Nós saímos para ir para a sala de aula que fica no segundo andar do prédio principal. Além de sermos amigas, eu e Vick somos da mesma classe em quase todas as matérias, o que facilitava as coisas para mim. A primeira aula era a de biologia a melhor matéria do mundo para mim.

Quando estamos prestes a entrar na sala, nos esbarramos em um rapaz, que por sinal era bem bonito. Mas não foi isso que chamou mais a minha atenção. Era a mesma pessoa de meu sonho. David.

_Amiga, aquele é o David! – diz Vick.

_Eu sei Vick.

_Mas como você o conhece?

_Ah... é.... é que o diretor me mostrou a ficha dele. Bom, ele e bem mais alto do que estava descrito lá.

_Ha há ha. É mesmo parece que ele tem uns dois metros de altura, né?

_Pois é. Vem. Vamos entrar logo. O professor já deve estar chegando.

_Quem poderia pensar que ele fosse da mesma sala que a gente? – disse Vick já entrando na sala.

_Acho que ninguém né.

_Pois é. Eu posso me sentar perto dele?

_Como assim? Você vai me abandonar?

_Só por hoje, Emy. Ele não conhece ninguém. Dá um desconto.

_Mas eu vou ficar sozinha. Você sabe que ninguém mais conversa comigo nessa droga de sala.

_É, eu sei. Mas hoje você tá com uma cara de “não chegue perto de mim”.

_Sério? Deve ser porque eu não tenha dormido direito.

_Por que? Teve um pesadelo?

_Sim.

Não podia contar que sonhei com David. E que no sonho os dois estávamos namorando.

_Anda logo. Não fica viajando e me conta logo esse sonho!

__Ah. Bem... e que... eu não me lembro direito, só lembro que eu tinha levado um tiro nas costas, e eu chamava por alguém.

_Sério? E você se lembra a quem você estava chamando?

_Não. Por isso a minha cara deve estar tão estranha. Eu acordei era cinco horas da manhã.

_Nossa, deve ter sido estranho mesmo.

_Mais foi.

_Mas voltando para aquele assunto, eu posso me sentar perto dele?

_Tá, vai. Mas não deixe isso virar um abito, tá bom?

_Ok!

Era uma sorte de eu ter encontrado uma amiga tão legal. Vick não critica nenhum dos meus atos, e isso é muito bom. Estavamos felizes desse jeito.

Depois de duas horas intermináveis de uma aula que não entendi nem uma palavra se quer, já estava na hora de ser a guia do meu novo “colega” de classe.

_Ele está atrasado. – digo para mim mesma.

_Quem está atrasado? – diz David parado atrás de mim. Quase engasgo com o refrigerante que estou tomando. – Eu estou aqui já faz um bom tempo, e você nem percebeu.

_Não me assuste desse jeito. – eu disse cortando palavras. – Se você já estava aqui porque não me chamou?

_E que você estava tão ocupada tomando seu refrigerante, que eu não quis atrapalhar.

_Sabe, tem pessoas que tem mais o que fazer. Não são tão desocupadas que nem você. – digo, agora olhando diretamente nos olhos de David. –Nossa, você é alto mesmo. Estou me sentindo uma anã perto de você.

_É você!? – diz David extremamente baixo.

_O quê?

_Nada. E ai vai me mostrar a escola ou não?

_Sabe, se eu soubesse que você era tão arrogante, não teria aceitado o pedido do diretor.

_Olha, Amor, eu não sou arrogante, não tanto quanto você.

_Dá pra você não me chamar de “Amor”? Eu tenho um nome!

_É mesmo. Você tem um nome. Mas eu não me lembro. Acho que seu nome é tão insignificante que nem me lembro mais.

_Aff.

_E como é seu nome mesmo?

_Se você quisesse mesmo saber o meu nome, você não teria esquecido.

_Ah. Acabei de me lembrar. É Emily não é? Posso te chamar de Emy?

_Não. Não te dei tanta exclusividade assim.

_Que pena. Mas vou continuar te chamando de Emy.

_Faça como quiser.

_Eu já ia fazer isso mesmo sem sua permissão mesmo.

_Sabe, minha amiga tem um péssimo gosto para garotos, não sei o que ela viu em você.

_Não sabe? Que que eu te mostre?

_Não muito obri... – fui interrompida no meio da frase por um beijo aspero e quente. Tinha um gosto de bala de hortelã. O beijo foi tão violento que fez um corte na minha boca.

_Olha o que você fez? Você cortou minha boca!

_ Você não queria que eu te mostrasse o que sua amiga tinha visto em mim? Foi isso que ela viu. Gostou?

_Mas é claro que não! Olha o que você fez!

_Desculpe. A intenção não era machucar. Era só essa...

David me deu outro beijo, só que desta vez mais calmo. Ele estava se concentrando somente no meu lábio inferior, onde foi o corte. Parecia que ele estava chupando o sangue de minha boca. Dou um empurrão em David para que ele pare de me beijar, só que não adiantou pois ele continuou me beijando. O empurro outra vez só que desta vez mais forte.

_Já chega! Por que você está fazendo isso? Acha que eu saio por ai beijando caras que eu acabo de conhecer?

_Sim, eu acho!

_Pois achou errado! Eu não gosto que me tratem desse jeito!

Eu já estava voltando para minha sala, quando percebo que David está me seguindo-a.

_Aonde você pensa que está indo?

_Vou voltar para a minha sala. Ao contrário de você eu me preocupo com as pessoas a minha volta.

David dá uma risada de sarcasmo. Parecia que ele estava brincando com a minha cara, pois tudo o que eu fala ele dava uma risada ou abria um sorriso muito falso.

_Você está se referindo a sua amiga? Vick não é? Eu soube que ela e a única.

_Isso não te diz respeito!

_Claro que não! Mas eu queria aumentar sua lista de amigos.

_Eu não quero você como meu amigo! Por que eu não beijo meus amigos. O que eu mais quero nesse momento e me afastar de você!

_Que pena! Você vai ficar com um amigo a menos?

_Dá pra você parar de me seguir?

_Não. A gente estuda na mesma sala esqueceu?

_Infelizmente!

_Você é engraçada! Gostei de você!

_Se você quer alguma coisa engraçada, vai para o circo palhaço! E eu não gostei de você!

Eu já estava ficando cheia de ter uma pessoa tão arrogante me seguindo. Parecia aqueles cachorrinhos que sentem a falta do dono quando ficam dias fora. Quando chegamos na sala vejo Vick sentada conversando com algumas pessoas. Mas quando nos vê entrar na sala vai direto falar com a gente.

_Oi. Como foi o passeio de vocês?

_Horrível. – falo na mesma hora em que David diz Ótimo.

_Agora fiquei confusa, foi horrível ou ótimo?

_Foi ótimo, não foi?

_Não, não foi!

_Ah, qual é, foi tão legal.

Eu não aguento mais ficar aqui nesse lugar escutando as ladainhas desse cara. Ele e o cara mais estranho que eu conheci em toda a minha vida. Quem ele acha que é para ficar colocando palavras em minha boca? Dando palpites em minha vida, eu nem o conheço direito como ele fica se intrometendo onde não é da conta dele?

_É, tirando a parte que...

_Que...

_Que você não parou de falar na minha cabeça

_Ah é. Ás vezes eu falo demais. Eu preciso aprender a controlar minha “língua”.

_Hum.

Na mesma hora sinto um rubor em meu rosto. Eu não consigo mais olhar nos olhos de Vick. Não consigo dizer que eu tinha ficado com o cara que ela estava afim. Foi a força mais eu tinha ficado com ele.

_Emy, você está bem? – me pergunta Vick.

_Sim. Por que a pergunta?

_E que você está um pouco vermelha, e inquieta.

_ Não é nada. E só que eu acabei de me lembrar que eu tenho que terminar de completar o meu caderno de biologia. Eu não terminei de copiar o que o professor estava passando no quadro.

_Mas ele não passou nada. Você está mesmo bem?

_Sim.

_Tem certeza mesmo? – pergunta o intrometido do David.

_E você se preocupa mesmo?

_Claro que sim.

_Sério mesmo. O que está acontecendo? – pergunta Vick.

_Nada! Olha eu não quero mais ficar aqui. Então eu vou para casa!

_Mas eu ia te levar!

_Não! Esquece. Eu vou andando. Minha casa não e tão longe assim. Eu posso ir sozinha.

_Tá ok, então. Me ligue quando você chegar em casa.

_ Tudo bem. Tchau!