Cap.11 [Prestando esclarecimentos]

“Eu estou aqui, bem aqui, está tudo bem” Percy repetia perto do meu ouvido enquanto me abraçava e tranquilizava. Minha visão parara de girar e eu conseguia colocar tudo em foco de novo, mas só queria me focar nele. Eu me forcei a acreditar, que só precisava me focar nele.

E, sem ao menos pensar sobre isso, apenas colocando ele no foco das minhas preocupações, tudo parou.

Eu tentei me afastar, mas ele me apertou no abraço de novo, eu falei baixinho pra só ele ouvir:

– Hey Percy, tudo bem...

– Oh – ele pareceu meio constrangido, mas se afastou – Okay.

Eu pedi pra que Leo chamasse todo mundo que, de certo modo, “não devesse estar ali”, e ele se apressou em pegar o celular.

Eu sabia oque fazer, eu sabia oque fazer para consertar todos os erros que já fiz. Mas ninguém tinha dito que ia ser fácil pra mim.

Eu entendi tudo, depois de um tempo... Eu me tranquei em um único mundo, só meu, inicialmente. Foi pressão demais pra aguentar, eu acho. No mundo original, provavelmente, eu estou em uma cama de hospital entre a vida e a morte, em um coma profundo, do qual, apenas eu sei, não pretendo acordar.

Mas, tudo foi se tornando mais sério, apenas pelo fato, de Percy ir me procurar. Desde o primeiro mundo isolado, eu apertei o botão de “deletar” nas minhas memórias, comecei do zero, criei uma nova vida, um novo mundo, uma nova família para mim, mas, ele sempre tinha um jeito de se aproximar de mim, de me fazer enlouquecer , de me fazer querer resgatar da “lixeira” todas aquelas memórias. Mas o choque sempre foi forte demais. E, eu sempre fui fraco demais. Eu nunca percebi que eu tinha pessoas pra me apoiar.

Sempre que tudo voltava, as coisas boas que eu tinha, sumiam, e aquela sensação de abandono me pegava de surpresa de novo, mexia com minha mente. E eu insistia que tudo poderia ser perfeito de novo, caso eu quisesse.

Era só eu querer.

E eu queria.

Mais que queria, eu podia.

Então, com a essa única decisão, eu criava outro mundo, cada vez mais profundo, dentro do meu subconsciente, e vivia nesses mundos, apagando minhas memórias, enlouquecendo, criando outro mundo. E assim continuava o ciclo.

Mas ele nunca desistiu.

E acho que isso é o que me deu forças pra lutar. Além de Percy, Jason, Nico, Annabeth, eles vieram atrás de mim. Cada um com sua razão em especial. Percy veio por mim, Annabeth veio por Percy, Jason... Até hoje admito, que, ele foi o dono da razão que mais me impressionou, e Leo, Leo Valdez, ele veio, por que sabia, ah. Ele simplesmente sabia.

Annabeth estacionou o carro cinzento a alguns metros de onde estávamos e veio correndo pra perto. Ela pareceu meio sem jeito de cara.

Pedi pra que eles fizessem um círculo um pouco aberto, ninguém foi contraditório.

Quando todos já estavam em um círculo perfeito, eu apaguei as ruas, as casas, os morros, o céu, eu apaguei o mundo, nos deixando apenas em um lugar cinzento, entre um espaço azul claro, que se misturava com a névoa branca que parava no ar.

Eles me olharam espantados. Em dias normais, eu ficaria internamente feliz, mas hoje, era como se fosse só mais um passo de algum manual de instruções para o fim do mundo. Eu queria terminar isso logo.

– Primeiro eu quero dizer obrigada – comecei, enquanto uma porta preta comum surgia a alguns metros.

Fui até Leo, ele me abraçou e brincou dizendo que eu devia ver a luz do sol algum dia, já que do jeito que eu era “pálido” eu precisava muito. Eu ri da piada sem graça e o agradeci, ele me olhou sério.

– Vou sentir falta de te atormentar Di Angelo.

– Leo, eu preciso te pedir uma coisa.

– Manda.

– Quando todos voltarem, por favor... – ele fitou o chão - desligue tudo o que me mantém vivo.

Ele não pareceu surpreso, apenas balançou a cabeça e foi em direção à porta, desapareceu como se nunca estivesse estado ali.

Minha próxima opção seria Annabeth, mas ela parecia estar entretida em alguma conversa aos sussurros com Percy, então fui até Jason.

Ele desviou o olhar do meu no mesmo instante. Eu peguei o rosto dele com as duas mãos, o forçando a olhar pra mim.

– Por que você fez isso tudo Jason?

Ele colocou as mãos em cima das minhas e fechou os olhos.

Não disse nada.

Eu nunca precisei de palavras enquanto ele esteve ao meu lado.

– Eu te amo, Nico – foi como se os lábios dele se movessem em câmera lenta, acho que, os dois sabiam que aquele seria o nosso “adeus”.

Eu o abracei e ele retribuiu um abraço forte.

– Eu sabia que você queria ficar sozinho, mas também sabia que Percy viria atrás de você, eu só pensava... Só pensava que ele ia te magoar de novo.

– Eu vou sentir sua falta Jason...

Ele me abraçou mais uma vez e se afastou, mas, um pouco antes de ele tocar na maçaneta, eu o chamei e o puxei de novo pra um abraço, infelizmente eu sabia que ele precisava ir. Fiquei na ponta dos pés e lhe dei um beijo na bochecha. Nem acreditei no amigo que estava perdendo quando o deixei atravessar aquela porta.

Annabeth passou por mim, como se eu nem existisse e sumiu por aquela porta.

Só restou Percy. Assimilei isso ao fato de que ele sempre foi o último a desistir de mim. Não pude não sorrir quando pensei nisso. Meu sorriso sumiu no momento em que lembrei o que estava por vir.

– Percy vem aqui...

Eu senti minhas pernas paralisarem, eu não conseguiria me mover nem um centímetro, meu estômago se revirava a cada passo que ele dava, e quanto mais ele chegava perto, minha mente se tornava um branco, e não demorou muito para as lágrimas ameaçarem a borrar minha visão. Forcei-me a me empurrar um pouco mais para trás e me encostar à porta.

Em segundo ele estaria perto o bastante, em dois segundos, eu nem queria imaginar.

Eu não sei se o deixo se aproximar o que estou morrendo de vontade, ou, se o afasto, pra tudo ser mais fácil.

Pois eu acho que escolhi o caminho mais difícil desde o primeiro dia, agora não seria diferente.

Ele estava a menos de um metro de distância, e para mim era como se nunca tivéssemos tido nenhuma intimidade. Eu estava apaixonado por um estranho.

Ele parou a alguns centímetros de mim, sem ter a menor ideia de como eu estava vulnerável. Eu era dele, e ele nem se dava conta.

O observei enquanto ele mordia o lábio inferior, me deixando completamente confuso sobre o que realmente estava sentindo, ele levou a mão direita aos cabelos negros e os bagunçou um pouco, fitou o chão parecendo envergonhado.

– Nico, sobre Jason... Eu...

Essa era minha deixa.

– Você precisa ir embora.

Ele me olhou arregalando os olhos, surpreso. Fiz a melhor cara de durão que eu consegui.

– Eu já entendi. Você já pode ir.

A proximidade entre nós dois me dava arrepios.

Ele chegou mais perto, e mais perto, e eu estava em dúvida se meu coração ia explodir, ou se ia sair pela boca. Ele apenas ficou no seu lugar, batendo como louco.

Eu tentei afastá-lo, mas isso só o fez chegar mais perto, me prendendo contra a porta, enquanto meus braços ficaram presos entre mim e ele. Aquilo não estava indo como eu planejava, mas eu não podia me queixar.

– Você precisa me ouvir. Você não entende oque aconteceu lá...

– Eu sei oque aconteceu lá – eu o cortei, elevando o tom da voz, mas evitando o seu olhar.

– Esse não é o motivo disso tudo não é?

Eu não respondi, e tentei afastá-lo de novo, sem sucesso.

– Eu não vou te deixar aqui sozinho se é o que está pensando.

Calei-me, não era o que estava pensando com a boca dele tão perto da minha. Droga. E quando ela tocou a minha, eu só pude pensar que, se eu retornasse aquele sentimento, nunca conseguiria me perdoar.

Virei o rosto o fazendo arquear as costas e me olhar daquele jeito sugestivo, de que ele estava confuso.

Silêncio.

– O que está acontecendo aqui Nico?

Ele estava a um centímetro de distância.

– Não beije um cara, quando ele está querendo te fazer ir embora.

– Eu vou embora, - ele sussurrou no meu ouvido – mas te levo comigo.

– O amor é infinito Percy – eu sussurrei de volta, no tom mais sarcástico que consegui – Quando alguém quebra um caminho, ele o preenche de novo. Você vai encontrar outro alguém.

Ele se afastou por alguns centímetros, me encarou, e eu não pude evitar encará-lo de volta. Eu amo seus olhos verdes, mas agora, doía olhá-los, e pensar que ele estava triste.

Que seria desse modo que eu os veria pela última vez.

Não deixei que isso me abalasse. Aproveitei a abertura e saí de perto dele, abri a porta atrás de mim, e disse:

– A porta é a serventia da casa.

Ele me olhou confuso.

– Eu te levo junto se for preciso.

– Você vai, e vai sozinho.

Ele não disse mais nada. Puxou-me pelo braço e em poucos segundos, já estávamos juntos de novo. Nossos rostos separados por centímetros.

Ele beijou o canto do meu pescoço de leve, o que fez meu rosto corar, e me deu arrepios, ele beijou de leve a clavícula, “eu”, depois meu pescoço “te”, depois a minha boca “amo”.

Eu estremeci, pois sabia que era recíproco. Ele mordiscou de leve o canto da minha boca e eu deixei que ele me beijasse uma última vez.

Movi minha mão dos cabelos bagunçados até a sua nuca, enquanto ele segurava minha cintura e me beijava como se soubesse que essa era a última vez.

Eu o empurrei um pouco com a minha mão em seu tórax sem ao menos parar o beijo. As lágrimas não se continham mais.

“Eu também te amo Percy”.

Coloquei toda a minha força em um empurrão. Fechei a porta atrás de mim, e escorregueii até me sentar no chão invisível e gelado. O mundo a minha frente estava caindo aos pedaços, mas eu não me importava, todos estavam a salvo, ele estava a salvo.

Eu estava sozinho de novo.

Essa foi a minha vez de colocar alguém à minha frente.

Senti o chão aos meus pés começar a ceder.

Deixei que tudo desabasse, mas eu não esperava que, quando tudo desabasse, ele ainda estaria lá.

Afinal. Ele nunca desistiu de mim.