Como Se Livrar De Uma Vampira Apaixonada escrita por Rafa


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde gente. Gostaria de agradecer em primeiro lugar a Demi Lovato, uma das leitoras que comenta os capítulos desde o início. Muito obrigada pela linda recomendação que fez, fico imensamente feliz. Bom, acho que depois desse capítulo, teremos apenas mais dois longos e tensos capítulos. desde já agradeço a todos por continuarem acompanhando e acreditando que a história terá um desfecho "legal" rs.



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Depois de tudo o que Quinn havia me contado sobre morar em castelos, comer as melhores comidas e ter roupas feitas sob medida, fiquei meio surpresa ao me ver chacoalhando nas estradas esburacadas da região rural da Romênia num velho Fiat Panda.

– Ah, Dorin – falei, segurando o painel enquanto meu tio forçava as engrenagens a obedecê-lo mais uma vez. – Achei que fôssemos da realeza vampírica.

Dorin assentiu.

– Somos mesmo. Excelente linhagem de sangue.

– Como explica esse carro, então?

– Ah. Isso. Não pense que esse veículo representa nossa herança. É apenas uma manifestação temporária de nossas...é... circunstâncias reduzidas.

Ele lutou com a direção não hidráulica, tentando evitar um buraco enquanto subíamos para os Cárpatos.

As montanhas da Romênia formavam um contraste violento com os Apalaches, que se erguiam delicadamente na Pensilvânia. Na verdade, os Cárpatos, íngremes, rochosos, serrilhados, fariam os Apalaches sentir vergonha de serem chamados de montanhas. De vez em quando, a estrada dobrava sobre precipícios de tirar o fôlego e depois serpenteava em florestas densas e sombreadas – nas quais, segundo garantiu Dorin, ursos e lobos ainda viviam. Em seguida, ela emergia na claridade, cortando cidadezinhas que pareciam esculpidas em pedra e datadas da Idade Média. Cabanas tortas, pequenas capelas e tavernas movimentadas surgiam nas ruas estreitas. Eu vislumbrava essas coisas e depois, num piscar de olhos, mergulhávamos de novo na floresta.

Dava pra ver porque Quinn tinha saudades da sua terra natal: as aldeias de contos de fadas; a sensação de que o tempo havia parado; a impressão penetrante de estarmos dentro de um mistério oculto; um enclave secreto, indomável, esquecido num mundo moderno.

– Segure-se – avisou Dorin, saindo da estrada principal que vinha de Bucareste e entrando numa pista ainda mais estreita.

Fomos chacoalhando e minha cabeça bateu no teto do Panda.

– Ai. Isso é mesmo o melhor que podemos ter?

– Bem, eu lhe disse. O clã andou atravessando um período difícil nos últimos anos. Vendemos a Mercedes há anos. Mas o Fiat é bastante confiável. Não tenho reclamações. Nenhuma.

Eu tinha algumas. Como deveria assumir meu lugar de direito de princesa vampira quando meio de transporte era do tamanho de um carrinho de golfe, com um motor que parecia pertencer a um ventilador de mesa?

Seguimos em silêncio por um bom tempo, até chegarmos à crista de uma encosta que revelou, abaixo de nós, a distância, um grande agrupamento de telhados de terracota reluzindo ao pôr do sol.

– Sighisoara – anunciou Dorin.

Inclinei-me para frente, espiando pelo para-brisa com os olhos ansiosos. Então tínhamos chegado, finalmente, à terra natal de Quinn. Era aqui que ela havia crescido, se tornado a mulher que eu aprendi a amar.

– Vamos passar por lá?

– Vamos – disse Dorin. – Como quiser.

Eu havia notado que a postura do meu tio tinha mudado um pouco desde o pouso em Bucareste. Ele estava mais formal comigo. Com mais deferência. Pensei em dizer a ele que não precisava me tratar como uma princesa só porque não estávamos mais nos Estados Unidos. Então percebi que era melhor deixar quieto: eu iria assumir meu posto. Precisaria de deferência, precisaria emanar autoridade se quisesse alcançar o que pretendia. Estava num Fiat Panda, mas mesmo assim era uma princesa.

– Por favor, mostre-me – insisti.

– Claro.

Dorin nos levou ao coração da cidade e fiquei olhando, encantada, para passagem em arco de pedra que levavam a becos sinuosos e lojas entulhadas cujos produtos – pães, queijos, frutas e legumes – chegavam até as calçadas. Reparei na torre do relógio, do século XVII, que soou enquanto passávamos: seis horas.

A cada ponto que captava minha atenção, eu ficava pensando: será que Quinn teria caminhado por essa rua? Comprado naquela loja? Ouvido o toque profundo do relógio, percebendo que precisava estar em algum lugar, passando o corpo sob um daqueles arcos de pedra para chegar a um compromisso num caminho oculto? Este era um lugar onde Quinn não pareceria deslocada, nem mesmo com seu sobretudo de veludo e sua calça bem cortada.

– Está com fome? – perguntou Dorin. – Poderíamos dar uma paradinha, antes que todos os comerciantes fechem para o fim do dia.

– São só seis horas – observei. – É, tipo, um costume local fechar tão cedo?

Dorin parou o carro junto ao meio-fio.

– Não. Nem sempre é assim. Mas o povo dessa região viveu na companhia de vampiros por gerações. Eles estão sempre atentos aos clãs. Ouviram boatos da proximidade de uma guerra e sabem que haverá vampiros sedentos e furiosos, procurando o combustível do sangue e recrutas para nossos exércitos de mortos-vivos. Eles não ficarão nas ruas depois de anoitecer sem que haja um bom motivo.

Senti arrepios. Ainda que agora eu também fosse membro do clã de vampiros, com certeza era capaz de simpatizar com os temores dos residentes.

– Então até o povo comum é afetado pela tensão...

– É, sim. Eles lamentam o fim de quase duas décadas de paz. Durante um tempo parecíamos ter alcançado uma trégua com os humanos também. Isso foi em grande parte graças a Quinn. Ela era uma ótima embaixatriz para nós. Tão charmosa... Mesmo os que faziam o sinal da cruz ao ouvir o nome Fabray eram incapazes de não gostar dela. Mas agora, é claro, sabem que ela mudou.

Dorin me levou para um pequeno restaurante, abrindo a porta e apontando uma sala apertada e estreita. A decoração era simples – algumas mesas velhas espalhadas sobre o piso de madeira - , mas o cheiro era maravilhoso.

– Vamos pedir papanasi: bolinhos de queijo cobertos de açúcar. Uma iguaria local.

– Queijo com açúcar?

– Eu comi o bolo de aniversário vegano – observou Dorin. – Confie em mim, esses daqui ganham de lavada.

Eu não podia questionar.

Chegamos ao balcão e o velho proprietário se levantou de um banco com esforço, cumprimentando Dorin.

Buña.

Buña – assentiu Dorin. E levantou dois dedos. – Doi papanasi.

Da, da – disse o velho, começando a se afastar arrastando os pés.

Então ele me notou e parou abruptamente, com o rosto moreno e desgastado pelo tempo ficando pálido. Apontou pra mim com a mão trêmula, os olhos arregalados virando-se para Dorin.

Ea e o fantoma...

Nu e – Dorin balançou a cabeça. – Não é um fantasma!

Ea a Dragomir – insistiu o velho. – Mihaela!

Entendi as palavras Mihaela Dragomir e o assunto da conversa, por mais que a língua fosse desconhecida.

Da, da – concordou Dorin, parecendo ficar impaciente com o homem, dispensando-o. – Comanda, vãrog. Nossa comida, por favor.

O homem saiu cambaleando, mas continuou a olhar para mim por cima do ombro enquanto preparava nossos papanasi.

– Ele se lembra da sua mãe – sussurrou Dorin. – Acha que você é o fantasma dela. O fantoma. É melhor se acostumar com isso.

Fiquei ao mesmo tempo lisonjeada e um tanto incomodade em ser confundida com minha mãe biológica. Percebi, com um tremor, que aquele sujeito acreditava, sem qualquer dúvida, que eu era uma vampira. Ele fora criado na realidade vampiresca. Era vivo quando meus pais foram destruídos. Talvez tivesse participado... Por meio do olhar cheio de suspeita do homem, eu soube que eu não era apenas uma curiosidade, mas uma ameaça potencial. De repente me senti vulnerável, no alto dos Cárpatos, longe da proteção da mamãe e do papai, sozinha num restaurante claustrofóbico com um tio que eu mal conhecia e um estranho que me considerava um monstro sugador de sangue que merecia ser exterminado.

O velho entregou nossa comida a Dorin e meu tio pagou com algumas moedas. O proprietário continuou a me olhar cauteloso.

– Venha – disse Dorin, guiando-me para a porta. – Tente não se abalar com isso. É claro que algumas pessoas mais velhas vão reconhecê-la. É igualzinha a ela. Vai demorar um tempo até que eles entendam que você é a filha e que voltou para casa.

Saímos do restaurante e olhei para a rua, tentando pensar naquele local desconhecido como se fosse “casa”.

– Precisamos ir – disse Dorin. – Está escurecendo e a estrada é perigosa.

Acomodei-me no carro e experimentei o papanasi, mordendo o bolinho com a crosta de açúcar para liberar o queijo quente, derretido.

– Hummmmm...

Fechei os olhos e saboreei aquela delícia, mais corajosa e reconfortada com a comida quente no estômago.

– Gostou?

Dorin pareceu satisfeito. Engrenou o carro e saiu para a rua, que agora estava quase vazia.

– Muito bom – respondi, enfiando a mão no saco de papel para pegar outro. – Bem melhor do que o bolo vegano.

– É o doce predileto da Quinn, sabia? E ela prefere o daquela loja, em particular.

Lambi devagar o açúcar dos dedos, olhando a cidade passar pela janela. Quinn poderia estar lá. Eu poderia ter entrado naquela loja e visto a mulher por quem eu tinha ficado de luto.

– Quinn mora aqui perto? – perguntei. – A que distância estamos, exatamente? Minutos? Meia hora?

– Estamos muito perto – disse Dorin, me olhando. Ele parecia meio nervoso. – Você... Você não está pensando em passar por lá, está?

– Só para ver a casa dela. – Uma apreensão súbita tomou conta de mim. Apreensão e empolgação. – Acha que ela vai estar lá? – Eu quero que esteja lá? Estou pronta?

– Não creio – supôs Dorin, e senti uma pequena onda de alívio. Por mais que quisesse muito ver Quinn, sabia que primeiro deveria me preparar. Precisava não apenas tomar um banho depois da viagem, mas tinha que me preparar mentalmente. Ficar firme para encarar a Quinn que Dorin havia descrito no avião. A Quinn que tinha destruído o tio, que estava precipitando uma guerra e apavorando os moradores do local. A Quinn que se acreditava capaz de aniquilar minha família sem piedade.

– Ultimamente ela tem saído muito com suas tropas – acrescentou Dorin. – Para o campo.

Nós, estamos nos preparando? – indaguei, preocupada com essa última revelação.

– Um pouco... Não, na verdade, não. Não de um modo organizado como Quinn. Ela é uma guerreira que está criando um exército. Nós somos mais como os colonizadores americanos: vampiros dedicados, ainda que despreparados, formando milícias informais.

Admirei a paisagem áspera. Quanto mais penetrávamos nos Cárpatos, mais eu reconhecia as montanhas dos meus sonhos. Podia escutar a voz da minha mãe biológica, cantando para mim. Sendo silenciada. Era um lugar lindo, mas também era um lugar duro, indomado.

– Vamos precisar de mais do que “milícias informais” – murmurei, olhando para a escuridão que crescia do lado de fora da janela. – Devemos nos preparar também. – Se pelo menos eu soubesse o que isso significava. Se tivesse sido criada como guerreira e não como uma vegetariana numa fazenda cheia de gatos desgarrados. Será que posso mesmo ajudar meus parentes Dragomir?

– Olhe pra cá – sugeriu Dorin, parando o carro no acostamento.

Virei-me no banco e prendi o fôlego, surpreendida por uma enorme construção de pedra. O edifício fantasmagórico onde Quinn havia crescido, onde fora ensinada por meio da violência, criada com histórias de sua linhagem de vampiros e onde ganhara uma consciência feroz do local orgulhoso ocupado pelos Fabray no mundo.

– Uau!

Estávamos na beira de um precipício, acima de um vale tão íngreme, profundo e estreito, a ponto de parecer que um gigante o havia criado com um golpe feroz de uma foice com uma lâmina de um quilômetro. O castelo de Quinn, negro contra o pôr do sol laranja, agarrava-se a encosta do lado oposto, parecendo gadanhar em direção ao céu. Torres parecendo lanças enormes querendo furar as nuvens, janelas góticas abobadadas.

Era uma casa furiosa. Uma casa em guerra com o Universo.

Quinn morava mesmo ali?

Estacionamos o carro e fomos andando até a beira do penhasco para examinar melhor aquela expressão arquitetônica de raiva, que mais parecia os dentes tortos de uma fera.

– Impressionante, hein? – perguntou Dorin.

– É. – A palavra apertou minha garganta. Olhando para aquela casa, fiquei apavorada. Era ridículo sentir medo de uma construção, no entanto, a visão daquele castelo me provocou um temor intenso.

Estou com medo da casa ou da pessoa que aguenta morar nela?

Enquanto Dorin e eu olhávamos, uma luz se acendeu atrás de uma das janelas. Uma única luz numa janela do alto.

Meu tio e eu trocamos olhares.

– Podem ser serviçais – concluiu Dorin. – Ou talvez a garota tenha vindo passar a noite em casa.

– Vamos embora – pedi, agarrando o braço do meu tio. Vamos antes que eu faça alguma coisa idiota. Tipo correr para aquele castelo e bater à porta. Ou fugir direto para o condado de Lebanon sem olhar para trás. – Por favor, eu quero ir.

– Estou logo atrás de você – concordou Dorin, indo depressa para o carro.

***

A boa notícia é que o clã Dragomir também tinha sua propriedade bem impressionante. A má notícia era que ela estava aberta aos turistas quatro dias por semana. Essa era outra manifestação de nossas “circunstâncias reduzidas”, como Dorin gostava de chamar o que, aparentemente, era uma dificuldade econômica grave.

– As visitas só começam às 10 da manhã – tranquilizou-me Dorin, ajudando a levar a minha mala para a nossa mansão úmida. Ele desviou de uma laca de metal que instruía aos visitantes: “PROIBIDO FUMAR! PROIBIDO TIRAR FOTOS COM FLASH!” numas sete línguas. – Estamos muito populares este ano – acrescentou Dorin, como se isso fosse algo ótimo. – As autoridades de turismo da Romênia aumentaram bem a publicidade. O tráfego de carros aumentou 67 por cento.

Minha nossa.

– Claro que há áreas privativas – acrescentou ele, vendo meu desapontamento. – Os quartos e banheiros estão quase todos fora de circuito de visitas. Se bem que alguns americanos conseguem achar os toaletes privativos. Acho que estranham minha comida. De qualquer modo, não se assuste se abrir uma porta e encontrar um dos seus conterrâneos empoleirados por lá.

Turistas? Entrando no meu castelo? Aposto que ninguém entrava sem permissão na propriedade dos Fabray.

– Dorin?

– Sim?

Ele arrastava a minha mala por uma escada alta e curva, feita de pedra. A lâmpada numa tocha falsa tremeluzia na parede, imitação barata do fogo de verdade que eu tinha quase certeza de que ardia na casa de Quinn. Ela não aceitaria nada menos do que a coisa de verdade. De novo acariciei o jaspe-sanguíneo em meu pescoço e a palavra inaceitável relampejou na minha mente. Se as coisas acontecessem como eu esperava e se eu vinha mesmo para liderar essa família, iria reivindicar nosso castelo para os Dragomir e não para turistas. A ideia me empolgou de forma surpreendente. Quanto chegamos ao patamar mais elevado, examinei os tetos abobadados, os corredores que já haviam sido majestosos. É, poderíamos dar uma melhorada.

– O que acontece agora? – perguntei a Dorin, acompanhando-o pelo corredor e entrando num quarto gigantesco.

Dorin largou a mala no chão.

– Você precisa conhecer a família. Todos estão muito ansiosos para jantar com você. Eles vão chegar logo.

Imagens da “família” de Quinn me vieram à mente.

– Quantos virão? – perguntei, esperando não ter que confrontar um número muito grande de meus parentes vampiros de uma vez.

– Ah, só uns 20 parentes mais próximos. Achamos que não seria sensato sufocar você em seu primeiro dia aqui, mas, todo mundo está curioso para ver nossa herdeira há anos esperada. Acho que vai querer tomar banho, não é? Trocar de roupa? – Sugeriu Dorin.

– Vou – respondi, aproveitando a oportunidade para ficar sozinha por um momento. Para refletir. Para me concentrar. Isso tudo estava acontecendo depressa demais. Eu precisava pensar.

Dorin andou pelo quarto acendendo luzes. O espaço era empoeirado, datado e frio, mas habitável. Não estava distante demais de sua glória anterior.

– Espero que se sinta confortável aqui – disse Dorin, jogando minha mala na cama de dossel. – Vou voltar para busca-la dentro de uma hora. Tire um cochilo, se quiser.

– Obrigada.

– Ah! Quase esqueci. – Dorin foi até um grande guarda-roupa, abriu a porta e tirou um vestido pendurado num cabide. Estava um pouco desbotado, mas ainda era lindo. A seda que sem dúvida já reluzira carmim havia se suavizado num vermelho mais fechado. – Isso era da sua mãe. Achei que talvez você quisesse usá-lo para o jantar. É de fato uma ocasião importante e nós partimos tão depressa que não lhe dei chance de pôr na mala um traje formal.

Como se estivesse num transe, fui até Dorin e passei as pontas dos dedos pelo tecido.

– Reconheço isso. Da fotografia.

– Ah, sim, do retrato. – Dorin sorriu. – Mihaela tinha muitos vestidos, mas esse era seu favorito. Era adorava a cor intensa, tão parecida com sua personalidade. Usou-o em muitas reuniões adoráveis, numa época diferente, antes do expurgo... – Por um momento ele pareceu a ponto de chorar, mas depois se animou. – Você fará justiça a ele, Anastácia, e trará uma nova era para nós. Talvez todos sejamos felizes outra vez, em breve. E talvez o maior sonho de sua mãe, a paz entre os Fabray e os Dragomir, se concretize afinal.

Acariciei o vestido de novo.

– Mas não tem problema eu usar esse vestido?

– É mais do que apropriado – garantiu Dorin. – É perfeito.

Então ele me deixou sozinha e coloquei o vestido na cama com delicadeza. Eu usava o colar dela, ia pôr seu vestido e estava em sua casa. Mas como poderia me mostrar à altura do legado de Mihaela Dragomir? Será que eu era uma princesa de verdade ou somente um fantasma – uma sombra superficial dela - , como acreditara o homem do restaurante?

Dúvidas não vão ajudar agora, Rach. Quinn acreditava que você era exatamente como ela, em todos os sentidos...

Encontrei o banheiro, tirei a calça jeans e a blusa que havia usado na viagem e tomei um banho de chuveiro, longo e quente. Depois de me secar, peguei o vestido do cabide, abri a fileira de botões de madrepérola que descia pelas costas e o vesti, puxando-o em volta do corpo como um abraço do passado. Um abraço que ficara da minha mãe.

Servia perfeitamente. Como se tivesse sido feito pra mim.

Eu me olhei num espelho dourado que ficava no canto do quarto, vendo o reflexo à luz de uma lua cheia, clara, que brilhava como um farol através de uma série de janelas de vitral.

Era assim que Mihaela se via? À luz desta lua? Nesse mesmo espelho?

A gola do vestido era alta, chegando quase a roçar no queixo, mas o decote mergulhava fundo, emoldurando o jaspe-sanguíneo no pescoço. O vestido se curvava sob os seios, depois caía abruptamente como uma cachoeira despencando num penhasco dos Cárpatos, terminando numa enorme cauda de seda que farfalhava como um sussurro quando eu andava. Sussurros que sem dúvida seguiam qualquer mulher que ousasse usar aquele vestido imponente.

Esse era um vestido que dizia muito sobre a mulher que o usasse. Dizia a todo mundo que a visse: “Sou poderosa e linda e é impossível alguém não olhar para mim. Eu serei notada”.

Eu não tinha nenhuma tiara de prata por isso juntei os cachos frouxamente atrás do pescoço e deixei que caíssem livres pelas costas, castanho lustroso sobre o tecido vermelho fechado, declarando minha posse mais jovem, mas ainda dramática, sobre o vestido.

Forte. Decidida. Destemida.

Ouve uma batida à porta e Dorin me chamou.

– Seus convidados chegaram. Você está pronta?

– Pode entrar – convidei.

Dorin enfiou a cabeça no quarto e seus olhos alegres e enrugados se arregalaram. Por um longo momento ele apenas me encarou, dizendo por fim:

– É. Você está pronta.

Depois ficou de lado, permitindo que eu passasse pela porta. Notei que ele fez uma pequena reverência.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez: Obrigada Demi Lovato. Espero que tenham gostado desse capítulo. Reta final agora galera, até logo!