Meu Vizinho é um Vampiro! escrita por KaulitzT


Capítulo 1
Prólogo.




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______________________Veneza - 1870_________________________

O vento frio de Veneza causava-me arrepios. A noite estava sombria, os galhos secos das árvores emolduravam perfeitamente a lua refletida sob o canal.
Minhas mãos soavam frio, mas embora a temperatura estivesse consideravelmente gélida eu sabia que não era por esse motivo que eu me sentia tão frio e paralisado. Cerrei as mãos que repousavam em meu joelho e tentei manter a respiração calma.

Ouvi-a se aproximar. Madeline estava graciosa como sempre estivera desde que passou a morar com minha família no castelo. Embora fosse apenas uma criada, uma plebeia que havia sido comprada por um preço insignificante para nos servir, ela tinha algo especial e se não a conhecesse poderia achar que ela pertencia a realeza assim como eu. Ela usava um vestido roxo e embora o tecido fosse um tanto bruto ela estava perfeita e majestosa. Seus cabelos caiam suavemente nos ombros e seus cachos, ah como eu sentiria saudades deles.

Aproximei-me o mais devagar que pude, eu queria poder admirá-la antes de partir e com certeza aquela imagem seria a mais dolorida de minhas lembranças. Ela sorriu e seus lábios levemente vermelhos mostram seus dentes brancos e impecavelmente alinhados. Seu sorriso era sem sombra de dúvidas a mais maravilhosa obra de Deus. Madeline era a criatura mais linda e admirável que eu havia visto em toda a minha existência.

– Querido. - Ela segurou uma de minhas mãos enquanto esticava-se para depositar um leve beijo em meus lábios. - O que seria tão importante e perigoso que não poderia ser tratado na segurança dos altos muros do castelo?

Sua voz. Uma linda melodia na qual de forma alguma eu me importaria em ouvir pelo resto de minha vida. Procurei as palavras certas para dizer, mas me peguei hipnotizado por sua beleza enquanto seus cabelos voavam levemente com o vento que soprava fraco.

– Alek? - Ela chamou meu nome com suavidade. Por um minuto fechei os olhos e emergi em meus pensamentos. A delicadeza de sua voz ao chamar meu nome, como poderei viver sem isso?

– Eu sinto muito. - Respondi ainda de olhos fechados, eu não a conseguia encarar. Não com o que eu tinha para lhe dizer.

– O que foi, querido? - Ela perguntou agora com uma dose de preocupação em sua voz.

– Madeline. - Comecei. Eu tentava de várias maneiras organizar os pensamentos que me impediam de prosseguir. Eu lutava contra mim mesmo para encontrar as palavras certas a dizer, mas nada parecia certo quando se tratava de meu rompimento com meu grande amor. - Precisarei partir. - Disse finalmente.

Quando abri os olhos meu coração despedaçou-se. Os olhos de Madeline gritavam por uma explicação e agonizavam em dor.

– O que? Partir? Como assim? Porque? - Ela estava tão assustada e disparou todas as perguntas que a causavam dúvida.

– Eu a amo, com toda a minha vida. - Sussurrei aproximando-me para abraçá-la mas ela logo se afastou.

– Não me trate como uma tola, Alek. - O olhar de Madeline tinha uma mistura de tristeza e raiva profunda.

– Você não é uma tola, de forma alguma. - Eu a estava ofendendo, então o melhor a fazer era contar logo a verdade. - Meus pais descobriram sobre nós e estão furiosos. - Confessei. - Você melhor que ninguém sabe como funciona a corte e a política Bathory. Não poderemos ficar juntos de forma alguma. O rei me deu duas escolhas e eu já fiz a minha.

– E qual é? - Madeline perguntou com a voz embargada pelas lágrimas que já rolavam por sua delicada face.

– Eu vou me casar com Katharine Vlad. - Respondi tentando não deixar com que meus sentimentos atrapalhassem ainda mais.

– Não, Alek. - Madeline abraçou-me com força. - Eu o amo e não posso existir se não estiver com você. Deve ter outro modo, uma deixa que poderemos contornar... - Ela estava desesperada e sabia que as ordens de meu pai eram incontornáveis e que ele não permitiria que uma plebeia ficasse em seu caminho, atrapalhando a política de nosso reino.

– Eu preciso fazer isso, meu amor. - Abracei-a forte. - Preciso partir para a província de Vlades para iniciar o cortejo com Katharine.

– O rei lhe deu duas escolhas, qual é a outra?

Engoli seco. Essa nem deveria ser uma opção.

– Não importa, minha querida. - Murmurei tentado afastar a responsabilidade de meus ombros.

– Diga-me, Alek. Por favor. Eu imploro.

Respirei fundo.

– Se não me casar com Katherine Vlad, meu pai, o rei, colocará fim a sua vida. - Disse finalmente.
Madeline estremeceu em meus braços e eu a apertei com mais força.

– Eu sinto muito, minha querida. - Isso era injusto. Madeline e eu poderíamos nos casar, estávamos apaixonados e ela não prejudicaria os meus deveres como futuro rei. Eu a amava com todo o meu ser, e preferia a morte a ter que deixá-la para me casar com Katherine. A vida sem Madeline seria amarga e vazia, fria como os corredores do castelo no inverno. Jamais poderia viver e ser feliz sem ela, sem meu amor.

– Ora, ora, ora. - Madeline e eu saltamos sincronizadamente por conta do susto ao ouvirmos aquela voz.
Era Katherine. Minha futura esposa.

– O que faz aqui, Katherine?- Perguntei, ainda com Madeline em meus braços.

– Meu lindo noivo, traindo-me com essa criada - Ela cuspiu as palavras. - O que vê nela, meu caro Alek? O que vê nessa arrumadeira sem dotes, nessa simples e mera plebeia?

– Eu a amo, Katherine.

– Óh. - Ela pôs a mão sobre o peito como num sinal de incredulidade, como se eu a tivera ofendido. Subitamente um sorriso maligno desenhou-se em seu rosto. - Você é meu futuro marido, e será só meu.
Katherine olhou para Madeline e ordenou:

– Morra.
Ainda em meus braços pude sentir o corpo de Madeline enrijecendo, perdendo sua temperatura e equilíbrio.

– O que é isso? - Gritei desesperado enquanto Madeline parecia morrer em meus braços.

– É o que ganha por trair sua noiva, querido Alek. - Katherine respondeu tranquila.

– Madeline. - Clamei por seu nome, enquanto a deitava delicadamente no chão frio, procurando vida em cada parte de seu corpo. Tentativa frustada.

– Traga-a de volta, Katherine. Agora! - Ordenei.

Katherine apenas riu, um riso maligno e perverso. Ela olhava para Madeline empolgada, como se adorasse tudo aquilo. Como se estivesse se alimentando de meu sofrimento.
Levantei-me, e fui abruptamente em direção a Katherine.

– Traga-a de volta para mim! - Gritei enquanto minhas mãos agarravam o pescoço de Katherine com toda força.

– Solte-me. - Katherine pedia sem folego enquanto se debatia. Com uma força subumana aquela bruxa empurrou-me para longe. Pude ouvir o barulho dos ossos de minha costela quebrando.
Ela estava lá, parada, esguia e intacta.

– Seu tolo, acha que pode lutar contra mim? - Ela riu monstruosamente. - Eu amaldiçoo você e toda sua família pelo resto da eternidade. Vocês serão os monstros sanguessugas que sempre foram.
Katherine desapareceu, deixando-me agonizando com o corpo de minha amada nos braços.

______________Califórnia - Nos dias atuais________________

Eve fez um alongamento, esticando-se por completo. Cheguei a me incomodar com o barulho do ossos de suas articulações estalando.

– Isso é mesmo necessário? - Perguntei enquanto observava minha melhor amiga se contorcendo a ponto de praticamente quebrar.

– Claro que sim - respondeu ela, sorrindo. - Não quer que eu tenha câimbra ao entrar na água e me afogue, ou quer? - Ela parou com a mão no queixo como se estivesse pensando, ou melhor analisando opções viáveis. - Se bem que eu me afogaria de bom grado só para ganhar uma respiração boca a boca com o gato do salva vidas.

– Você só diz besteira. - Eu ri.

– Ih Amy, não olha agora, mas Jake esta bem ali com Stacie Karm.
Eve sabia o quanto aquilo me magoaria a um tempo atrás, mas depois de me dar conta de Jake havia superado o fim do nosso relacionamento eu jurei a mim mesma que não sofreria mais por ele.

– Tudo bem, Eve. - Suspirei. - Eu não vim aqui para pensar em Jake, vamos surfar ou não?

– Só se for agora.

Pegamos nossas pranchas e corremos para o mar. A água estava fria e arrepiei ao toque, mas eu já estava acostumada e já havia surfado em águas muito mais gélidas.

O mar estava calmo e as ondas tranquilas, mas Eve e eu conseguimos pegar algumas ondas. Enquanto estava no mar pude ver Jake e Stacie felizes na areia. Quanto mais ela o empurrava mais ele queria se aproximar. Meu coração parou de bater quando ele a beijou.

– Ei, Amy. - Eve chamou-me e eu já sabia o motivo. - Sai dessa.

– Eu vou para casa. - Anunciei.

– Qual foi, Amy? - Eve gritou um tanto furiosa. - Não deixa esse otário estragar seu dia.

– Eu te ligo depois. - Anunciei, enquanto remava de volta para a terra firme.
Quando voltei para a areia olhei mais uma vez para o casal feliz, talvez eu gostasse de me auto torturar tanto assim, mas quando Stacie viu que eu os olhava ela o puxou para ainda mais perto, beijando-o com ardor.
Merda.

Entrei no meu Chevette 1980, e por costume peguei o celular.

"Uma chamada perdida: Pai"

Pensei em retornar a ligação, mas como eu estava voltando para casa achei que seria melhor esperar.
Encostei o carro em nosso quintal, guardei minha prancha na garagem e segui para o Hall de entrada de minha casa.
Papai me esperava, contente.

– Amy, temos vizinhos novos. - Disse ele animado demais e eu bem sabia o motivo. Nossos últimos vizinhos haviam sido os Mccoy. Pessoas impertinentes e completamente abusivas. O mais novo da família dava festas quase toda a noite. Já perdi as contas de quantas vezes meu pai havia ligado para a polícia reclamando da música alta.

– Ótimo, e quem são?

– Eu ainda não sei ao certo, mas pelo que vi o caminhão de mudanças deixou alguns móveis e cá entre nós - Papai colocou a mão entre o nariz e a bochecha como se quisesse contar um segredo - A decoração é magnifica. Sofisticada, algo que eu nunca tinha visto na Califórnia. Nosso vizinho é certamente um homem muito rico.

Ótimo. Não que eu pudesse prever o futuro ou algo assim, mas com absoluta certeza papai iria bajular os vizinhos novos. Não me surpreenderia se ele tivesse feito uma torta de maça e me convidasse para ir á casa ao lado entregá-la.

– Suba querida e coloque seu melhor vestido. Vamos visitar nossos novos vizinhos. Eu fiz torta de maça e alguns bolinhos de peixe. Nada como uma política de boa vizinhança não é?

Sabe, se nada der certo cogito a possibilidade de me tornar uma vidente.

Embora achasse aquilo tudo desnecessário, estávamos no hall de entrada da casa ao lado da minha. Diferentemente do que meu pai me pediu, eu não coloquei vestido coisa alguma, seria formal demais e afinal por que eu precisaria me arrumar toda para ir ali do lado, literalmente? Prendi o cabelo num rabo de cavalo mal arrumado, coloquei uma regata, uma calça jeans, meus tênis surrados e para mim estava ótimo.

Papai tocou a campainha. Aquilo era tão filme americano dos anos 80. Qual é, eles acabaram de se mudar, deviam estar arrumando suas coisas, deviam estar cansados e mesmo assim nós estávamos ali os incomodando.
Segundos depois a porta se abriu. Uma bela mulher loira de olhos levemente verdes nos recebeu.
Ela era simplesmente linda. Esguia e seu porte representava presença.

– Olá. - Ela nos cumprimentou simpática, mas um tanto desconfiada.

– Olá, somos os Brandon, seus vizinhos. - Papai anunciou, esticando a mão para cumprimentá-la.

– Prazer em conhecê-lo senhor Brandon. - Respondeu sorrindo. - Meu nome é Judite Bathory.

– Essa é minha filha Amélia. - Disse papai apresentando-me.

– Oi. - Respondi sorrindo. Embora não estivesse animada para isso eu sentia necessidade em ser educada com ela e em parecer legal.

– Olá Amélia. - Ela respondeu séria, diferente de como fez com meu pai. Olhava-me de forma profunda e bem estranha, diria eu.

– Entrem por favor. - Ela pediu.

– Trouxemos uma torta de maça. - Disse papai. Eu estiquei a mão para entregar a torta aquela linda mulher. Nossos dedos se encostaram durante a entrega. Sua pele era fria e aquilo me causou extremo desconforto.

– É muita gentileza. - Disse ela, mas agora não tão simpática como antes. - Entrem por favor.
Quando ela nos cedeu passagem pude ver que papai estava vislumbrado com a decoração da casa. Tudo era muito bonito, pareciam peças de um museu renomado. Com certeza eles não eram americanos. A casa inteira tinha um ar europeu, eles poderiam ser da realeza inglesa, a julgar pelos móveis refinados.

– Quero que conheçam meu sobrinho, Alek.

Quando olhei para a escada, o vi.

Nunca havia visto em toda minha vida um garoto mais perfeito. Ele descia as escadas de forma imponente e muito charmosa. Parecia mesmo que eu havia saído da Califórnia e agora estava dentro de um castelo, com certeza aquele garoto seria o príncipe.

Ele vestia um sobretudo preto, botas e calça pretas também. Diferente de sua tia, ele tinha olhos bem escuros, cabelos pretos levemente desarrumados, o que o deixava ainda mais charmoso. Ele poderia ser um tipo de príncipe gótico ou algo assim. Uma beleza que antes era desconhecida a meus olhos.

– Alek, estes são os Brandon. - Judite nos apresentou ao sobrinho.

– Senhor. - Alek fez algo como uma quase reverência.

– Encantado, senhorita Brandon. - Ele pegou minha mão e a beijou, olhando dentro dos meus olhos de forma penetrante, misteriosa e um tanto perversa.


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Notas finais do capítulo

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