Talvez Hoje escrita por Alyss Turner


Capítulo 3
Parte 3 - Final


Notas iniciais do capítulo

Finalmente terminei õ/
A faculdade está uma loucura então desculpem o tempo que levou, terminei ele nessa semana que o Nyah ficou meio fora do ar, então só pude postar agora.
Espero que gostem do final da viagem de Debora e Lucas :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/428155/chapter/3

09h25min

Um som do outro lado do corredor me despertou dos meus devaneios. Lucas estava dormindo em sua poltrona em uma posição que não parecia nada confortável, seu rosto estava virado para mim e sua bochecha estava esmagada contra o estofado duro deixando-o com uma expressão engraçada. Eu queria tocá-lo.

Quando olhei para o relógio e percebi que ainda faltava 1 hora para chegarmos ao nosso destino quase soltei um suspiro de desanimo. Eu queria sair logo dali, queria acabar logo com aquela tortura.

Tentei de todas as maneiras manter meus olhos o mais longe possível de Lucas, mas estava se tornando uma missão cada vez mais impossível, ainda mais agora que eu havia notado que um pouco de cabelo estava caindo em seus olhos. Aquilo estava realmente me deixando agoniada! Maldito toc que resolve se manifestar nas situações mais impróprias!

Depois de tentar todas as técnicas de controle que eu conhecia não consegui mais resistir.

Fui aproximando minha mão lentamente, esperando que ele não notasse. Eu estava muito perto, quase lá, quando algo interrompeu meu movimento.

Sua mão havia agarrado a minha a milímetros do seu rosto e agora ele estava com os olhos abertos. O movimento foi tão repentino que me deixou assustada.

— Tinha... cabelo... no seu rosto — expliquei gaguejando pelo susto.

— Ah — ele respondeu soltando minha mão e balançando a cabeça para despertar completamente. Eu continuei congelada na mesma posição — Obrigada — murmurou logo em seguida com a voz ainda sonolenta e tirando o cabelo dos olhos ele mesmo — Não consigo dormir direito nesses bancos — reclamou por fim.

— Não são nem 10 horas e você já está com sono, você não dormiu essa noite não é? — conhecendo os hábitos noturnos de Lucas minha pergunta se transformou quase em uma afirmação. Ele também não fez questão de respondê-la, apenas me ignorou e continuou fazendo alguns exercícios para se alongar.

Depois de alguns minutos ele voltou a colocar seus fones e eu a ler meu livro, ou pelo menos tentar lê-lo.

Então subitamente ele resolveu fazer meu ombro de travesseiro, ou algo assim, deitando a cabeça sobre ele sem nem pedir a mínima autorização, e me fazendo pular de susto com o gesto repentino.

— O que esta fazendo? — perguntei encarando-o zangada, mas sem expulsa-lo dali.

— Minhas costas estão doendo — ele respondeu como se aquilo explicasse tudo.

— E o que eu tenho a ver com isso? — insisti.

— Pare de ser tão chata — reclamou fazendo uma careta — por favor — completou com um sussurro enquanto fechava os olhos. Eu estava prestes a começar a me mexer para expulsa-lo dali quando ouvi aquilo, acabei perdendo a coragem no mesmo instante.

Ele tinha um cheiro bom, que lembrava um pouco hortelã e algo doce. Eu queria me aproximar mais. Os fios escuros do seu cabelo faziam contraste com os de tom dourado do meu, pensei que talvez devesse tirar meu cabelo de perto do seu rosto, aquilo provavelmente devia estar incomodando, mas eu mal ousava me mexer, por outro lado também não conseguia desgrudar meus olhos dele. Meu coração estava acelerado. Como eu sou idiota.

Eu achava que ele havia adormecido novamente, porém comecei a ouvir uma melodia sendo cantarolada baixinho, quase em sussurros. Reconheci a musica no mesmo instante, I Will dos Beatles.

— Que música melosa! — comentei rindo, aquilo não combinava muito com ele.

— É Beatles! — ele respondeu com tom indignado.

— Mesmo assim ainda é melosa — insisti — Além disso, você canta muito mal sabia? — completei para provocá-lo.

— Quieta! — retrucou antes de continuar seu canto sem se importar com a minha reclamação, ou talvez exatamente porque eu tinha reclamado.

E fazendo questão de cantar boa parte da sua playlist pelo resto da viagem, me deixando a beira de um surto.

Então subitamente o ônibus parou e a sua musica também. Porém ele não fez menção de se levantar ou pelo menos se mover, sua cabeça continuava recostada em meu ombro e seus olhos estavam fechados.

— Lucas, nós também precisamos descer — me obriguei a falar quando os últimos passageiros finalmente saíram, tenho que admitir que eu também não queria sair, a viagem que antes parecia que duraria uma eternidade acabou passando rápido demais.

— Eu sei — ele respondeu em um sussurro levantando-se.

Eu também o segui para fora do ônibus, éramos os últimos passageiros a pegar as bagagens também, como eu imaginei.

— Vai ficar por muito tempo? — perguntei apontando para sua enorme mala.

— É, acho que sim — ele respondeu jogando a cabeça para o lado e depois me lançando um sorriso divertido — 5 anos me parece bastante tempo — completou como se estivesse se segurando para não rir.

Eu parei no mesmo instante.

— Isso quer dizer que... — falei incrédula. — Porque você não me contou seu desgraçado? — gritei em plena rodoviária, algumas pessoas se viraram para nos observar, mas não me importei. Lucas desta vez não se segurou e começou a rir alto.

— Em primeiro lugar, porque eu perderia essa sua cara. E em segundo, porque você não perguntou! — disse dando de ombros.

— M-Mas, você adora aquela cidade! — exclamei ainda sem acreditar.

— Eu só vou me mudar, não fui exilado de lá idiota, posso voltar quando eu quiser — ele retrucou revirando os olhos. — Além disso, lá não seria a mesma coisa sem... antes.

Ele começou a frase de maneira normal, mas pareceu mudar seu sentido no final, como se subitamente tivesse se arrependido do que iria dizer, eu conhecia bem essa sensação.

— Não seria a mesma coisa sem antes? — perguntei com um sorriso maroto, implicando com a maneira estranha como a frase soava.

— Sim — insistiu teimoso como sempre, mas desviando os olhos no momento da resposta.

Continuei com o mesmo sorriso no rosto, mas não impliquei mais com ele. Eu estava feliz, mais feliz do que eu poderia aguentar, não tinha percebido o quanto queria continuar perto dele até aquele momento. Agora poderíamos continuar juntos...

Juntos...

Enquanto pensava nisso ele pegou sua mala e começou a andar, a se afastar. Percebi então que aquele era o caminho que estávamos pegando, não importa o quanto estivéssemos próximos, nossas atitudes nos deixavam cada vez mais longe.

Não, minhas atitudes.

Ele havia ido até ali, deixado sua cidade, ele havia feito tanta coisa e o que eu fiz? Nada, absolutamente nada.

Eu sou mesmo uma covarde. Mas eu não quero continuar assim, eu quero... Tentar.

— E se eu disser que não acredito em você? — perguntei puxando-o de volta pela manga da camisa.

— Sobre o que? — retrucou curioso.

— Sobre o motivo de você ter vindo para essa cidade. E se eu disser que acho que você veio por minha causa? — continuei reunindo toda a coragem que tinha.

Sua reação foi semelhante à de levar um soco no estomago. Por um momento pensei que ele tivesse entrado em estado de choque pela atitude direta e repentina.

Já estava pensando que ele não responderia quando finalmente ouvi as palavras saindo de sua boca.

— E-Eu diria que você está achando demais — ele falou parecendo nervoso, mas de maneira firme.

Soltei sua blusa. No fundo eu sabia que isso iria acontecer, era uma ideia impossível, mas isso não impediu que aquele nó se formasse em minha garganta.

— É, acho que sim — falei com a voz fraca, baixando a cabeça e também pegando minha mala.

— Ei, espere — ele segurou meu braço impedindo-me de passar por ele. — Porque disse isso? — Como se eu fosse responder, o que ele queria afinal? Rir da minha cara?

— Por nada! — respondi bruscamente tentando me livrar dele.

— Ninguém fala algo assim por nada — insistiu, mas diferente do que eu havia imaginado, sem um sorriso arrogante no rosto. Na verdade ele parecia ansioso.

— Eu falo — teimei jogando-lhe um olhar duro.

— Não, não fala — retrucou com sua expressão ainda séria.

— Faria alguma diferença para você se eu falasse a verdade? — perguntei de uma forma que mais parecia uma acusação.

— Faria — ele respondeu um segundo depois. Seus olhos fixos nos meus transmitindo uma sinceridade e também certa ansiedade que eu nunca havia visto antes em Lucas.

Talvez por isso eu tenha continuado a falar, mesmo sabendo que não devia, mesmo sabendo que quanto mais eu continuasse ali mais eu iria me magoar.

— Eu realmente queria que você tivesse vindo por minha causa. Eu queria porque sou uma idiota que não sabe ser sincera sobre o que sente e que sempre acaba metendo os pés pelas mãos, mas que no fundo, só queria ficar mais algum tempo perto de alguém com que ela se importa — falei como se estivesse colocando para fora tudo que eu sempre quis dizer, mesmo assim, ainda exclui o principal motivo de todo aquele discurso.

— Eu estou aqui, não estou? — a pergunta parecia mais uma provocação para que eu continuasse a falar, fiquei tentada a falar tudo de uma vez, mas como sempre, o meu lado covarde foi maior.

— Não do jeito que eu queria — respondi baixando a cabeça e pegando novamente minha mala — Deixa pra lá, você não entenderia, é impossível — completei me virando para recomeçar a andar, e repetindo mentalmente comandos para minhas glândulas lacrimais continuarem estáveis.

Estava prestes a dar meu primeiro passo quando ele agarrou novamente meu braço fazendo-me virar de forma brusca.

— Você é uma completa idiota — disse subitamente, seu rosto muito próximo do meu, como se estivesse acusando-me de algum crime.

— O que diabos... — comecei a reclamar, estava prestes a xingá-lo com algumas das piores palavras que eu conhecia quando ele continuou.

— Não, nós somos dois completos e absurdamente idiotas! Eu não acredito que... que... — agora ele havia se afastado um pouco e falava rindo e balançando a cabeça de forma incrédula.

— Não acredita no que? — perguntei já impaciente com a sua incapacidade de terminar a frase.

— Que eu levei tanto tempo para fazer isso! — ele respondeu parando de rir e cravando seus olhos nos meus.

Por um segundo me perguntei do que ele estava falando, e então repentinamente ele se aproximou, ficando tão próximo que eu pude sentir pude sentir seu nariz tocar o meu e ver seus olhos indo em direção a minha boca, tão próximo a ponto de me fazer prender a respiração, mais próximo do que eu acreditava ser possível.

E por fim, finalmente, o impossível aconteceu.

Fim


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, curtiu o final da história? Não? Acha que alguma coisa poderia ser diferente?
Não deixe de comentar, não deixe de falar tudo que achou :3
Mas espero realmente que tenha gostado!
Até a próxima!