Giane e Fabinho: Simplesmente amor. escrita por Maria Olímpia


Capítulo 7
Eu não sabia que você me amava tanto...


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo, sequencio a cena em que Giane fica presa na van e Amora vai presa. Como a novela mostrou toda a ação, foquei nos diálogos e no que aconteceu depois que Fabinho voltou da delegacia.



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Descobri que a monotonia, definitivamente, não combina com a Casa Verde; se há algo em falta na minha vida, não é emoção. O engraçado é que eu sempre desprezei esse lugar, as pessoas que vivem aqui, o clima familiar, as casas simples... entretanto, foi na Casa Verde onde me senti, pela primeira vez na vida, verdadeiramente feliz. Tranqüilo. Completo.

Porém, nos últimos dias, esse lugar tem sido palco dos espetáculos mais inusitados, muitos deles envolvendo a mim e a pessoas próximas. Aquele circo estava longe de terminar, e eu fazia parte dele.

Para começar, Amora se despiu de qualquer orgulho e dignidade que lhe restava e me procurou. Depois de tudo o que ela me fez, mesmo sabendo o quanto eu a desprezava, ela ainda foi capaz de me pedir perdão (sem qualquer resquício de sinceridade) e me perguntar se, quando a pedi em casamento, havia sido por amor. Tratei logo de despachar a víbora de minha casa, mas Giane soube da cena e teve uma crise de ciúmes, terminando por ir atrás de Amora e estapeá-la no meio da rua. Não nego que parte de mim se alegrava em perceber que ela tinha algum medo de me perder, mas eu temia que Amora pudesse tentar fazer algum mal à Giane em resposta. Mesmo assim, evitei pensar nessa possibilidade. Concentrei minhas energias no trabalho e, assim que cheguei em casa, encontrei Giane a minha espera, para que fossemos juntos à festa de Seu Nestor. Assim que saí do banho, retomamos o assunto anterior.

– Não, a Amora não foi atrás de mim no desfile pra me esquartejar, relaxa. Agora anda, pára de enrolar, pra gente ir no aniversário do Nestor.

– É, engraçadinha... – respondi, me aproximando dela, ainda enrolado na toalha. – Cê se prepara porque ela vai querer te dar o troco, cê sabe, né?! Ainda mais agora, com seu vídeo dando uma surra nela bombando na internet. – a beijei. – Eu não sabia que você me amava tanto...

– Hmm, quem disse que eu te amo?! Tá se achando, heim?!

– Eu não to me achando não, eu vi ali o vídeo, você morrendo de medo de me perder!

– Ahh, que medo de te perder, tô nem aí pra você, seu babaca!

– Ahhh, “to nem aí pra você” – debochei, imitando o modo com o qual ela mexia no cabelo. – Vou te ensinar modos, que cê ta muito rebelde. – puxei-a para meus braços, lhe dando um longo beijo. Naturalmente, as coisas começaram a esquentar. O toque de Giane contra minha pele era extremamente estimulante. Minhas mãos insistiam em acariciar as costas dela por baixo da blusa, e as mãos dela ameaçavam puxar a toalha que era, naquela hora, minha única vestimenta.

– Vem cá... e se a gente chegasse um pouco atrasado nesse aniversário, heim?! – perguntei, num sussurro, sem tirar meus lábios de seu pescoço. Ela apenas riu em resposta, deslizando os dedos pela extensão de minhas costas nuas. Por um momento, pensei em desistir de ir à tal festa e me trancar com ela no quarto por muitas horas. Mas meus pensamentos foram interrompidos por uma mensagem de Bento no celular de Giane. Bento... esse era outro com o poder de me irritar!

– A Acácia tá pegando fogo! Meu Deus do céu! Ele ta pedindo pra eu levar a van lá! Peraí! – disse Giane, já correndo para fora de casa.

– Que mensagem estranha. Se ele tá na loja, porque é que a van não tá lá? – perguntei a mim mesmo, já que, nesse momento, Giane já tinha saído às pressas lá de casa.

Atendi a um telefonema de Malu, mas expliquei que não poderia falar com ela naquele momento. Vesti minhas roupas e fui atrás de Giane, sem pensar muito no que poderia estar acontecendo. Assim que atravessei a porta, avistei Amora do outro lado do quarteirão. Prevendo que algo estava errado, questionei sua presença ali, mas fui interrompido por Socorro, dizendo que Giane estava presa na van da acácia amarela.

Corri para o lugar em que a van estava estacionada, já percebendo a nuvem branca e densa que tomava conta do interior do veículo. Giane pedia por ajuda, visivelmente abatida pelo esforço e pela toxidade daquela fumaça. Desesperado, tentei de todas as maneiras abrir o automóvel, apanhando uma barra de ferro para quebrar o vidro, mas percebi que aquilo levaria muito tempo. Pedi que Giane fosse para a parte traseira da van e, após algum esforço, arrombei as portas. Ela já estava desmaiada quando consegui tirá-la de lá.

Não me lembro de outra vez em que me senti tão desesperado, exceto pelo dia em que Amora inventou ter matado Giane. Vendo-a ali, tão frágil, percebi o quanto me era insuportável a idéia de perdê-la. As imagens dessa noite me vêm à cabeça como flashes, totalmente desconexas, e algumas memórias eu nem tenho certeza se de fato aconteceram. Só sei que, entre a consciência e a embriaguez, aquilo tudo foi real. E despertou dentro de mim uma vontade tremenda de, enfim, fazer alguma coisa.

Todas as evidências apontavam para Amora. O celular de Bento (que enviou a falsa mensagem de fogo na Acácia amarela) foi encontrado dentro de sua bolsa; ela tinha motivos para querer se vingar, e já havia ameaçado Giane pelos tapas que ganhara. Eu estava convencido de que Amora era culpada daquele atentado, e não tardei em avisar a polícia e depor contra ela. Nenhuma súplica me fez mudar meu depoimento. Eu não ia sossegar até vê-la apodrecendo na cadeia. E motivos para isso, certamente não faltavam.

O fato é que Amora conseguiu terminar de cavar sua cova por si só. Engalfinhou-se com Socorro, lá mesmo, na delegacia, com o delegado de plateia, e acabou presa. Não me rogo em dizer que, para mim, foi mais que bem feito. Aquilo não era nem uma parcela do castigo que ela merecia por tudo o que aprontara até então.

Chegando na Casa Verde, fui logo atrás de Giane. Eu já tivera notícias dela através de Seu Silvério, pelo telefone. Mas ainda tinha no peito uma sensação estranha, algo entre o temor e a ansiedade. Queria vê-la, tocá-la, sentir que ela estava mesmo distante de qualquer perigo. Só sua companhia seria capaz de me oferecer o conforto que eu precisava. Conversamos por um tempo com Seu Silvério, discutindo se Amora era ou não responsável pelo acontecido daquela noite. Ele argumentava que não. Eu e Giane pensávamos que ela estava, sim, ligada a mais aquela armação. Por fim, meu sogro se rendeu e foi dormir. Eu e Giane continuamos ali, escorados na porta.

– Agora, se depender de mim, a Amora vai mofar na cadeia. E você, pára de se meter em encrenca! – adverti, me aproximando e tocando carinhosamente o queixo de Giane.

– Encrenca!? Olha quem fala... o encrenqueirinho!

– Vem cá, eu salvo a sua vida e você me agradece assim?!

– Agradecer?! Mas eu quase morri sufocada, de tanto que você demorou pra chegar!

– Seu Silvério, vem cá! Dá um jeito na sua filha que é muito ingrata! – brinquei, me voltando para ela. – Te amo. – e então, segurei sua cintura e a beijei.

Ficamos ali mais um tempo, até que eu percebi que já era tarde da noite e decidi me despedir.

– Ah, não... fica mais um pouco!

– Melhor eu ir. Amanhã, é dia de trabalho. E a senhorita também precisa descansar um pouco, né?!

– Ah, então pelo menos deita um pouco lá comigo, não quero ficar sozinha agora.

– Ué... não era você que até ontem ficava cheia de frescura porque seu pai tava em casa?!

– Mas hoje é diferente. E ele já dormiu, nem vai ver. Vem cá, vamo! – riu, já me puxando para dentro. Fingi que resisti, mas deixei que ela me conduzisse pelo corredor.

Ficamos um tempo ali, deitados, ela aninhada em meu peito, eu acariciando seus cabelos. Já estava cochilando quando ela me chamou.

– Fabinho...

– Hmmm – resmunguei.

– Você já dormiu?

– Quase. – respondi, ainda com os olhos fechados.

– Não dorme, não...

– Por quê? Tá com medo? – respondi, ainda sonolento, puxando-a para mais perto e envolvendo-a em meu abraço.

– Eu, com medo? Até parece...

– Então, deixa eu dormir, vai. – insisti, tombando a cabeça para o lado e fechando os olhos novamente.

– Não, fica acordado mais um pouquinho. Quero te falar uma coisa.

– Não pode ser amanhã?

– Fabinho, acorda! – exclamou, empurrando minhas pálpebras e me forçando a abrir o olho. – por favor, vai!

– Ai, tá bom, cê venceu. – me rendi, beijando seu rosto. – É bom que a senhorita tenha um motivo muito bom pra me acordar assim.

– Ihhh, pro seu governo, eu te acordo a hora que eu quiser, viu?!

– Ai, ai, nem casei ainda e a mulher já tá querendo mandar em mim... impressionante! – virei-me de frente para ela, beijando sua testa. – Então, vai... o que cê quer me falar?

Ela sorriu.

– Eu quero te agradecer... – ao perceber que eu estava prestes a rir do jeito tímido como ela falou, me deu um tapinha leve no braço. – Pára, é sério!

– Tá bom, desculpa. Pode continuar.

– Então... cê salvou minha vida... se não fosse você hoje, eu nem sei o que poderia ter acontecido comigo.

– Não vamos pensar mais nisso, ok?

– Ok... ainda assim... não que eu tivesse alguma dúvida antes, mas... tudo o que têm acontecido só me mostra que você é... – tentou continuar séria, disfarçando o sorriso. – ah, você é... a pessoa que eu quero pra minha vida, de verdade. E eu amo você, muito mesmo.

Meu sorriso foi quase involuntário. Ela evitou por alguns instantes, mas acabou retribuindo meu olhar.

– Nossa, tô surpreso com tanto romantismo. Peraí, deixa eu medir sua temperatura pra ver se você tá bem, mesmo. – brinquei, levando a mão à testa de Giane.

– Ihhh, mas você é um tosco mesmo, heim?!

– Pronto, voltou ao normal! – constatei, segurando-a, que brincava de se debater. Retirei uma mecha de cabelo de seu rosto. Nos olhamos por um certo tempo, calados.

– Eu também te amo. Te amo muito. E eu quero estar pra sempre perto de você... pra te proteger, pra te amparar... pra cuidar de você.

– Promete?

– Prometo. – garanti, cruzando os dedos e beijando os dois lados da cruz. Ela então acariciou meu rosto. Continuamos a nos olhar, até nos aproximarmos e nos beijarmos.

Os beijos foram ficando mais intensos e, pouco a pouco, nos deixamos envolver pela intensa paixão que nos unia. Nós já estávamos despidos de parte de nossas roupas, quando acabei interrompendo as carícias.

– O que foi?

– Nada...

– Então, vem cá! – ordenou Giane, já me puxando novamente e voltando a me beijar. Percebendo que eu mantivera certo nível de hesitação, ela me questionou: – Ihh, o quê é que foi agora, heim, Fabinho?

– Nada... é só que... será que não tem problema?

– Problema onde?

– Se a gente transar agora.

– Porque teria problema?

– Sei lá, você inalou muita fumaça hoje, pode ter ficado debilitada. O médico não te pediu pra ficar de repouso?

– Repouso, sim. Mas não resguardo.

– É, mas... acho melhor a gente parar.

– Ah, não, Fabinho... vem cá, vem... – insistiu, ainda tentando me puxar para sua boca.

– Não, não, Giane. Você ainda tá com um pouco de tosse, isso pode ser ruim pra sua respiração, seu fôlego, sei lá. Um diazinho só não vai matar ninguém, né?!

– Ah, Fabinho, me poupe, eu tô ótima, e sei me cuidar muito bem. Vem logo, pára de fazer doce!

– Eu não vou ser irresponsável quando se trata da sua saúde. Amanhã a gente continua. – decretei. Visivelmente irritada, ela virou-se de costas para mim e cruzou os braços. – Ihhh, o que foi? Vai ficar brava?

– Vou! Que coisa chata, achar que sabe mais da minha saúde que eu. Se era pra não fazer nada, melhor nem ter começado!

– Giane... – puxei-a de volta, forçando a virar novamente para mim. – E tudo o que a gente acabou de conversar? E a promessa que eu te fiz, de te proteger, de cuidar de você? É só isso que eu tô fazendo. E é isso o que eu vou fazer pra vida inteira... então, pra quem tem a vida inteira, não custa esperar um dia, só pra garantir que você tá bem mesmo. Não fica brava...

Consegui desarmá-la. Ela sorriu.

– E dá pra ficar brava com você?! – me beijou. – Tudo bem. Fica pra amanhã, então.

– Sim. E se prepara. – me aproximei de seu ouvido e sussurrei. – Porque eu vou acabar com você!

– Quero só ver!

– Você vai ver, ahhh, se vai. Mas agora, vem cá. – apoiei novamente sua cabeça em meu peito. – dorme um pouco. Quer que eu vá embora pra você ficar mais confortável?

– Não, prefiro que você durma aqui comigo. É só ir antes do meu pai acordar.

– Tudo bem. Então, boa noite.

– Boa noite...

Nos beijamos.

Não consegui dormir direito. A todo momento, imagens de Giane presa na van invadiam meus sonhos e eu despertava, subitamente. Mas, quando recuperava a consciência, ela estava ao meu lado. Seus braços me confortavam. Seu cheiro e o calor de seu corpo me embalavam. E então eu compreendi que, na vida, não é a total ausência de turbulências o que define se seremos ou não felizes. Nossa felicidade reside justamente no fato de termos, a nosso lado, alguém com quem dividir o fardo, que nos ajude a atravessar as provações. Alguém com quem compartilharemos também nossos momentos de alegria, os frutos colhidos pelo trabalho, os momentos dos quais nos lembraremos na velhice. E esse alguém, eu já encontrara: era Giane.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!