O navio estava lotado. Um monte de meio-animais estavam se preparando para a chegada na Ilha de Caballa, onde o jogo que poderia mudar suas vidas estava prestes a começar.

Fazia algum tempo que o famoso criador do jogo, Don Cavalier, presidente da Megalo Company, havia morrido. Somente agora, um ano depois de sua morte, o vice-presidente da empresa, Don Giuvanni, resolveu realizar o seu último pedido: reabrir o grande jogo da ilha de Caballa, que havia sido cancelado antes mesmo do seu lançamento, há muito tempo atrás.

Porém, havia um detalhe que Don Giuvanni havia ignorado. O vencedor do jogo herdaria não só a fortuna de Don Cavalier, mas também seria indicado como o novo presidente da Megalo Company. Quando ele percebeu que não seria o presidente se alguém vencesse o jogo, já era tarde demais; o jogo já havia começado.

Sammuel e Ashlee estavam perto da beirada do navio. Ashlee olhava encantada para o mar. Aquela viagem foi fantástica para ela, porque ela nunca tinha visto o mar. Por ser uma Sheep, tinha delicados chifres de formato circular saindo de sua cabeça, que era adornada por uma longa cabeleira rosa, muito bem lavada e cheirosa.

Já Sammuel não olhava para o mar. Ele vasculhava cada centímetro do convés, a procura das garotas que fugiram de casa para participar do jogo. Ele, provavelmente, era o único que não queria estar naquele barco, em direção a um monte de desafios.

Como se eu precisasse de mais problemas.

Ele vinha de uma família de renomados professores. E ele também era professor – em treinamento – e ensinava no instituto St. Louise, numa escola só para meninas conhecida no mundo todo. A principio era como um sonho realizado, ficar cercado de garotas todos os dias; mas depois da diretora deixar claro que se ela suspeitasse que ele estava interessado em uma aluna, ela o despediria e o processaria na mesma hora, a vida passou a ser mais complicada a cada dia que passava.

E as coisas pioraram na semana passada, quando o Clube das Sete fugiu de casa. As sete meninas mais ricas e populares haviam simplesmente sumido! E havia um boato de que elas iriam participar do grande jogo da Ilha de Caballa; então a diretora – uma velha meio-coruja – o mandou para verificar se o boato era verdadeiro, e se fosse, que ele trouxesse as garotas de volta para casa.

- Mas porque eu? – perguntou Sammuel para a diretora.

- Porque você é o único homem capacitado do nosso corpo docente. – respondeu a diretora, que quase completou com ‘e porque eu não gosto de você’.

Sammuel tinha que concordar. Os outros professores homens eram: o velho Bink, que foi passageiro da arca de Noé; e Andrew, o professor de matemática nerd que era tão magro que de frente parecia que tava de lado e de lado parecia que foi embora. Também tinha o Dean, professor de Educação Física, mas... Mas ele era um idiota.

E Ashlee, a aluna quietinha e comportada, vista por muitos como a queridinha do professor, se ofereceu para ir com ele buscar as colegas de classe.

- Sinto muito, senhorita Ashlee. Não posso deixá-la ir. – disse a diretora.

- Mas diretora... Sammuel-sensei com certeza encontrará muitos problemas... E tenho certeza que essa busca vai precisar de um toque feminino. – Ashlee disse a diretora, com seu irresistível olhar de carente. Ninguém resiste a esse olhar, e a diretora não foi exceção. Ela acabou cedendo.

Mas ela tinha um motivo secreto para ir até a ilha. Ela ouviu dizer que o jogo vai acontecer em uma ilha que fora lar de uma civilização antiga, e que muitos livros raríssimos foram descobertos e estariam à disposição dos jogadores. Ashlee era uma grande amante de livros e não podia perder uma oportunidade dessas.

O grande rabo de guaxinim de Sammuel balançou quando ele viu o que procurava: um rosto familiar. Era uma meio-gato, com um piercing na sua orelha de gato esquerda, cabelos longos e loiros, em meio a um grupo de garotas falantes.

- Lee-chan, eu já volto OK? – disse Sam usando o apelido que ele sabia que a incomodava.

- Hai. – respondeu ela desviando seu olhar para Sam. – Mas, Sam-sensei... Eu já disse para o senhor não me chamar assim...

Sam sorriu e ajeitou os óculos. – Eu sei. É que você fica uma gracinha com essa cara. – e foi andando.

Ashlee corou e tentou ignorar esse último comentário.

Sam se dirigiu até o grupo de garotas. – Com licença senhorita. Não te conheço de algum lugar? – ele estendeu a mão para tocar o ombro da Cat, mas ela acabou se virando na última hora, e Sam acabou segurando... O seio dela.

Parecia que o navio inteiro ficou em silêncio justo naquela hora. Os dois ficaram uns dois segundos naquela posição constrangedora e como centro das atenções. Mas não demorou muito para ela dar um tapão nele.

- Sai de perto de mim, seu tarado! – berrou a Cat.

E então todas as garotas começaram a espancá-lo com suas bolsas, punhos, pés, e qualquer outra coisa que tinham em mãos – uma delas o atacou com uma raquete de tênis; todas gritavam “Tarado! Pervertido! Hentai!”.

Quando elas acabaram, Sam não passava de uma massa disforme no chão.

Victoria estava muito nervosa. Não só pelo fato de ter sido apalpada por um Raccoon, mas também pelo fato dele ser seu professor. Ela havia seguido ele e Ashlee e se inscrevera no jogo.

Afinal, se aquela vaca da Rosemary (n/a: que na verdade é uma meio-girafa :B) e seu clubinho podem participar, eu também posso. Pensava ela.

A Cat tinha uma antiga rivalidade com Rosemary, a líder do Clube das Sete. Ambas eram as garotas mais populares da escola, e também eram modelos em ascensão, e uma faria de tudo para provar ser melhor do que a outra.

Agora, ela queria ganhar o jogo e provar de uma vez por todas que era a melhor. O problema era se o professor Salmão a apanhasse, ela com certeza seria mandada de volta para casa. Bom, se isso acontecer, pelo menos posso processar o Salmão por assédio sexual.

Ela estava tão distraída, que acabou tropeçando no rabo grande e escamoso de um Dragon e caiu de quatro no chão.

- Seu mané! Você não olha por onde deixa esse rabo não?

E então o Dragon se virou. Já ouviu falar em amor à primeira vista? Esse foi ao primeiro tropeço.