Como Se Livrar De Uma Vampira Apaixonada escrita por Rafa


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Boa noite. O que dizer da sua recomendação ManuSnixx... Simplesmente adorável rs. Esse capítulo é dedicado a você. Obrigada pelas palavras. Quero aproveitar e dizer obrigada a danaandme por ter me dedicado um capítulo da "Intrépida Rachel Berry". Ufa! rs! Boa leitura pessoal.



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Eles estavam me esperando ao pé da escadaria curva, todos os rostos voltados para minha direção enquanto eu descia, e vi seus olhos mudando de ceticismo e preocupação para admiração e espanto – e esperança. E o fato de estarem começando a creditar em mim me deixou confiante, ainda que também me aterrorizasse.

Quem sou eu para ser a salvação de alguém? A princesa de alguém?

Você é filha de Mihaela Dragomir. Linda, poderosa, majestosa... As palavras de Dorin e de Quinn ecoaram de novo na minha mente, me dando coragem.

Um a um, meus parentes vampiros se aproximaram para me conhecer depois que parei ao pé da escada. Dorin os apresentou e, enquanto cada um dos Dragomir – primos próximos e distantes – chegava perto para fazer reverência, vi traços meus na curva de um nariz, no arco de uma sobrancelha, nas maçãs do rosto. Eles usavam roupas de qualidade, mas notei que os vestidos eram um pouco ultrapassados e os ternos, às vezes mal ajustados. O que foi feito de nós desde a destruição dos meus pais?

– Venham – chamou Dorin quando todos havíamos sido apresentados. – Vamos jantar.

Fui à frente de um pequeno cortejo até uma sala de jantar comprida e de pé direito alto, gélida apesar de um fogo que ardia numa lareira gigantesca, e, seguindo a indicação de Dorin, reivindiquei meu lugar à cabeceira de uma mesa reluzente de pratarias e velas. Nós, os Dragomir, estávamos em grandes dificuldades econômicas, mas todos os cofres pareciam ter sido abertos para o meu retorno.

– Sente-se, sente-se – disse Dorin, baixinho, puxando minha cadeira. – Devo dizer que precisarei servi-la. Estamos com poucos serviçais e é difícil atrair alguém do povoado na situação atual. Ninguém quer trabalhar até tarde na propriedade dos Dragomir.

– Tudo bem – tranquilizei-o, ocupando meu lugar.

Brindes eram feitos a mim, em romeno, e Dorin os traduzia. À minha saúde... ao meu retorno... ao pacto... à paz.

Um murmúrio circulou ao redor da mesa quando o último brinde foi feito e Dorin se inclinou para falar comigo.

– Querem ouvir você falar. Estão ansiosos demais para comer. Deve contar seus planos a eles.

Pela primeira vez desde que tinha posto aquele vestido de seda vermelho e começado a assumir meu novo papel na realeza, senti um choque de pânico genuíno. Não preparei um discurso. Deveria ter preparado alguma coisa. O que posso dizer a eles? Meu Deus, o que planejo fazer?

– Não posso – sussurrei a Dorin, inclinando-me para perto dele. – Não sei o que dizer.

– Você deve falar, Anastácia – implorou Dorin. – Eles esperam por isso. Vão perder a confiança se você não disser nada.

Confiança. Não posso me dar ao luxo de perder a confiança deles. Assim, fiquei de pé, encarei minha família e comecei:

– É uma honra estar com vocês esta noite, de volta ao nosso lar ancestral... – O que mais posso dizer? – Faz muito tempo.

Dorin traduzia para os que não falavam inglês, olhando-me de vez em quando com algo mais do que consternação nos olhos. Sabia que eu lutava. Ao olhar para os meus parentes em volta da mesa, vi a dúvida se esgueirar de volta para a mente deles também. Eu estava perdendo sua confiança tão depressa quanto a havia adquirido.

– Pretendo garantir que o pacto seja honrado – acrescentei. – Como sua princesa, prometo que não irei decepcioná-los.

– Diga-me, Rachel – começou alguém. Uma voz profunda.

Ah, graças a Deus... uma pergunta.

– Sim?

Examinei os rostos à minha frente, tentando encontrar quem falava à luz fraca das velas.

– Como você pretende manter o pacto? Impedir a guerra? Porque, pelo que sei, os Fabray não têm mais interesse no que foi acordado.

A voz vinha por trás de mim. A voz familiar.

Eu me virei, derrubando a cadeira, e vi Quinn Fabray parada junto à porta, encostada no portal, braços cruzados diante do peito, um sorriso amargo no rosto.

– Quinn.

Meu coração parou no peito e todo o sangue sumiu do meu rosto. Era Quinn. Viva. Parada a menos de cinco metros de mim. Quantas vezes eu tinha sonhado em vê-la de novo? Sonhado em tocá-la? Quantas vezes esses sonhos haviam me devastado com sua impossibilidade? Mas agora ela estava tão perto...

Seu sorriso sumiu, como se ela não conseguisse manter a postura friamente irônica ao me ver, e eu a ouvi murmurar:

– Anastácia...

Nessa única palavra percebi saudade, alívio, ternura e ânsia. As mesmas emoções que eu estava experimentando. Ela hesitou, insegura, com uma das mãos estendida como se fosse se aproximar de mim.

– Quinn – repeti, olhando para ela, como se a realidade de sua existência fosse penetrando devagar. – É você mesmo?

Quando falei isso, a mão de Quinn baixou ao lado do corpo e ela recuperou o sorriso irônico.

– De fato, só existe uma – disse em tom azedo, com todos os traços de ternura sumindo. – E o mundo é melhor assim.

Comecei a correr para ela, quase tropeçando na cauda do vestido. Quis me lançar contra ela, derrubá-la e beijá-la de novo pela pura alegria de vê-la. E depois gritar com ela por ter mentido e me abandonado. Mas então vi seu rosto de perto e parei, no meio do caminho.

– Quinn?

Parecia que ela havia envelhecido anos naqueles poucos meses em que ficamos longe uma da outra. Todos s vestígios da adolescente americana haviam desaparecido – e não apenas porque ela tinha voltado a usar as roupas antigas. O cabelo loiro estava mais comprido, puxado num rabo de cavalo descuidado. A boca estava mais contraída. E os olhos estavam mais inexpressivos do que nunca, quase como se não tivessem alma por trás, animando-os.

Atrás de mim, os Dagomir pareceram congelados por encontrar um inimigo dentro do território deles.

– A segurança é um tanto relapsa – observou Quinn. Em seguida se afastou do portal e passou por mim, entrando na sala, sem me encarar, avaliando os móveis desgastados pelo tempo com o mesmo desdém que havia exibido meses antes da cozinha de nossa fazenda. Só que dessa vez não parecia apenas arrogante, à maneira inocente de alguém que não conhece nada além de privilégios, e sim deliberadamente desdenhosa. – Eu ia me inscrever para a visita turística – acrescentou. – Mas não podia esperar até as 10 da manhã para vê-la, Rachel.

Encarei-a com uma mistura de consternação e fúria. Ela sabia que usar meu nome americano era um insulto nesse lugar.

– Não fale desse jeito comigo – avisei. – Isso é cruel e você não é assim.

Ela continuou se recusando a me encarar.

– Não sou?

– Não.

Fui em sua direção, sem querer aceitar que ela controlasse cada instante do nosso encontro. Isso não era um baile de escola, onde ela poderia assumir a liderança. Ela estava na casa da minha família. Por mais abalada que eu estivesse por vê-la de forma tão inesperada, por encontra-la tão alterada, eu não seria acovardada, como meus parentes atrás de mim, que tremiam nas cadeiras.

– Você não é cruel, Quinn.

Agora estávamos paradas perto uma da outra, próximas o suficiente para que eu sentisse o cheiro daquele perfume exótico que ela havia parado de usar em algum momento de sua transformação em estudante americana. Quinn, “a princesa e guerreira” estava de volta, em todos os aspectos. Ou pelo menos ela queria que eu acreditasse nisso.

– Por que você veio? – perguntou Quinn, baixinho, de modo que meus parentes não ouvissem. Continuou sem me encarar. – Deve ir embora, Rachel.

– Não. Não, Quinn. Eu não vou embora.

Então ela se virou pra mim e houve um clarão de sofrimento, de humanidade em seus olhos, porém foi momentâneo, e ela andou ao meu redor, colocando outra vez distância emocional e física entre nós. Dava pra ver que ela lutava para manter as emoções sob controle. Para me manter longe. Pelo menos eu esperava que ela estivesse lutando.

– Você esteve observando minha casa – disse ela, andando em volta da mesa como um falcão procurando um coelho que não teve o bom senso de ficar imóvel. Enquanto passava atrás de cada um dos meus parentes vampiros, eles se encolhiam visivelmente. Desejei que parassem de fazer aquilo.

– Como você soube?

– Na véspera de um conflito é sensato ficar alerta – aconselhou Quinn, a voz ainda mais dura quando falava de guerra, assumindo seu papel de uma “general”. Afastando-se de mim. – É óbvio que tenho guardas no perímetro da minha propriedade. Sua família me incomoda o tempo todo, reclamando do pacto não realizado, afirmando que nunca desejei compartilhar o poder. E quanto mais eles se queixam, mais eu percebo: por que dividir o que posso tomar à força? Não sou avessa a um pouco de derramamento de sangue, se isso levar aos meus objetivos.

– Quinn, você não está falando sério.

– Estou – respondeu Quinn, com as mãos nas costas da cadeira de Dorin. Meu tio tremeu por inteiro. Eu sabia que ele estava aterrorizado com a possibilidade de Quinn destruí-lo, ali mesmo, por ter me trazido à Romênia. – Você já me viu bricar com algo relacionado ao poder alguma vez, Dorin?

Meu tio não disse nada.

Quinn se inclinou, falando no ouvido dele.

– Vou cuidar de você mais tarde, por ter me desafiado e trazido-a pra cá.

– Fique longe dele – ordenei. – Você veio aqui para me ver. Não atormente minha família em nossa casa.

Quinn examinou a sala de novo.

– Quando isso tudo for meu, precisarei fazer algumas mudanças sérias. Permitir visitas turísticas?! Isso envergonha todos os vampiros!

Encarei-a, recusando-me a parecer perturbada ou até mesmo lacrimosa pelo modo insensível como ela agia. A Quinn à minha frente estava ainda mais gelada e inacessível do que havia ficado depois que Basile ordenou que ela fosse espancada. Quinn... Onde está a minha Quinn?

– Quero que saia agora, Quinn – exigi, deliberadamente calma. – Não falarei com você enquanto estiver assim.

Ela arqueou a sobrancelha.

– Este não foi o encontro que você esperava, Rachel? Não foi pra isso que viajou milhares de quilômetros? Está desapontada ao descobrir que sua família é fraca e que sua ex-noiva está mais desprezível do que nunca?

– Você não vai me fazer odiá-la. Não importa quanto se esforce. Sei o que está fazendo. Sei que está tentando me afastar. Acha que não tem mais redenção porque destruiu Basile. Está convencida de que é igual a ele, ou pior, porque traiu sua família. Mas você não é como Basile. – Ousei acariciar seu braço. – Eu conheço você.

Quinn se afastou.

– Não me toque desse jeito, Anastácia!

– Por que não? – perguntei, baixando a voz para que minha família não ouvisse. – Porque tem medo de perder o controle, como aconteceu no meu quarto, lá em casa?

– Não – reagiu ela. – Porque tenho medo de perder o controle como aconteceu com meu tio.

– Quinn, você precisou fazer aquilo.

Quando falei isso, seus olhos se modificaram e ela encarou meus parentes, que, ainda sentados num silêncio inquieto, observavam nossa conversa.

– Venha comigo. – Ela agarrou meu cotovelo com a mão firme e me conduziu pela sala, para longe do alcance da audição da minha família. – Estamos falando de coisas particulares na frente dos outros. Não está certo.

Paramos diante da lareira e a luz lançava sombras suaves e trêmulas na face de Quinn, fazendo-a parecer mais jovem de novo. Quase toquei seu rosto. Mas seus olhos continuavam distantes demais. Frios demais.

– Vou lhe dizer uma coisa e depois você vai fazer as malas e ir pra casa, Rachel.

– Não vou...

– Você acha que me conhece – disse ela, passando por cima da minha objeção, ainda segurando o meu braço. – Por algum motivo, apesar de eu tê-la abandonado, apesar de obviamente eu querer que pensasse que eu havia partido, você se agarra a alguma esperança inútil de que haja um futuro para nós. É hora de acabar com isso, de uma vez por todas, porque não estamos mais na civilizada Pensilvânia, frequentando o ensino médio, brincando de guerra numa quadra de vôlei. Isso aqui é uma guerra, Rachel.

– Não precisa ser Quinn. Eu sei que você me ama.

– Os Fabray jamais agiram de boa fé, Rachel – continuou Quinn, a boca numa expressão séria. – Nós tínhamos um plano. Pra você.

– Um... plano?

– É. Eu deveria conquista-la, casar-me com você, uma garota inocente, uma adolescente americana ignorante da cultura dos vampiros, e trazê-la de volta à Romênia. Com o pacto realizado, nós esperaríamos um tempo razoável até que ninguém pudesse acusar os Fabray de violar nossa parte na obrigação...

– E então?

Eu já sabia.

Quinn me encarou com intensidade.

– E então teríamos despachado você com discrição. Em segredo. Agindo como se lamentássemos sua perda, porém silenciosamente satisfeitos por termos a última e inconveniente princesa Dragomir fora do caminho.

– Não, Quinn. – Balancei a cabeça horrorizada. Eu não iria acreditar naquilo. – Você não faria isso.

– Ah, Anastácia. Você ainda é tão ingênua! Acha que os Fabray algum dia pretenderam partilhar a soberania com um inimigo?

Não. Claro que não pretenderam.

– Como... como isso deveria acontecer?

– Não fui informada desses detalhes. Mas talvez pela minha mão. Eu teria muitas oportunidades, sozinha com você em nosso castelo.

Não, Quinn. Você, não.

Ela olhou para o fogo.

– Para nós era perfeito o fato de você ter sido criada nos Estados Unidos. Na tentativa de mantê-la em segurança, os Dragomir acabaram condenando-a. uma verdadeira princesa vampira teria entendido os riscos de casar comigo. Poderia ter se protegido, permanecendo sempre alerta. Mas você teria vindo para mim de boa vontade, sem suspeitar de nada.

Respirei com dificuldade, obrigando-me a não gritar, sabendo que os meus parentes não estavam longe. Eu precisava manter a compostura, ainda que a traição me partisse ao meio.

– Você sabia de tudo isso quando foi para a casa dos meus pais? Quando estava morando com a gente? Quando me beijou?

Quinn também tinha consciência da plateia. O sofrimento que penetrou seus olhos não se refletia na postura régia.

– Ah, Anastácia... quando eu soube? Desde o inicio? Ou perto do fim? Não tenho certeza. Talvez eu fosse ingênua no inicio. Ou talvez só me enganasse, recusando-me a enxergar a verdade. Mas chegou um momento, antes de eu beijar você, em que eu soube que era cúmplice.

Contive um soluço, engolindo seco e mantendo a compostura.

– Não acredito em você.

– Não faz sentido, Anastácia? – Ela olhou para a minha família. – Olhe para eles. Os Dragomir estão reduzidos. Basile poderia tê-los enganado e controlado com facilidade, sem perder um único Fabray. Sem uma guerra. O único sangue derramado seria o seu. Você seria sacrificada no interesse do golpezinho de Basile.

– Essa era a ideia de Basile – observei, desesperada para não acreditar que Quinn seria capaz de me destruir. Ela gostava de mim. Eu senti isso no seu beijo. Vi em seus olhos. Mas ela é perigosa, Rachel. Ela não deseja ser uma Fabray, mas talvez não consiga deixar de sê-lo. – Esse era o plano de Basile – repeti. – Não o seu.

– E quando vi a trama em sua totalidade, fiquei empolgada com a genialidade simples. Isso a deixa revoltada, Rachel? Porque deveria.

– Você não teria me destruído Quinn – insisti. – Você me ama. Sei que ama.

Quinn balançou a cabeça.

– Só o bastante para lhe dizer que eu a teria destruído. Isso é o máximo que posso oferecer. Agora vá pra casa, Rachel. Vá pra casa e me despreze. Tive uma esperança de deixá-la com uma lembrança mais feliz de mim. Mas você veio pra cá e não posso fazer nem ao menos isso.

– Não vou embora, Quinn. Nem que seja por minha família. Os Dragomir precisam de mim.

– Não, Anastácia. Você não lhes dá nada além de falsas esperanças. Olhe pra você. – Seu olhar viajou por toda a extensão do meu corpo e de novo seus olhos voltaram à vida, dessa vez com admiração profunda. Admiração que eu tinha visto antes. – Você é linda, impressionante, inspiradora. Eles vão lutar com mais força, achando que fazem isso por sua princesa que voltou. Pensando que você foi prejudicada pelo fracasso do pacto, quando, na verdade, eu salvei sua vida ao violar o pacto. Eles continuarão a acreditar que foram enganados pela falsa promessa de paz e poder compartilhado e vão se unir para lutar por você. Mas, no fim, os Fabray vencerão. Não prolongue a agonia e nem aumente a perda deles.

– Eles já estão com raiva – observei. – Não posso mudar isso. Eles também querem uma guerra, a não ser que o pacto seja cumprido.

– Se disser para eles se renderem a mim, eles farão isso. Você é a líder. Diga para se submeterem a mim e vá pra casa.

Hesitei por um momento, pensando naquela barganha, que só teria vantagem par um dos lados. Se eu mandasse os Dragomir cederem, talvez eles cedessem mesmo. Eu era a líder deles. Poderia salvar vidas. Passei os dedos no jaspe-sanguíneo no meu pescoço, ouvindo minha mão biológica. Não faça isso, Anastácia... Não permita que seu primeiro ato seja de submissão, nem mesmo a Quinn.

– Não – respondi com firmeza. – Você destruiu o pacto. Você será responsabilizada por arruinar a paz e os Dragomir não vão se ajoelhar diante de uma... uma metida a velentona da escola.

Quinn riu disso, uma pequena sombra de seu antigo sorriso de zobaria.

– É o que você pensa ao meu respeito, Rachel? Que sou “valentona”, como o patético do David Karoufsky?

– Você é pior.

Seu sorriso ficou triste.

– Sou mesmo. David, apesar de todos os defeitos, apesar de todas as crueldades, nunca sequer sonhou em destruir uma mulher tão magnífica quanto você.

Eu ainda lutava para encontrar as palavras certas quando Quinn me deu as costas e nos deixou.

***

Depois da minha família ter ido embora, sem que nenhum de nós tivesse sequer tocado no banquete preparado com capricho para comemorar meu retorno, fui para o meu quarto, onde fiquei sentada por várias horas numa cadeira perto das janelas de vitral, apenas observando a escuridão. Não conseguia nem pensar em dormir.

O que posso fazer para salvar minha família? Para salvar Quinn? Ainda posso salvar Quinn ou ela está realmente além da possibilidade de redenção como acredita?

Lá fora um lobo uivou nas montanhas. Eu nunca tinha escutado um lobo de verdade uivar, só nos filmes, ou na TV, e o som, atravessando a vastidão, era tão triste que quase me fez chorar. Tudo na minha viagem foi resumido naquele som sofrido, lindo, lancinante. Quinn estava viva – mas era como se não existisse mais. Meu coração ainda doía, talvez até mais, porque eu havia alimentado esperanças muito grandes para o nosso reencontro. Quinn estava certa. A coisa não aconteceu conforme o planejado. Eu estava arrasada por vê-la tão diferente.

E a revelação sobre a trama para me destruir tinha me abalado profundamente. Mas eu não acreditava que Quinn houvesse sido cúmplice, como dissera. O plano era uma estratégia de Basile. Talvez tivesse havido um tempo em que Quinn, corrompida e quase esmagada sob o poder de Basile, fosse capaz de pensar na possibilidade de um ato tão sombrio. Mas ela havia mudado nos EUA. Como ela própria disse, vislumbrara um novo caminho. Ela havia me dito: “Para os meus filhos poderia ter sido diferente...”

Também me lembrei de suas palavras mais cedo, naquela mesma noite. “Eu salvei sua vida ao violar o pacto”.

Ao se recusar a honrar o acordo dos clãs, Quinn lutara ativamente para me salvar da trama de Basile, arriscando-se. Ela sabia que Basile tentaria destruí-la pela insubordinação.

Quinn sempre me protegeria.

Apesar de todos os alertas dos meus pais sobre a crueldade dos Fabray, apesar de todas as declarações veementes da própria Quinn, de que ela era perigosa para mim, eu sabia que a realidade era outra.

Mas como poderia fazer com que Quinn acreditasse que nunca me faria mal? Que ainda éramos uma da outra e sempre seríamos?

Não havia resposta no negrume do lado de fora da janela, por isso levantei e fui desfazer a mala. Pelo menos não vou fugir pra casa , como Quinn desejava.

Enquanto desdobrava as roupas, meu exemplar de Crescendo como morto-vivo, que havia posto dentro da mala no último minuto, caiu no chão. Peguei-o, pensando no dia em que tinha descoberto aquele livro junto à porta do meu quarto, com o marcador de Quinn brilhando ao sol da manhã. Na hora odiei o presente. Mas Quinn estava certa. Apesar do tom superficial, o livro tinha sido um bom guia durante uma época confusa. Uma fonte precisa. Quase como um confidente, quando não havia mais ninguém com quem eu pudesse conversar sobre mudanças que ocorriam no meu corpo, na minha vida. Sentada na cama, abri o último capítulo, que eu havia deixado de ler propositalmente enquanto meus sentimentos por Quinn ficavam cada vez mais fortes.

Capítulo 13: “O amor entre os vampiros: mito ou realidade?”

É claro que os vampiros podem amar. Dorin acreditava que Quinn era capaz de me amar.

No entanto, meu coração se apertou quando comecei a ler o conselho ajuizado do guia.

“É melhor não abrigar ideias fantasiosas sobre o amor entre vampiros. Os vampiros são românticos, até mesmo afetuosos, ocasionalmente. Mas, no final das contas, somos uma raça implacável! Tente aceitar que os relacionamentos entre vampiros são baseados no poder e na paixão – mas não no conceito humano de “amor”. Começar a confiar no “amor”- como muitos vampiros jovens e tolos tendem a fazer – é se colocar em grave perigo!”

Não.

Fechei o livro com força e joguei-o de lado, sabendo que ela havia servido ao seu propósito. Eu não precisava mais de conselhos. Dessa vez o guia – ainda que respeitável, ainda que venerável – estava errado. Eu sabia a verdade. Quinn me amava.

Percebi, num momento de clareza, que estava disposta a arriscar a vida por essa convicção. Que arriscaria a vida por isso naquela mesma noite.


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Notas finais do capítulo

ManuSnixx, obrigada de novo rs. Bom... Acho que só tem mais um capítulo. Até mais galera.