Avalon escrita por Mrs Green


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos que estão acompanhando, desculpa a demora!
Mas aqui está e é a ultimo capitulo, obrigada pra todos que leram e até a próxima fic! (:



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Capitulo 5

O céu já estava dominado por estrelas quando enfim o navio atracou e de lá desceu uma pequena embarcação, que agora vinha em minha direção. Eu sentia meus pés se afundando na areia e meu coração diminuindo cada vez mais à medida que o pequeno barco se aproximava. Eu sabia o que estava por vir... Na verdade eu apenas imaginava; só tive a certeza quando enfim pude ver quem estava na pequena embarcação. Era ele. Era Rumple. Seu semblante era de pura felicidade e ele não parecia ter envelhecido nem um dia sequer. Ele mal esperou que o pequeno barco chegasse a areia e pulou na água, se molhando completamente e correndo em minha direção. Se antes meu coração já era estava pequeno, agora eu sinto que ele já não se encontra mais em meu peito.

“Belle!”, ele grita enquanto corre em minha direção e eu sinto meus olhos se encherem de lágrima, por tantos motivos que eu já nem sei. “Ele está bem, ele está vivo e ele está aqui”, é tudo o que penso quando ele me abraça forte contra seu corpo, suas roupas todas molhadas me molham no processo e me causa um frio que toma conta de todo meu corpo. “Minha Belle.”, ele repete e segura meu rosto em suas mãos e me toma vários beijos, que eu aceito, mesmo sabendo o quanto é errado. “Não chore, minha querida. Não chore jamais, eu estou aqui.”, ele continua e beija meu rosto inúmeras vezes até chegar novamente aos meus lábios. Eu não respondo como ele gostaria, mas isso não o impede de continuar. “Eu temi tanto que jamais fosse te encontrar novamente.”, ele continua, me olha de cima a baixo e tem um sorriso tão grande em seus lábios. Eu tento em vão corresponder, mas eu sei o que a presença dele representa aqui e mesmo sabendo o quanto isso é errado, o quanto isso é egoísta de minha parte, eu então desejo que ele nunca estivesse aqui, mas já é tarde demais.

“Olá, Rumple.”, eu digo, enfim, e tento sorrir, mas acho que sai um sorriso torto e nada sincero, pois ele leva sua mão em direção ao meu queixo e levanta meu rosto em direção a ele.

“Qual é o problema, minha querida?”, ele pergunta. “Você não parece muito feliz em me ver.” Ele completa e eu não sei como responder, então olho em direção a casa da árvore e ele segue meu olhar. “É algum problema com a Red? Como ela está? Eu te deixei em boas mãos?” ele volta a perguntar, sua voz soando com verdadeira preocupação, o que faz com que eu me sinta mil vezes pior.

“Ela está ótima.”, eu respondo. Ele sorri novamente e me puxa pela mão, me levando então em direção à casa da arvore.

Eu olho antes para o mar, vejo os homens que ele trouxe consigo, dois no total, que ficam o tempo inteiro parados juntos ao pequeno barco que os trouxe até ali. Rumple caminha em silencio, mas é visível o quão feliz ele está de estar ali comigo. No fundo eu gostaria de sentir o mesmo, mas eu não consigo. Eu não consigo mais vê-lo de outra forma; eu olho para ele caminhando em minha frente e tudo o que eu vejo são páginas viradas; ele é tudo em minha vida, menos meu futuro... E eu gostaria de dizer que eu não queria que fosse assim, que eu ainda gostaria de vê-lo como o homem que um dia eu amei, mas eu estaria mentindo. Eu estaria sendo infiel ao que eu sinto com Red. Por esse motivo, então, eu paro de súbito, o fazendo também parar também.

Encontramo-nos logo abaixo da casa da árvore e ele se vira para mim, seu cenho franzido e sua expressão de curiosidade e confusão me deixam cada vez mais ansiosa. Não sei como contar, ou ao menos como começar a dizer tudo o que eu sinto e tudo o que aconteceu nesses últimos dois anos. Então fico em silêncio e ele se aproxima de mim, colocando suas duas mãos em meu rosto, mas no mesmo instante eu o impeço de continuar o toque e agora a confusão em seu rosto dá lugar a uma raiva, e eu vejo que, no fundo dos seus olhos, ainda reside uma fera.

“Eu preciso te contar uma coisa, Rumple.”, eu começo a dizer e minha voz é baixa, pois eu não quero que Red nos ouça.

“O quê?” ele pergunta, e seu tom de voz já não era mais carinhoso como antes, era uma mistura de impaciência e raiva.

“Muitas coisas mudaram desde que a maldição aconteceu e nós nos separamos.”, eu digo e ele fica em silencio, esperando eu continuar. “Muita coisa mudou em mim, meus sentimentos e até eu mesma.”, eu continuo, tentando tomar cuidado com minha escolha de palavras.

“Onde você está querendo chegar, Belle?”, ele perguntou, dando um passo em minha direção a ponto de nossos rostos ficarem próximos um dos outros – tão próximos que eu sinto sua respiração em meu rosto – mas eu não me afasto: eu quero deixar claro que eu não tenho medo algum dele, então permaneço onde estou.

“Red e eu... Nós nos amamos.”, eu digo, sem vergonha alguma de assumir o que eu sinto por essa mulher, sem medo algum das consequências desse amor. Em resposta a minha afirmação ele apenas ri e se inclina um pouco para trás. Sua risada continua e ele só para quando percebe pela minha expressão que eu estou falando sério.

“Você se apaixonou por uma mulher?”, ele pergunta, e quando ele diz a palavra “mulher”, ele diz com tanta repulsa e nojo que eu já não o reconheço.

“Eu me apaixonei por Red e por tudo o que ela é. Foi isso o que aconteceu, Rumple... Me desculpa, mas-”, eu tento dizer, mas ele me corta antes que eu termine a frase.

“Como você pode amar aquele monstro?”, ele pergunta, e dessa vez ele usa a palavra “monstro” com a mesma repulsa de antes. Eu não faço a mínima ideia do que ele quis dizer, então o questiono. Ele ri para si mesmo e balança a cabeça em negativa, se aproximando de mim novamente. “Você nem sabe o que ela é, não é mesmo?! E ainda diz que a ama... Mas será que ela te ama de volta?”, ele me pergunta, novamente seu rosto colado no meu, e agora eu vejo que a fera não se esconde mais no fundo de seus olhos: a fera está bem ali. A fera é ele novamente.

“Eu a amo e ela me ama de volta.”, é tudo o que eu respondo. Não acho que eu precise me explicar mais para ele, então eu dou um passo para trás, mas ele me impede e segura meu braço.

“Se ela te amasse, ela diria o que ela é de verdade...” Ele me diz, secamente.

“Ela é a mulher que eu amo!”.

“Não. Não, Belle... Ela é a mulher que pode te destruir a qualquer momento... Você não a conhece.”, ele diz, e seus dedos afundam em meu braço, me causando dor. “Você vai voltar comigo e vai esquecê-la, eu não posso deixar que você arrisque sua vida com esse monstro.”, ele completa, e eu puxo meu braço de volta para mim e me afasto dele.

“Eu acho que você é o monstro da historia.”, eu digo, enquanto toco em meu braço, sentindo a dor que ele me causara. Ele fica em silêncio e olha então para o céu, para a Lua Cheia que toma toda aquela noite, um sorriso surge então de seu rosto e ele dá de ombros.

“Eu vou lhe deixar ir, Belle... Mas só se você me fizer algo... Eu prometo ir embora e te deixar com a sua amada, ou levar vocês duas de volta a nossa terra e prometo que jamais vou me intrometer na sua vida... Se é ela quem você ama, então é com ela que deve ficar...”, ele diz, e embora sua voz seja pacífica, eu sinto que há algo por trás dessa proposta, então eu lhe pergunto qual é a condição. Ele me dá um sorriso e olha novamente para a lua. “A condição é simples: me traga a capa vermelha que ela usa.”.

“A capa vermelha?”, eu pergunto, sem entender muito bem essa condição, e ele assente, deixando claro que é esse seu desejo. “Pra quê?”.

“Apenas me traga, me traga ainda hoje... Eu estarei esperando na areia. Depois disso, ela é toda sua.”, ele me responde, e eu o vejo caminhar em direção à praia. Eu o chamo, ele se vira para mim e eu fico alguns segundos olhando para o homem que uma vez eu amei, mas sua expressão é tão fria e distante que me faz questionar se era ele mesmo a quem eu entreguei meu coração uma vez. “Algum problema?”, ele pergunta, e eu caminho em direção a ele. Eu quero contar a ele sobre Luna, sobre a filha que ele nem sabe que existe, mas assim que eu me aproximo dele, eu perco a coragem. Eu tenho medo da reação dele, medo de que ele quebre o acordo e de que não me liberte.

“Eu tenho algo pra te contar, mas só lhe contarei quando você prometer que vai me deixar seguir minha vida com a Red.”, eu digo. Ele sorri novamente e estende sua mão em minha direção, apertando a minha em um acordo.

“Eu prometo. Traga-me a capa e ela será toda sua.”, ele diz, antes de caminhar novamente em direção à praia, me deixando sozinha com meus pensamentos.

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Encontrei Luna e Red dormindo juntas. Luna tem seu corpinho completamente jogado em cima de Red, que, por sua vez, usa a capa vermelha que Rumple pediu. Eu olho para as duas, para a calma que elas me passam, e então para a capa e para o cordão que o prende a Red. Aproximo-me, então, de Luna, a afasto de Red e isso me dá uma visão completa do cordão em seu pescoço. Ela está dormindo profundamente, então eu desamarro o capuz e o deixo livre. O trabalho agora será puxa-lo dela, então eu a viro devagar na cama.

“O quê, Belle?”, ela pergunta, ainda sonolenta, mas se vira completamente em direção a Luna, a aninhando em seu corpo.

“Nada, meu amor. Volte a dormir.”, eu respondo em um sussurro. Ela não me responde e então eu puxo lentamente a sua capa, enquanto a suspendo lentamente para facilitar. Só falta um pouco para que eu tenha a capa por completo, então eu me sento na cama e olho para as duas, para as duas garotas da minha vida, e meu coração por algum motivo se aperta, como se eu pudesse sentir que algo está prestes a acontecer. Talvez seja o medo que Rumple me causou com seu retorno, talvez seja ansiedade de saber que eu terei que contar a ele sobre Luna – e eu temo que ele a tire de mim. Eu tento dizer a mim mesma que tudo vai ficar bem, mas ainda sinto meu coração cada vez mais apertado... Então eu me levanto, tento tirar meus pensamentos ruins de mim e puxo pela última vez a capa vermelha que Red usa, a trazendo completamente para perto de mim. Suspiro, aliviada, e desço rapidamente as escadas, correndo em direção a praia.

Encontro Rumple sozinho, perto da embarcação e então olho ao redor, procurando pelos dois homens que estavam com ele antes.

“Por que você está sozinho?”, eu pergunto.

“Você demorou muito, então outro barco veio ao meu resgate. Eu pedi que meus homens voltassem para o navio e vou voltar sozinho... A menos que você e Red queiram voltar comigo...”, ele respondeu. Sua voz não era sincera e ele tinha um olhar e um sorriso estranho em seu rosto. Ele estendeu a mão e eu entendi o que ele queria, então apertei a capa contra meu corpo.

“O que você quer com essa capa?”, eu pergunto. Ele abaixa as mãos em resposta e novamente olha para o céu, para a Lua Cheia que ainda nos vigia.

“Você verá.”, ele me responde, e eu me aproximo, então, entregando a ele a capa que carrego. Assim que ele a tem em mãos, um sorriso enorme surge em seu rosto e ele olha agora para a casa da árvore que está muito distante de nós dois. Eu me viro para acompanhar seu olhar e no instante em que faço isso, ele me puxa para si, me prendendo junto ao seu corpo com seus dois braços, me impedindo então de me soltar.

“Me larga, Rumple!”, eu grito, mas ele me aperta cada vez mais forte junto ao seu corpo. Ele coloca um de seus braços em meu pescoço e o aperta, fazendo com que eu jogue minha cabeça para trás e fique bem próxima a seu rosto.

“Sua amantezinha nunca te contou, mas não será mais preciso guardar segredos agora, Belle.”, ele começa a dizer, e sua voz é tão fria e distante em meu ouvindo que eu sinto um frio na espinha tomando conta de meu corpo. Eu não digo nada, tento em vão me libertar dele, mas cada vez que eu luto mais ele me aperta contra seu corpo. Eu escuto então um uivo, não muito distante, e paro então de lutar.

“Um lobo?!”, eu pergunto assustada e tento novamente me libertar dele. Eu tenho que correr para minha mulher e filha, mas não importa o quanto eu lute, ele não permite que eu vá.

“Não, meu amor.”, ele diz em um tom irônico. “Não é um lobo... Esse som que você ouve é da sua querida amante. Esse som é de Red, esse som é do monstro que ela esconde por trás debaixo dessa capa vermelha!”, e dizendo isso ele me solta. Eu paro e olho para ele e para capa vermelha que ele jogou ao chão.

“O quê?”, eu pergunto assustada e sinto lágrimas em meu rosto.

“É, minha querida. Acho que você tem um fraco por monstros... Ela é um lobisomem, metade garota, metade fera... Me pergunto agora o porque ela nunca lhe contou isso.”, ele completa e eu olho para a casa da árvore e escuto novamente um uivo.

“Eu preciso ir até ela.”, eu digo e me viro em direção à casa da árvore, mas ele avança em minha direção e novamente me segura, me virando de novo e me prendendo a seu corpo.

“Não, não precisa não. Meus homens estão na floresta e vão tomar conta dela, não se preocupe.”, ele me responde, e quando eu estou prestes a questionar o que ele quis dizer com isso, eu vejo que fogo surge das árvores e o uivo então é mais alto e soa como um desespero. Eu luto para escapar dos braços de Rumple, mas ele me prende mais forte. “Não lute, Belle! Deixe que ela se vá! Ela é um monstro!”, ele grita e sua voz é de pura insanidade, e então chuto para trás, pegando em seu joelho, ele urra de dor e me liberta, então me viro para ele.

“Não!”, eu grito. “Ela não é isso! Ela nunca foi! Você não está matando um monstro, você está matando minha vida inteira! A vida da mulher que eu amo e da nossa filha!”, eu continuo e ele olha para mim, sua expressão de pura confusão.

“Nossa filha?”, ele pergunta, mas eu não fico para responder. Eu corro em direção à casa da árvore e encontro os dois homens com tochas, queimando a árvore – e minha casa no processo. Eu corro para me aproximar, mas eles me seguram novamente e me levam para bem longe do fogo. Eu ouço de novo um uivo e agora um choro, os dois são de desespero e dor e eu grito junto, sentindo a mesma dor que elas provavelmente sentem.

“Apaguem o fogo!”, eu grito para eles. “Apaguem! Minha filha está lá dentro! Por favor, apaguem.”, e meu pedido se mistura a um misto de desespero e dor, e eu vejo minha voz subindo com meu choro, os homens correm de um lado para o outro em busca de água e eu vejo a casa de madeira caindo no chão, completamente em chamas. Eu me encontro no chão também, mas já não mais o sinto: é como se o mundo tivesse partido ao meio e agora me engolia. Os homens tentam em vão apagar as chamas e eu tento em vão permanecer viva.

“Belle...”, é a voz de Rumple em pé ao meu lado. Sua voz é triste e distante e eu o vejo levantar uma de suas mãos aos céus e eu acompanho seu movimento, vendo então que uma nuvem negra se forma bem em cima do local onde a casa da árvore ainda queima. Uma chuva forte surge da nuvem negra e aos poucos o fogo vai embora, dando lugar apenas a madeira negra e cinzas. Eu permaneço onde estou, os homens e Rumple também. “Belle, me perdoe... Eu não sabia.”, eu não o escuto e muito menos o perdoo e me levanto, sentindo minhas pernas bambas e meu peito vazio.

Eu caminho em direção aos escombros... Eu nunca me senti tão vazia e tão sozinha em toda a minha vida. A cada passo que eu dou tudo o que me vem na cabeça é Luna e então Red, o quanto as duas significaram o mundo pra mim nesses últimos anos e o quanto eu agora não sou nada sem elas... Eu não era nada sem elas e minha vida acabou de agora em diante. Eu me jogo no chão assim que me encontro próximo ao que sobrou. A chuva ainda cai sobre a madeira e a agora me molha completamente, minhas lágrimas se misturam aos pingos de chuva, mas eu ainda sinto o gosto salgado em meus lábios.

“Adeus, meu anjo.”, eu digo, tocando na madeira mais próxima. Ela ainda está quente e eu fecho meus olhos, tentando buscar alguma força dentro de mim, pra me fazer continuar seguindo.

Então, eu escuto algo, um som que eu conheço muito bem: é um choro, e eu olho ao redor, porque provavelmente eu estou ficando louca, mas o som fica mais alto e eu vejo que vem das madeiras, vem do que restou da casa, e eu não sou a única que escuto: os homens e Rumple também escutam. Rumple se aproxima de mim, me afasta dos escombros e com um movimento de seu braço as madeiras vão dando espaço uma a uma, até que eu vejo algo negro entre os escombros. Algo negro, enorme e completamente peludo. Um lobo, ou o que restou dele. Eu corro em direção ao lobo e escuto mais alto o choro, que vem de debaixo do animal. Os homens me ajudam a tirar o corpo do animal e, assim que o fazem, eu vejo então Luna, completamente assustada e completamente protegida, sem nenhum arranhão. Ela está assustada e, assim que me vê, se joga em meus braços. Ela ainda chora e eu tento acalmá-la, mas assim como ela eu também choro.

“Mamãe está aqui, meu anjo.”, eu digo, secando suas lágrimas e as minhas também. Ela olha ao redor, começa a chamar por “mamãe” e eu abraço mais forte contra meu corpo, enquanto olho para o grande lobo a minha frente. “Obrigada, meu amor.”, eu digo ao corpo sem vida da fera que uma vez Red escondeu de mim e me aproximo dela, tocando em seus pelos negros com minhas mãos. “Obrigada por protegê-la.”, eu continuo, e minhas lágrimas se misturam ao meu soluço e mesmo com Luna ali em meus braços, eu ainda me sinto vazia, eu ainda me sinto só. Eu viro Luna, para que ela veja pela última vez sua mãe, e a menina inclina sua cabeça para trás e me olha. Ela já não chora, mas parece tão triste, como se entendesse que havia perdido alguém. Ela inclina sua mãozinha em direção ao meu rosto e seca uma lágrima de meus olhos.

“Acorda a mamãe.”, ela pede em sua voz infantil e se desprende de meu colo, engatinhando em direção ao corpo do lobo.

“Eu não posso, meu amor. Ela já não vai mais acordar.”, eu respondo e olho para a Luna, sentada próximo ao rosto do grande lobo. Já não chove mais, mas eu ainda me encontro completamente encharcada e os pelos do lobo estão repletos de cinzas. Sua expressão é de calma, é como se fato o lobo dormisse.

“Acorda, mamãe!”, ela diz de novo, agora em um tom de irritação, e seu rosto se inclina em direção ao lobo e ela a beija inúmeras vezes no focinho, partindo meu coração a cada toque que ela dá no lobo.

“Ela não vai acordar, meu-.”, eu repito, mas minha voz morre quando eu vejo que assim que Luna se afasta do lobo, algo acontece... O corpo inteiro do animal é tomado por uma luz, que o faz brilhar por completo, e o corpo do animal é suspenso no ar, por uma espécie de magia ou algo que eu não sei nomear, e então, uma vez suspenso e tomado completamente por essa luz mágica, ela então se transforma na Red que eu antes conheci e cai novamente nos escombros, completamente nua. Eu olho para Luna, que parece nada surpresa com o que aconteceu, e depois para Rumple, que permaneceu distante olhando toda a cena. Ele se aproxima de mim com a capa em mãos e a entrega a mim. Eu cubro, então, o corpo de Red e me aproximo dela, tocando em seu rosto, que está frio.

“Acorda ela, mamãe.”, Luna diz, e eu olho para ela e vejo que ela leva suas duas mãozinhas a boca e a beija inúmeras vezes, como se me mostrasse como eu devo fazer.

“E se não funcionar?”, eu pergunto, sentindo meu coração na boca.

“Vai funcionar.”. É Rumple quem responde, e eu o vejo se ajoelhando ao lado da filha. Luna se vira, olha para ele e sorri para o pai. Eu sei que ela não faz a menor ideia de quem ele é, mas seu sorriso é tão genuíno e sincero que Rumple o aceita e sorri de volta, beijando-a em seguida em seus cabelos. Eu volto minha atenção para o corpo de Red e aproximo meus lábios dos delas, então eu a beijo, seus lábios tão frios quanto a sua pele, mas ainda assim eu a beijo, e então me afasto. Nada acontece e aceito, então, que ela se foi de fato. Ficamos em silêncio e me viro para Luna, que tem sua atenção voltada para Red a minha frente.

“Me perdoa, filha... Mas-”, eu começo a me explicar, mas um sorriso surge no rosto de Luna e eu sigo seu olhar, vendo então que Red voltou a sua cor natural e seus olhos abrem lentamente, se encontrando com os meus. “Red...”, eu digo e ela sorri para mim. Eu me inclino em direção a seus lábios e a beijo inúmeras vezes, minhas lágrimas agora não são mais de desespero ou tristeza e seus lábios já não estão mais frios. Eu digo várias vezes a ela o quanto eu a amo e ela parece um pouco confusa com tudo o que aconteceu, mas ainda assim diz que me ama de volta e senta junto a mim, me abraçando bem forte junto a seu corpo. “Jamais me deixe outra vez, Red.”, eu digo. Ela sorri, me beija e se vira para Luna, que corre em nossa direção, ficando entre nós duas em um abraço apertado. Rumple permanece onde está e eu o vejo se levantar, então me apresso e pego Luna em meus braços, caminhando na direção dele em seguida.

“Eu gostaria de lhe pedir perdão pelo o que eu fiz, mas eu não acho que eu mereça seu perdão.”, ele me diz. Sua voz é triste e ele tenta não olhar para Luna, eu a ajeito em meu colo e olho para ela, chamando sua atenção.

“Meu amor, eu acho que eu nunca te disse isso... Mas você sempre teve duas mamães, assim como também tem um papai...” eu digo. Luna não parece prestar muita atenção e mexe em meus cabelos enquanto pergunta: Um papai? “É... Um papai é alguém que cuida de você, assim como eu e sua mamãe cuidamos. A diferença é que acho que um pai precisa mais de um filho do que o contrario.” Eu explico a ela. “Seu pai precisa mais de você do que você precisa dele, meu anjo.” Eu continuo. “Ele esqueceu tantas coisas ao longo desses anos, mas acho que você pode ajudá-lo a se lembrar, e se ele não lembrar, você pode ensiná-lo novamente. Tenho certeza de que ele vai ser tentar ser o melhor pai que você precisa.”, eu termino e olho para Rumple, que agora tem seu olhar em Luna. A menina olha para ele e depois para mim; eu sei que ela é muito nova pra entender tudo o que está acontecendo, mas eu também acho que ela sente exatamente o que precisa ser feito, então ela estende seus braços para Rumple e ele hesita em segurá-la, mas só por alguns instantes, pois no instante seguinte ele a pega nos braços e a abraça apertado em seu corpo. Eu o vejo chorar e isso parte meu coração em tantos pedaços, pois eu sei que se ele tivesse conhecido Luna antes, ele jamais teria feito as escolhas que fez. “Eu te perdoo sim, Rumple... Eu jamais poderia te odiar.”, eu respondo e ele me agradece, enquanto beija os cabelos de sua filha.

“Eu recuperei meus poderes, porém jamais encontrei Bae.”, ele me diz. “E quando eu te vi na praia, me esperando, eu pensei que tudo que eu tinha perdido, eu poderia recuperar com você.” Ele começa a dizer e afasta um pouco Luna, a fim de vê-la melhor. “Ela é linda.”, ele diz, sua voz cheia de emoção. “Então quando você me disse que amava outra pessoa e essa pessoa não era eu... Isso me machucou tanto e me machucou mais do que eu esperava, porque eu podia ver em seus olhos que você estava feliz com essa pessoa e eu não podia te dar essa felicidade... Eu queria que você me desse tudo o que eu perdi e eu te odiei por tirar de mim essa segunda chance. Então, se não fosse pra me fazer feliz, eu não iria permitir que você fizesse ninguém feliz... Eu fui tão egoísta, eu sou tão egoísta. Mas você está certa, eu vou tentar ser o melhor pai que ela merece. Eu vou tentar ser melhor em tudo por ela.”, ele completou e a beijou no rosto antes de entregá-la para mim. “Você me deu de volta tudo o que eu perdi, de uma maneira diferente... Mas as coisas jamais voltam pra gente da mesma forma, não é?”, ele me pergunta e olha para Red, que ainda está ajoelhada no chão, e depois volta a sua atenção para mim. “A maldição mudou tudo, nos levou para outro mundo, mas a filha da princesa a quebrou e trouxe de volta nosso mundo. Porém tudo mudou, já não é mais o mesmo mundo e não somos mais o mesmos... Você ficaria surpresa o quanto aquela Rainha que uma vez me amedrontou mudou... Aliás, alguém a mudou.”, ele completa e sorri para mim. Eu me viro então para a Red e me pego pensando se a volta dela para mim mudou algo e ela sorri, deixando claro que nada mudou, pelo menos nada em relação ao que eu sinto sobre ela ou o que ela sente sobre mim.

“Rumple, o que ficou de nós dois é maior do que o que tivemos no passado.”, eu digo a ele, me referindo a Luna, e ele concorda com a cabeça. “E sei que você se sente como se tivesse voltado, mas Luna me fazia sentir como se você nunca tivesse ido embora. Eu não posso dizer que ainda te amo, não há espaço em mim para esse sentimento em relação a você. Mas eu espero que você saiba que Luna torna tudo o que nós tivemos em algo imutável, então você pode ir e voltar quantas vezes quiser, porque você ainda vai ter uma parte minha te esperando.”, eu completo, e ele se aproxima de nós duas e me dá um beijo silencio na testa.

“Voltem conosco, vocês terão onde morar e eu não vou deixar que nada impeça que vocês três fiquem juntas.”, ele diz, e seu olhar caminha em direção de nós três. Eu me viro para Red e, apenas com o olhar, eu pergunto se é isso que ela quer, se ela quer voltar e começar uma vida no mundo além da névoa. Ela faz que sim com a cabeça e eu me viro para Rumple e entrego Luna para ele, que caminha em direção à praia, sendo seguido pelos homens. Eu digo a ele que já vou segui-lo e me ajoelho diante de Red, assim que ficamos a sós.

“Eu sei que eu devia ter te contado.”, ela começa a dizer, mas eu a tomo para um beijo e não deixo que ela continue.

“Me contar o que? Sobre o seu lado selvagem? Eu já o conhecia, você nunca o escondeu tão bem assim.”, eu digo e ela sorri. “Foi você que me salvou assim que chegamos, não foi mesmo? Você que me resgatou, quando eu estava prestes a me afogar... Eu me lembro do lobo.”, eu completo.

“Sim. E eu iria lhe contar, mas eu sempre tive vergonha, eu matei meu último namorado e isso era algo que eu temia, que eu não aceitava, é uma maldição que eu carrego e que eu sei que faz parte de mim, mas eu não quero e não sei aceitá-la.”

“Eu aceito por nós duas, então.”, eu digo a ela, colocando minha mão em seu rosto. “Eu aceito todos os seus lados, todos os seus segredos, todos os seus medos, Red. Eu aceito tudo... Se você me aceitar também.”, eu completo e ela sorri.

“Como se te aceitar fosse um fardo, não é mesmo? Como se isso fosse de alguma forma difícil. Eu nem me esforço em te amar ou de te querer. Eu simplesmente te quero e te amo. Difícil é ficar longe de você, difícil é imaginar como eu seria sem você.”

“Então não imagine.”, eu digo a ela e ela me beija novamente. “Eu te amo, Red, com todos seus mistérios, com todo seu passado escuro e com todos os seus monstros.”

“Eu te amo mais, Belle. Sua beleza preenche tudo o que a fera levou de mim.”

– FIM -


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Notas finais do capítulo

Obrigada novamente!