Giane e Fabinho: Simplesmente amor. escrita por Maria Olímpia


Capítulo 6
Ah, Giane, quer saber? Cansei!


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo narra uma típica briguinha de casal, que, afinal, faz parte da rotina de qualquer relacionamento!



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Era mais um dia típico de trabalho na Crash Mídia. A mão de obra feminina, como de costume, priorizava a fofoca ao trabalho (e nessa categoria, encaixam-se Júlia, Cléo, Tina e sua loucura costumeira, que já poderia ser convertida em entidade). Érico andava no mundo da lua, dividido entre seus dois amores e, como não poderia deixar de ser, deixava que tais problemas pessoais influíssem em seu rendimento na agência. Silvia estava na rua, cuidando de contratos e visitando clientes, e eu respondia pelos assuntos internos do momento. Havia combinado de almoçar com Giane, que estava fotografando num estúdio próximo dali. Entretanto, recebi uma ligação de Camilinha, querendo marcar uma reunião para negociarmos o contrato de Vanessa, sua secretária, que contrataríamos como modelo temporária para a campanha de verão da Hering.

Liguei para Giane e expliquei que teria um compromisso de trabalho, então, precisaríamos desmarcar o almoço. Combinei de passar em sua casa para irmos ao cinema por volta de sete da noite, quando já teria tido tempo de voltar pra casa e tomar um banho. Ela concordou.

Camilinha me buscou na agência em seu carro. Eu disse que poderia encontrá-la direto no restaurante, mas ela se ofereceu e eu não vi problemas em aceitar. O almoço correu normalmente. Ela levou os contratos, eu li, sugeri algumas modificações e ela concordou, prontificando-se a realizar as alterações e deixar as vias na Crash Mídia para que eu assinasse posteriormente.

- E então, Fabinho... no fim das contas, você era mesmo filho do Plínio Campana. O que está achando da vida de milionário?

- Tô achando ótima. Aliás, cá pra nós, quem é que tem vocação pra ser pobre, né?!

- É, você tem razão. Nisso, nós combinamos. Eu também não nego que gosto de tudo do bom e do melhor.

Sorri e engoli a última garfada de minha comida. Tomei um gole d’água.

- Vem cá, a Vanessa... ela não ia vir almoçar com a gente?

- Ah, ela combinou de passar aqui sim, só foi resolver umas questões pessoais antes. Mas deve chegar antes da gente sair.

- Hmmm... ok.

- E me conta... como é que tá o seu namoro com a Giane?!

- Tá ótimo. Por quê?

- Por nada, por nada... quer dizer... é que eu pensei que agora, que você ficou rico e que tá por cima, ia aproveitar a momento e sair pegando geral.

- É... pensou errado, então.

- Sabe, não sei o que você e o Caio vêem nela...

- Ah, claro que você não sabe, né, Camilinha? Você é fútil demais pra entender o valor de uma mulher como a Giane.

- Ihhh, Fabinho, pára de ser grosso.

- E você, pára de se meter onde não é chamada.

- Olha, eu acho muito bom, de verdade, que vocês fiquem juntos. Porque aí, o Caio fica livre pra mim...

- Hahaha... olha, Camilinha, eu realmente ia adorar ficar aqui discutindo a minha vida sentimental com você, mas... se a Vanessa for demorar muito pra chegar, eu vou ter que voltar pra agência. Tô praticamente sozinho lá hoje, cheio de coisas pra resolver, não posso demorar.

- Bom, vamos só pedir um cafezinho pra ver se dá tempo dela chegar. Se não der, eu ligo e combino dela assinar mais tarde e levo tudo revisado pra você.

- Pode ser, então.

E assim, fizemos. Pedimos o café, ele chegou, mas nada da Vanessa aparecer. Camilinha, então, me deu uma carona de volta pra agência e se dispôs a levar o contrato para a Silvia no dia seguinte. A tarde passou devagar; eu estava bastante irritado pela apatia de Érico, mas decidi dar um tempo pro cara e não demonstrei minha insatisfação, afinal, aquilo ia passar mais cedo ou mais tarde.

Depois de voltar do trabalho e me arrumar, passei na casa de Giane. Como de costume, abri a porta e entrei sem me anunciar. Percebi que ela estava deitada no sofá, assistindo TV, com os cabelos desarrumados e uma camisola larga.

- Ué, porque você ainda não tá pronta? A gente não combinou de ir ao cinema?

Sem se levantar ou olhar pra minha direção, ela respondeu:

- É, combinamos. Mas eu acabei de descombinar. Não tô mais a fim de ir.

- E porque não me ligou? – perguntei, enquanto terminava de entrar e me sentava na poltrona ao lado. – Eu já comprei os ingressos, não dá mais pra devolver.

- Vai sozinho, então.

- Ihhh, o quê é que foi, heim, Giane? Qual é a dessa marra toda aí? Tá de tpm? – ri.

- Vai ter catar, Fabinho. Sai daqui.

- Não saio não. Tá falando assim comigo por quê? O que foi que eu te fiz?

Ela sentou-se no sofá e me encarou.

- Porque não pergunta pra Camilinha?
- Não entendi. O que a Camilinha tem a ver com isso?

- Ah, Fabinho, você é muito cara de pau. Cê nega que me deu o bolo hoje pra ir almoçar com ela?

- Nego! Nego porque não foi nada disso que aconteceu! Eu não te dei o bolo, eu liguei pra te falar que não poderia ir. E eu também não almocei com ela. Foi um almoço de trabalho, com ela e a Vanessa!

- Vanessa? Como você tem coragem de mentir pra mim? Eu sei muito bem que a Vanessa não tava lá!

- Sabe? E sabe como?

- Eu tava na agência, Fabinho. O Caio comentou que você ia almoçar com a Camilinha. E a Vanessa passou lá depois, eu perguntei se ela tinha encontrado você e ela me disse que não!

- E que culpa eu tenho se não deu tempo dela ir?

- Você tem culpa de não ter me avisado que o tal almoço era com a Camilinha!

- Que diferença ia fazer, Giane? Era um almoço pra revisarmos os contratos da Vanessa, só isso!

- Faz diferença sim, porque você escondeu isso de mim. Se você tivesse me dito, eu teria ido com vocês.

- Ahh, Giane, corta essa! Quer dizer que eu preciso de babá agora? Eu tava trabalhando, pára com isso.

- Não interessa, você escondeu de mim que ia ser com ela.

- E daí? Ah, Giane, quer saber? Cansei! – levantei-me, rumando para a direção da porta. Ela se levantou e veio rapidamente atrás de mim, me puxando pelo braço.

- Peraí, onde você vai sem me explicar o que aconteceu hoje?

- Explicar? Eu não tenho nada pra te explicar! Pára de ser louca! Não suporto ciuminho idiota. Que coisa mais chata, não fiz nada de errado e cê fica aí enchendo o saco!

- Eu não gosto que cê fique sozinho com a Camilinha! Ela já se ofereceu pra você antes e pode muito bem fazer isso outra vez!

- E você, heim, Giane? Que fica para cima e para baixo com o seu ex-namorado de estimação?!

- É diferente.

- É muito pior, isso sim. Eu nunca tive nada com a Camilinha.

- Mas você é homem. É muito mais difícil um homem resistir a uma mulher oferecida que o contrário.

- Que bobagem! A Camilinha não tava se oferecendo pra mim, já falei que a gente foi conversar sobre trabalho! E mesmo se tivesse, eu tô com você, não tô? Cê tem que confiar mais em mim!

- Acontece, Fabinho, que agora cê tá rico. E é um inferno pensar que, o tempo todo, vai tá cheio de cachorras dando em cima de você.

- Giane, não pira. Se tem mulher dando em cima de mim, se tem homem dando em cima de você, não interessa, a gente tá junto, o nosso compromisso é um com o outro. Pára de se preocupar com o resto! Será que cê não percebe que essa briga nossa não tem sentido?

- Eu sei, Fabinho, mas é que é difícil pra mim...

- Giane, olha pra mim. Eu te amo. É com você que eu quero ficar. Não é com a Camilinha, e nem com nenhuma outra mulher no mundo inteiro. Não é possível que você ainda não saiba disso!

Mais calma, ela olhou para o chão. Me puxou pela mão e me abraçou. Eu continuei.

- Não pensa que eu tô satisfeito com essa ceninha ridícula que você fez. Isso foi infantilidade. Pensei que nosso relacionamento já tivesse passado dessa fase. Eu não te dou motivo pra agir assim. Desde o início, eu te respeito e te levo a sério como nunca levei mulher nenhuma na vida.

- Desculpa, Fabinho. Eu sei, eu fui boba, mas eu sou ciumenta mesmo. Vou tentar melhorar. Só me avisa, por favor, quando for almoçar com uma dessas periguetes, mesmo que seja a trabalho.

- Acho isso uma frescura. Mas, já que cê faz questão, eu aviso da próxima vez.

- Agora vem cá, me dá um beijo. – finalizou, me puxando para seus braços. Ainda emburrado, mas já mais tranqüilo, cedi e retribui ao beijo.

- Só espero que cê não vá agora atrás da Camilinha pra dar uns tapas nela também!

- Ihhh, eu deveria dar uns tapas em você, isso sim!

- Em mim? Não senhora, cê é que anda merecendo umas palmadas pra aprender a me respeitar! Agora vai, vai logo se arrumar antes que a gente perca a sessão do cinema.

- Ta booom! – exclamou, voltando e me dando mais um beijo antes de sair. – Espera aí que eu já volto!

E então, apesar dos pesares, terminamos o dia bem. Assistimos ao filme, jantamos juntos, voltamos pra casa. Aos poucos, estávamos nos acostumando melhor ao jeito um do outro. Até porque, não há relacionamento sem brigas. Quando nos comprometemos com alguém, estamos nos comprometendo não apenas com as qualidades, mas também com os defeitos da pessoa. Por Giane, eu estava disposto a comprar o pacote completo, e sentia que ela também pretendia fazer o mesmo por mim. Nós nos gostávamos exatamente por sermos aquilo que éramos, com cada nuance, cada imperfeição. É justamente esse aspecto – a aceitação – o que difere os casos passageiros de relacionamentos que duram a vida inteira.


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