O Sentido De Amar escrita por Jean Lucas, Karen Borges


Capítulo 2
Capítulo 2 - Rotina


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Boa leitura :3



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Era 6h30min da manhã... E nossa! Como eu queria ter ficado em minha cama dormindo mais um pouco, ou quem sabe para o resto da vida. Não tinha vontade nenhuma de levantar dali e ir para aquela escola, de novo. Estou ali desde que me entendo por gente, e faz um bom tempo isso. Eu fiquei deitada olhando para o teto do meu quarto, onde se encontrava um pôster da minha banda preferida, The Beatles. Eu lembro que quando eu era pequena, meu pai costumava me colocar para ouvir junto com ele “Hey Jude”, “Let It Be”, entre outras músicas da banda, eu as ouço até hoje, porque elas me fazem sentir a presença dele em mim e me recordam a melhor parte da minha história miserável. Eu sinto falta disso até hoje, queria que as coisas não tivessem mudado, queria que ele não estivesse partido e que ficasse para sempre comigo, eu era feliz ao lado dele e sinto que até hoje ele foi o único amigo que tive em toda minha vida e sei que isso nunca vai mudar. Meus olhos encheram de lágrimas e eu estava prestes a chorar quando meus pensamentos são interrompidos por batidas na porta.

Era minha tia, Cate, na verdade seu nome é Catarina, mas ela detesta ser chamada assim e detesta ser chamada de tia, diz que é muito nova para ser chamada assim e que se sente uma beata da igreja quando se referem desse jeito a ela. Eu moro com ela e meu primo Tonny, e posso dizer que ele não é uma das melhores pessoas que alguém queira conhecer, não sei como ele pode ser meu primo, nunca vi alguém mais obsoleto que ele. Enquanto pensava nisso. Estava me vestindo, peguei uma blusa rosa de mangas compridas, calça jeans justa e botas de couro, eu nunca fui muito vaidosa, a única coisa que eu usava diariamente era lápis de olho, porque meu pai dizia que meus olhos deviam ser destacados, “que os olhos são as janelas da alma”. Meus olhos são verdes, bem verdes, cabelos em um tom avermelhado presos em um rabo de cavalo e sardas espalhadas pelas minhas bochechas que tem suas maçãs bem redondas, sou o tipo de garota magricela e baixinha que nenhum garoto olha com um interesse aparente, eu tenho dezesseis anos e pareço ter três anos a menos que isso.

Peguei minha bolsa e minha pasta de livros, desci as escadas em um impulso passando pela cozinha, peguei uma maçã bem vermelha e devorei em alguns minutos... A escola não ficava tão longe dali, antes de sair passei para me despedir de Cate e ela me deu um beijo na testa, disse para eu tomar cuidado e que Tonny iria comigo, ela havia matriculado ele lá para fazermos companhia um para o outro, eu sinceramente não fiquei feliz com isso. Não que eu não gostasse dele, mas como já mencionei, ele não é muito amigável. Lembro que a primeira vez que fui tomar banho na casa em que moramos ele tentou me espiar entre as brechas da porta do banheiro, Cate viu isso e deu umas boas tapas nele, desde então nossa relação não foi uma das melhores.

O silêncio perdurou desde a porta de casa até os portões do colégio, eu caminhei até o corredor principal procurando minha sala, olhei para trás e não vi Tonny novamente, eu realmente estava distraída quando um garoto esbarrou em mim, fazendo minhas coisas caírem no chão, eu fiquei com tanta raiva nesse momento, ele foi tão idiota e repugnante que saiu rindo como se isso fosse a coisa mais natural do mundo, nem pediu desculpas, educação passou longe, eu fiquei me perguntando se só esse tipo de garoto se multiplicava pela escola. Então eu lembrei que garotas burras gostam de garotos idiotas.

Depois que juntei minhas coisas fui à diretoria falar com o responsável pelo clube artes, sempre participo desde minha 8ª serie, eu sempre gostei de pintar telas, meu quarto é condecorado com telas que eu mesma pinto. Cate e o professor Charlie sempre me deram o maior apoio em relação a isso. Cate comprou todo o material necessário para que eu pudesse mergulhar de cabeça nisso, e o professor Charlie me ensinou todas as técnicas regulares e me ensinou a treinar minhas particularidades. Ao entrar na sala, eu o vi sentado com uma xícara de café ao lado de seus papéis, nunca vi alguém tão deslumbrante quanto ele, desde o primeiro dia que o vi, eu me apaixonei perdidamente, mas nunca demonstrei isso, aliás, ele é o professor de artes e música da escola, e eu, uma simples aluna do ultimo ano do colégio. Eu perguntei a ele quando começaria as aulas de artes, ele respondeu que começaria no mesmo dia, às quinze horas. Eu fiquei admirando seu rosto, tão singelo, seus olhos negros eram tão profundos que podia hipnotizar qualquer um, seus cabelos eram loiros e sempre estavam bagunçados, se você o encontrasse no corredor poderia confundi-lo com um aluno pela sua aparência, mas, sua postura era diferente de qualquer outra que já vi, era como se eu estivesse olhando para um deus, e não para um homem.

A campa bateu e eu fui às pressas para minha classe, ela ficava localizada na sala sete do bloco três. Ficava a alguns metros do bloco da diretoria, para o meu azar os corredores entre os blocos não havia cobertura, e estava chuviscando. Eu andei o mais rápido possível, para me safar da chuva. Cheguei à sala, ela estava lotada, tinha grupos formados, carinhas carimbadas e alguns novatos... Eu sentei na primeira carteira e tentei prestar atenção na aula, mas a turma não parava de falar, em nenhuma das aulas, é como se todos se conhecem, inclusive os novatos, que deveriam ser tímidos, mas não, eram entrosados, a única introvertida ali era eu.

Durante o intervalo, éramos quase que obrigados a ficar no refeitório. Eu, particularmente odiava ficar ali, era muito barulho, tinha os grupinhos reunidos em mesas, o das patricinhas que ficavam olhando para os “boyzinhos” da mesa ao lado, tinha a mesa do “nerds”, onde se reuniam “gamers”, “otakus” e outros do tipo, e tinha a mesa dos “rockeiros”, eles ficavam tocando algumas musicas de bandas consagradas do rock, era um som legal, mas também só som, porque os integrantes dos grupos eram tão arrogantes e prepotentes que não me surpreendeu aquele novato idiota, que esbarrou em mim no corredor, estar no meio deles, se exibindo para aquelas garotas de peitos e bunda de silicone. A única coisa que eu realmente queria, era que um raio atingisse as cabeças de cada um deles, aí sim, eu poderia ter um dia feliz. Como se não bastasse, eu ainda tinha que ficar aturando meu primo me pedindo dinheiro para comprar porcarias que iriam estragar a boca dele, mais do que já era estragada. Eu não era obrigada a dar dinheiro para ele, mas para evitar que ele ficasse andando atrás de mim, eu preferi dar alguns trocados.

Nesse momento, eu pude ter certeza que esse ano seria chato, e que aquelas pessoas cometeriam os mesmos erros que cometeram no ano passado, e que eu continuaria sendo praticamente invisível para elas, porque elas só me procuram quando estão interessadas em algo. No meu iPhone tocava uma música que recordava o “tempo de ouro” da minha vida, o fone de ouvido estava no ultimo volume. Ah! Como eu queria que esse tempo voltasse, e que nada disso estivesse acontecendo. Eu só queria experimentar ao menos uma vez na vida ser feliz novamente, sentir esse prazer mais uma vez, e se eu pudesse voltar ao tempo, eu voltava, sem pensar duas vezes. Mais uma vez meus pensamentos foram interrompidos, só que dessa vez pela campa, e pelo interfone que dizia que o professor de matemática havia faltado, pois estava doente e não podia dar aulas naquele estado. Então, voltamos a nossa sala e pegamos nossas coisas, em cima da mesa da minha carteira havia um bilhete amassado, eu nem fiz questão de abri-lo, pois já sabia que era uma palavra que alguém tentará usar para me ofender, eu só fiz amassa-lo mais e joga-lo no lixo, se pensavam que eu ia me abater com uma simples palavra, se engaram, pois agora eu já não me importo mais com o que pensam de mim.

Eu voltei para casa, Cate havia saído e deixado um bilhete na geladeira avisando que o almoço estava no forno e que chegaria às quatorze horas. Eu não estava com fome, então fui para o meu quarto e peguei uma tela que já estava quase terminada, faltavam uns retoques finais. Era meu primeiro autorretrato. Havia ficado bonito demais para o que eu era. Mas, mesmo assim o fiz, com todas as emoções que gostaria de ter e de sentir. E particularmente, eu gostava de ficar sozinha, pois assim podia me encontrar nas coisas que mais gosto de fazer. Quando terminei a tela assinei meu nome no canto desta: “Alice dal Ponte”, e fiquei admirando a pintura até adormecer.


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