Um Homem Sob Medida escrita por Gilraen Ancalímon


Capítulo 22
Capítulo 22 - Ciúmes


Notas iniciais do capítulo

Sei que algumas de vcs estão com raiva do Vinícius, eu tbm, mas lembre-se que ele foi enganado, mas mesmo assim é complicado



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Quando a festa terminou, sabendo que não conseguiria dormir, Kíria foi para o jardim dos fundos, que dava para o lago. Apoiando-se em uma pilastra da varanda, respirou fundo na tentativa de inspirar um pouco da paz que o lago emanava.

― Esperando por David?

Sobressaltada, virou-se e descobriu Vinícius sentado em uma das espreguiçadeiras.

― E então? ― ele insistiu.

― Por que eu estaria à espera de seu primo?

― Para continuar o flerte que iniciaram na festa.

Flerte? A primeira reação de Kíria foi de indignação, mas seu coração deu um salto quando outra idéia lhe ocorreu. Vinícius poderia estar com ciúme! E aí estava uma possibilidade que ela não poderia deixar de testar.

― E se estivesse? ― inquiriu, em tom de desafio.

Com um movimento rápido, Vinícius se levantou e se aproximou dela.

― Se estivesse, eu seria obrigado a lembrá-la de que ainda está casada comigo.

Ora, ele estava mesmo com ciúme! Kíria se esforçou para se manter impassível.

― Eu sei que sou casada com você, Vinícius.

― Sabe? Mas as coisas não saíram exatamente como você esperava, não é? Talvez tenha decidido flertar com David a fim de pôr um pouquinho de emoção em sua vida.

Kíria foi invadida por uma onda de fúria. Por mais que houvesse errado, não merecia aquele tipo de acusação.

― Eu não estava flertando com David ― negou com veemência.

A expressão de Vinícius se manteve fria e controlada.

― Estou avisando, Kíria, não tente fazer esse tipo de jogo comigo.

― Não seja ridículo! Por que eu flertaria com David, quando todos sabem que ele está perdidamente apaixonado por outra mulher e que eu te amo?

― De nada adianta professar o seu amor, Kíria, pois são só palavras. E nós dois sabemos com que facilidade você as manipula. As mentiras que você conta soam doces como mel.

― Meu amor não é uma mentira. Tudo o que fiz foi por amar você e por ter medo de te perder.

― Uma mulher que realmente ama um homem não faria o que você fez, Kíria.

― Ah, você está errado, completamente errado! Uma mulher apaixonada é capaz de fazer qualquer coisa.

Naquele momento, uma lufada de vento despenteou os cabelos de Vinícius. Com um gesto instintivo, Kíria ergueu a mão para afastar uma mecha de seu rosto. Vinícius também ergueu a mão, para fazer o mesmo. No instante em que seus dedos se tocaram, ambos foram percorridos por um choque.

― Vinícius... ― Kíria murmurou, esperando que ele se afastasse.

― Senhor! ― Vinícius exclamou em um sussurro, antes de fechar os olhos.

Quando voltou a abri-los, fixou-os nos dela, ao mesmo tempo em que o ar se tornava denso entre eles.

Esquecendo-se da mágoa, Kíria só pensava em convencê-lo de que ele poderia confiar no amor que ela sentia.

― Você sabe que eu te amo ― falou com voz trêmula.

― Por que veio para o jardim?

― Você me chamou. Não sabe que não sou nada sem você? ― ela declarou, tocando de leve os dedos no rosto de Vinícius.

― Não! ― ele ordenou, empurrando-a.

O movimento foi tão brusco, que Kíria perdeu o equilíbrio. Teria caído se Vinícius não a tivesse puxado para si. E foi então que o controle de ambos se desfez.

― Kíria...

O tempo parou quando os lábios dele se colaram aos dela com paixão. Então, nada mais teve importância, exceto a necessidade que tinham de dar prazer um ao outro. Por um momento, o mundo deixou de existir. Eram apenas eles dois e o amor intenso que os unia, impelindo-os um para o outro.

De súbito, Vinícius voltou a empurrá-la. Desviou o olhar com expressão de desgosto.

― Senhor! O que estou fazendo?

― Está me amando ― Kíria arriscou.

― O que acaba de acontecer não tem nada a ver com amor ― ele negou com veemência, além de uma pontada de irritação.

Embora as palavras a ferissem, Kíria sabia que Vinícius estava zangado consigo mesmo, não com ela.

― Seja o que for, não pode negar que me quer.

― Não, não posso ― ele confirmou entre dentes.

― Também quero você, Vinícius.

Ele recuou um passo e enfiou as mãos nos bolsos.

― Acha que essa confissão vai fazer com que eu me despreze menos?

Ah, como doía vê-lo negar um amor tão bonito!

― Vá para o inferno, Vinícius! ― Kíria explodiu. ― Eu gostaria de poder odiar você!

Com essas palavras, ela virou e entrou na casa. Tinha de se afastar dele, pois não poderia permitir que Vinícius atirasse sobre ela toda a sua ira.

Foi com dificuldade que conseguiu chegar ao quarto. Vinícius dispunha de mil maneiras para feri-la, simplesmente porque ela o amava. Kíria sofreria menos se conseguisse odiá-lo, mas continuava a amá-lo, assim mesmo. E, pior, sabia no fundo de seu coração, que o amaria sempre, por mais que ele a magoasse.

****************

Quando Kíria acordou, o sol banhava o quarto. Vinícius não passara a noite a seu lado, o que não a surpreendeu, depois do que acontecera na noite anterior.

Não era agradável saber que Vinícius se desprezava por desejá-la. Porém, se ele ainda a queria, também poderia continuar a amá-la. Kíria jamais poderia negar a gravidade do erro que havia cometido, dando a Vinícius motivo de sobra para estar furioso com ela. Por outro lado, nada seria capaz de apagar a chama da esperança em seu peito, que lhe dizia que ele ainda viria a compreender que o sentimento que os dois partilhavam era especial demais para ser jogado fora. E, quando isso acontecesse, ele se permitiria amá-la, como amara antes.

Distraída com seus pensamentos, Kíria se levantou sem pensar e, no mesmo instante, foi tomada pela náusea violenta. Correu para o banheiro e, quando finalmente se sentiu um pouco melhor, tomou um banho e se aprontou para encontrar o resto da família.

A casa parecia deserta, mergulhada no mais absoluto silêncio. Sentindo-se sozinha no mundo, Kíria foi à procura de uma xícara de chá. O salão ensolarado onde a família costumava tomar o desjejum também estava vazio. A mesa posta dava sinais de que alguém já havia comido. Ao avistar um bule de chá, Kíria foi se servir, mas sentiu aquela vibração familiar tomar conta do ambiente.

Virou-se lentamente e deparou com Vinícius, na porta. Sabendo que tinha de resistir ao impulso de se atirar nos braços dele, voltou a se concentrar no bule de chá.

― Está servido? ― ofereceu, tentando agir com naturalidade.

Porém, ao sentir que ele se aproximava, não pôde impedir o tremor que se apoderou de suas mãos.

A fim de firmar o bule, Vinícius pousou a mão sobre a dela.

― Vai acabar se queimando, se não tiver cuidado ― falou com voz rouca, tão perturbado quanto ela pelo efeito do leve contato.

O som de passos se aproximando pelo corredor quebrou o encanto do momento. Em seguida, Mateus entrou no salão.

― Vinícius, por favor, sirva-me uma xícara de chá ― ele pediu com um sorriso alegre. ― Bom dia, Kíria. Você parece cansada. Aliás, os dois parecem cansados. O que andaram fazendo? ― inquiriu com malícia.

― Não posso responder por Vinícius, mas quanto a mim, o cansaço só pode se consequência dos enjoos matinais ― Kíria respondeu, não resistindo à simpatia do cunhado.

Vinícius praguejou baixinho, só então se dando conta da palidez da esposa.

― Sente-se, Kíria ― ordenou. ― Cuidarei do seu chá. Quer comer alguma coisa?

O tom preocupado aqueceu o coração de Kíria, que sorriu.

― Torradas costumam ajudar ― falou.

― Pedirei a Maudie que providencie as torradas ― Vinícius declarou e, deixando uma xícara de chá diante de Kíria, foi até a cozinha.

― Por que ele está tão mal-humorado? ― Mateus queixou-se. ― Até parece que não tem a menor responsabilidade pela sua gravidez!

Felizmente, em momento algum, Vinícius tivera dúvidas quanto à paternidade da criança. Do contrário, Kíria não fazia idéia do que teria sido capaz de fazer.

― Ele está zangado consigo mesmo por ter se esquecido de que eu poderia não estar me sentindo bem ― explicou ao cunhado, sabendo que estava dizendo a verdade, mesmo que Vinícius não admitisse, nem para si mesmo.

Depois de estudá-la por um momento, Mateus sorriu.

― Sabe de uma coisa? A gravidez lhe faz bem, descontando os enjoos, claro. Você parece estar desabrochando.

Kíria riu, pousando a mão sobre o ventre ainda liso.

― Não acha que ainda é um pouco cedo para esse tipo de comentário?

― Que tipo de comentário? ― Vinícius inquiriu, entrando no salão com um prato de torradas.

― Kíria não acha que está desabrochando, mas eu acho ― Mateus esclareceu. ― Há um brilho diferente nos olhos dela... como Alex ― acrescentou, referindo-se à irmã. ― O que você acha?

Kíria prendeu a respiração, olhando fixamente para o marido. O que ele diria? Seria honesto, ou mentiria? E ela seria capaz de reconhecer a diferença?

― Acho que ela está mais bonita do que já era ― Vinícius respondeu devagar.

― Está falando sério? ― Kíria não pôde deixar de perguntar.

― Eu jamais mentiria para você, Kíria ― ele respondeu com crueldade, pondo um fim à felicidade dela.

Sentindo que as lágrimas enchiam seus olhos, ela se pôs de pé.

― Com licença ― murmurou, antes de deixar o salão apressada.


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