Por que você está fugindo de mim, querida?

Seu longo vestido está se arrastando pelas folhas deste labirinto, sua respiração descompassada te entrega. Eu posso te achar, seu perfume deixa um rastro no ar, é inconfundível, mas você continua correndo.

Eu te amo querida, não fuja de mim.

Te sigo por esse enredo que não te leva a lugar algum, mas mesmo assim você continua a correr e correr e correr, fugindo do inevitável.

Só há uma saída, querida.

Não há indícios de sua voz, mas mesmo assim eu sei onde está, eu sempre sei. Você olha para trás assustada.

Por que está assustada?

Uma adaga em minha mão, um "sorriso" em meus lábios.

Estou quase chegando, meu amor.

Você se perde no caminho, um beco sem saída, este é seu fim. Me aproximo, a lamina te perfura, sangue escarlate escorre pelo teu corpo.

Agora você não pode ir a lugar nenhum.

* * *

Sentado naquela poltrona que você tanto odeia, te observo em seu profundo sono, deleitando cada segundo da vossa melancólica presença.

O quarto está à se despedaçar, querida - como um dia esteve meu coração —, o teto está caindo, os móveis apodrecendo, as paredes ruindo, mas você, ah! você continua intacta, presa à beleza fúnebre da morte, regada pelo sangue carmim que mancha seu vestido, com seus cabelos negros penteados de forma estratégica, com seu rosto polido e lábios roxeados, com seu corpo imaculado.Você continua intacta.

Não ouso relar minhas podres mãos em beleza tão pura, isso destruiria minha doce rosa, cercada de espinhos, você não me deu outra escolha, me transformou num monstro, mas hoje você é minha, só minha.