Ébano escrita por Ferana


Capítulo 15
Rainha Preta na casa Preta


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, não atrasei de forma colossal para trazer o último capítulo! Só um pouquinho =P
Não vou comentar muita coisa para evitar estragar surpresas, mas de uma coisa tenho certeza: Muitos vão me odiar e, acho, apenas acho, que estou preparada para o hate storm... Apenas sejam um pouquinho gentis, por favor ^^'

Boa leitura! ^^



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Ele estava devastado. Em seu covil, observava a luz da lua nebulosa invadir seu lar como um parasita, como se estivesse ali só para zombar de sua mais nova, e maior - até o momento - derrota. Sentia os lábios se contraírem só de lembrar o modo baixo como havia sido perseguido pelos guardiões, após lutar ao lado deles... Era verdade que nem mesmo ele considerava a ação como uma parceria, mas era inegável que o modo de agir dos guardiões fora traiçoeiro e, guardadas as proporções, covarde – mesmo que contra o Bicho Papão. E agora estava lá, lacrado novamente no seu lar de trevas, perambulando pelas sombras pensando em formas de se reerguer e se vingar dos seus algozes, mas nada realmente efetivo. Isso lhe causava uma nostalgia dolorosa dos dias anteriores à ressureição de Lucien, quando se encontrava no mesmo exílio... Na verdade, havia algo que o incomodava ainda mais do que a nostalgia azeda: a revelação de Toothiana sobre Royena após a derrota do inimigo. Não pelo fator de verdade ou mentira envolvido no que ela disse, mas o modo como aquilo havia mexido com Breu, fazendo uma sensação estranha há muito esquecida se revirar dentro dele, era algo que ele já havia experimentado, mas havia tantos séculos que esse sentimento morrera que ele nem lembrava mais do que se tratava. Porém, sua agonia foi interrompida da mesma forma que sua nostalgia o lembrava: um barulho de alguém se infiltrando no seu covil. Ela deslizou imediatamente pelas sombras até o centro da enorme caverna e lá viu seu visitante inesperado. Ou melhor, inesperada.

– Ora, ora, ora, quem temos aqui... Senhorita princesinha da floresta!

Breu exclamou em tom sarcástico, fazendo Royena se voltar para ele após vagar com seu olhar perdido pelo lugar procurando pelo anfitrião. Estivera vasculhando as sombras após entrar silenciosamente no covil, espreitando para tentar chamar Breu de forma discreta, antes de ser descoberta. Ela recompôs-se e tomou uma expressão grave. No fundo, ela mal sabia como iria interagir com ele após o que houvera.

– A que devo a ilustre presença de uma senhorita que me abandonou no campo de batalha? – O tom dele continuava ácido. – Veio zombar de mim com exclusividade após meu decreto de prisão?

– Sabe muito bem que eu não poderia ter agido de qualquer forma naquela situação, o máximo que estava ao meu alcance foi feito: recusar o ataque contra você e impedir que o ferissem dentro da área da floresta. Fora desses parâmetros, estava tão encurralada quanto você.

– Sim, eu sei que estava com as mãos atadas de certa forma e compreendo seu posicionamento, mas não custava nada ter ajudado seu amado, com as costas feridas, de uma forma mais efetiva e prática, não acha? – a voz de Breu se tornou especialmente ácida no ‘seu amado’.

– Breu, não é como se eu tivesse 15 anos, não faria loucuras idiotas por esse tipo de sentimento.

– Então o que a Fada disse era verdade? – um olhar de vitória odioso tomou o homem.

– Sim. Viu algum protesto meu quando ela falou? – a garota estava se cansando dos joguinhos mentais de Breu, então decidira ser franca e direta, sabia que no fundo era o tipo de resposta que ele desejava, e ela também.

– Vejo que a sua atitude mental é madura... Resta saber agora se fisicamente você é uma menina ou uma mulher.

Breu deslizou pelas sombras até ficar diante da garota, que não teve tempo de reagir, e a puxou pela cintura contra o próprio corpo. Ele se deliciou pelo breve instante que cruzou com os olhos dela e pode vê-los arregalados e cheios de surpresa, antes de juntar violentamente os lábios de ambos. Ele estava preparado para forçar os lábios da garota com a língua, quando sentiu o contrário acontecer. Não tardou para estarem num beijo profundo – bruto e agressivo, na verdade. Ele enterrava os dedos na cintura e costas dela e podia sentir os dedos femininos bagunçarem seus cabelos negros. Royena interrompeu tudo abruptamente puxando os cabelos de Breu e levanto o rosto ao pé do ouvido do rapaz, sussurrando:

– Eu não fui a única a ser tomada pelo sentimento idiota, não é? – riu ironicamente ela.

Breu se tornou sombra novamente e reapareceu à certa distância diante de Royena, que caíra dos braços do homem como um gato astuto, de pé. Ambos estavam com filetes de sangue escorrendo dos lábios, resultados dos dentes afiados de um contra o outro.

– Enfim, vamos ao que interessa... Eu vim cumprir minha palavra, do meu jeito, é claro. – continuou a garota, ainda encarando Breu com ironia.

– Perdão, ‘seu jeito’? – Perguntou Breu, limpando o sangue nos lábios com o polegar, prevendo que as coisas não seriam como ele pretendia.

– Sim, infelizmente alianças estão fora de cogitação para mim... Equilíbrio é o meu cerne, e não posso ir contra isso. Porém, eu vim lhe retribuir seu enorme favor.

– E que oferta você teria para equivaler a aliança, proposta inicialmente? – Breu se aproximou da garota novamente, passando uma de suas mãos pela cintura dela. – Será que sou merecedor do que mais que um beijo?

– Talvez. – respondeu ela, dando corda à malícia do homem.

A garota levantou a capa e tirou um pequeno saquinho de couro do cinto, estendendo-o para o homem. Breu pegou o pacote e abriu o barbante sem eu topo, se sobressaltando com o conteúdo do mesmo.

– A areia do Sandman! – disse ele, sem notar a própria surpresa na voz. – Como conseguiu isso?

– Acredite, deu muito trabalho.

– Certo, isto é realmente raro, mas... Como isso supostamente seria seu agradecimento pelo que te ajudei? – Breu parecia surpreso e frustrado ao mesmo tempo.

– Você e Sandy são basicamente o mesmo tipo de espírito: tem influência sobre o sonho das crianças. Logo, você também pode manipular essa areia.

– ... Para dar sonhos às crianças? – disse o homem, visivelmente frustrado desta vez.

– Não, pesadelos.

– Pesadelos, é? – ele pareceu subitamente interessado.

– Sim. Seria uma forma muito mais efetiva do que andar com seus Medonhos e Sombras por aí... Além de potencializar ataques em massa, poderia corromper as enormes redes de areia que Sandy manda durante a noite.

– Definitivamente, parece uma arma promissora com você falando desse jeito... Mas, esqueceu um detalhe. – o homem apertou levemente a cintura da garota. – Eu não controlo a magia dessa areia, muito menos sei como manipulá-la fisicamente.

– É aí que entra algo que eu citei agora mesmo: corromper. – disse ela, erguendo o indicador na direção do rosto curioso de Breu. – Tente se concentrar em seus Medonhos mentalmente e toque a areia.

Breu fez uma leve expressão de desconfiança e descrença, mas seguiu as instruções da garota. Após encarar a areia por uma breve instante, tocou-a com o indicador, fazendo-a enegrecer automaticamente. Ele deu um leve passo para trás, sobressaltado.

– Agora confia em mim? – perguntou Royena, quase presunçosa.

– Confiar em você foi provavelmente o negócio arriscado mais lucrativo que tive nos últimos séculos! – Breu parecia uma criança, brincando de corromper o resto da areia que estava na palma de sua mão. A medida que ele mexia os dedos, elas escorriam como um rio negro até o chão. – Agora só preciso tocar as redes de Sandman para corrompe os sonhos. E isso vai ser só o começo... – Ele ria quase doentiamente, vendo a vingança perfeita diante de si.

– Espere, pode ir com calma. Simplesmente corromper as redes de areia do Sandy não vai adiantar nada, por que do mesmo modo que seu toque corrompe, o dele purifica a areia.

A felicidade de Breu praticamente morreu em seu rosto quando a garota lhe disse isso, e ele voltou a encará-la com frustração. Porém, Royena fez alguns movimentos circulares com o pulso direito e um pequeno redemoinho de areia negra subiu direto do chão até a mão dela. Com o movimento de abrir a mão com a palma para cima, ela projetou um pequeno cavalo negro, formado com a própria areia, que pinoteava e corria em sua palma, agitado.

– Como eu disse, eu vou devolver seu favor do meu jeito. Você me ensinou como controlar meu lado hinkypunk, e eu vou lhe ensinar a como manipular a areia fisicamente. – Royena falou e o brilho dourado nos olhos de Breu voltou, ele estava realmente agindo como uma criança, cuja esperança é facilmente apagada e acesa novamente. – Eu a manipulo através do meu controle sobre a terra, afinal, areia ainda é um tipo de terra. Vou lhe ensinar a fazer a mesma coisa, mas controlando as propriedades mágicas presentes nela.

– Definitivamente, isso entra no meu quesito de ‘cumprir a palavra’, como você mesma diz. – Breu ainda esfregado alguns grãs da areia negra entre os dedos, admirando seu caminho para a vitória secretamente. – Quem está merecendo mais que um beijo é você... Mas ainda não entendo uma coisa.

– O que? – questionou a garota, já entregue ao abraço malicioso do homem, subindo a mão esquerda até a altura do colarinho do mesmo.

– Por que está traindo os guardiões para me ajudar? Mesmo que não seja uma aliança, ainda vai contra seu cerne de ‘equilíbrio’, não?

– Nem um pouco. – a garota falava de forma decidida. – É uma eterna luta totalmente desleal de quatro contra um. Mesmo que você estivesse com seus poderes quase ao máximo na última batalha, pelo medo causado por Lucien, estava ferido gravemente. Foi bastante vil da parte deles o perseguirem no estado em que você estava, principalmente pelo fato de o ataque ocorrer num momento no qual vocês haviam negociado uma trégua. – ela continuava a falar séria, remexendo a gola do sobretudo de Breu. – E agora é gritante a disparidade de poderes e influência entre eles e você, encarcerado aqui.

– Pelo menos você concorda comigo. – disse o homem, voltando a sentir a nostalgia corrosiva o invadir.

– Nesse aspecto, sim. Acredito que, se você usar esse poder da forma correta e, principalmente, equilibrada, – ela olhou o homem de canto de olho após pronunciar ‘equilibrada’. – será algo saudável para você, os guardiões e as crianças. Enfim, todos ganham, por isso não considero isso algum tipo de traição o que estou fazendo.

– Vai ser complicado me lembrar da parte do ‘equilibrada’, mas vou tentar. – disse ele, encarando a garota brincar com sua gola.

– Ótimo, espero que consiga conter sua sede de dominação global. – Royena disse rindo, mal sabendo que previra sem querer um futuro bastante caótico. – Quando começaremos? Aviso desde já que seu treino será muito, muito longo, pois dominar manipulação física do zero é bastante complicado.

– Depois discutimos isso... No momento, acho que realmente deveria terminar de te recompensar.

Breu a puxou novamente contra seu corpo, desabotoando a capa na altura do peito da garota, que fez o mesmo com o sobretudo do homem. Ambos envolveram-se novamente em beijos brutos e foram envolvidos por uma cortina de sombra e penumbra até a escuridão engolir o covil por completo. Pelo menos por esta noite, o mundo não seria visitado pelo Rei dos Pesadelos.

De fato, a palavra de Royena se cumpriu. O treino de Breu não demorou meses ou anos, demorou séculos. O homem se angustiava a cada dia que passava por não conseguir mover um único grão de areia, mas sua fé em si mesmo era renovada por Royena todos os dias – afinal, não era nem de perto como o treino da garota fora: Ela já possuía a força de Hinkypunk dentro de si, apenas precisava acordá-la, Breu precisava criar do zero o controle sobre uma magia que jamais dominara.
Finalmente, Breu dominou a técnica de controle mágico da areia após um século e meio. De início apenas conseguia a fazer mover-se de um lugar a outro em pequenas superfícies, mas evoluiu a ponto de poder controla-la em pleno ar e finalmente atingir um nível de refinamento que o permitia fazer objetos, animais, pessoas e pesadelos palpáveis ao simples movimentar de uma de suas mãos. Passou cerca de 5 décadas para dominar completamente a capacidade de fazer coisas tangíveis e montar seus próprios pesadelos, como um verdadeiro paladino da trevas. Todo esse esmero com sua técnica consistia em investir contra os guardiões de forma extrema, e em hipótese alguma poderia falhar. Era sua grande chance de vingança, mesmo que ele mantivesse isso como um segredo pessoal, longe dos ouvidos de Royena – sua treinadora e amante.

E assim ele o fez, o grande dia de sua mais nova investida contra os guardiões chegara. Pretendia pegá-los desprevenidos após quase 500 anos sem um ataque direto vindo do Bicho Papão. Queria acabar com um por um, apenas para provar do terror inundando os espíritos deles aos poucos... Primeiro seria a Fada, roubaria todos os dentes, depois acabaria com a páscoa destruindo os ovos do Coelho e, por último e se não tivesse cumprido seu objetivo a esta altura, destruir a oficina de Norte, até não sobrar pedra sobre pedra. Sandman era apenas um empecilho temporário, já que Breu poderia simplesmente corrompe-lo a qualquer momento.

Royena assistia de um canto escuro do covil de Breu a partida energética de seu amante, na direção do polo norte, não com um sorriso de satisfação, mas com os lábios estáticos de apreensão.

– Você desde o início pretendia se vingar. – ela disse em um tom seco e quase inaudível. – Te ensinei na esperança que essa idéia morresse, mas ela apenas se enraizou mais ainda... Com esse pensamento, vai estar eternamente fadado ao fracasso, Breu... Adeus.

Proferindo isso, Royena tomou sua forma lupina – agora com aparência de um lobo normal – e se esgueirou por uma das saídas do Covil. Ela apenas fitou a entrada pela última vez, a qual possuía uma velha cama de madeira marcando sua localização e lembrando a existência do monstro que morava logo abaixo dela.

– ... Mas é um Adeus temporário. – E correu floresta adentro.


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Notas finais do capítulo

Enfim, está acabado!
Gostaria de agradecer profundamente a todos que acompanharam essa história até o último capítulo, tendo comentado ou não! Os leitores são o maior incentivo que qualquer pessoa que escreva pode ter, por isso agradeço muito o acompanhamento de cada um, sem vocês essa história não teria chegado nem na metade! E falo muito sério =P

Sei que fui desleixada com algumas atualizações e alguns aspectos, mas qualquer dúvida sobre furos e perguntas, mandem nos comentários ou nas mensagens, ficarei feliz em responder! Se quiserem comentar o que estavam esperando do final, se agradou o decepcionou, não fez diferença ou se nunca comentou e quiser dar um parecer geral, comentem, por favor! Gosto muito das opiniões dos leitores sobre o final das histórias ^^

Novamente, muito obrigada a todos!
Quem sabe nos vemos em uma próxima história...



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