate. Era sempre na casa de alguém e eu me esquecia de todos os problemas, de todos os trabalhos de geografia e química.

"Não sei se você notou, mas hoje é quinta feira à noite.- Olhei para o céu. Todas as lembranças eram tentadores e naquela época eu não sentia esse desespero constante.- E olha como tudo mudou. Não nos encontramos mais nas noites de quinta e vocês dois nem devem se lembrar de como é se sentir daquele jeito."

-Por que está falando isso Sophie?- Nadia praticamente sussurrava, sua voz parecia incerta e seu rosto surpreso. Lhe mandei um sorriso, meu famoso sorriso de tirar o fôlego e ela franziu as sombrancelhas. Continuei ignorando sua pergunta.

-Queria que Josh estivesse aqui para falar isso apenas uma vez, mas eu sei que ele não pode vir hoje.- A forma redonda e prateada no céu pareceu chamar a atenção de Nadia por poucos segundos e depois voltou a olhar para mim com os lábios espremidos. Ela continuava perfeita mesmo fazendo uma careta.

-Quero que você complete essa tranformação e seja feliz com Richard. Vocês foram feitos um para o outro, como almas gêmeas e tem que ficar juntos, deixe suas dúvidas bobas de lado e fique com ele.

-Mas Sophie, você sabe que...

-Não importa Nadia.Tudo o que você me conta são bobagens. Eu apenas quero que você seja feliz.

Nadia fechou os punhos e riu nervosa.

-Por que você está falando isso Sophie?- Sua voz agora era rude, agressiva.

-Porque eu sei o que está por vir. Eu sei que sou a única restando nessa história e você sabe o que acontece com as pessoas que restam.

-Sophie não, isso não vai acontecer.-Ela disse dando um passo para a frente e estendendo as mãos para limpar a primeira lágrima que caia por meu rosto. Dei dois passos para trás quase tropeçando e ela parou surpresa, seus olhos se arregalando.

-O pior é que eu sei Nadia.-Soluços saiam junto com as palavras.-Eu sei.-Repeti desesperada.

Nadia me abraçou gentilmente, como fazia antigamente. Coloquei meu rosto na curva de seu pescoço e deixei as mágoas saírem. Todo o desespero, o medo e a insegurança explodiram por dentro de mim e as lágrimas e soluços aumentaram. Passei meus braços ao redor do corpo magro de Nadia e segurei firmemente sua blusa. Meu corpo balançava por causa dos soluços e fui perdendo as forças.

Senti Nadia me puxar para algum lugar mais quente e um pouco mais silencioso. Toda a calma acabou quando ouvi a voz abafada de Nadia dizer algo e logo senti outra voz falando ao mesmo tempo. Nadia me fazia cambalear atrás de seu corpo, minhas pernas se atrapalhando na hora de seguí-la.

Mãos puxaram minha cintura, eram mãos frias e conhecidas. Me deixei ser pegada, mas não abri os olhos. Sabia quem estava me carregando e me colocando em algo macio, Richard.

-Está tudo bem Sophie, tudo vai ficar bem.- Eu sabia que não ficaria, que tudo estava perdido, mas não falei nada e me deixei levar pelas palavras de Nadia. Ao longe podia ouvir a voz de Richard perguntando o que estava acontecendo.

Tudo foi se fundindo em minha cabeça até que as vozes, as cores haviam sumido. Apenas o frio continuava a pinicar minha pele e eu me encolhia cada vez mais.

Não sei se isso era um estado de inconsciência, tudo não fazia sentido algum, a negritude me lembrava a coisa mais apavorente do mundo, me lembrava de duas orbes que um dia me encaravam relativamente felizes.

"Eu irei buscar."

Sua voz ecoava em minha cabeça.

Era doce, carinhosa e firme.

Enganaria qualquer um.

"Eu aceito." Foi o que eu respondi.

"Eu irei buscar." Era doce demais, começava a ficar amargo e enjoativo.

"Eu irei buscar." Eu sabia cada timbre usado, era firme e não e não deixava dúvidas, ele iria fazer.

"Eu irei te buscar." Era o que ele realmente quis dizer.

"Eu aceito." Foi o que respondi ingênua. Não sabia o que estava fazendo.

"Eu irei te buscar."Repetiu como um último aviso.

Meus olhos se abriram rapidamente e a luz me cegou. Pisquei várias vezes para conseguir ver que estava em um divã negro e com uma coberta vermelha.

-Sophie?-Nadia falou às minhas costas. Levantei meu tronco e girei. Ela estava sentada ao lado de Richard e parecia radiante, mesmo com o rosto preocupado. Atrás deles, em pé e de braços cruzados estava Josh com uma carranca adorável.

Meus olhos ardiam levemente e minha garganta estava seca.

-Sim?!- Minha voz também estava rouca e quebrada.

-Você está melhor?- Sua voz era cautelosa. Ela se inclinou um pouco para a frente.

Ao me lembrar da cena que havia feito a horas atrás, já que eu podia ver o sol passar pela cortina e Josh estava ali me senti envergonhada e decepcionada. Não havia falado o que queria falar.

Nadia, Josh e Richard ao verem meu rubor sorriram aliviados.

-Eu estou bem.

-Aqui.-Josh falou pegando um copo do Starbucks e me entregando, a temperatura era morna e eu sabia que era chocolate quente.-O seu favorito.

Sorri para ele que se sentou ao meu lado.

-Eu poderia saber o por quê de você ter ficado tão triste ontem à noite?- Ele falou segurando carinhosamente meu pulso.

Franzi a testa. Eu não estava triste, eu estava desesperada.

-Ahn...-Mordi meu lábio e olhei para o símbolo da sereia no copo.- Eu acho que apenas guardei tristeza demais. Não sei. Apenas me bateu aquela vontade de chorar e pronto, o palco já estava feito.- Falei com os olhos baixos e depois encarei Nadia que se mexeu no sofá.

-Sophie, você não está entrando em depressão não é?!- Ela falou baixo, como se tivesse medo.

-Não, não é isso. Eu tenho certeza.

Olhei para Josh que sorriu e apertou meu pulso. Um de seus braços envolveu meus ombros e me puxou para ele. Seu corpo era quente e fazia minha pele mais fria ter um choque térmico.

-Tudo vai ficar bem Sophie.- ele falou e beijou o topo da minha cabeça. Eu o considerava meu segundo irmão mais velho.-Tudo vai ficar bem.

Suas palavras não faziam efeito como antes faziam.

Não ia ficar bem. Desde o dia em que entramos naquela boate e fiquei sozinha no bar com uma bebida sem álcool e curtindo, quando ele chegou e sorriu para mim. Aqueles olhos negros que me pareceram tão bonitos naquele dia.

-Eu posso te dar tudo o que você quiser.- Foi o que ele disse.

-É mesmo?- Eu estava achando aquilo extremamente viciante.

-É, mas não vai sair de graça.-Me lembro de fazer um biquinho e ele sorriu mais.

-E quanto vai custar?- Perguntei levando a bebida aos lábios.

-O de sempre, você nem vai sentir falta.-Ele falou e segurou de modo firme em minha cintura. Que pegada, pensei e lhe sorri.-Mas o que você vai querer?

-Eu quero ser grande, fazer algo tão bom e grande que será lembrado para sempre.- Eu havia entrado completamente em seu joguinho.

-É isso mesmo que você quer? Você aceita minhas condições?- Ele pareceu tão sombrio e apaixonante. Mesmo não sabendo seu nome, não havia como resistir.

-Eu aceito.- Nossos lábios estavam tão perto agora, minha bebida esquecida no balcão.

-Então temos que selar o contrato.- Ele sussurou. Sua voz abafada pela música da boate e nos beijamos. Seu gosto era doce, como sua voz. Tinha a impressão de que nunca iria me cansar daquilo.

Minhas mãos apertavam seus ombros e ele tinha as duas mãos em minha cintura. Era o melhor beijo de minha vida.

Nos separamos ofegantes e dei meu sorriso de tirar o fôlego.

-Está selado.- Falei em seu ouvido.

-É, está.

Podia sentir todas as suas células que tocavam minha pele nua.

-E qual era o preço?- Continuei na brincadeira.

-Um dia você saberá.- Nos separamos apenas um pouquinho.

-Ao menos posso saber como irá conseguir?- Falei encarando aqueles olhos negros. Ele me puxou novamente e levou os lábios ao meu ouvido. Estremeci com o toque.

-Eu irei buscar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se vocês gostaram ponham esses dedos para trabalhar e mandem comentários. Talvez eu poste aqui no Nyah a história original, aí vocês vão entender exatamente o porquê dessa oneshot.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Just Another Problem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.