Quando o grupo saiu da floresta e entrou de novo na estrada Sarah pensou, por um segundo, se aquilo iria mesmo dar certo. Mas ela era uma mulher experiente; assim que viu como todos estavam assumindo seus lugares com naturalidade ela afastou essa preocupação.

Estavam na estrada por algum tempo quando ela notou os primeiros movimentos dos bandidos. Um galho quebrando, som de folhas se movendo sem vento, o leve som de passos. Tudo isso a alertou sobre a chegada do inimigo. Os soldados não pareceram notar, mas ela pode ver a expressão preocupada de Lorde Branfor. Ele não escutava as mesmas coisas que ela, mas o instinto que anos como soldado haviam lhe dado dizia a ele que a hora da luta estava próxima.

O ataque dessa vez não teve organização alguma. Assim que o primeiro apareceu pulando sobre um dos guardas a pé os outros começaram a se jogar contra os outros guardas. Uma verdadeira bagunça se formou e Sarah só podia manter sua posição até ter certeza de que Aria e Rendon estavam a salvo da batalha.

Elizabeth, Lorde Branfor, Sarah e Tommy disfarçado de Príncipe se afastaram do resto da comitiva. Como a Hawkey esperava quase metade dos atacantes os seguiu. Com Branfor ao seu lado mantendo os bandidos longe da Rainha Regente e do Príncipe herdeiro os olhos cinzas captaram o rápido movimento de dois cavalos. Aria estava tirando Rendon do meio da briga e o guiava para dentro da floresta.

O ataque sobre eles se tornou mais persistente e complicado. Tiveram que recuar; ela não podia deixar que Tommy tivesse que expor a farsa tão rápido. Sarah queria dar tempo para a filha e o príncipe se afastarem o bastante dos bandidos. Ela queria que os dois já estivessem longe quando os atacantes descobrissem que haviam deixado o príncipe fugir.

Como ela e Elizabeth haviam pensado o alvo era mesmo Rendon e Sarah confirmou isso durante a luta quando os bandidos começaram a tentar passar por Branfor que estava defendendo o garoto montado. Ela e o Capitão da Guarda Real haviam descido de suas montarias logo no começo para poderem lidar melhor com os atacantes e Sarah notou que de cada cinco que se aproximavam deles três iam na direção do homem. Passar por Branfor era a forma mais rápida de chegar a o príncipe. Mas isso apenas não podia fazê-la concluir quem era mesmo o alvo.

Dois homens estavam atacando o velho soldado enquanto um deles vinha para cima da Hawkey. Branfor não conseguiria segurar os dois bandidos. Com a espada Sarah bloqueou o golpe do que lhe atacava enquanto seu punho encontrava a garganta do mesmo fazendo-o cair. Na mesma hora Branfor sofreu um corte perto do ombro onde sua armadura possuía uma abertura. O outro bandido manejava uma lança e a direcionava para o pescoço do Capitão da Guarda, mas Sarah se jogou contra o homem acertando o ombro direito no cotovelo esquerdo do mesmo fazendo com que ele quase soltasse a lança. Ela girou pelas próprias costas fazendo a espada voltar contra o mesmo cotovelo do homem acertando a parte larga da arma na articulação e fazendo o bandido soltar um grito de dor.

Um chute foi o bastante para fazê-lo cair e assim Sarah e Branfor trocaram de posições. Os bandidos continuaram tentando chegar ao cavalo onde o príncipe estava mesmo tendo que passar por ela. Isso fez a mesma coisa passar pela mente de Sarah e de Elizabeth: seja lá qual fosse o mandante o alvo era Rendon; eles queriam destruir o herdeiro do trono.

A espada da Hawkey era certeira afastando golpes e golpeando, mesmo assim os inimigos era muitos e, infelizmente, os guardas não estava conseguindo lidar muito bem com a parte que lhes cabia. Ela queria apenas mais alguns minutos. Seriam sua garantia. Mesmo sabendo que, com o tempo que teve, Aria já deveria estar praticamente fora de alcance ela queria mais essa garantia. Mas isso não foi possível. Um dos inimigos matou um dos soldados e avançou contra Branfor empunhando uma espada curta e uma adaga ainda molhada com o sangue do soldado. Sarah tinha três contra ela e, mesmo vendo, não pode fazer nada.

O inimigo avançou e Branfor conseguiu manter a posição nos primeiros quatro golpes, mas uma combinação de golpe alto com a espada e a adaga contra a parte de dentro do cotovelo fizeram o velho soldado recuar e foi essa a oportunidade que o bandido precisava. Um chute forte acertou o quadril de Lorde Branfor tirando-o do caminho. Um olhar para o lado, mas o bandido desistiu de avançar sobre o príncipe já que tinha o caminho livre até a Rainha.

Com a adaga frente ele avançou contra a montaria de Elizabeth. Tommy não teve outra escolha se não agir. O garoto que estava encolhido sob a cela escondendo o arco já com uma flecha em posição se ergueu puxado a corda do arco; a longa capa caiu no chão no momento em que a flecha do menino atravessou o joelho de bandido fazendo-o cair largando as armas e se contorcendo de dor.

Depois disso tudo aconteceu muito rápido. Os bandidos ficaram sem saber o que fazer dando tempo dos soldados se recuperarem e atacarem. Tommy começou a distribuir flechas sempre que tinha visão acertando vários dos inimigos. Sarah assumiu a investida e derrubou vários outros enquanto o filho protegia a rainha. No final metade dos soldados estavam feridos e a outra metade incapacitados ou mortos; mas os inimigos tiveram mais baixas. Haviam seis dos bandidos feridos que foram presos e apenas um grupo de cinco conseguiu fugir.

–-Como está Lorde Branfor? – perguntou Elizabeth quando Sarah se aproximou da mesma que, agora segurava as rédeas de seu cavalo ao lado de Tommy que continuava a manter guarda ao lado da rainha seguindo ordens da mãe.

–-Vai ficar bem, mas não poderá lutar por algum tempo – respondeu a Hawkey séria – Não será problema já que a senhora chegará a salvo ao castelo em poucos dias.

–-E meu filho, Hawkey?

–-Com toda certeza estará chegando ao rio em algumas horas e até amanhã estará a salvo no lugar para onde os mandei. Aria vai garantir isso; não se preocupe. No momento minha preocupação é levá-la para a Cidade Real o mais rápido possível.

–-Rendon era mesmo o alvo, não era? – perguntou de novo a rainha já com um tom muito mais preocupado e receoso.

–-Infelizmente sim – disse Sarah com um tom sério e profissional.

–-Quanto tempo até estarmos de volta ao caminho, Hawkey? – tornou a questionar Elizabeth voltando a assumis sua postura rígida.

–-Poucos minutos – respondeu Sarah – Apenas o bastante para colocarmos os feridos em macas ou sobre cavalos e prepararmos o necessário para transportar os prisioneiros.

Não demorou muito e estavam de volta ao caminho até a Cidade Real. Os prisioneiros seguiam atrás cercados pelos soldados menos feridos. Os que estavam bem faziam a guarda de todo o grupo. A frente seguia a rainha montada e Sarah com Tommy ao seu lado. A Hawkey caminhava ao lado do cavalo montado por Elizabeth. Lorde Branfor vinha um pouco mais atrás montado no cavalo que tinha sido usado por Tommy. Foi assim por dois dias até que finalmente puderam ver a muralha que cercava a Cidade Real.

Sarah mandou um mensageiro a cavalo avisar da chegada da rainha e de muitos feridos. O soldado partiu a cavalo e esperavam que logo teriam um batalhão vindo para escoltar os prisioneiros e a Rainha Elizabeth. Essa, por sua vez estava calada e pensativa. Sarah supôs que fosse por causa do filho, mas não ser bem isso. Minutos depois do mensageiro sair ela fala com a Hawkey num tom baixo de modo que apenas Tommy, que estava ao lado da mãe, pode ouvir.

–-Você disse que o veneno usado na flecha que acertou Rendon poderia ser usado de varias formas e citou que os efeitos dependiam da dose usada; está certo? – perguntou a rainha sem encarar Sarah.

–-Sim, Majestade. Foi isso o que eu disse. Mas qual o motivo dessa pergunta? – questionou Sarah.

–-Sarah; o que aconteceria se uma pessoa recebesse uma pequena quantidade desse veneno por vários meses, anos até?

–-Isso dependeria muito da quantidade, minha Rainha – respondeu a outra pensativa – Esse veneno em particular é muito perigoso e potente. Mesmo uma gota durante semanas tem um efeito muito forte.

–-Seria possível alguém receber uma quantidade pequena dele por meses antes de morrer?

–-Sim...Creio que sim; mesmo assim quem calculasse essa quantidade deveria ser muito preciso. Mas porque esse interesse agora? – Sarah pergunta encarando a Rainha com uma expressão confusa e preocupada.

–-Meses antes de Rendlan morrer ele foi assolado por uma doença que nenhum médico dentro do reino ou fora conseguiu descobrir o que era – falou a rainha num tom pensativo – Na hora eu não pensei muito, mas depois pensei sobre as coisas que você disse enquanto me explicava sobre a condição de Rendon.

–-Não entendo onde quer chegar, Majestade – falou Sarah quando a pausa de Elizabeth ficou um tanto longa.

–-“Bebida para inimigos”; foi um dos nomes que usou para se referir a esse veneno por causa do efeito cumulativo, certo? – Sarah concordou com um aceno de cabeça – Primeiro foi um cansar-se rapidamente; atribuímos isso as preocupações e responsabilidades. Mas ele estava mais cansado a cada dia. Não tinha fome, não tinha disposição; foi quando começou a m instruir nos assuntos relacionados ao governo. Olheiras, emagrecimento, tudo nele mostrava doença, mas nunca conseguíamos saber por que. Um dia ele simplesmente não teve forças para levantar. Um quadro progressivo que culminou em uma febre inexplicável, mas quase não aparente por que..

–-A pele permanecia sempre e cada vez mais fria – completou Sarah quando a voz da rainha falhou – Esta sugerindo que...

–-Diga-me isso você Sarah Hawkey – interrompeu Elizabeth – Você é a conhecedora de venenos. É possível?

Sarah encarou a estrada e então os muros da Cidade Real com as sobrancelhas franzidas e os olhos estreitos pensando. Alguns minutos depois ela suspira.

–-Sem ter visto todo o processo e sem poder examiná-lo durante ele eu dificilmente posso afirmar algo, mas... – Sarah encarou elizabeth – Não só seria possível, mas como também, caso a pessoa tivesse acesso as coisa certas, seria até muito fácil.

–-Foi o que eu pensei – murmurou a rainha vendo meio batalhão do exercito real cavalgar na direção deles.