Nebbia escrita por Lady


Capítulo 7
06 - Nebbia.


Notas iniciais do capítulo

Yoshi u.u
E aqui estamos com o antepenultimo capitulo o/
Falta pouco em gente, mas será que com as tretas desse capítulo vocês ja nao entenderam alguma parte do plano?
E o que veremos =w=
Boa leitura



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Quinta-feira, 08 de Novembro de 2009.

Localização: Mansão Vongola.

Nota: Ainda que a traição tenha um bom motivo, o traidor é sempre odiado.

Adentrou silencioso na grande mansão. Sua presença era imperceptível a todos, menos as câmeras que acompanhavam cada passo dado.

Limitou-se a um sorriso de canto logo após derrubar um dos poucos seguranças que rondavam a casa a aquele horário. Subiu as escadas numa calmaria controlada. Esse era o prelúdio antes da tempestade nebulosa.

Seguiu pelo corredor limpo e vazio. Sem empregados, sem ninguém, só o calor da alma que ansiava por uma batalha; mas que logo seria saciado.

Parou se súbito frente a uma porta deveras familiar. O sorriso em seus lábios desapareceu tão rápido quanto viera. Girou o trinco e adentrou no quarto escuro. De armas em mãos, envoltas por chamar arroxeadas, ele avistou quando o corpo adormecido se mexeu sobre a cama.

Bateu a porta com força, logo vendo o individuo adormecido acordar em um pulo, assustado. Viu-o remexer-se e esfregar os olhos, antes de focar as orbes bicolores em si. A pouca iluminação gerada pela lua fora o suficiente para que Mukuro reconhecesse o inóspito visitante.

– Cotovia?

(...)

Quarta-feira, 07 de Novembro de 2009.

Localização: Desconhecida.

Nota: Confie e será traído. Descuide-se e será morto.

Caminhava sozinha pelo corredor silencioso. Vez ou outra observava as redondezas, temendo algum perigo. De alguma forma tinha um mau pressentimento, ainda mais no lugar que se encontrava.

Calmamente continuou seus passos pelo corredor de paredes e portas metálicas. Às vezes podia ouvir o tímido som de eletricidade, ou mesmo o baixo rangido de maquinas, mas não se surpreenderia por aquilo, afinal Verde possuía uma quantia imensurável de aparatos naquele esconderijo, não seria novidade alguma que um destes aparatos estivesse em teste.

Respirou profundamente logo quando se viu no fim daquele imenso corredor metálico. A porta a sua frente abrira-se no instante em que a ex-Arcobaleno Ilusionista pusera-se frente a esta.

Adentrou em passos calculados na sala escura e logo a porta atrás de si fechou-se, no mesmo instante uma luz iluminou a mesa onde o ex-Arcobaleno Cientista encontrava-se, frente a este, diversos papeis que – provavelmente – eram as informações que o mesmo disse que obtivera sobre Chrome Dokuro e o incidente de um ano atrás.

– Onde estão todos? – questionou. Era deveras incomodo permanecer apenas na presença daquele homem, não que Marmon fosse admitir isso alguma vez, mas isso não mudava seu pensamento a respeito do cientista.

O ex-Arcobaleno do Trovão levantou seus infantis olhos para fitar a menina que sentava-se a sua frente. Quase sorriu diante da inocência daquela que já fora tão poderosa e temida quanto qualquer outro Arcobaleno.

E num estalar de dedos a sala iluminou-se completamente e, para o horror da agente Varia, as paredes eram divididas em compartimentos e cada um destes tinha uma criança – mais especificadamente um ex-Arcobaleno – desacordada.

Arregalou os olhos pondo-se de pé enquanto a cadeira atrás de si ia ao chão.

– Não torne tudo tão complicado. – murmurou-o sentindo o chão tremer e logo desaparecer. As paredes da sala derreteram e os corpos infantis flutuaram, enquanto abaixo deles centopéias gigantes rastejavam. As ilusões da garota jamais haviam sido tão perigosas quanto naquele momento.

– O que diabos pensa que está fazendo? – argumentou a garota. – Está nos traindo Verde?

A criança de cabelos esverdeados sorriu de forma singela antes de ver o corpo da garota ir ao chão e toda ilusão desaparecer assim os levando de volta a sala totalmente iluminada enquanto, mais a esquerda do corpo caído, Chrome Dokuro erguia uma arma cuja antes fora carregada com tranqüilizantes leves.

Lentamente o Cientista aproximou-se da Ilusionista Varia. Abaixou-se próximo a mesma, notando-a ainda consciente – por enquanto. Tudo sob o olhar afiado da Dokuro.

– Não leve para o lado pessoal. – murmurou tomando o corpo mole nos braços pequenos. Os olhos que poucas vezes ficaram visíveis o fitaram num temor mudo. – São apenas negócios.

(...)

Quinta-feira, 08 de Novembro de 2009.

Localização: Mansão Vongola.

Nota: A dor e a raiva podem sim mudar as pessoas.

Abriu a porta do próprio quarto de súbito, isso logo após ouvir novamente os gritos histéricos e doloridos, estes que provinham de um aposento um tanto quanto pouco utilizado.

Andou pelo corredor, passando pelo quarto de Hibari – sabendo que este estava vazio, apesar da porta aberta -, viu Yamamoto, Lambo e Ryohei deixarem seus aposentos. Timoteo não demorou a juntar-se ao grupo de Guardiões que logo se puseram frente aos aposentos de Mukuro.

– Não... Pare... Par...! – e seguido ao rogo quase choroso de uma voz peculiar, pode-se ouvir novamente o grito banhado em dor. – Fique longe de mim!! - E isso foi o necessário para um dos Guardiões do Nono chefe Vongola arrombassem a porta do quarto da petulante Nevoa.

Primeiramente tudo o que viram foi à figura em pé, imponente segurando um par de tonfas, mas nem de longe a presença de Hibari era algo a surpreender, e sim o fato de que, suas armas – estas que antes brilhavam em um tom índigo-arroxeado – agora possuíam dois tons. O roxo ainda se mostrava, mas havia faíscas avermelhadas brilhando, queimando. Como uma tempestade em seu inicio.

– Hibari Kyoya. – murmurou Gokudera, mas só então a presença fora notada frente ao imponente Guardião da Nuvem.

Mukuro arfava enquanto pressionava a mão sobre o lado direito da face. Sangue escapava entre seus dedos enquanto este fitava num misto de horror e ódio o antigo rival a sua frente.

– O que está acontecendo aqui? – questionou o atual Céu Vongola.

Fora a vez de Kyoya virar o corpo de forma parcial enquanto erguia a mão direita – quase triunfante -, e ao abri-la todos puderam contemplar um olho, não qualquer olho, mas sim aquele scarlet cujo dava a Mukuro o poder dos Seis Caminhos da Reencarnação.

Aqueles que puderam vislumbrar o sorriso sanguinário na face de Hibari apenas tremeram diante da aura que exalava do corpo do Guardião – todos, sem exceção, ainda lembravam-se de quando o mesmo perdera o auto-controle. Assim muitos se recordavam do por que aquele homem era o mais temido e poderoso Guardião Vongola.

E da mesma forma silenciosa com que adentrou da mansão, Kyoya foi-se, não pela porta da frente, mas pelo bater das asas da Nevoa silenciosa que se arrastou pelo piso do cômodo.

Ainda atordoados levam o poderoso Guardião da Nevoa a enfermaria. Seu olho fora arrancado, alguns de seus ossos estavam quebrados, mas nem de longe esses foram os maiores danos. Seu orgulho e ego haviam sido pisados de uma forma que exigiam que o Rokudo destruísse Kyoya. E, bom, era isso que o azulado já estava providenciando em mente.

(...)

Sexta-feira, 15 de Novembro de 2008.

Localização: Mansão Vongola.

Nota: Palavras ferem, mas o silencio... O silencio tortura.

Amassou o papel que tinha em mãos, apenas mais um a se juntar a pilha na lixeira. Continuou a remexer pelas pilhas que jaziam sobre sua mesa abarrotada.

Os segundos viraram minutos, estes que logo se transformaram em horas até que, enfim, Hibari Kyoya encontrou aquilo que tiraria suas duvidas de uma vez por todas.

Delineou as bordas duras e douradas do envelope. O selo era marcado pelo único símbolo da Nevoa e isso era o que mais intrigava a solitária Nuvem.

Sem pressa abriu-o e, com menos pressa ainda, leu a mensagem deixada para si pela Guardiã da Nevoa.

Arregalou os olhos diante de cada palavra que lhes era oferecida. Era quase um choque misturado a um ódio imensurável.

Como eles puderam?

Naquele dia Hibari negou-se a deixar seus aposentos. Nem ao jantar oferecido pelo Nono o moreno deu o ar de sua presença, pois ele sabia que se o fizesse reduziria todos naquela sala a uma pilha de corpos mutilados.

A noite não tardou a chegar trazendo consigo as nuvens nebulosas de tempestade. O céu expressava apenas um quarto do que o moreno sentia - talvez até menos que isso.

A madrugada se arrastou diante do ódio indescritível que impedia a solitária Nuvem de adormecer. Não era culpa, ou mesmo remorso, pois Tsuna sempre o conheceu o suficiente para saber tudo sobre si e ao mesmo tempo não saber nada. Mas - porra - ele era a Nuvem solitária, ele podia ignorar seu chefe, eles não. Então por que diabos aqueles herbívoros nojentos ousaram mentir e esconder verdades do onívoro?

As mãos tremiam frias nos punhos fechados. Os dentes rangiam tamanha vontade de bater até a morte em alguém - e, dessa vez, ele teria certeza de que realmente mataria a pessoa que o enfrentasse.

E os dias se seguiram. Cada missão realizada por Kyoya terminava com estragos maiores que o esperado. Primeiramente fora um prédio completamente levado a baixo – um prédio de trinta e seis andares num bairro administrativo -, logo uma pequena família mafiosa inimiga da Vongola fora extinta. Não tardou muito para que piorasse ainda mais.

Em sua ultima missão, cujo deveria reunir informações a respeito de uma família nomeada Rain, esta que ainda estava em sua terceira geração apesar de ser realmente grande, e também uma poderosa inimiga da Vongola e de Tsunayosh; Kyoya deveria apenas extrair o máximo de informações sobre o chefe inimigo, e também descobrir se tal família seria um real perigo a grande Vongola, mas no momento em que foi citado que a morte de Tsunayoshi havia sido um grande ganho para eles, o auto-controle – bem escasso na verdade – de Hibari foi pelo ralo e em poucas horas os setecentos e vinte e nove membros daquela família que se encontravam presentes – junto ao chefe e seus guardiões – formavam apenas pilhas e pilhas de cadáveres enquanto o poderoso e imponente Guardião tratava de caçar os pouso que conseguiram fugir, e o restante dos que não se encontravam presentes.

Em menos de uma semana da família Rain deixou de existir no submundo e isso não demorou muito a chegar aos ouvidos dos chefes – aliados e inimigos da Vongola. Muitos tremiam apenas de ouvir o pronunciar do nome de Hibari, já outros se quer desejavam estar em sua presença esmagadora. Tal incidente apenas plantou o medo e demonstrou o quão poderoso a impiedosa Nuvem Vongola poderia ser.

Mas o pior de tudo nem mesmo fora esse deslize. Um mês após tal acontecimento a Nuvem fora abordada pelo Guadião da Tempestade da nona geração e as palavras ditas pelo homem foram o suficiente para que o pior viesse a acontecer. O confronto destes levou abaixo pilares de sustentação da casa, chamando a atenção dos Guardiões de ambas as gerações e também mandando para longe os empregados assustados.

E mais uma vez a poderosa Nuvem mostrou-se impiedosa, mesmo com os próprios aliados. Kyoya descontou todo o ódio que estava segurando desde que chegara a carta, todo o ódio que havia sobrado desde que começara sua destruição parcialmente descontrolada nas missões.

Foi questão de minutos para que os doze Guardiões estivessem ao chão, conscientes o suficiente para sentirem a dor do silencio da poderosa, sanguinária e raivosa Nuvem.

(...)

Sábado, 10 de Novembro de 2009.

Localização: Mansão Vongola – Sala de Conferencia.

Nota: Eu tenho excesso de pensamentos... Principalmente á noite.

– Como está a situação em Vindicare? - indagou Irie Shouichi, chefe de pesquisas tecnológicas e, em poucos casos ou na ausência de Tsuna, estrategista oficial da Vongola.

Muitos olhares decaíram sobre si, mas logo tornaram a retornar ao Nono. Era uma situação delicada aquela, ainda mais com Uni insistindo para que Byakuran e ela tornassem a criar a Millefiore. A jovem queria vingança a todo custo.

– Ryohei conseguiu um relatório dos estragos. - anunciou Gokudera. - Mas não houve nada tão prejudicial nem fuga de prisioneiros, exceto por Chrome Dokuro é claro. - assim o Guardião da Tempestade recuou em silencio. Agora era só esperar as respostas dos chefes.

Mas antes que os burburinhos - estes que já haviam começado - aumentassem, um baque incomum silenciou desde a jovem Giglio Nero ao barulhento chefe da família Tomaso.

– Antes que comecem com hipóteses ridículas... - começou o Kozato. - Devo informar que, aparentemente, aqueles que deveriam impor ordem no submundo estão, de alguma forma, ligados a nossa atual inimiga.

Fora instantâneo para que muitos ali gelassem mediante aquelas palavras. Primeiro Hibari Kyoya o mais poderoso Guardião, agora Vindice.

– E não se limita a isso... - continuou. - Desde que podemos notar a falta de Reborn e também o súbito desaparecimento de Marmon, creio que há alguém ainda mais poderoso envolvido com Chrome. - e assim o ruivo ergueu-se de seu acento. Deveria a todo custo passar aquela informação, mesmo que se desviasse do plano estipulado por Verde. Abriu a pasta e pôs, diante de todos, algumas fotos da Dokuro onde fora vista, mas aquela que mais chamou a atenção e abismou a todos fora a que a mulher encontrava-se acompanhada de uma criança com jaleco branco. Uma criança que Uni conhecia.

– O ex-Arcobaleno do Trovão, Verde, aliou-se com ela. - afirmou o que todos temiam.

O choque se fazia presente na face de todos. Como confrontar um inimigo que tomou os possíveis aliados mais poderosos?

O ruivo respirou fundo, contando mentalmente enquanto mordia a língua, não podia abrir a boca, não depois de ter concordado com aquele plano, na verdade nem deveria ter aceitado... Mas, droga, amava demais seu único melhor amigo para poder negar algo assim.

Em plenos vinte e sete segundos a porta da sala de reuniões foi aberta e desta surgiu Lambo com algumas manchas vermelhas visíveis em seu terno.

– Lambo, o que aconteceu? - questionou Timoteo erguendo-se de seu lugar.

O adolescente sequer respondeu quando atrás de si materializou-se um corpo feminino bastante familiar. Como uma cobra após ter sua frágil presa, Chrome envolveu o Bovino com os braços enquanto sorria. Foi repentino para que todos - incluindo o ruivo que seguia cada detalhe com maestria - se erguessem de seus lugares. Armas em punho, todas direcionadas a imparcial Dokuro.

A mulher sorriu e piscou, antes de beijar o jovem e serio Guardião do Trovão na bochecha.

– Pegou o que pedi? - a voz baixa e suave fez-se presente ao pé do ouvido de Lambo, este que quase tremera por aquilo. Quase.

– Sim. - murmurou retirando dos bolsos cinco dos sete anéis Vongola.

Ouviu-se o engatilhamento e um disparo. A bala desintegrou-se pelas chamas do Trovão antes mesmo de alcançar uma proximidade perigosa.

Aquela foi à deixa para o ruivo. Repentino e brusco, Enma virou-se para Gokudera e disparou em seu ombro fazendo-o largar suas armas box e fazer uma careta de dor. E antes que qualquer outro interviesse, ou pudesse fazer algo relativamente perigoso, o ruivo já estava ao lado do Nono forçando o velho a soltar sua bengala enquanto apontava a arma de fogo direto para a cabeça do mesmo.

– Nem mais um passo. - soou a voz da Dokuro calmamente.

Com calma e ignorando a atmosfera pesada, Lambo tomou os anéis da Tempestade e do Céu, unindo-os ao outros, e logo quanto todas as sete peças encontravam-se unidas, o Bovino depositou sobre a mesa um envelope roxo de detalhes dourados e assim caminhou de volta para a Guardiã.

– As coisas estão boas, mas está na hora de irmos. - e num movimento simples todos, incluindo os quietos e aterrorizados Guardiões Shimon, desapareceram na Nevoa tênue.

(...)

Domingo, 11 de Novembro de 2009.

Localização: Mansão Vongola – Enfermaria.

Nota: Eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo.

Baixou o olhar para a fotografia em mãos. O reflexo que a moldura mostrava estava longe de parecer com a real foto sua gravada naquele papel.

Por reflexo Mukuro levou a mão livre ao lado direito da face, tocando as faixas que envolviam parte do seu belo rosto. Nunca imaginou que aquilo pudesse acontecer, nem mesmo que Hibari fosse o autor. Era certo que eram rivais mortais, mas isso já era demais. Ele arrancou seu olho, droga.

Afastou os pensamentos, não queria sentir ódio naquele momento, não queria sentir nada, só a fatídica nostalgia dos tempos em que tudo era certo, em que a presença de sua querida e doce Nagi, era tudo o que ele tinha, e que jamais trocaria por qualquer outra coisa.

Deslizou os dedos pela imagem através do vidro do porta-retratos. Na foto não tinha ninguém além de si e Chrome, ambos usando roupas de gala afinal o retrato fora tirado durante uma grande festa em comemoração ao aniversario de Tsunayoshi.

Sawada Tsunayoshi. Mesmo mentindo dizendo que não era Guardião dele, Mukuro sabia que era, que fazia parte daquela Família. Mesmo que sempre tivesse como objetivo possuir o corpo do moreno, o Rokudo sempre teve em mente o fato de que estava ali também por Chrome. Sua dócil Chrome. Mas de alguma forma ela não era mais tão dócil assim. Não era mais a mulher que tantas vezes buscou conforto em seus braços.

Largou o retrato sobre o criado mudo ao lado da cama. Não adiantaria de nada remoer o passado, tinha de se vingar e descobrir por que sua Nagi estava daquele jeito. Devia haver um motivo por trás de tudo aquilo.

Piscou, e quando ergueu o olhar fora apenas para deparar-se com a figura esbelta de cabelos longos e azulados, cujo corpo era delineado perfeitamente por uma camisola branca transparente. O desejo ardeu sob sua pele quando contemplou o corpo que se aproximava de si, sensual e delicado.

Arfou, ao sentir o colchão abaixar sob o frágil peso da Dokuro que lhe fitava curiosa. Viu os lábios finos e delicados moverem-se de forma muda antes do toque gélido dos dedos da mulher traçarem as faixas que escondiam o buraco deixado pela falta do olho.

Mesmo que não quisesse admitir, a presença dela era agradável a si. Mesmo que se recriminasse por isso, adorava Chrome de uma forma que jamais pensou o fazer; adorava mesmo esse lado mal que a mesma demonstrava; apensar de que amava ainda mais o lado frágil, gentil e doce a mesma sempre teve – e que provavelmente ainda tinha.

Inclinou a cabeça, cedendo sob o afago carinhoso à mulher. Era proibido, e não deveria se render, ou baixar a guarda; mas perdia as próprias rédeas quando estava na presença dela, ainda mais na forma com a qual ela encontrava-se naquele momento.

Com suavidade envolveu a cintura fina puxando-a mais para perto e afundando o rosto no pescoço desnudo. Depositou um beijo cálido sobre a pele e inalou fortemente o perfume doce e atraente que exalava da pele macia.

Ouviu o riso baixo e suave, e quase sorriu diante dele. Mesmo depois de um ano, a risada ainda tinha o mesmo som e ainda era agradável a si.

Sentiu-a empurrá-lo com leveza antes de se aproximar novamente e depositar um simplório beijo na sua testa.

– Nagi... – o murmúrio fora quase doloroso e triste. Acariciou a face pálida da mulher apreciando as feições belas da mesma. Agora, mais do que nunca, eles eram parecidos; afinal o Rokudo também teria de usar um tapa-olho do lado direito da face, tudo bem que ele poderia criar a ilusão de um olho no local, mas não seria a mesma coisa. E até poderia ser, mas Mukuro queria usar aquele desastre a seu favor, ao menos isso. Ao menos para lembrar-se de sua preciosa flor violeta.

Delicadamente a azulada afastou-se. E sob o olhar curioso da Nevoa que se tornava cada vez menos densa e mutuamente mais frágil, a Dokuro depositou um envelope arroxeado sobre o criado mudo – frente ao retrato que a pouco o homem apreciava – e assim partiu, não sem antes apreciar uma ultima vez o homem que tanto se questionava o porquê de amá-lo.

(...)

Domingo, 06 de Outubro de 2008.

Localização: Mansão Vongola – sala de treino da Nevoa.

Nota: Vai doer, mas às vezes é preciso fazer a coisa certa.

O tridente cortava o ar com uma precisão difusa antes dos pilares de fogo abrirem caminho pelo chão de madeira, a lava logo escorria das perfurações no solo, escorrendo cada vez mais rápido em direção aos Gola-mosca que buscavam refugio nos céus; um erro pois a coruja branca – coberta por chamas da Nevoa – banhava-os com penas afiadas e precisas.

Em pouco tempo mais um grupo de peças de metal ia ao chão enquanto a Dokuro ofegava pela quantidade de chamas que usou em poucas horas. Já era a quinta rodada seguida, sem pausa para descanso ou para comer. Foram – em media – cinqüenta Golas-mosca destruídos, e cinco King-mosca aos restos.

Ofegou, segurando firmemente o tridente enquanto o brinco da Nevoa tilintava em sua orelha. Ainda segurando o tridente a mulher escorreu para o chão, sentando de forma cansada e ofegante enquanto suava como nunca. Sentiu um nó em sua garganta e da mesma forma pode sentir um pouco de sangue vir a seus lábios, mas ela ainda sim queria continuar por que a maldita situação estava destruindo-a por dentro e Chrome já não agüentava mais apenas repassar tudo o que sabia a Tsuna sem poder fazer nada para sanar a culpa, o receio e a preocupação que se formavam em seu precioso Boss.

Tossiu o pouco de sangue que lhe veio à garganta. Já sentia os efeitos por ter abusado de suas chamas quando dependia das mesmas para criar os próprios órgãos.

Rangendo os dentes pôs-se de pé mais uma vez. A amargura ainda era maior do que a dor, e enquanto pudesse se manter de pé e consciente ela descontaria sua frustração em algo; ou alguém.

Mais um King-mosca surgiu de uma porta metálica que havia do outro lado do grande salão. E mais uma vez a Guardiã partia para o ataque ignorando a dor que quase lhe impedia os movimentos.

E quando, pela qüinquagésima sétima vez seguida, ela destruiu outra maquina, Tsunayoshi surgiu à entrada da sala de treino, exigindo com toda sua autoria saber o porquê da moça estar se forçando a tudo aquilo. Foi o silencio que ganhou, o silencio pesado e triste da Guardiã ferida e cansada.

Mesmo que não quisesse admitir ele sabia o porquê daquilo. Ele sempre sabia de tudo. Era assim mesmo.

Quando se abaixou ao lado dela e a tomou nos braços para poder levar a enfermaria, Tsuna pode constatar o quão difícil estava sendo para ela suportar aquilo. Mesmo Tsunayoshi tentava ao máximo ignorar as mentiras e as ilusões que estavam sendo montadas pelos Guardiões e amigos que ele mais amava, mas tudo tinha um limite, e Chrome já havia chego ao seu.

Mais tarde naquele mesmo dia o moreno havia ido visitá-la – isso após fugir do sádico ex-Arcobaleno. O corpo já encontrava-se mais saudável, menos frágil. A mulher encontrava-se relativamente bem, fisicamente; mas Tsunayoshi tinha plena certeza que sua mente estava em trabalho desde aquela tarde quando a deixava “descansando” na enfermaria que havia na mansão.

Suspirou ao fitar o faceiro sorriso doce e culpado que ela mostrava a ele.

– Desculpe Boss. – pediu. – O fiz se preocupar comigo quando há tantos outros problemas...

– Está tudo bem Chrome. – sorriu-o tranqüilizando-a. E assim o silencio se fez presente enquanto apreciavam o frio noturno que balançava as cortinas da única janela do aposento.

E mais uma vez ele fitou-a observar a calmaria e a escuridão que se espalhava por fora da mansão. Suas feições estavam entristecidas apesar do sorriso proeminente, e Tsuna sabia o porquê daquilo. Mais cedo, pouco depois de voltar da enfermaria e instalar-se novamente em seu escritório, Tsunayoshi sentiu uma pontada de sua hiper-intuição, e quando esta tornara-se dolorosa o suficiente para fazê-lo abandonar a papelada, recostar-se na cadeira de couro e fechar os olhos; o Don pode presenciar mais uma de suas malditas visões do futuro, esta que viera com uma perfeição detalhada demais para si, enquanto ao mesmo tempo aparentava certa confusão. Mas o Sawada entendera o que estava sendo mostrado ali.

Sua Guardiã preciosa tinha um plano.

Ele morreria.

E pelas mãos de Chrome.

Retornou a lucidez quando viu-a fita-lo intensamente, o único olho violeta brilhando numa curiosidade mal contida. E assim Tsuna sorriu.

– Está tudo bem Chrome. – murmurou-o notando a súbita mudança na mulher. A tensão fez-se presente. – Eu sei o que planeja. – pronunciou mais uma vez, hesitante sobre o que diria a seguir. Mas de alguma forma as palavras fluíram. – Eu compreendo suas ações, só... Não os odeie tanto.

Não custou para as lágrimas formarem-se e escorrerem pelo lado esquerdo da face de porcelana da garota, esta que jogara-se nos braços de seu chefe enquanto suplicava por perdão.

Tsuna apenas acariciou os cabelos medianos e a abraçou, consolando-a enquanto murmurava:

– Shii... Vai ficar tudo bem...

Eram palavras que nem mesmo o poderoso Boss Vongola acreditava.

(...)

Terça-feira, 13 de Novembro de 2009.

Localização: Desconhecida.

Nota: Todos têm cicatrizes. Por amar profundamente alguém. Por querer muito proteger alguém.

Ofegou, cedendo sob o peso do próprio corpo frágil. Tossiu vendo o piso limpo abaixo de si manchar-se de vermelho. Logo passos ecoaram por seus ouvidos e não demorou muito para que mãos frias a arrancassem do chão.

Gemeu, sentindo no peito uma pressão desumana, como se uma mão envolvesse seu coração e o apertasse até que o ar faltasse seus pulmões e a inconsciência lhe abraçasse. E foi isso que aconteceu. Perante a dor, a azulada deixou-se ser abraçada pelas trevas dormentes.

Durante todo o tempo em que viu-se envolvida pela escuridão, Chrome, naquele momento, mais do que em qualquer outro, sentia-se a beira de um precipício sem retorno. Cada ato e cada palavra, era apenas mais um passo dado para que pudesse cair para as garras afiadas de seu intimo fim. E da mesma forma em que tudo lhe arrastava para um adeus, tudo lhe causava cicatrizes incuráveis, permanentes e dolorosas.

Cercada pela dor e pelo pranto, pelo arrependimento e pela amargura, a Dokuro buscou convencer a si mesma de que aquele era o rumo certo; que apesar da dor atual, no fim tudo ficaria bem. Mais do que nunca a metade feminina da Nevoa buscou forças onde deveria se encontrar seu amado Boss, e onde apenas o nada residia agora.

Por tantas vezes chorou, amargurada pela traição. Por tantas vezes amaldiçoou-se por amar e ansiar pela proteção daquele homem, mas ao mesmo tempo aliviava-se por querer protegê-lo, por que Tsuna era especial demais, bom demais, para se querer o mal do mesmo.

Era errado amar e querer mais a proteção de alguém do que a de si mesma, mas Chrome Dokuro não ligava. E talvez por esse fato, por amá-lo tanto quanto amava sua outra metade – Rokudo Mukuro -, é que ela teve coragem o suficiente para cogitar a possibilidade de extinguir a vida que tanto lhe era preciosa. Para ensinar o valor da confiança para seus companheiros Guardiões e também para o próprio amante.

Pelo tempo em que pensamentos conscientes e divagações de culpa inconscientes lhe atormentaram, diante de lágrimas e dores, a mulher entrou e saiu de um estado de vida e morte. E quando abriu os olhos, após três dias de coma, a determinação que brilhava nas recém adquiridas orbes – sendo uma de seu tom natural, violeta, e a outra um perfeito implante feito usando o olho roubado por Kyoya.

Fitou num misto de lisonjeio e admiração a face infantil do ex-Arcobaleno Cientista. Desviou, ainda incrédula, o olhar para as mãos. Os dedos finos, longos e delicados tremiam; estes não tardaram em tomar rumo à própria face acariciando o local onde há poucos dias havia apenas um par de buracos dolorosos e incorrigíveis. Por impulso as mãos desceram para a barriga lisa e magricela. Apertou, sentindo a carne macia e os órgãos reclamarem pela pressão mínima.

Estava viva, tinha olhos e órgãos. E era inacreditável demais para si. Mas era real.

Sorriu, tão largo e feliz quanto achou que um dia seria possível. Estava feliz, por que se isso era possível; então nada mais era impossível a si.

Respirando fundo ergueu-se do leito em que permanecera pelos dias que se seguiram amargurados e ociosos. Estava na hora de a última parte do plano ser posta em pratica.

Puxou o jaleco que lhe era oferecido pela criança cientista – muito mais velho do que podia aparentar -, afinal a mulher não poderia dar o ar de seu corpo desnudo a quem quer que estivesse de pé a aquele horário.

Em passos firmes seguiu pelo corredor parcialmente escuro que levava direto ao seu aposento particular. Verde a seguia, ansioso pelo andamento de tudo. Todos seriam beneficiados com as ações dela, quer aceitassem ou não o que aconteceria, isso não mudaria o fato de que aconteceria.

A última – e talvez única – pessoa com a qual cruzou no corredor fora a imparcial Nuvem Vongola com a qual trocara apenas um olhar cúmplice e decidido. Não custou para que um sorriso mínimo e sombrio fosse dado por Hibari antes do mesmo desaparecer na porta na qual estava recostado.

Em exatos trinta e nove dias, quando a lua minguar pela primeira vez no ultimo mês do ano, nada mais será como antes.


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Notas finais do capítulo

Gostaram desse final? XD
Pois é ele ficou bem... surpreendente, até para mim que nao planejava po-lo dessa forma =w=
Ja'ne



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