Vidas Em Guerra - O Falcão e o Lobo escrita por A Granger


Capítulo 34
O tempo que passa


Notas iniciais do capítulo

Eu ainda estou aqui!!
Alguns imprevistos....e eu realmente odeio escrever esse tipo de cap sem ação nenhuma...mas como o título já disse é preciso fazer o tempo passar.
Tem um diálogo antes da narração resumindo a passagem de tempo, mas no geral o cap é muito mais introdutório.
Espero que ao menos não tenha ficado ruim



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POV Aria

Apesar do meu cansaço, dormir foi complicado. Mesmo confortavelmente deitada em minha cama e com todo o cansaço físico que eu sentia meus olhos simplesmente não conseguiam se fechar e ficaram horas encarando a escuridão do teto. No fim acabei dormindo, mas foi bem tarde. Acordei pela manhã no dia seguinte antes mesmo dos primeiros raios de sol aparecerem. Não quis ficar no quarto e me vesti com minha calça e couro marrom e uma camisa de mangas compridas cinza. Coloquei minhas botas e sai passando as mãos pelos meus cabelos tentando fazê-los ficarem mais alinhados enquanto eu caminhava até as cozinhas.

No segundo seguinte a ter saído do quarto me arrependi de não ter parado para pentear meu cabelo, mas não iria voltar então ignorei o fato dos fios estarem todos bagunçados e um tanto arrepiados. Quando cheguei às cozinhas já havia conseguido arrumar um pouco aquela bagunça de fios com os dedos, mas apenas o bastante para não me incomodarem. Não havia muita gente lá, nem mesmo do pessoal que trabalha ali, era cedo demais até para eles. Sentei em uma mesa e apoiei os braços sobre ela; foi quando Celine apareceu do meu lado.

– Bom dia Hawkey – ela disse calmamente e me olhando com uma expressão sorridente, até ver minha cara de cansaço – O que houve? Passou a noite acordada nas forjas de novo foi??

– Não Celine. Só não dormi muito bem essa noite – falei desviando o olhar dela – Pode me trazer algo pra comer? Pode ser qualquer coisa.

– Cadê a Key? – ela me pergunta olhando em volta e eu suspiro irritada.

– Não sei. Com Rendon talvez – falo apoiando o queixo na madeira da mesa – Aquela traidora me trocou por ele noite passada quando eu cheguei no quarto só porque eu não quis fazer carinho nela antes de ir deitar.

– Isso tudo é ciúmes Aria? – perguntou Celine rindo de mim e só me deixando ainda mais emburrada.

– Ciúmes? Porque eu sentiria isso?? – falei irritada sem encarar minha amiga – Não há motivo nenhum pra isso.

– Admita que está com ciúmes Aria – ela falou sentando mais perto de mim e passando seu braço direito por sobre meus ombros; ela estava segurando o riso.

– Ok...tá – falei suspirando em derrota – Estou com ciúmes.

– Viu, não foi tão difícil – Celine disse rindo, mas então parou de rir subitamente me fazendo encará-la – Ciúmes da Key ou do Rendon? – ela perguntou com um meio sorriso divertido.

– MaisHein???? Comoéqueé??? Doquevocêestáfalando, mulher!!! – respondi por reflexo me sentando com as costas retas, as mãos apoiadas na mesa e os olhos arregalados; não acredito que ela tinha sugerido isso.

– Ora, pelos céus – Celine suspirou – Aria, não me diga que não gosta do Rendon porque isso seria claramente mentira.

– Eu gosto dele sim! É meu amigo! – respondi exasperada – Mas você continua insinuando outras coisas! – ela me encarou com uma sobrancelha erguida numa expressão que dizia claramente que ela não acreditava nisso – E porque é que você está aqui dando palpite na minha vida, hein?? – perguntei já me irritando completamente – Você e o Tommy, nem depois de três anos, conseguiram se acertar.

– Isso é outra história, outra situação; uma coisa completamente diferente – resmungou Celine se virando e ficando a olhar para a parede a nossa frente.

– Pelos céus, Celine – suspirei – Você gosta dele, mas não dá nenhum sinal disso. Assim ele se confunde. Tommy é inteligente sim, mas não muito perceptível quanto ao óbvio; você tem que dar uma ajudinha.

– Ele não é o único tapado para assuntos do coração que eu conheço então – ela resmunga me encarando.

– Quer saber. Eu cansei – falei me levantando – Vocês se gostam e quem fica no meio tentando ajudar sou eu. Pra mim chega de manter o segredo dos dois – falei já nem me importando de que iria entregar o Tommy, mas ele já deveria ter feito algo a muito tempo – Ele te ama Celine. Te ama como você ama ele. E eu já cansei de ser aquela a consolar as duas partes, mas e não contar nada de um ao outro. O Tommy é completamente apaixonado por você e não fala nada porque você nunca deu indícios de se importar com ele e porque o pobre não se acha atrativo o suficiente para você só porque ele não é um grande guerreiro ou algo do tipo. E assim que eu encontrar o meu irmão vou dizer a ele que você também esta apaixonada por ele e que não fala nada nem demonstra nada porque acha que uma moça que trabalha nas cozinhas não é muito digna de estar com um rapaz que já é tão importante quanto ele parece ser agora.

– Aria!! – exclamou ela me encarando de olhos arregalados, mas depois soltou um suspiro e me puxou pelo pulso me fazendo ficar no lugar – Ok...admito que a minha situação com o seu irmão está meio confusa e complicada por causa de nós dois. Mas me escuta só um pouquinho. Você vai perder ele se continuar com essa sua teimosia idiota.

– Não se pode perder o que não se tem Celine – falei rolando os olhos.

– Você sequer tenta não é?? – perguntou ela me encarando com um olhar indignado – Tem noção do que está acontecendo com ele agora?? – ela perguntou fazendo eu encará-la com uma cara confusa, não fazia ideia do que ela estava falando – Ele está sendo pressionado pelos nobres a arrumar uma noiva. Pretendentes é o que não falta, mas isso sempre foi assim desde que ele era criança. Só que agora com a situação duvidosa do Trevor Prencyton ele esta sendo realmente pressionado a noivar. Isso porque ele é o último GrayWolf vivo e todos dizem que ele precisa de herdeiros urgentemente para garantir a linha de sucessão no trono.

– Isso é ridículo – falei abismada – O tal Trevor nem é casado ainda também, qual a necessidade do Rendon se casar aos 18 anos só porque o segundo na lista de sucessão não se manifestou a favor do reinado dele???

– Esse é o grande problema, Aria – falou Celine suspirando – O Trevor é bem mais velho do que o Rendon, isso faz os nobres argumentarem que ele pode muito bem já ter uma noiva ou até herdeiros bastardos que possam assumir as coisas depois dele. O fato de ninguém conseguir informações sobre ele só piora a situação do Rendon.

Fiquei calada por um momento, então suspirei e me sentei ao lado de Celine.

– Olha, isso não faz muita diferença. Rendon e eu somos amigos e apenas isso Celine – falei calmamente para ver se ela entendia – Ele é o Rei e eu sou só uma amiga para ele.

– Só você acha que é só isso pra ele – ela falou rolando os olhos.

– Céus, mulher! – falei me irritando de novo – Ele é o rei e eu sou só uma plebeia, é óbvio que não há nada entre a gente, nem vai haver. E depois, ele nunca demonstrou nada, sempre me trata como amiga, confia em mim, mas sempre manteve toda a distância que uma amizade preconiza. Então não me venha dizer que ele sente algo porque não parece sentir.

– E depois o Tommy é que é lerdo pra essas coisas – ela resmunga antes de dizer irritada – Seu irmão também não demonstra nada, eu não demonstro nada, e mesmo assim você sabe que gosto dele e diz que ele também gosta de mim. Porque o Rendon não...

– Não; pode parar – interrompo-a – Claro que o Tommy demonstra sim. Todas as vezes que ele começa a gaguejar do seu lado, todas as situações em que ele fica vermelho de vergonha, todas os momentos em que ele fica todo atrapalhado quando está do seu lado é mais do que suficiente pra se notar que ele gosta de você. Rendon é completamente diferente disso. Nada dessas coisas...

– Eu não demonstro que gosto do Tommy – foi a vez dela me interromper – Foi você mesma que disse. E você sabe muito bem que eu amo seu irmão. Então seu argumento não tem fundamento. E você não é só uma plebeia. É a neta de um Lord. Assim como dezenas das pretendentes dele que são netas e filhas de lordes. E se quer saber isso nem é importante! Rainha Elizabeth era de uma família do mais baixo escalão da nobreza e ainda sim o Rei Rendlan se casou com ela – bufei irritada e me levantei de novo; até porque esse argumento eu não conseguiria combater – Só pensa bem no que você vai fazer – ela disse se levantando também e me deixando sozinha.

Talvez, só talvez, Celine tivesse razão; e isso era um talvez bem vago pra mim. Mas...não ter a certeza de que ela estava errada me fez pensar. Seria mesmo possível o Rendon gostar de mim assim??? Sinceramente eu não sabia, e eu tinha coisas muito mais preocupantes com que pensar além disso. Só que a incerteza me fez pensar nesse assunto por dias a fio após aquela conversa. Pensei tanto que me peguei querendo que Celine estivesse certa, acabando por me tocar de que eu queria isso porque eu gostava sim dele de um jeito a mais do que apenas amizade.

Mas isso não mudava meus planos, nem me mantinha menos confusa quanto a minha situação. Só Rendon poderia me fazer mudar algo, mas para isso a iniciativa teria de ser unicamente dele. Entretanto, saber o que eu sentia me fez entender melhor certas ações minhas. Se Celine tivesse razão, então tudo o que eu precisava fazer era o contrário do que ela estava fazendo com Tommy. Eu só tinha que demonstrar....mas fazer isso conscientemente não era fácil pra mim. Então tudo o que eu decidi foi aceitar os momentos em que eu automaticamente fizesse algo por ele. Talvez assim eu conseguisse demonstrar o que eu estava sentindo.

POV Narradora

Aria não conseguiu mudar quem era; por isso demonstrar algo, mesmo que ela quisesse, não era muito simples nem fácil para ela. Mesmo assim momentos como o da noite anterior aquela conversa com Celine passaram a ser mais simples e até um tanto mais comum na relação entre ela e Rendon. Aria passou a não se afastar quando, sem notar, se aproximava demais do amigo. Mas ela nem sequer tocava no assunto das pretendentes que o rapaz possuía aos montes

Ela passou a fazer mais pausas em seus treinos e no tempo de trabalho que tinha nas forjas. Isso atrasou seus projetos um pouco, mas seu avô estava com muitas dificuldades em arranjar oponentes do nível dela para os duelos então a garota não se importou muito com isso. Ela passou a gostar das conversas que tinha com Rendon no escritório dele durante as tardes tanto quanto gostava dos momentos que os dois passavam dentro do bosque ao anoitecer.

Enquanto isso os dias, semanas e meses foram passando. A guerra continuava complicada para O Reino e as batalhas eram cada vez piores. Junto a isso o fato de a única fonte de comércio que existia era o interno, fato que dificultava a obtenção de certos produtos. A única forma de comércio externo a qual O Reino ainda tinha acesso eram os navios comerciantes que chegavam pelo Rio Grande. No entanto, algo no Oeste estava decididamente errado porque os mercadores que costumavam levar esses produtos pelo Reino não apareciam mais com a mesma frequência. Na verdade, praticamente não havia mercadores voltando do porto fluvial do Rio Grande nos últimos meses.

Logo depois de Aria completar 16 anos as primeiras notícias concretas começaram a aparecer. Soldados servindo Trevor Prencyton comandavam o porto fluvial do Rio Grande e comandavam toda a prática comercial do lugar. Segundo o que se soube, cobravam-se altas taxas para realização de compras e vendas o que fez muitos navios mercantes pararem de retornar. Os próprios mercadores enfrentavam taxas apenas por circularem pelo Oeste, e os que não pagavam eram presos.

Isso fez Rendon tomar medidas urgentes. Para começar ele enviou um representante com ordens diretas à Trevor Prencyton e esse representante foi acompanhado por metade de um esquadrão inteiro; o representante era Tommy. Rendon exigia que os homens presos por não pagarem os impostos abusivos fossem soltos, que o porto voltasse a ser livre e que os impostos fosse reduzidos até os cobrados em todo o resto do Reino. Tommy enfrentou dificuldades em negociar com Trevor que, segundo o próprio Tommy, era um homem sem modos e rude, ainda pior do que o pai.

Com isso foi possível averiguar diretamente o que acontecia no Oeste e Tommy achou que as coisas por lá não andavam normais, mas não conseguiu identificar nada realmente errado fora o que o Prencyton estava fazendo. Segundo o novo Lord do Oeste, ele precisava daqueles impostos para sustentar seu exército e treinar seus homens que estariam voltando a ser enviados ao campo de batalha em nome de Rendon. Tommy argumentou que haviam muitos guerreiros bons que não exigiam nem metade do custo que Trevor dizia custar os seus; o Prencyton argumentou que os dele eram os melhores e Tommy teve que rir e discordar de forma séria que os melhores sempre foram e continuam a ser os soldados treinados na Academia, e por eles Trevor não tinha gasto nenhum.

Depois de quase um mês hospedado no castelo úmido e frio de Trevor Prencyton, Tommy, após 3 semanas sendo ignorado, pode voltar com a palavra e um tratado assinado por Trevor dizendo que os impostos voltariam ao normal, que o porto voltaria a ser de livre comércio e que os presos por não pagar impostos seriam soltos. Tommy voltou sozinho enquanto que sua escolta ficou para conferir se o Prencyton faria mesmo o que disse que iria fazer. Mas àquela altura o estrago já estava feito e o porto tinha muito menos movimento do que em seus piores dias antes disso.

Ficou claro que Trevor Prencyton não gostava da ideia de Rendon ser rei, mas ele manteve as aparências e, ao aceitar as ordens de Rendon, pareceu se submeter ao comando do rei. Isso acalmou um pouco os nobres, mas ainda havia muita insistência para que Rendon arrumasse uma noiva, coisa que o rapaz recusava veementemente.

Outra situação que mudou pouco, mas mudou, foi a de Aria e Rendon. Ambos eram tímidos demais ou simplesmente não sabiam demonstrar ou sequer sentir o que sentiam e por isso, nas horas em que poderiam ou teriam espaço para falar de sentimentos, nenhum deles falava nada. Só que, com o passar do tempo eles começaram a serem mais próximos ainda um do outro, dividindo diversos assuntos quando estava juntos e, vez ou outra, demonstrando a preocupação que sentiam um pelo outro com pequenos gestos. Aria já não se importava em tocar Rendon e ele já não mais se assustava com as pequenas e simples demonstrações de carinho que ela, por vezes, demonstrava.

Entretanto, apesar de causar em ambos a desconfiança e uma grande ponta de esperança, ainda não era o bastante para que um ou outro tivesse uma certeza mais firme sobre a qual insistir. Tommy e Celine que acompanhavam tudo de longe logo notaram que deveria ser Rendon a tomar uma atitude, porque se dependesse de Aria aquilo levaria uma eternidade de verdade. E falando neles, Celine começou a demonstrar o que sentia pelo rapaz e Tommy acabou tomando coragem de conversar diretamente com ela; ambos começaram um namoro logo antes de Aria fazer 16 anos.

Quanto aos duelos, não houveram surpresas em nenhum deles. Aria venceu todos e, a cada dia, parecia mais fácil para ela enfrentar qualquer um. Os movimentos que ela havia usado no duelo com Rendon pela primeira vez se tornaram comuns e ficaram dezenas de guerreiros se atrapalharem. A própria forma de lutar de Aria foi ficando cada vez mais definida, sendo completamente indefinida. Ela nunca se movia de uma forma comum e estava sempre fazendo movimentos que qualquer um diria impossíveis antes dela realizar. E a cada dia ela moldava armas melhores; Aria continuava em seu projeto, mas parecia fazer experimentos que levava aos duelos para testar.

Dessa forma o tempo passou e a guerra acalmou. Maincrafss parecia finalmente sentir o peso de ter tantos soldados e começava a ter suas tropas reduzidas a cada ataque, como acontecia com O Reino também. Isso fez o ritmo das batalhas diminuir consideravelmente. Foi nessa época que Aria completou 17 anos e Rendon 20; Tommy e Celine se casaram depois de um ano juntos e o treinamento da Hawkey chegou ao final, apesar de os duelos ainda não terem acabado. Seis meses depois do aniversário de Aria e faltando apenas 5 duelos para Aria vencer o velho Eliot resolveu testá-la da forma mais dura e difícil possível. Só que a garota só ficaria sabendo disso quando encontrasse o desafio por si mesma.


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