Trocados escrita por Miyuki Yagami


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Yo minna o//
Me perdoem pela demora, é que eu passei o final de semana todo ocupada (:P), e só deu pra postar agora, se bem que eu já tinha escrito esse capítulo, mas eu não gostei muito e reescrevi. Ainda assim, eu não gostei ;-;
Muito obrigada pelos comentários!! o/
Boa leitura o/
P.S. O Kaito vai narrar agora, ok?



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Eu sempre detestei pessoas. Não detestar do estilo “querer que morra”, só detestar do tipo “não me importo”. Há muito aprendi que não se importam, e, sinceramente, hoje em dia não faz a menor diferença pra mim.

É claro que, como sempre, existe exceções, pessoas que eu realmente odeio.

Como Hatsune Miku.

Eu só detesto a visão dela sobre as coisas. Tudo tem que estar totalmente perfeito, sem qualquer defeito, ou algo do tipo. Ela é a típica garota rica.

Não sendo rica.

Pouco me importa, de qualquer forma.

Ela consegue me irritar por sempre ficar enchendo o saco sobre coisas estúpidas. Qual o problema de eu me vestir da forma como quero? Qual o problema se eu sempre fico vagueando enquanto o professor dá aula? Isso não é problema meu? Por que ela insiste em se intrometer?

O engraçado é que não é só comigo. Todo mundo já se irritou com as atitudes perfeccionistas de Hatsune Miku. “Não faça aquilo”; “Faça aquilo”; “Tire os pés da carteira”; “Não zombe do professor”; “Não dê cuecão nos outros”; “Não faça cola”; “Faça suas atividades sem copiar dos outros”; “Vista uma roupa decente”; “Não deixe o trabalho nas costas dos outros”. Uma bobagem. Fala sério, pessoas que implicam até com cuecão não deveriam existir.

Foi por isso que eu odiei extremamente quando acordei no corpo dela.

***

Aquele dia foi bem monótono. Eu irritei Hatsune Miku como sempre, não prestei atenção na aula, apanhei de uma garota e fui para a direção. Certo, apenas a parte de apanhar de uma garota não é comum. Tá, talvez um pouco. O fato é que eu deveria pegar detenção novamente.

Tanto faz.

E para piorar, Hatsune Miku cumpriria detenção comigo. Tem como ficar ainda pior?

Eu duvidava.

Mas, como dizia minha vó: “Pense no lado positivo das coisas”. E eu estava pensando. Pensando em maneiras de irritar Hatsune Miku na detenção.

Sai da sala do diretor e Hatsune Miku passou por mim. Ela trombou e depois recuperou o compasso, sem me olhar nos olhos. Sorri. Agora ela realmente estava furiosa.

Peguei a minha moto e cheguei em casa. Mal tive tempo de tomar um banho e trocar de roupa, que desabei na cama.

O pior foi ter acordado no outro dia.

Acordei como fazia diariamente. Joguei o despertador no chão, depois o peguei de novo e o joguei na parede. Ele parou de fazer alarde. Arrastei-me para fora da cama de casal, sem animo algum.

Comecei a rastejar por meu quarto. Era realmente uma droga aquele lugar ser enorme, dava ainda mais preguiça. Escutei Akaiko gritar coisas para meu irmão sobre aquele ser seu brinde. Revirei os olhos enquanto batalhava. O que eu fiz para merecer essa família?

Entrei no banheiro de meu quarto e me despi. Fiquei de olhos fechados enquanto abria o chuveiro. Essa era minha rotina. Passar quase uma hora dormindo enquanto a água batia em meu corpo.

Fiquei sonhando acordado com dias melhores sem Hatsune Miku e sem escola. Só eu, minha moto e meus fones.

Até que, começaram a bater na porta do meu banheiro.

- KAITO!! NÓS TEMOS QUE IR. – A pestinha da minha irmã gritava.

- O que diabos você está fazendo no meu quarto? – gritei de volta.

- O Taito e o Akaito vão nos deixar aqui! – Garotas são insuportáveis.

- Eu vou depois. – gritei.

- Eu não estou conseguindo te ouvir! – berrou.

Desliguei o chuveiro e respirei fundo. Você não vai perder o controle. Você não vai perder o controle. Não vai, não vai...

Dou um murro na porta e isso espanta minha irmã. Pelo menos não escuto mais nada. Encaro minha mão fina que está na porta e...

Espera, mão fina?

Viro meu corpo lentamente e me olho no espelho. Meu pior pesadelo virou verdade. Eu sou uma garota!

Sem querer, eu grito de susto, e ouço minha própria voz estridente ecoando pelo banheiro.

Por Kami! Agora eu sou a insuportável da Hatsune Miku.

***

Cubro-me com uma toalha e fico sentado no chão. Não pergunto como ou por quê, eu sei que a culpa é daquela bruxa. Tem que ser.

Espero mais um tempo dentro do banheiro, só para garantir que meus irmãos foram embora. Saio e engatinho para fora do quarto. Continuo assim até o quarto da minha irmã.

Eu nunca achei que Akaiko servisse para alguma coisa, até precisar agir como uma garota contra a minha vontade. Arrombei a porta e adentrei a fortaleza das coisas fofas. Minha irmã tinha uma pequena queda por coisas fofas e por shoutas, vá entender. Ainda espero que eu seja adotado.

Passo pelos vários e esquisitos bichinhos de pelúcia e vou até o gigantesco armário. O abro e só vejo vestidos.

Vestidos de todas as cores.

Estiro a língua. Minha irmã não podia variar não? Pego um vestido rosa, uma coisa que Hatsune provavelmente usaria e... Por que estou sendo legal com ela?

Eu não estou pagando meus pecados sendo ela?

Jogo o vestido no chão e procuro o pior vestido da minha irmã. O mais ridículo é um preto com saia rodada, cheio de brilho. Ótimo, é perfeito para que ela (eu) passe vergonha.

Subo na moto e dirijo até a escola.

Caras, não se iludam, saia de mulher não é tudo aquilo. Não tem ventilação como vocês pensam e também fica pegajoso.

Corro e avisto-me no pátio. Não é muito comum se ver andando pelo pátio roendo as unhas e, que horror, vestindo o uniforme.

Ah, aquela menina me paga.

Corro até eu e me chocalho. Recupero os sentidos e olho pra mim. Eu (ela) grito.

- O QUE É ISSO? – grita. É horrível você escutar a si mesmo gritando e te dando bronca.

Cruzo os braços.

- Vai começar? – pergunto, revirando os olhos. – E onde arranjou esse uniforme?

Me vejo corar e não gosto muito disso.

- E-eu tenho acesso a uniformes e também a – Ela para. – Isso-isso-isso-isso...

- Isso é um vestido sim. – termino a frase por ela.

É tão estranho ter uma garota em seu corpo. Talvez até mais estranho que estar no corpo de uma.

Ela tapa a boca. Começo a observá-la melhor. Pela primeira vez meu cabelo está penteado, uso uniforme, que até cai bem em mim (céus, o que estou dizendo?), e tenho cara de inocente. Em que porcaria Hatsune Miku me transformou.

- Tire já isso! – ordena. Apesar de ser minha voz, ainda é irritante.

Dou de ombros e pego a barra do vestido. Levanto-a lentamente. Eu grito de novo.

- Não tire a roupa! O que está fazendo? – berra.

- Você não mandou tirar a roupa? – pergunto, piscando meus olhos de garota.

- Você está louco? – grita. Ela balança meus punhos. Cara! Isso é muito bizarro. – Está querendo que achem que virei uma prostituta?

Rio com a ideia.

- Não se preocupe, não coloquei sutiã. – Me vejo corar e abrir a boca para dizer algo, mas interrompo. – Não que vá fazer diferença.

Eu sou empurrado.

- Seu idiota! – berra.

Algumas pessoas param ao nosso redor. Que ótimo! Atrai uma plateia! Agora é a hora perfeita de desbancar Hatsune Miku.

Sou puxado quando penso em algo idiota o suficiente para dizer.

- Miku! Ainda bem que você chegou! – exclama uma garota loira, a mesma que me bateu, apertando com força o meu braço. – Você vai ter que aturar o Shion hoje, não é mesmo?

Aturar?

- Você fala que supostamente o odeia, mas morre de amores por ele, né? – Lembro do nome da garota. Kagamine Len ou coisa assim.

Achei o que fazer.

- Ah! Claro! – confirmo com a cabeça. – Ele é tão maravilhoso! E eu daria tudo para tê-lo. Até mesmo trocar de corpo.

A loira ri.

- Quando você começou a ser irônica? – Ela me encara. – E desde quando começou a ser uma gótica lolita?

Dou de ombros.

- Eu preciso variar.

A menina se afasta de mim e se senta no seu lugar, ainda lançando olhares estranhos em minha direção.

Sento desajeitado na cadeira de Hatsune. Fico de uma maneira claramente desleixada. Meu corpo, por outro lado, senta de maneira reta e ouve tudo com extrema atenção. Reviro os olhos. Se continuarmos trocados minha reputação descerá pelo ralo.

Apesar de considerar as pessoas da minha sala claramente estúpidas, todas, sem exceção, percebem que há algo diferente com nós dois. Tenho vontade de gritar que eu não pedi para ser uma garota e que isso não é problema deles.

Os professores também notam a súbita mudança no comportamento de Hatsune. Eles resolvem apenas lançar olhares questionáveis.

Oh! A aluna número um está bancando a rebelde sem causa!

Sentia os olhares de Hatsune perfurando meu corpo. Ok, talvez eu tivesse passado da cota.

O sino irritante para o recreio bateu, e logo fui prensado na parede. A loira me segurava com força.

- Mas que merda tá acontecendo com você? – gritou.

- Oi pra você, Len. – respondi. Ela me prensou com mais força.

- Não aja como idiota Miku! Sabe que eu odeio ser confundida com meu namorado! – gritou. Hatsune apareceu e a Len desviou a atenção dela. Ela me soltou e eu quase caio em cima dela.

- O que está fazendo aqui, Shion? – gritou Len.

- É... é... eu... eu... – gaguejou Hatsune. Revirei os olhos. Adeus reputação. E eu conseguia ficar mais ridículo ainda gaguejando. Len cruza os braços.

- Você o quê? – pergunta.

Hatsune ficou em silêncio.

- Eu a achei ridícula. – diz. – Controle sua amiga, Rin Kagamine. – Ela me lança um olhar de alerta.

- É majestade Kagamine, pra você. – retruca a loira. Ah... então é por isso que ela está aqui. Claro, eu havia confundido o nome dos dois. Rin, Len, tanto faz.

Hatsune agarra minha mão. Não preciso detalhar o quão estranho é ser puxado por você mesmo.

Ela abaixa a cabeça pra me encarar. É assim que os baixinhos se sentem... Não me admira Hatsune reclamar tanto.

- Escuta, por que eu tenho que ser você? – Ela faz cara de nojo. – Por que esse pesadelo está acontecendo?

Reviro os olhos.

- Como se eu soubesse. – Olho para o vestido. A ideia de usar um vestido é tão constrangedora que eu riria, não fosse eu ser uma garota e isso realmente estar acontecendo. – Eu também não tô muito afim de ficar nesse seu corpo.

- Sua sorte é que hoje eu não trabalho. – murmura, em um tom assustador. – E o que eu vou fazer quanto a isso?

Ela mostra o seu corpo. Sinto arrepios ao me lembrar que estou arrumado.

- Como eu posso voltar ao normal? – guincha.

Dou de ombros.

- Eu não sei. – respondo. – Só precisamos atuar como o outro.

Hatsune ri ironicamente.

- Você está fazendo isso super certo, né?

- Olha só quem fala. – retruco, emburrado.

- É, temos que agir como o outro. – Sei que ambos nos enojamos ao pensar no plano. – Portanto, nada de gótica lolita, ou desleixo.

Bagunço o cabelo dela, que na verdade é meu.

- E você, nada de organização.

Hatsune suspira.

- Então temos um plano? – pergunta.

- Sim. Temos um plano.


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