Trocados escrita por Miyuki Yagami


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Yo minna o////
E aqui estou eu com uma fanfic nova de vocaloid. Eu sei, eu tenho que parar de me lotar com tantas fanfics, mas é que veio a inspiração e... e... as outras estão acabando (algumas)@_@
Etto, é estranho escrever um Kaito assim.
Mas ok.
Boa leitura o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/428131/chapter/1

O dia em que tudo mudou começou como outro qualquer. Eu me pergunto até hoje porque isso é tão clichê. E irônico também. Acho que é porque ninguém realmente espera que uma coisa dessas vá acontecer.

Se soubesse, evitaria o que eu esqueci de evitar.

Se bem que, voltando ao tempo, não foi algo que esqueci. Foi algo que ele esqueceu. Ele. Sempre ele. Estragando tudo e tornando a minha vida um inferno.

É, ele.

Se ele tomasse juízo como todos nós orientamos tantas vezes, não seria tão complicado assim. Afinal de contas, foi por culpa de Shion Kaito que tudo isso aconteceu. Eu o odiava com razão, obviamente.

E foi por causa de uma série de fatores que fomos trocados.

Como disse, começou com tudo normal. Eu acordei atrasada, penteei o cabelo com tanta raiva que acabei fazendo com que o mesmo se embaraçasse, e corri pelas ruas desertas das casas pobres de Torinoko.

Torinoko é sempre alvo de bajulação. Uma cidade sem igual, onde seus filhos podem brincar livremente por todo o ano, e estudarem nas melhores escolas para obterem os melhores futuros, onde você sempre trabalhará no melhor emprego possível, com as pessoas mais gentis e dedicadas, e sua expectativa de vida melhorará e muito!

Ah, tá. Até parece.

Talvez Torinoko seja mesmo uma cidade assim, em algum sonho. Ou matéria de revista.

Só que eles sempre esquecem o lado sujo da cidade. O lado pobre, que fica no fim da cidade. As casas quase desmoronando, muitas construções deixadas pela metade pela falta de recursos, trailers imundos, crianças tristes, pais ausentes. Falta de sonhos ou um simples fio de esperança.

Todos que vivem lá se acostumam com as imagens cruéis que temos do mundo num todo. É quase desistir de viver. Porém, para toda regra há uma exceção. E na periferia de Torinoko, a exceção sou eu.

Eu sempre corro quando saio de casa, não para emagrecer, se eu emagrecesse correria o risco de desaparecer, mas para não ter que aturar tudo aquilo em um dia.

Então eu corro para tentar desaparecer e ignorar o pensamento dos outros a minha volta. Estudar não dá futuro. Você não tem futuro.

Não. Eles estão errados.

Chego à escola e encontro Rin. Aceno para ela. Ela está balançando a cabeça e não me vê acenar. Tenho noventa por cento de certeza que ela está se esforçando para estourar os tímpanos.

A loira só nota a minha presença quando arranco o fone de um dos ouvidos.

- Ei, seu idio – Ela se interrompe. – Ah, oi Miku.

- Oi. – respondi ofegante. Eu me escorei nela e respirei fundo algumas vezes.

- Você está tentando se matar? – perguntou, se referindo ao fato de sempre correr, e quase ser atropelada várias vezes.

- Não. E você? Está tentando estourar seus tímpanos? – revido. Rin faz biquinho.

- Não. Só que essa música é boa apenas com um volume ensurdecedor. – Assinto. Claro, para Rin todas as músicas só são boas se te deixarem surda mais cedo.

Eu a puxo para dentro da escola. A multidão de alunos começa a aparecer. Eu odeio ter de ficar espremida. Não é algo bom como comer alho poró.

Rin resmunga alguma coisa e me xinga algumas vezes, mas ignoro. Ela sabe que irei obrigá-la a fazer a tarefa que ela não fez. Aliás, que deve ter esquecido. O pior defeito de Rin é sua memória falha.

Ela se esquiva de mim e massageia o pulso.

- Por que está tão... nervosa hoje? – Percebi que Rin iria me elogiar de novo, e mudou de ideia.

Eu não sabia porque estava nervosa.

- Olha só, ninguém mandou você concorrer a presidência da classe e ter ganho. – Rin me lembra o porquê. Ela sempre se lembrava das coisas se era para fazer alguém se dar mal. – Agora você tem que aturar.

- Parece até eu falando. – murmurei.

- Ah, deixa de ser idiota, Miku. – Rin colocou um braço em torno de mim, se escorando na cara dura. Eu tirei o braço. – É só o Shion.

É, só o Shion.

- Eu odeio ele.

- Odeia nada.

- Odeio sim.

- Não odeia.

- Odeio.

- Não.

- Eu estou dizendo que odeio.

Rin deu um berro e as poucas pessoas na sala a olharam. Ela as encarou de volta e desviaram o olhar. Rin é uma daquelas meninas baixinhas e encrenqueiras.

Ela voltou sua atenção sobre eu odiar ou não o pior aluno da escola.

- Não odeia. – Rin me lançou seu olhar mortal. – Por que o odiaria?

- Eu o odeio porque é irresponsável, porque chega atrasado, porque dorme na aula, porque presta mais atenção no iPad do que nos outros, porque é rico e mimado.

Para mim são motivos bons o suficiente.

- Você não pode julgar os outros assim. – repreendeu Rin. Ela até tinha razão. Na escola, antes de ser considerada a aluna número dois nas aulas, superada apenas por Megurine Luka, e aluna número um nas atividades em geral, todos me rejeitavam. Só porque sabiam que eu ganhei uma bolsa de estudos.

Rin foi a primeira pessoa que me deu uma chance.

O professor interrompeu nossa discussão e nos sentamos. Eu estava errada. Mas Shion Kaito é um idiota. Realmente é.

Quando a terceira aula estava acabando, a porta foi aberta e um garoto entrou. Era ele. Não usava uniforme (não era obrigatório, mas ainda sim), e sim calça jeans, blusa preta, all stars preto e uma jaqueta de couro. Seu cabelo azul escuro estava molhado e seus olhos, igualmente azuis, estavam voltados ao professor, como se ele o desafiasse a dizer que estava errado.

E ele estava errado. Era por isso que eu precisava falar com ele.

Kaito jogou seus materiais na mesa do fundo e se sentou ali. Eu o repreendi com o olhar, e não deu muito certo. Ele me ignorou completamente.

Tremi de raiva.

Esperei o sinal tocar e nos liberar para o almoço. Todos se levantavam rapidamente das cadeiras e conversavam sobre assuntos diversos. Rin ficava intercalando olhares entre eu e Kaito. Ele me olhava, quase como se pressentisse que eu iria encher o saco.

Respirei fundo e fui até ele.

Kaito ficou trocando a música que ouvia em seu iPad. Continuei parada esperando ele achar a música ideal. Quando achou algo que lhe agradasse, tirou os fones e guardou o iPad na bolsa. Guardar = Jogar não civilizadamente.

- O que você quer? – perguntou. Sua voz arrastada me deu preguiça.

- Eu preciso conversar com você sobre o seu comportamento indevido.

Kaito se ajeitou na cadeira e depois assentiu, digerindo.

- Pode me fazer um favor? – perguntou. – Vá a merda.

Meu rosto pegou fogo. Ninguém além de Rin tinha direito de usar um vocabulário daqueles comigo.

- Escute aqui – bati na mesa de Kaito. – Você vai parar de chegar atrasado e vai começar a prestar atenção nas aulas, entendeu?

Kaito cruzou os braços.

- É você que vai me obrigar? – Ele chegou mais perto. – Com o quê?

Procurei algo e achei um lápis em sua mesa. Eu joguei o lápis em Kaito. Eu juro que não foi minha intenção acertar seu olho. Mas escapou.

Kaito começou a me xingar e a partir daí tudo aconteceu rapidamente. Rin apareceu e deu um soco em seu rosto.

E então fomos para a direção.

Muitos alunos detestavam a direção por significar problemas, mas eu não. A direção era o meu lugar protetor.

Não naquele momento.

Rin sentou emburrada em uma poltrona. Ela bufou. Estivera na diretoria por inúmeros motivos. Mas cada vez parecia mais entediada. Um fenômeno. Kaito se jogou em outra poltrona, igualmente entediado, e apesar do soco de Rin, ele não aprecia irritado, ou mesmo frustrado por ter apanhado de uma garota.

Apenas eu me sentei à frente da mesa do diretor. Eu sentia minhas mãos tremendo. Estava muito encrencada. Ninguém perdia uma bolsa por jogar um lápis em um delinquente não é?

O diretor, um senhor baixinho e com cabelos brancos, entrou e se sentou. Ele lançou um olhar de desaprovação para mim.

- Ah, Miku... Eu sabia que sua amiga lhe arrastaria para esse caminho. – disse. Rin ignorou o comentário.

- Posso ir embora? – perguntou ela.

- Você pode. – respondeu o diretor.

- O quê? – perguntamos incrédulas.

- Ela agiu por pura defesa a você, Miku. – Pela cara do diretor logo deduzia que ele não concordava com essa política.

Rin pegou suas coisas e correu para fora da sala.

O diretor suspirou. Ele olhou para a cadeira vazia do meu lado e Kaito se sentou ali. Fiquei um pouco surpresa. Então ele respeitava alguém...

- Por que você jogou um lápis nele, Miku? – perguntou o diretor.

Eu quis rir. Não dava para acreditar no que estava acontecendo.

- Pois ele não quer ouvir ninguém, é um egocêntrico. – respondi.

- E por que você falou mal de Miku, Kaito? – perguntou o diretor.

- Porque essa menina é irritante e ela tentou me cegar. – murmurou Kaito.

Não sabia que além de estúpido era dramático.

O diretor também queria rir.

- Vocês dois... Isso me lembra uma história que escutei uma vez. Um casal se detestava tanto que para que conseguissem conviver um com o outro, foram trocados de corpos. – A simples imagem daquilo me deu repulsa. – Mas enfim, a detenção de vocês começa amanhã.

Kaito assentiu e se levantou.

- Espera! Detenção? Por causa de um lápis? – Quase gritei.

- Sim, e espero que mude o seu comportamento. – ralhou o diretor.

Ótimo. Nunca mais jogarei lápis nos outros.

Fui embora frustrada. Havia sido um dos piores dias de minha vida, só não era pior porque teria de cumprir detenção com Shion Kaito.

Ah, e também porque no dia seguinte eu viraria um homem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!