- Olá, terráqueo do outro lado da linha.

- Olá, Martha. É a Beckett falando.

- Oh. Olá, querida! Algum problema com o Richard?

- Não. Não. Está tudo ótimo. Na verdade, ele saiu daqui agora a pouco.

- Oh. Então ele ainda não chegou em casa. Tentou o celular dele? Se bem que ele deve estar diri...

- Não. Eu realmente pretendia falar com você, se não for muito incomodo.

- Claro que não, Kate. Fique a vontade.

Kate tinha planos. Planos feitos com base na tensão que evoluíra nos últimos meses entre os dois. Tomara sua decisão e tivera tempo suficiente para amadurecê-la. Era a hora. Ela faria isso e, dali em diante, como tudo ia ficar dependia de uma única noite.

- Feito, então. Sábado à noite, como combinado.

- Certo. Muito obrigada, Martha. Esse plano não sairia da minha cabeça se não fosse pela sua ajuda.

Beckett e Castle haviam discutido sobre os segredos que haviam mantido no último ano. Uma discussão de desfecho inesperado, que gerou dor para as duas partes. Dias sem contato se passaram. Beckett havia tentado, com inúmeros telefonemas, mensagens, até e-mails. Sem nenhuma resposta, foi obrigada a tomar uma decisão importante, tomar uma atitude e decidir o que realmente queria da sua vida. Parar de enrolar e dar um passo como uma mulher responsável, assumindo que na sua mente não há só o caso de assassinato de sua mãe.

Ryan e Esposito ofereceram-se para terminar seus relatórios e assim teve um dia de folga. Saiu para algumas compras. Tudo teria que sair como planejado. De preferência e principalmente a conclusão de todo o plano.

.................

Castle chegava em casa, logo após a formatura de sua filha no Ensino Médio. Com o chapéu da beca em mãos e completamente nostálgico com a mudança que se aplicaria na sua vida dali em diante, sentou-se no sofá e deixou que Beckett invadisse os seus pensamentos. Como ele gostaria que ela estivesse ali. Como ele gostaria que aquela noite terminasse de forma diferente... Que o convite aceito pela manhã estivesse se realizando naquele momento.

Sem novas chamadas no celular. Ele esperou por 10 minutos, encarando a foto na tela do celular. Estava chateado, de fato. Mas “o coração quer o que o coração quer”. Discagem rápida: 3. (Em primeiro lugar, Alexis, que tinha maior potencial de realmente ajudar em alguma emergência. Em segundo lugar, Martha, por razões óbvias). O telefone chamou a primeira vez, a segunda e na terceira ele ouviu o toque do celular de Beckett se aproximando.

- Devo estar delirando. – Pensou.

- Talvez não.

Beckett surge das escadas do loft, surpreendendo-o. Uma roupa casual, porém elegante, maquiagem leve, perfume marcante de cereja. Castle não sabia até que ponto aquilo era real, mas não ousara desviar a atenção por um segundo sequer.

- Beckett? Vo... Com... Mas... Ahn. O que você está fazendo aqui?

- Eu conversei com a Martha e ela me ajudou com tudo.

- Claro...

- Olha, Castle. Eu... Não sei como começar a falar algo, como falar qualquer coisa, na verdade. Sei que você está chateado e não tiro sua razão, mas queria que você entendesse o meu lado também. Sua mãe não tem culpa de eu estar aqui, eu só ped...

- Não estou chateado por você estar aqui, Kate.

- Não? Então... Podemos conversar? Quer dizer, eu fiz um jantar, então poderíamos comer antes.

- Você fez um jantar? Desde quando você sabe cozinhar a esse ponto?

- Tenho meus truques. – Escapa-lhe um sorriso disfarçado, abaixando a cabeça logo em seguida. Ele continuava sério.

Sentaram-se à mesa e começaram a servir-se. Castle abriu a garrafa de vinho e despejou a quantidade adequada em cada taça. Se olharam inúmeras vezes, num clima de incerteza sobre o que se passava realmente naquele ambiente. Terminados seus pratos, puseram a olhar-se fixamente.

- O que aconteceu, Beckett? O que te fez vir aqui, fazer tudo isso?

- Nestes últimos dias eu tive chances incríveis de me aproximar um pouco mais do responsável pelo assassinato da minha mãe. E me aproximei, na verdade até demais. Foram duas chances que me puseram num risco enorme, reconheço. Mas Espo e Ryan tentaram me convencer a desacelerar e por alguns momentos pude ouvir você falando e concordando com eles. Foi o que me fez parar e refletir um pouco.

- Hum. – Ele ouvia sério, com os braços apoiados sobre a mesa e as mãos entrelaçadas, apoiando o queixo.

- Não quero perder a minha chance. Pessoas morrem todos os dias com sonhos, projetos de futuro e amores, todos interrompidos. Não quero levar um arrependimento para o resto da vida, Castle.

Ele se movimentou na cadeira, inquieto. Pegou as duas taças de vinho na mesa e, sem pronunciar uma palavra, direcionou-se ao sofá no meio da sala. Ela o acompanhou os olhos, duvidosa sobre o que fazer. Castle girou o corpo e observou-a. Seu olhar convidativo fez com que Beckett o acompanhasse até o sofá.

- Eu sinto muito, Castle. Sinto muito por as coisas terem acontecido como aconteceram. Provavelmente você criou uma resistência quanto a mim e é totalmente compreensível, mas eu precisava me desculpar.

- A única pergunta que eu tenho para te fazer é: por que esconder sobre lembrar cada detalhe do que aconteceu naquele dia?

- Eu não estava pronta para lidar com algo tão grandioso. Tive medo de estender meus problemas e traumas a você e acabar te prejudicando. Para mim seria melhor esperar.

- Você acha que o fato de eu saber que você ouvira o que eu te disse, me faria insistir para ter algo com você? – Ela levantou o olhar. – Você me conhece, Beckett. Deveria saber, depois de tanto tempo, que eu jamais invadiria o seu espaço, ainda mais numa ocasião como aquela. Eu esperaria quanto tempo fosse preciso, como fiz até agora.

- Ahn... Eu não sei. Não senti que seria confortável te contar aquilo. E tinha o Josh e...

- Você teve tempo suficiente, depois do Josh, para me contar isso.

- Eu sei. Desculpe-me. Apesar do tempo que eu precisei, não esperava que tudo acontecesse como foi. Eu pretendia te contar e gostaria que você soubesse por mim, diretamente.

- Pois eu gostaria que tivesse sido assim, também. Nem tudo é como a gente quer. – Ingeriu, então, o último gole da sua taça de vinho. Voltado para a mesa de centro, cruzou as mãos novamente, encarando o chão. Beckett depositou sua taça vazia sobre a mesa, ao lado da dele.

- É melhor eu ir. Eu só queria dizer isso, de qualquer forma. Eu sinto muito, Rick.

Ela se levantou e foi em direção à porta. Ele se levantou e acompanhou seus passos. Não era assim que ela desejara finalizar a noite, mas como ele disse: “Nem tudo é como a gente quer”. Ela parou e esperou que a porta fosse aberta. Castle não abriu a porta. Parou de frente para ela, tirou a bolsa pendurada no seu ombro e deixou cair ao chão, segurou suas mãos.

- Eu não te deixaria ir embora desse jeito. Depois de 4 anos... Eu não queria que você não percebesse o quão chateado eu fiquei com tudo aquilo. Mas depois de 4 anos esperando para te ver aqui, nesse apartamento, jantando comigo, a sós... Eu não te deixaria ir embora desse jeito.

Castle passou uma das mãos pela cintura dela e, com a outra, acariciou seu rosto e cabelos. Beckett estava congelada, respirando em baixo tom e esperando pelos próximos segundos. Ele sorriu e ela ficou sem graça, por meros segundos. Kate deixou que suas mãos acompanhassem os braços dele.

- Tudo que eu queria era estar aqui. Não há lugar no mundo que eu quisesse estar agora que não aqui. Eu queria estar com você. Só você.

Castle a beijou com toda a vontade que um homem apaixonado é capaz de exprimir num único beijo. Na sua mente passavam cenas e momentos dos últimos quatro anos. Cenas que o faziam perceber o quão magnífico era aquele momento. Jamais imaginara que seus sentimentos fossem levar mesmo a algum lugar e, de repente, no meio de uma crise, depois de uma discussão, depois de quase perdê-la por completo (mais uma vez...), tudo se acertava. Iriam conversar, resolver suas vidas, encontrar uma maneira de burlar todos os impecílios (como Castle sempre fazia). Mas estavam ali. Nenhuma bala no peito, nenhuma bomba ou assassino barato jamais separaria o que Nikki e Rook já haviam eternizado anos antes.