Vidas Em Guerra - O Falcão e o Lobo escrita por A Granger


Capítulo 5
Compatibilidade




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Sem demora Sarah assumiu o controle dos soldados e esses, mesmo descontentes, a obedeceram. Minutos depois a carruagem e a carroça eram deixadas para trás e o grupo composto pela rainha, seu filho, os 15 soldados sobreviventes, Sarah e seus filhos já estavam no meio da floresta. Guiados pela Hawkey em menos de meia hora de caminhada já haviam chegado a uma clareira grande o bastante para acomodá-los.

–-Essa não é uma boa ideia – o Capitão da Guarda Real reafirmou como vinha fazendo desde que haviam saído da estrada – Estamos vulneráveis em uma clareira enquanto os bandidos tem a proteção da floresta para usar a seu favor.

–-Você reclama demais – falou Sarah passando por ele – Faça mais e reclame menos.

–-Ora sua...

–-Cuidado com a língua Capitão – advertiu Sarah – Preciso que seus homens montem uma barraca e rápido. O príncipe não esta em boas condições e como já vai escurecer é melhor que fique ao abrigo do sereno.

Bufando contrariado Branfor fez o que lhe havia sido dito enquanto Sarah conversava com o filho.

–-O menino não está nada bem, não é mãe? – perguntou Tommy preocupado.

–-Não; não está. Prepare uma fogueira e junte lenha para mantê-la acesa e quente por toda a noite. Depois procure pela floresta essas plantas – ela falou entregando o caderno a ele aberto em uma página com vários nomes – Preciso de todas elas e rápido Tommy.

–-Volto com elas antes do sol se por e trago a madeira para a fogueira junto – respondeu ele sério pegando o caderno e seguindo até seu cavalo, logo montando e saindo para a floresta procurar o que estava listado na folha do caderno.

Sarah se aproxima da tenta improvisada que os guardas haviam feito. O Capitão da Guarda Branfor estava saindo dela.

–-Monte rondas, mas deixe alguns descansarem a cada rodízio; vamos precisar de seus homens em boas condições. Mantenha os vigilantes em cima das arvores ou escondidos atrás delas, isso vai dar a eles melhor chance de reconhecer inimigos se aproximando.

–-Não recebo ordens suas – retrucou ele irritado – Mas farei como pede porque sei que é o certo.

–-É, sei que sabe – murmurou ela contendo a própria irritação.

Olhando para o lado viu a filha a encarar a porta da tenda e a chamou com um aceno. Aria estava ao lado da mãe em segundos e as duas entraram juntas na tenda encontrando a rainha ajoelhada ao lado de uma cama de peles improvisada sobre a qual repousava o príncipe Rendon. A Hawkey se ajoelhou de do outro lado do garoto e de frente para Elizabeth; Aria apenas ficou em pé na entrada da tenda. Sarah se aproximou do garoto colocando a palma da mão sobre os olhos do pequeno príncipe.

–-Como ele está? – perguntou Elizabeth aflita.

–-Nada bem – respondeu a Hawkey sincera.

Expressão da rainha foi desoladora. Sarah a olhou e suspirou. Ela podia imaginar o que aquela mulher estava sentindo e isso a deixou ainda mais irritada consigo mesma por aquilo parecer tão difícil de se ajeitar.

–-Não há mesmo nada que você possa fazer Sarah? – perguntou Elizabeth com o ultimo fio de esperança.

Sarah suspirou e voltou a encarar o garoto antes de começar a falar:

–-Esse veneno é muito raro e tem propriedades muito específicas. O nome dele é “sono da morte”, mas também o chamam de “bebida para inimigos”. Ambos os nomes são explicados pelos efeitos que ele tem. Quando a dose é muito alta os efeitos aparecem quase que instantaneamente. Entretanto, em doses muito reduzidas ele age diferente. Uma gota dele praticamente não tem efeitos aparentes, apenas um cansaço e uma leve sonolência. No entanto, doses seguidas tem um efeito acumulativo, assim, quanto mais for ingerido mais ficam próximos dos efeitos normais da dose alta. O cansaço e a sonolência se tornam exaustão; e quando os efeitos atingem seu máximo a pele esfria, mas a pessoa tem uma febre enorme que só é percebida se alguém tocar as pálpebras ou a parte interna dos lábios da pessoa envenenada.

–-Porque esta me contando tudo isso? – questionou Elizabeth temerosa.

–-O príncipe foi envenenado com uma quantidade muito grande de veneno – a Hawkey faz pausa – Entretanto, a resposta do organismo dele ao veneno esta sendo muito maior do que o normal.

–-O que quer dizer com isso Hawkey? – exigiu a rainha.

–-Que não sei se ele resistira tempo o bastante para que eu termine de fazer o antídoto – respondeu Sarah direta e olhando para Elizabeth.

A rainha arregalou os olhos; era possível ver o desespero refletido neles. Sarah se sentiu uma inútil naquela situação. Sem ter o que mais fazer além de esperar que o garoto tivesse força o bastante para resistir ao veneno.

–-Desculpe-me – as mulheres ouviram o leve murmúrio e se viraram para Aria que tinha uma expressão angustiada enquanto continuava a falar – A culpa é minha...Se eu não..se eu não tivesse deixado ele ficar lá...se eu tivesse notado a flecha antes.... É tudo culpa minha.

–-Não, criança. Não é sua culpa – falou Elizabeth suspirando ao ver a expressão da menina – Não é culpa sua. Aconteceu como deveria acontecer – ela terminou olhando para o filho e deixando uma lagrima escapar – Se fosse você a ser atingida pela flecha seria você a estar aqui.

–-Na verdade não – fala Sarah vendo a expressão da filha; Elizabeth a encara confusa – Aria, Tommy e eu somos imunes a maioria dos venenos, pelo menos a todos os que eu conheço.

–-Como? – a rainha pareceu ainda mais confusa.

–-Por muito tempo eu viajei pelo reino, conheci muitas pessoas e aprendi muitas coisas. Conheci um velho curandeiro e o convenci a me ensinar como ele era capaz de ser imune a venenos. Eu aprendi e, bem, nenhum de nós três pode ser envenenado por venenos conhecidos por mim – explicou Sarah; Elizabeth não fez perguntas então ela se calou.

Sarah encarou a mulher a sua frente que acariciava os cabelos do filho. Ela não via uma rainha, apenas uma mãe preocupada e temerosa em perder seu filho. Irritava-a mais do que tudo não poder fazer nada. Aria se sentou ao lado da mãe e ficou a olhar para Rendon ainda se sentindo culpada. Tommy aparece na porta da tenda olhando tudo lá dentro. Sarah olha pra ele numa pergunta muda.

–-Achei tudo e já comecei a preparar como a senhora tinha deixado escrito no livro, mãe – fala ele encarando Sarah e depois seus olhos se voltam para o garoto deitado – Como ele está?

–-Reagindo mal – fala Sarah – Parece que o corpo dele reage contra o veneno mais do que o comum, isso esta acelerando a evolução dos sintomas.

Tommy então entra e se senta do outro lado da Hawkey.

–-Ele não é realmente seu filho, certo? – pergunta Elizabeth distraída – É grande demais para ser seu filho.

–-Tommy é meu irmão sim – responde Aria no lugar da mãe – Minha mãe é a mãe dele e meu pai também é o pai dele, mesmo nós dois não tendo o mesmo sangue isso nos torna irmãos.

Elizabeth encara amenina surpresa pela resposta; Sarah apenas sorri com o tom incrivelmente petulante que a filha usara, mesmo estando numa situação tão complicada.

–-Aria disse o certo, apesar de não ter meu sangue Tommy é sim meu filho.

Depois desse pequeno diálogo todos voltaram os olhos para Rendon que continuava em seu sono profundo. Depois de um tempo Tommy encara Sarah. Parecia querer dar uma sugestão, mas esperou a mãe dizer que ele podia continuar para falar. Sarah o olhou acenando afirmativamente e ele disse:

–-Porque não tenta aquilo? – ele perguntou e Sarah suspirou cansada.

–-Você sabe o porquê – ela responde voltando a encarar o menino inconsciente.

–-Ele não parece ter outra chance, mãe – insiste Tommy sério – Mesmo que apressemos a preparação do antídoto ele só ficara pronto um pouco antes do amanhecer. A pele dele já esta muito pálida, sei que não entendo tanto quanto a senhora sobre venenos, mas não sei se ele vai aguentar tanto tempo.

–-Sabe que eu nunca arriscaria isso. Apesar de tudo não sei se pode mesmo funcionar. Relatos não são fatos, não posso confiar em histórias.

Elizabeth e Aria apenas acompanharam o dialogo dos dois com curiosidade. Ao final Sarah olhou para elas vendo olhares que pediam respostas. Sarah fechou os olhos tentando pensar; voltou a abri-los depois de um tempo.

–-Uma vez conheci um homem, ele não era daqui; segundo o que ele havia me dito vinha das Ilhas Unidas. Ele me falou sobre uma técnica, era complicada e eu nunca o vi fazendo-a, mas ele me garantia que podia salvar um homem que perdeu muito sangue com ela.

–-Rendon não perdeu sangue, então em que isso poderia ajudar? – questionou Elizabeth.

–-Tommy e eu, ao ouvirmos a história do homem, cogitamos outra possibilidade. Na época eu ainda ao conhecia tantos antídotos quanto conheço hoje; nós dois cogitamos que seria possível combater os efeitos de um veneno se colocássemos nas veias da pessoa envenenada sangue de outra pessoa imune ao veneno – os olhos da rainha brilharam com esperança ao ouvir isso – Mas essa não é uma opção segura, Majestade – afirmou Sarah com o olhar duro – Existe um fenômeno que ocorre com muita frequência quando sangue de duas pessoas se misturam. Na maioria das vezes ele coagula, se isso acontecer dentro das veias de uma pessoa a morte é certa e quase instantânea. Esse homem que me contou sobre a técnica também me alertou sobre isso. Não se pode usar qualquer sangue nesse procedimento.

–-Compatibilidade – falou Tommy – É como eu chamo. As duas pessoas tem que ter o sangue compatível ou, ao invés de salvar, isso causaria a morte de quem receber o sangue.

–-É possível saber se certa pessoa é compatível ou não? – perguntou Elizabeth ainda vendo naquela opção uma possibilidade de salvar o filho.

–-Esse não é o problema – falou Sarah – É possível sim estabelecer essa compatibilidade. A questão é que o procedimento em si é arriscado. Não poderia garantir que, mesmo se um de nós três for compatível, isso resolveria o problema nem que o príncipe Rendon não corresse risco de morte durante isso.

Elizabeth se virou para o filho tensa. Ela tinha medo, muito medo. Não poderia perder Rendon também; não agora, depois de perder Rendlan. Ela não suportaria isso.

–-Seja sincera comigo Capitã Hawkey – falou ela num tom sério como se falasse com um de seus guardas – Quais as chances dele sobreviver tempo o bastante para que o antídoto fique pronto?

Sarah abaixou o olhar antes de responder. Sabia que agora Elizabeth não precisava de consolo. Ela estava a agir como a rainha e queria uma resposta honesta. Mesmo não mais se considerando uma Capitã do Exército Real, Sarah não conseguiria mentir ou omitir algo naquela situação.

–-Sinceramente, Majestade, não posso afirmar nada – ela falou num suspiro – Mas, em minha sincera opinião, se o corpo do príncipe continuar a reagir de forma tão exacerbada ao veneno, não acredito que ele seja capaz de sobreviver até a metade da noite.

–-Faça – ordenou a rainha – Faça isso que falou que pode fazer.

–-São muitos riscos.

–-Ele não tem outra alternativa, tem? – questionou Elizabeth encarando Sarah com um olhar duro.

–-Não que eu possa ver – declarou a Hawkey admitindo o que as duas já sabiam.

–-Então faça.

–-Não posso garantir que um de nós três seja compatível com ele – avisou a Hawkey – Mas se for, prometo tentar. Traga minhas coisas, Tommy.

O rapaz se levantou rápido saindo da tenda. Elizabeth voltou a encarar o filho.

–-Diga-me, Capitã. Se fosse sua filha nessa situação; o que faria?

–-Não sou mais uma capitã, Majestade – falou Sarah encarando a filha que olhava pra ela – Faria o mesmo que esta fazendo agora.

A rainha concordou com a cabeça. Não demorou muito e logo Tommy já estava de volta com uma pequena bolsa nas mãos. Atrás dele entrou Lorde Branfor.

–-O que está acontecendo aqui? O que tem na bolsa que o garoto trouxe? – perguntou ele num tom acusador.

–-Retire-se, Lorde Branfor – ordenou Elizabeth sabendo que o velho soldado não acreditaria nas palavras de Sarah e tentaria impedi-la de fazer seja lá o que ela pretendia.

–-Mas...Majestade...

–-Retire-se – ordenou ela de novo encarando o homem com um olhar ameaçador fazendo com que ele bufasse com irritação antes de obedecer a ordem dada por ela.

Sarah não disse nada. Sequer pareceu notar a pequena discussão entre rainha e seu chefe da Guarda. A Hawkey retirou varias coisas de dentro da pequena bolsa; um pano enrolado em alguma coisa, pequenos pires do tamanho da palma da mão dela, um filete de metal, alguns pequenos panos limpos e dois pequenos punhais que pareciam ser feitos de prata. Ela organizou tudo a sua frente entre ela e Rendon. Depois disso colocou três pires separados um ao lado do outro e pegou um dos punhais.

–-Preciso de algumas gotas do sangue dele para testar com os nossos – declarou ela e Elizabeth apenas acenou permitindo que ela fizesse um pequeno corte na palma da mão de Rendon deixando cair algumas gotas em cada pires.

Depois disso a Hawkey cortou a própria mão deixando a mesma quantidade de sangue cair em um dos pires com o sangue de Rendon. Depois disso ela limpou a adaga em um dos panos brancos e limpos e entregou a arma ao filho que repetiu o mesmo processo deixando cair algumas gotas em outro pires. Sarah então estendeu o terceiro para Aria com a outra adaga enquanto Tommy terminava de derramar gotas de seu sangue sobre o de Rendon. Para a surpresa de Elizabeth a pequena menina não hesitou nem um segundo antes de usar a afiada arma para cortar a palma da própria mão deixando seu sangue cair sobre o do príncipe.

Enquanto esperava a filha terminar Sarah pegou o filete metálico de prata e misturou com movimentos circulares e lentos seu sangue ao de Rendon. Limpou o filete de prata e fez o mesmo com o sangue de Rendon e Tommy limpando de novo o objeto antes de repetir o processo com o sangue de Rendon e Aria. Sarah manteve os pires a cada um a frente daquele que havia depositado seu sangue nele. Minutos depois ela pegou o mesmo filete e mexeu o sangue no pires que estava a sua frente. O sangue estava completamente coagulado e duro. Repetiu o mesmo com o que estava em frente a Tommy e o resultado foi o mesmo. Olhou então para a filha que acenou positivamente para a mãe continuar. A Hawkey então pegou o pires a frente da filha mexendo o sangue com o filete de prata limpo. Para a surpresa de todos, apesar de um pouco mais grosso o sangue nele continuava líquido. Aria era compatível com Rendon.


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Notas finais do capítulo

Ficarei um tempo sem escrever por causa das provas:/
Próximo cap dia 21/12
Comentem, pessoas ;)