Talvez Hoje escrita por Alyss Turner


Capítulo 1
Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Está é a primeira parte do conto. Ele será dividido entre horários, narrado em primeira pessoa pela Debora e contara com alguns flashbacks durante a história. Tentei organiza-lo da melhor maneira possível, mas se alguma coisa estiver confusa por favor avise! :3



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07h30min da manhã

No dia do meu aniversário de 17 anos eu recebi o melhor presente que poderia existir, pelo menos para mim, a notícia de que eu havia sido aprovada no curso de letras de uma das melhores faculdades públicas da região. E o melhor, em uma cidade bem longe da minha.

E agora eu estava andando pelo corredor do ônibus, sozinha, prestes a ir em direção a minha independência. Nos meus planos este seria o segundo dia mais feliz da minha vida, mas como sempre, meus planos nunca dão certo.

— 31, 32, 33, 34, 3... Ó merda! — no momento em que avistei meu lugar o sorriso que mantinha em meu rosto desapareceu completamente.

A pessoa sentada no acento ao lado do que deveria ser meu por outro lado abriu um sorriso resplandecente quando me viu.

— Ora, ora — ele falou com os olhos brilhando de excitação — Será que o seu assento seria este? — completou indicando o banco ao seu lado.

— Por favor, me diga que isso não esta acontecendo! — implorei fechando os olhos para tentar acordar do pesadelo. Aquele deveria ser um dia perfeito, o segundo melhor dia da minha vida, e isso significava que Lucas Collins não deveria estar ali, de jeito nenhum!

— Qual é o problema Debs, tenho certeza que essa viagem vai ser muito divertida — ele exclamou inclinando a cabeça para a direita com um sorriso de anjo e os olhos de um demônio.

— É, eu também. E se me chamar de Debs de novo eu te mato! — ameacei antes de me jogar mal humorada no assento que seria meu pelas próximas 4 horas.

07h45min da manhã

Saímos da rodoviária há 10 minutos, nesse meio tempo não trocamos mais nenhuma palavra, mas Lucas me lança olhares esporádicos a cada 30 segundos. Sempre que o pego fazendo isso o encaro com cara feia fazendo-o voltar a olhar para a janela.

E uma parte de mim se odeia por ser assim tão grossa. Uma parte bem pequena.

Mas afinal, o que ele estava fazendo aqui? Já fazia duas semanas que eu não o via. Tinha ouvido boatos de que ele iria começar a estudar na faculdade da nossa cidade, assim como todos os seus outros amigos retardados, e pelo que eu saiba as aulas de lá já haviam começado, então o que ele fazia viajando?

— Que cara é essa? — ele perguntou me observando com curiosidade.

— Você não deveria estar estudando agora ou algo assim? — fui direto ao ponto, como sempre.

— Por quê? — ele retrucou inclinando a cabeça com curiosidade. Ele tinha essa péssima mania, e mesmo que esse gesto fosse um pouco fofo, era uma péssima mania.

— Você não vai cursar faculdade? — insisti.

— Sim, e daí? — ele estava claramente se fazendo de desentendido.

— Esquece — respondi desistindo da conversa, não era como se eu me interessasse pela sua vida estudantil para falar a verdade.

Porém ele continuou me observando.

— O que foi? — perguntei encarando-o novamente, incomodada com os seus olhos em mim.

— Nada — ele respondeu finalmente desviando o olhar.

Dei de ombros e puxei o livro que estava levando na minha bolsa. Ignorar era a melhor atitude no momento, já que o meu primeiro plano, de não vê-lo mais assim que as aulas terminassem, havia sido arruinado eu deveria pelo menos manter o mínimo de contato possível. Seria melhor assim, quanto menos ele falasse ou quanto menos eu olhasse para ele tornaria as coisas mais fáceis. Assim, provavelmente logo logo eu esqueceria da coisa mais idiota que eu já havia feito na minha vida.

O negócio entre Lucas e eu é que; nós nunca nos demos bem. Desde o primeiro dia em que nos vimos há 12 anos, nunca.

Para retratar isso vou relembrar brevemente o nosso primeiro encontro:

Naquela época eu estava cursando a pré-escola, entretanto já havia aprendido a ler e a minha paixão pela literatura já estava começando a aflorar, talvez por isso eu não tivesse assim tantos amigos. Durante a aula nos sentávamos em classes para dois alunos e por algum motivo com dois meses de aula eu ainda não tinha uma dupla.

Porém, nesse dia antes de começarmos a aula nossa professora apareceu com uma novidade, um aluno novo.

Com uma estatura menor que a maioria dos outros garotos da turma, cabelos negros, enormes olhos azuis e uma cara extremamente emburrada, Lucas mal se apresentou para a turma. Então quando a professora disse para ele se sentar ao meu lado é claro que eu fiquei nervosa, mesmo assim para orgulho dos meus pais, eu tentei ser educada.

— Oi, meu nome é Debora — me apresentei com o sorriso mais alegre que consegui. Porém ele apenas me encarou por alguns segundos com aquela mesma expressão de gato mal humorado antes de voltar a olhar para frente e me ignorar completamente — Poderia pelo menos responder, bobão — sussurrei também emburrada.

— O que foi, baleia? — ele se virou me encarando com raiva.

Lembro que nesse momento tudo que pensei foi “baleia????”. Tudo bem, eu realmente era uma criança um pouco cheinha, mas baleia era um extremo exagero ofensivo!

E foi nesse momento que eu enfeie meu caderno da cara dele.

08h05min da manhã

Estou tentando me concentrar na leitura a mais ou menos 15 minutos, sem sucesso.

— O que você tanto olha? — finalmente perguntei sem conseguir mais me conter, era impossível fazer qualquer coisa com os olhos dele me seguindo daquela maneira.

— Eu sabia que você não iria se segurar por muito tempo! — ele exclamou como se tivesse acabado de vencer uma batalha. — Se você não gosta que te observem porque diabos escolheu fazer letras?

— Existem mais coisas que uma pessoa formada em letras pode fazer além de dar aulas — falei já cansada de explicar aquilo cada vez que alguém me perguntava que curso eu iria fazer.

— Tipo o que? — ele insistiu. Repassei mentalmente a lista de atuações da profissão que eu já havia decorado há algum tempo, mas não estava nem um pouco a fim de repeti-la para Lucas.

— Não estou com a mínima vontade de discutir isso com você, além do mais, você sabe que eu sempre quis ser escritora. — falei exalando gentileza, como sempre. Mas era verdade, meu sonho nunca foi um segredo para ninguém, inclusive para ele. — E você, vai cursar o que? — me obriguei a perguntar quando percebi que ainda não sabia que curso ele iria fazer.

— Engenharia — agora foi minha vez de encará-lo — O que foi? Eu sou bom em matemática, você sabe. Aliás, pelo que eu me lembre se não fosse por mim certa pessoa teria repetido o 2° ano, não é mesmo?

— Cale a boca. Eu só estava pensando em como a vida é injusta. Porque eu vou trabalhar com o que eu gosto e ser pobre enquanto você também vai trabalhar com o que gosta e será rico? — perguntei olhando-o de forma acusadora, como se de algum jeito aquilo fosse culpa dele.

— É simples, você só precisa se casar com um cara rico — ele respondeu com um sorriso alegre e menos diabólico — Isso se você encontrar algum suficientemente louco para isso. — mas é claro, ele nunca poderia ser legal por mais de dois minutos.

— Eu poderia dizer muitas coisas para retrucar isso, mas... — eu iria dizer “mas provavelmente sua pouca capacidade mental não deixaria você entende-las”, porém subitamente me lembrei que não deveria estar falando com ele.

— Mas...? — ele insistiu, porém eu me mantive em silêncio pegando novamente o livro que estava lendo e mantendo os olhos cuidadosamente focados nele. — Droga, você sempre faz isso! — ele reclamou virando-se para a janela com sua expressão emburrada característica.

Eu queria perguntar o que, o que eu sempre fazia, mas não perguntei. Porque embora eu faça pose, no fundo eu sou uma completa covarde, e estava com medo do que ouviria.


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Notas finais do capítulo

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