Vidas Em Guerra - O Falcão e o Lobo escrita por A Granger


Capítulo 29
A carta




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POV Narradora

Aria estava com Gold nos estábulos do castelo quando seu avô chegou. No dia anterior, quando Rendon havia desfeito o Conselho Real ela tinha passado o resto da tarde com o amigo, apenas conversando sem treinar e, naquela manhã, a garota havia acordado decidida a treinar com Gold. Mas, seus planos iriam mudar um pouco.

Eliot se aproximou dela enquanto assistia a neta escovar o garanhão baio de pelagem amarelo ouro. Ele sabia que ela o havia notado, mas resolveu esperar ela terminar o que estava fazendo antes de conversar. Eliot era o tipo que preferia uma conversa sem distrações.

– Pronto – disse ela guardando a escova e se virando para o avô – Qual o assunto sério de hoje vovô?

– Você nunca vai deixar de ser insolente não é? – pergunta Eliot sorrindo calmamente, a barba estava praticamente toda branca, mas ele preferia deixa-la comprida daquela forma mesmo.

– Receio que não – ela responde rindo baixo – É assim que eu sou e...bom prefiro ser diferente.

– É....eu sei – Eliot encara a neta; Aria estava vestindo um conjunto de calças e camisa cinza, a calça de couro grosso e a camisa de lã grossa, afinal ainda estavam no inverno, junto com as botas pretas ainda havia um cinto preto e um casaco marrom – Tenho algo pra você – ele falou por fim – Mas antes, vim avisar você que seu primeiro duelo será amanhã a tarde, esteja pronta. Vai ter que usar espada e escudo.

– Eu odeio escudo – ela disse calmamente.

– Vai usar espada e escudo – repetiu Eliot sem se incomodar com o que ela havia dito.

– Entrarei com eles – ela disse sorrindo de um jeito brincalhão – Isso cumpre sua ordem.

– Às vezes – disse Eliot se aproximando da neta – Às vezes eu juro que queria que você fosse um pouco mais como sua mãe – ele fala e ri um pouco – Assim seria mais compreensiva, mas esse seu jeito rebelde não me é de todo desagradável – ele então coloca uma mão sobre o cabelo castanho preso por um cordão preto; ela estava crescendo e rápido – Antes de se irritar pelo que vou dizer e te contar. Saiba que foi um pedido dela – disse ele suspirando e pegando de dentro do casaco cinza escuro um envelope que entregou a garota – Sua mãe deixou instruções a Rainha Elizabeth sobre isso e eu apenas aceitei os pedidos dela. Por esse motivo você só esta recebendo essa carta agora.

– Carta? – Aria disse confusa encarando o envelope em suas mãos – Vô isso é.....Como assim instruções??? Isso é uma carta da minha mãe???? – ela questiona encarando o avô com um olhar irritado.

– Sim. E, creio eu, que ela lhe explique o porque de ter pedido o que pediu – Eliot disse com um sorriso calmo – Leia.

Aria não disse nada, nem seria preciso porque Eliot já estava se virando para sair. Mas, mesmo depois dele sair, ela ainda não abriu a carta. Aria estava confusa e cheia de perguntas, mas mesmo sabendo que algumas das respostas estavam ali na sua mão, ela não conseguia abrir aquilo ainda.

Deixando Gold em sua baia ela saiu dos estábulos e começou a caminhar em volta do castelo. Hora ou outra cruzava com alguém que a cumprimentava, todos ali sabiam quem ela era apesar de não terem noção do que aquela garota de 12 anos poderia fazer. Aria mal os notou naquele dia. Ela caminhou direto para o pequeno bosque, o pequeno lago que havia no meio dele estava congelado naquela manhã, apesar do gelo ser fino e frágil.

Aria se sentou ali e ficou a encarar o gelo por horas com a carta nas mãos. O sol estava quase alto no céu e ela sabia que logo seria hora do almoço e alguém viria procura-la quando ela não aparecesse. Só então ela encarou a caligrafia da mãe sobre um lado do envelope. Era seu nome que estava escrito ali, com as letras finas e bonitas de sua mãe.

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Aria

Acredito que você levará algum tempo até receber isso. Não se irrite com Elizabeth se esse tempo tiver sido demasiado longo. Se o foi, então foi assim por que era necessário, não duvide do julgamento dela, até porque foi assim que eu pedi para que fosse feito.

Eu não posso imaginar como você deva estar minha criança. Você sempre foi imprevisível, Aria, e acredito que isso não tenha mudado mesmo nessas circunstancias. Mas sei dentro de mim que, por mais que seja duro, você provavelmente ainda não demonstrou fraqueza a ninguém, talvez ao seu irmão ou a Rendon, acho que isso depende de quanto tempo Elizabeth achou prudente esperar para te entregar isso.

Eu deixei instruções ao seu avô quanto ao seu treinamento, saiba que eu não esqueci-me dele mesmo com tudo que aconteceu quando soubemos do seu pai. Confie no seu avô, ele sabe o que faz e está seguindo alguns pedidos meus. Acredite quando digo que foi o treinamento dele que moldou grande parte de quem eu me tornei. Penso também quem em muitas vezes você vai se sentir oprimida pelas ordens que ele lhe dará, vai pensar que não é necessário ou que você não precisa realmente daquilo, talvez até que já aprendeu tudo o que tinha para aprender.

Talvez seja opressora a forma com que ele vai forçar você, mas você tem que aguentar Aria. E eu entendo que às vezes pode pensar que é desnecessário, mas confie em mim, mesmo que pareça, ou mesmo que seja, ainda vai servir para te preparar da melhor forma possível. E quando pensar que já aprendeu o que seu avô esta tentando te ensinar pense de novo, porque sempre há algo a mais para aprender.

Aria, eu sei melhor do que imagina o potencial que você tem. Mesmo assim, acredite quando digo que nem sempre pode ser o bastante. Apesar de tudo você é uma mulher, e por mais forte que se torne, ainda assim haverão homens com mais força que você. Por isso quero lhe deixar aqui alguns conselhos que, eu acredito, apenas eu posso lhe dar. Somos mulheres, minha filha, e, como tais, acabamos por termos de enfrentar certas dificuldades. Seu avô, apesar de tudo, como homem, não pode reconhecer e ajudar nessas coisas.

Por isso estou lhe dizendo aqui: seja sempre sincera com ele, apresente a ele suas dificuldades e os motivos pelos quais você não esta conseguindo superá-las. Sei que ele tentará ajudar, mas prepare-se para, muitas vezes, ter de resolvê-las sozinha.

Mas tenho outra coisa a dizer que é ainda mais importante. Aria, você tem que descobrir a sua forma de lutar, seu estilo de luta. Aprenda como deve aprender cada coisa, aprenda como todos aprendem, mas se quiser ser melhor, tem que descobrir o seu jeito de usar cada arma. Por isso lhe dou um dos conselhos mais importantes que tenho a lhe dar: confie nos seus instintos. Você pode não entende-los sempre, mas eles nunca vão mentir pra você.

Aria, como uma Hawkey, que eu sei que você é, a luta e as armas estão no seu sangue. Você, assim como eu, nasceu para isso. É contraditório, anormal, fora da realidade, mas somos mulheres e somos guerreiras ao mesmo tempo. Seu avô vai lhe dizer para estar sempre pensando, sempre antecipando golpes, sempre raciocinando em uma luta. Mas, filha, como mulher não é só isso o que você tem que fazer. Você tem que sentir Aria.

Sinta, sinta tudo a sua volta. Faça, nas suas lutas, o que você faz quando esta sentada em um galho no topo de uma arvore. Sinta o que esta ao seu redor, faça com que essas sensações se transformem em informações para você. Não faça da arma uma continuação do seu corpo como seu avô vai lhe dizer; porque nem sempre você vai conseguir ter a força necessária pra isso. Faça do seu corpo a arma para que seja ele que dite a força que você precisa.

E nunca se esqueça de que, como mulher, seus instintos valem mais do que suas estratégias. Desde que você aprenda a sentir o que existe em volta de você não vai haver força capaz de te derrotar. Também nunca se esqueça de que eu te amo minha filha.

Você foi, é e sempre será a minha maior batalha e a minha melhor conquista.

Com amor e saudades,

Da sua mãe

Ass. Sarah Hawkey

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POV Rendon

Ela sempre fazia isso, mas dessa vez eu soube que era diferente. Quando Mestre Eliot me contou que havia entregado a Aria uma carta que a mãe dela tinha deixado guardada em segredo com a minha mãe eu soube que Aria não apareceria para o almoço, e talvez nem para o jantar. Por isso resolvi deixa-la por algum tempo, mas no meio da tarde eu resolvi que já era tempo demais. Passei pelas cozinhas e Celine me entregou algumas frutas e pães recheados com queijo que eram os que Aria mais gostava. Peguei também um pouco de suco de maça e fui atrás dela.

Eu sabia onde acha-la, eu sempre sabia. Por isso não me apressei, caminhei calmamente até o bosque dando assim mais tempo pra ela. Quando cheguei perto do lago me surpreendi ao encontra-la no chão e não em uma das árvores. Ela estava de costas para mim, o cabelo castanho agora mais comprido do que o normal estava solto por alguma razão e caia sobre os ombros dela até quase o começo das costelas. Ela estava sentada com as pernas cruzadas e apoiava as mãos em frente ao corpo sobre as pernas. Eu não podia ver, mas o olhar dela parecia estar em algum lugar na direção das árvores do lado oposto do lago.

– Você demorou – disse a voz calma dela; era um tom de voz que ela quase nunca usava; era quieto e gentil; demonstravam um lado mais ameno e calmo dela.

– Me disseram que ela tinha deixado uma carta pra você – falei me sentando ao lado dela sem encará-la – Achei que precisaria de um tempo sozinha.

– Acertou – ela disse, eu sabia que não me olhava; Key apareceu descendo de algum galho – Ela está quase aprendendo a voar de verdade – observou Aria quando o falcão pousou a nossa frente.

– Sim, em pouco tempo vai estar voando por ai sozinha......assim como você – eu acabei falando enquanto começava a tirar a comida de dentro do pequeno saco de couro que Celine havia me entregado.

– Você podia ter vindo antes – disse ela fazendo com que eu a olhasse.

Aria estava me olhando, mas não com o mesmo olhar forte e desafiador de sempre; ela me olhava apenas, não me encarava como sempre fazia. Algo havia acontecido; algo que a carta da mãe havia dito. Esse algo havia acertado Aria de uma forma que a deixou diferente. Eu talvez pudesse afirmar que aquela era a primeira vez que eu encarava aqueles olhos cinzas sem ver nenhuma das defesas que Aria sempre tinha em volta de si mesma quando estava com alguma pessoa.

– Eu...achei que você fosse querer ficar um bom tempo sozinha – falei me sentindo idiota.

– O que trouxe ai? – ela me perguntou enquanto pegava um dos pães recheados com queijo e sorria com isso – É meu preferido – ela disse rindo baixo e depois soltando um suspiro – Obrigada Rend, por estar sempre preocupado comigo...e por nunca me deixar realmente sozinha.

– Faço o que posso – digo tentando fazer piada e forçando um riso, mas ao invés de brincar comigo ou rir de mim Aria faz algo que eu não esperava.

Sinto ela encostar a cabeça no meu ombro e quando olho para o rosto dela vejo-a com os olhos fechados. A expressão calma de um jeito que eu nunca tinha visto antes. Fico tão distraído que só volto a realidade quando ela começa a falar, ainda de olhos fechados.

– Eu falei sério seu bobo – é o que ela diz com um meio sorriso que logo some, mas ainda deixa uma expressão levemente divertida nela – Você....tem estado comigo desde sempre. Eu te agradeço por isso Rendon. Você é alguém muito importante pra mim. É um dos que eu realmente não quero decepcionar – ela abre os olhos e afasta a cabeça do meu ombro me encarando – Você é muito mais do que só um amigo Rendon – ela completa me encarando de um jeito sério.

Minha vontade é chorar de raiva e tristeza. E gritar que eu sei que não sou só um amigo, que sei que ela me tem como um irmão, assim como Tommy. Mas não faço nada disso porque eu nunca consegui me imaginar realmente sendo algo mais do que isso o que sou pra ela. Então apenas sorrio com um sorriso calmo e afasto uma mecha do cabelo castanho que estava caindo sobre os olhos dela colocando-a atrás da orelha de Aria antes de dizer:

– Eu sei disso. Sou um irmão pra você tanto quanto o Tommy é. Não tem que me dizer isso Aria; eu já sei. Cuidar de você é só algo natural pra mim.

Ela me encara sem dizer nada e eu não consigo decifrar aquela expressão que era completamente nova para mim. De repente um mínimo sorriso aparece enquanto ela desvia os olhos para o lago. Ouço um suspiro e a vejo balançar levemente a cabeça de um lado para o outro. Quando ela me encara de novo eu sei que estou com uma expressão confusa com as sobrancelhas quase juntas de tanto que estou franzindo a testa. Mas Aria apenas dá um sorriso calmo e então se levanta pegando alguns pães com a mão esquerda.

– Hey, onde você vai? – eu pergunto completamente sem entender e me levanto também – Tem que comer algo.

– Vou comer – ela diz me mostrando os pães – Obrigada por trazê-los pra mim. E obrigada por vir atrás de mim Rend – ela completa caminhando de costas antes de se virar.

Encaro as coisas que havia trazido e solto um suspiro, um suspiro baixo, mas que era um pouco frustrado também.

– Quase esqueço – ouço a voz dela falar e ergo o olhar vendo-a se aproximar de volta.

– Se fora a Key, eu cuido dela hoje, sem problemas – falo forçando um meio sorriso e ela ri terminando de se aproximar.

– Eu já sabia que você faria isso por ela e por mim – ela diz rindo ainda, então para na minha frente olhando para cima já que eu era mais de uma cabeça mais alto do que ela – Era isso que eu quase tinha esquecido – ela fala e então eu fico de olhos arregalados e sem saber o que fazer.

Aria ficou na ponta dos pés enquanto segurava a frente do eu casaco me fazendo inclinar um pouco para frente. Então ela beijou minha bochecha me fazendo corar como um idiota e se afastou sorrindo sem dizer mais nada e me deixando ali no meio do bosque quase como uma estátua.


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Notas finais do capítulo

Oq acharam? Me digam pra eu saber se estou fazendo td certo ainda (me refiro a narração em si......já q estou meio que escrevendo na base da persistência msm)
Espero que tenham gostado.
Comentem prfv



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