A Lágrima da Escuridão escrita por danielv


Capítulo 9
Capitulo 8


Notas iniciais do capítulo

Este para mim é um dos melhores capítulos na minha opinião pessoal. Espero que gostem da aparição de um dos mais sinistros personagens da história. =)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/429473/chapter/9

— Mas o que é isso? — Perguntou Dominic olhando ao redor.

— Uma jaula encantada. — O Mestre respondeu aparecendo ao seu lado.

— Silêncio.

A sala ao seu redor era escura, mas Dom ainda podia ouvir as conversas que vinham de algum grupo de homens ao seu redor:

— E então, nós pegamos a desgraçada?

— Sim! Nem acredito que conseguimos invoca-la com tanta facilidade, até parece um demônio qualquer.

— Mas e a cela está bem selada? Não podemos correr qualquer risco aqui.

— Relaxa amigo. Isso aqui vai segurar bem os trancos até finalmente conseguirmos domá-la.

— Eu não sei cara... Se aquilo dali sair da jaula.

— Você é muito pessimista. — Disse outra voz que apareceu logo após a batida de uma porta. — Nada pode escapar dali, além do que, somos Filhos da Sombra, nada pode nos matar.

Dominic meneou lentamente a cabeça enquanto ouvia.

— Aquela jaula foi feita para que transformasse qualquer deus em um mero humano, os selos em volta são poderosos, eu mesmo me certifiquei disso.

— E quanto ao outro que caiu ali?

— Deve ser do Domínio da Força que estava correndo pelos telhados, igual a um idiota e por isso caiu ali.

— Isso tá estranho, como ele foi cair exatamente dentro da jaula?

— Você é burro ou o que? O teto inteiro do edifício foi feito para que quando alguém com a Sombra manifestada se abrisse junto com a parte de cima da jaula. Evitando que um espertinho descubra isso.

— Vamos mata-lo então.

— Ainda não, deixe-o lá. Talvez nós possamos usá-lo para descobrir a localização de Ashterion.

— Mas tenho certeza que Skay não vai gostar de vê-lo ali junto com a presa.

DROGA! Skay, a líder do Domínio do Limite da Razão? Estou ferrado.”

— Ela vai demorar alguns dias para chegar ainda, não se preocupe com isso. Vamos sair um pouco e comemorar a nossa captura.

Todos concordaram, a porta se abriu e depois de alguns segundos se fechou novamente, deixando o local em total silêncio.

Dominic tentou pensar em algo, andou de um lado para o outro enquanto sua cabeça era inundada de pensamentos, mas nenhum deles era tão forte quanto aquele que o atormentava desde a conversa com Leton. “As pessoas sentem por mim?”. Enquanto isso o Mestre o observava acompanhando suas idas e vindas com a cabeça, ele então começou a chama-lo:

— Dominic, Dominic. Olhe para cá, você precisa se concentrar, nós precisamos sair daqui ou arrumaremos problemas. — Dom sequer olhou para ele e continuou andando de um lado para o outro, então o Mestre gritou — DOMINIC!

— O que foi droga? — Dom respondeu no mesmo tom. — Não consigo pensar em nada, não vê?

— A única coisa que eu vejo é que você está fazendo tudo menos pensando. Pare de focar no que você sentiu da Voele e veja que estamos em problemas aqui.

Dom então parou de se movimentar, ele sabia que o Mestre estava certo e que eles precisavam de algum jeito sair dali antes que Skay e o restante do Domínio aparecessem novamente. Então ele se sentou no chão, cruzou as pernas para dentro, olhou ao redor e começou a raciocinar:

— Ok, estamos dentro de uma gaiola mágica, capaz de deixar as pessoas anestésicas, feita como armadilhas para Filhos da Sombra que passam acima dela, possui escrituras que a principio não reconheço, são do Domínio do Limite da Razão, a Skay em pessoa está vindo para cá ver isso. Baseado nessas informações, o que eu posso deduzir?

Dominic olhou primeiramente para as escrituras, eram totalmente diferentes da Umbra e das escrituras dos Zankarins. Diferentemente dessas duas, esta parecia usar de símbolos no lugar de letras e pela caligrafia era necessário um espaço relativamente grande para cada símbolo, visto que muitos tinham traços dados como complexos para a grafia de uma letra ou conjunto de frase.

— Tem ideia de que língua é essa? — O Mestre perguntou.

— Eu já as vi em algum lugar. — Dominic forçou a memória enquanto tentava buscar qualquer referência nos livros guardados em seu acervo mental. — Mas posso afirmar que esse tipo de idioma não é usado para qualquer situação, provavelmente é apenas para casos em especifico.

— Semelhante aos alfabetos usados pela humanidade na Primeira Era?

— Exato! — Dominic vibrou momentaneamente ao se lembrar. — Parece ser um idioma que os homens utilizaram na Primeira Era para se defender, já que suas armas foram todas inutilizadas e naquela época os mundos Físicos e Espirituais se chocaram, forçando os humanos a aprenderem alguma coisa sobre magia. — Mais informações vieram a sua cabeça. — Muitas criaturas que saíram do mundo Espiritual eram tão poderosas que foram necessários cobrir paredes com escrituras como essas para que elas pudessem ser finalmente matáveis.

— Lembra-se o nome dele?

— Não. Mas sei que ele foi extinto para sempre após os mundos se separarem.

— Então já sabemos que essa prisão aqui foi feita para prender algo.

Os dois olharam para a garota deitada no outro lado da cela.

— Uma coisa não está fazendo sentido. — Dominic falou olhando para a criança. — Se isso foi feito para derrubar coisas grandes, o que eu estou fazendo acordado?

— Talvez isso só funcione para essas coisas gigantes, como está sua Sombra?

Foi então que Dominic se tocou de algo que não havia notado ainda.

— Minha Sombra está totalmente nula.

— Isso é interessante, mas ao mesmo tempo perigoso. As Lâminas da Morte ainda podem ser invocadas?

Dominic fez o teste e trouxe suas duas Lâminas para fora, ambas apareceram e retornaram imediatamente.

— Parecem estar ok. — Dominic se sentiu mais aliviado. — Pelo menos agora tenho alguma defesa em últimos casos. — E então voltou a ficar pensativo. — Parece que o efeito só funciona parcialmente em mim.

— E quanto a esta jaula?

Dominic foi até a borda e tocou em uma das grades, deu alguns socos de leve e tentou sacudir, mas nada sequer se mexeu do lugar. Ele então aproximou a vista e observou que cravada no metal havia mais das mesmas escrituras encontradas no chão e nas paredes que era possível se enxergar.

— Escrituras na própria jaula? — O Mestre falou analisando agora todo o redor. — Pra que tantas assim? O que eles querem tanto prender?

Dominic olhou para a garota.

— Só tem um jeito de descobrir.

— Você não tá cogitando essa possibilidade não é?

— As minhas chances de sair vivo daqui já estão baixas, além do que, se ela for realmente algo que precise de tanta proteção para não escapar, eu já estou morto.

— Então tome cuidado, essa coisa deve ter o poder comparado a de uma entidade semelhante senão superior a Leton.

— Obrigado pelo encorajamento.

Dominic lentamente se aproximou da garota que estava deitada para o outro lado e a tocou no braço. Ela tinha a pele negra, cabelos encaracolados e Dom sugeriu que deveria ter não mais que cinco anos, ela usava roupas simples, uma camiseta regata e branca, short branco e estava descalça.

— Ei garota. — Sussurrou Dom enquanto virava o corpo da menina. — Está acordada?

Lentamente a garota abriu os olhos que eram totalmente brancos sem qualquer íris. Naquele momento Dominic sentiu um calafrio percorrer seu corpo, o lugar foi inundado por uma brisa gelada e sinistra, portas e janelas bateram sozinhas e da boca dela saiu uma voz que Dominic jamais esquecera:

— Guardião... — O tom era assustador, não se assemelhava a de uma criança, homem, mulher ou qualquer humano. Variava entre um som agudo e grave a cada palavra, como se houvessem centenas de criaturas falando simultaneamente. —... Por que me ajudas?

— Porque provavelmente seja a única alternativa que eu tenho. — Dominic não pôde esconder o seu temor e insegurança na voz.

— Tu deverias temer a mim. — Por mais que a voz fosse sinistra, Dominic percebia que ela estava fraca. — Eu posso levar-te a sua essência... Por que não ajudas seus companheiros a me domar?

— Porque eles não são meus companheiros, e eu como Guardião não posso deixa-los fazer qualquer coisa com você sem que possa se defender. Além disso, se você é tão poderosa eu não posso fazer nada a não ser aceitar a minha morte.

— Tu não temes a mim... — Ela voltou a fechar os olhos. —... Por que me ajudas? — A menina voltou a ficar inconsciente.

Dominic se afastou e sentou-se na mesma posição de minutos atrás e olhando para a garota disse:

— Essa criança não é um deus.

— Uma força tão sinistra... — O Mestre falou pensativo. — Que tipo de criatura é essa? E como esses Filhos conseguiram captura-la?

Dom juntou as palmas das mãos e as colocou logo abaixo do queixo o deixando semelhante a monges em momentos de meditação. Seus olhos estavam fixos na menina ainda e seus pensamentos se reorganizavam na sua mente, tentando ligar os fatos.

— Deuses não podem caminhar pelo Plano Físico, pelo simples fato de eles não passarem de projeções feitas pelos seres humanos e que se tornaram reais por causa dessa crença. Não é nada que saiu de qualquer Fenda, pois sabia o meu nome. Agora me eu pergunto, o que diabos um Filho da Sombra gostaria de domar? O que está faltando?

— Ela não pode ser um Zankarin, senão seu pingente reagiria a sua presença. — O Mestre completou. — A que conclusão nós chegamos?

— É alguma coisa que caminha por dentre os humanos, todos a temem e ela provavelmente pode tomar qualquer forma. — Silêncio. — Acho que estamos um bocado ferrados aqui.

Dominic mal falou aquilo e um estrondo fez com que ele e o Mestre tomassem um susto. O barulho de uma porta sendo arrombada foi ouvido e logo em seguida, Dom viu um homem ser arremessado com tanta violência contra a grade que foi possível ouvir os ossos do crânio sendo quebrados. Em seguida pessoas começaram a gritar:

— Estamos sendo invadidos! Protejam a gaiola!

Por um segundo Dom imaginou que fosse Leton, mas ao ouvir o som de armas de fogo ele imediatamente mudou de ideia.

— Aqui!

E então cinco pessoas adentraram na sala e ligaram as luzes revelando o enorme salão em que se encontrava a jaula. Havia quatro homens e uma mulher, apenas ao olhar para eles Dominic já percebeu que eram Filhos da Sombra, só bastava saber de qual Domínio.

— Era nessa imundice que eles estavam escondendo ela? — Perguntou a mulher que tinha cabelos curtos, ruivos e com um rosto bastante desproporcional ao tamanho do seu corpo.

— Precisamos dar um jeito de abrir essa jaula. — Falou um dos quatro homens, que era loiro, porém com poucos cabelos, um dos olhos era de vidro, sua pele era albina e era extremamente magro.

— E quanto a esse daí que está preso junto a ele? — Perguntou o outro que possuía um penteado moicano, barba crescida e negra.

Ao tê-lo em vista, Dominic sentiu a Essência dos Zantarins em seu peito brilhar, mesmo sendo um Filho da Sombra ele era um desequilibrado. Seu instinto de Guardião dizia para mata-lo na primeira brecha, mas Dom teve outra ideia, então usando o Cogitário dentro das memórias daquele Filho da Sombra, Dominic conseguiu todas as informações que precisava.

— Tenha cuidado Dom, a nossa libertação está em nossas mãos.

— Reze para que o maldito caia na minha.

Quando o desequilibrado se direcionou a gaiola, Dominic imediatamente tomou outra postura.

— Graças aos deuses, você está aqui Tarlion! — Ele falou abrindo um sorriso que imitava alívio e felicidade, coisa que Dominic só fazia quando colocava suas máscaras.

— Eu te conheço? — Tarlion perguntou olhando para Dom um pouco desconfiado.

— Sim não se lembra de mim? Estávamos juntos caçando aqueles malditos do Domínio da Sabedoria nas montanhas ao sudeste, fui eu quem matou o desgraçado que ia lhe apunhalar pelas costas!

— Sim eu lembrei! — Já que aquilo de fato havia acontecido. — Então era você o bastardo que eu nunca encontrei para agradecer?

— Exatamente. — Dominic agradeceu por saber que neste dia, foi Siouxie que matou o Filho da Sombra que salvou Tarlion. — Cara que sorte de te encontrar aqui, esses nojentos do Limite da Razão me pegaram desprevenido enquanto capturava um Filho da Sombra com Manifestação em potencial.

— Tá brincando que você deu esse mole? — Tarlion riu. — Cara se você foi preso é porque você não é digno da Força Incontrolável.

Dominic odiava aquele discurso. Normalmente Filhos do Domínio da Força sempre se negavam a ajudar um companheiro caído ou com dificuldades, pois se eles estavam passando por dificuldades era por serem fracos e não serem dignos de ajuda. Dom já sabia que Tarlion, por se considerar mais do que era, já que seu nível de Manifestação era D, com certeza iria negar o pedido de ajuda. Entretanto Dominic tinha todas as suas memórias na palma da sua mão, e sabia exatamente em qual ponto pressionar.

— Ah qual é cara. Você também não era digno da Força Incontrolável já que quase foi morto pelas costas, nenhum Filho do nosso Domínio seria tão descuidado a ponto de ficar de costas para um inimigo. Além do que, isso só mostra que provavelmente você deve ter déficit de atenção, e meu amigo, se alguém do alto escalão souber disso... — O tom de Dominic de amigável passou para uma leve tonalidade de intimidação. — Temo pelo o que pode acontecer a um Filho tão dedicado como você.

Tarlion ficou receoso por um bom tempo encarando Dominic sem demonstrar qualquer reação, mas estava completamente intimidado por dentro, já que ele havia dito apenas verdades e nada mais. Tarlion sabia que se alguém soubesse do seu déficit de atenção, provavelmente ele seria morto. Isso acabou o deixando sem saída.

— Ok, dessa vez eu vou quebrar essa. — Tarlion disse se rendendo. — Tem ideia de como abre isso aqui?

— Existem, ou pelo menos existiam vigias aqui há uma hora mais ou menos. Provavelmente eles devem ter uma chave que abra isso aqui. Procure pelo barracão, não posso dizer onde eles estão, pois eles colocaram um saco na minha cabeça e não vi mais nada.

Enquanto eles conversavam, um dos Filhos gritou para Tarlion:

— Tarlion! Eles estão chegando, se prepara aí!

Tarlion que carregava um fuzil conferiu para ver se estava carregado, soltou um rugido que mais parecia um grito de guerra — ridículo, na opinião de Dominic.

— Venham desgraçados! — Ele berrou enquanto soltava gotas de saliva. — Eu vou acabar com vocês.

— Não se esqueça de mim camarada! — Dom falou enquanto via um embate de dois Domínios se iniciar bem na sua frente.

Aproveitando que o deixaram de lado, Dominic pegou a criança que ainda estava desmaiada e a colocou no outro lado da jaula, onde não havia lados para serem alvos de tiros. Como não havia cobertura para se esconder, ele se deitou no chão para tentar reduzir a probabilidade de ser baleado sem querer.

Não demorou muito para que as paredes se arrebentassem por dois Filhos que se socavam violentamente, transformando a sala numa verdadeira arena sanguinolenta. Os barulhos das armas eram altos e por mais que naqueles momentos elas não fossem mais tão úteis, os Filhos da Sombra as usavam para criar uma distração enquanto os outros desarmados faziam as execuções ou levavam o combate para o corpo-a-corpo. Como a maioria deles eram Filhos de baixo nível, não demorou para que aquilo virasse uma confusão sem qualquer estratégia, nenhum deles se importava em se proteger das saraivadas de balas, já que precisavam provar para os companheiros e para si mesmos que eram fortes e onipotentes. Se não fosse por esse ego inabalável dos Filhos da Sombra, provavelmente muitos já teriam fugido ao ver dezenas de companheiros caídos ao chão, afinal humanos não podiam mata-los com facilidade, mas quando eles entravam em conflito direto era muito provável que pelo menos um deles morresse.

Dominic calculou que havia aproximadamente trinta Filhos do Domínio da Força só ali dentro, ele supôs que provavelmente houvesse o mesmo número na parte externa do barracão. O que o preocupava era que aquele conflito era extremamente aberto e de fácil acesso para os seres humanos, podendo posteriormente comprometer o anonimato dos Filhos da Sombra. Mas agora ele não podia fazer nada a não ser torcer para que seu “amigo” Tarlion saísse vivo dali e não se esquecesse de encontrar a chave da jaula.

— É uma pena que Leton não esteja aqui para dar um fim nesse conflito. — O Mestre falou chateado ao ver o caos do lado de fora.

— Por um lado até que é bom isso. — Dominic disse protegendo a cabeça com as mãos. — Assim eles mesmos se matam sem precisar muito esforço nosso. Porque, cá entre nós, quem se importa com esses inúteis que acham ser um deus?

— Sabe que Leton pensa de uma maneira diferente. — Uma granada explodiu. — Ele nunca mataria um Filho da Sombra assim.

— Ele matou quando estava com Maximilian. Leton no fundo sabe que não vamos conseguir reunificar os Domínios sem que haja mortes. — Um Filho da Sombra foi arremessado contra a jaula e caiu morto no chão. — E esses Filhos sequer sabem o motivo da sua criação. Para eles próprios eles são a perfeição em pessoa, para os líderes dos Domínios são apenas peões para conquista de territórios. Se todos morrerem nenhum vai fazer falta.

Enquanto eles discutiam o caos lá fora estava mais intenso, naquele momento os Domínios haviam deixado as armas de fogo de lado e se confrontavam apenas nas habilidades corporais. Dominic percebeu que agora o Domínio da Força estava em desvantagem, pois muitos reforços apareceram do Limite da Razão o que deixou as coisas extremamente complicadas. Pouco a pouco, todos os Filhos da Força foram caindo o que deixou Dom preocupado, pois a sua única esperança de sair dali naquele momento era Tarlion que havia sumido.

Para a sorte de Dominic não havia Filhos com nível de Manifestação B ou acima, provavelmente se houvesse só um ou dois deles para cada lado aquele embate seria muito mais catastrófico. Ele se lembrou de certa vez, quando ainda estava aprendendo sobre todo aquele mundo novo com Leton, quando dois Filhos de nível A de Domínios entraram em combate. Leton disse que não podia impedir aquela luta para que Dominic e os outros não ficassem expostos, entretanto fez questão que Dom observasse para ele ter noção das proporções devastadoras quando o poder da Sombra é elevado ao nível extremo. Aquela batalha felizmente foi travada longe de qualquer centro de pessoas, nas geleiras do continente sul. Dominic nunca soube quem eram aqueles dois Filhos que estavam duelando, mas apenas um saiu vivo e sem muitas escoriações. Leton nunca lhe disse quem era aquele homem, mas apenas afirmou que era o maior Filho da Sombra que já houvera.

Durante esse rápido flashback Tarlion apareceu do nada pelo lado, na parte externa da jaula. Estava coberto de ferimentos, sangrava, a respiração estava ofegante e Dominic pode ver que o desespero havia tomado conta dele.

— Achei a maldita chave. — Tarlion enfiou o objeto na enorme fechadura e a girou com dificuldades, ouvindo o estalo de algo se destrancando. — Vamos saia daí e nos ajude. Você disse que a garota é um Filho em potencial não é? Faça-a usar seu poder e matar todos!

Quando a jaula se abriu, Dominic pegou a criança no colo e saiu correndo para o lado de fora. A primeira coisa que ele sentiu foi a sua Sombra voltar a se manifestar e crescer dentro da sua Siela, quebrando a máscara que havia criado em cima da sua identidade. Ele então largou a criança no chão.

— Só precisamos ela se recuperar para tudo isso acabar. — Dominic falou com um sorriso malicioso no rosto.

Dominic mal a tirou dos seus braços, que ouviu a primeira reação:

— Ela saiu da jaula! — Gritou alguém do Domínio do Limite da Razão.

Por um segundo todos do mesmo Domínio pararam para olhar e ficaram aterrorizados, alguns largaram as armas e abandonaram o combate, outros desesperados correram para tentar colocar a menina novamente dentro da gaiola, mas era tarde. De repente uma ventania violenta invadiu a sala, as colunas que seguravam o teto racharam, Filhos começaram a sair do chão e baterem contra o chão e as paredes, a jaula foi totalmente esmagada como se fosse feita de papelão, muitos tentaram correr, mas no lado de fora já não havia mais a cidade, e sim apenas uma escuridão sem fim que parecia estar fora do planeta, todos ali haviam sido transportado para outra dimensão.

— O que está acontecendo? — Perguntou Tarlion apavorado olhando tudo ao redor levitar e a rodopiar como se estivesse em orbita de alguma coisa.

— Eu não sei. — Dominic respondeu com sinceridade enquanto se agarrava a uma das colunas para também não sair voando.

Enquanto isso o corpo da garota começava a levitar e seu corpo parecia ter espasmos. Os olhos dela se abriram e um brilho esmeralda emanou deles, um barulho que se assemelhava muito a de um grito de milhares de vozes foi ouvido, então o corpo da garota foi coberta por uma névoa negra que dançava ao seu redor.

Dominic que observava tudo sentiu um tremor dentro da sua Siela e mesmo já esperando algo surpreendente, sentiu um pavor incompreensível tomar conta de si. Era algo que jamais havia experimentado e que nunca voltou a sentir novamente, mas o ápice do terror foi quando da névoa uma foice gigantesca com quase dois metros de cumprimento foi saindo aos poucos como se tivesse sendo empunhada por algo invisível, a névoa se intensificou triplicando de tamanho e aos poucos tomando uma forma de alguma coisa humanoide que estava coberta por um capuz feito da própria névoa, tinha cerca de quatro metros de altura, flutuava exatamente no centro daquele vórtice criado no barracão e seu rosto, Dominic jamais esquecera, pois era algo indescritível, como se todas as pessoas que ele havia matado durante aqueles anos agora se distorciam em apenas um formato.

Outro berro grotesco foi ouvido, que ainda misturava sons de várias vozes juntas e todos ao redor começaram a rodar insanamente como se estivessem presos a uma hélice. Os gritos de desesperos eram iminentes, Dominic que ainda se segurava na coluna para não ser parte daquilo, ouviu os pedidos inúteis de ajuda, naquele furacão infernal os Filhos chocavam-se uns nos outros e se despedaçavam ao contato, muitos deles foram empalados por objetos pontiagudos e outros agonizavam-se de dor ao ver seus próprios membros sendo decepados aos poucos.

Aquela carnificina deu uma tonalidade rubra pelo sangue que também bailava incessantemente saído dos cadáveres. Então a mesma voz que Dominic ouviu da menina há pouco tempo, lhe chamou:

— Guardião... Cumpra o seu dever! — De repente Tarlion que ainda estava vivo apareceu na frente de Dom, toda a pressão de sucção em volta do seu corpo desapareceu e Dominic podia novamente se levantar sem poder ser sugado novamente.

— O que está acontecendo? — Tarlion sussurrou transbordando pavor. — Por favor, nos ajude irmão.

— Desculpa. — Dominic respondeu cravando sua Lâmina da Morte no peito de Tarlion. — Você não deveria ter matado o namorado da sua ex-namorada depois que se tornou um Filho da Sombra. Se tivesse apenas se conformado, provavelmente se salvaria.

Não apenas o corpo de Tarlion, mas dos outros ao redor, começaram a emanar uma luz que saía de dentro de seus peitos e aos poucos essas luzes foram atraídas para dentro do capuz da criatura ao centro como se fossem engolidas. Dom mais tarde saberia que aquelas luzes na verdade era a Siela de cada um sendo devoradas, muitas delas pareciam ser mais fracas que as outras, aquilo se dava ao fato da Sombra de alguns Filhos serem mais intensa do que os outros, que consequentemente diminuía o brilho das suas almas.

Quando não havia mais vida naquele redemoinho mortal, com exceção de Dominic, o vórtice foi se desfazendo, objetos junto aos corpos foram caindo ao chão até transformar o lugar em um empilhado de cadáveres e entulho. Entretanto a entidade que segurava a sua foice ainda estava flutuando naquele lugar, observando Dominic com suas dezenas de faces. Os dois ficaram um bom tempo se encarando, Dom tinha as pernas bambas e todo o seu corpo estava completamente travado, se recusando a sequer tentar fugir.

— Ajudaste-nos Guardião, ajudastes a mais temida das forças a se recuperar e não hesitou em fazeres o que deve. Por que fizestes isso?

— Eu... — Dominic gaguejou, trocou as palavras, errou a pronuncia e ficou momentaneamente catatônico. — Eu... Fiz isso por achar que era o mais correto.

— E tens medo?

— Muito!

— E por que não foges?

— Porque provavelmente eu vou acabar como eles ao meu redor. Só peço que se você for me matar seja rápido, não tenho problemas com isso. — Dominic em sua normalidade jamais falaria aquilo, mas era o que o seu lado Guardião sentia.

— Salvaste a Morte da escravidão, Guardião. A Morte lhe deve um favor, e a Morte sempre retribui. Ao necessitar da presença Dela, cante pela sua canção e a Morte ouvirá o seu chamado.

A entidade aos poucos foi se transformando novamente na névoa até desaparecer completamente da sua vista. Dominic ao ver que estava finalmente sozinho caiu de joelhos apavorado e a única coisa que conseguiu fazer naquele momento foi rir histericamente de alivio, de horror, de tensão e de medo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Lágrima da Escuridão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.