Estou passando todos os dias das minhas férias tentando não lembrar disso. Sim, ele fez de novo.

A última vez que ele falou comigo foi no dia da apresentação do trabalho, quando eu me deixei levar e contei (indiretamente, claro) para a sala toda o que eu sentia por ele.

Eu deveria ter acreditado quando Natasha me disse que ele só queria nota. Pois é, ele é inútil a ponto de ficar para recuperação em artes.

Se não bastasse, acordei hoje com uma mensagem.

“Bom dia, Sophia. Estou com saudades.”

Até parece. Não vou cair nessa de novo.

Ele muda de ideia como uma garota muda de roupa. Sempre pensa e fala enigmaticamente... Eu deveria saber que ele não era bom para mim.

Ele é quente, e depois frio. Ele é sim e depois não. Esta dentro e depois fora. Esta por cima e depois por baixo.

Ele esta errado quando esta certo. Porque, realmente, ele não foi o único que errou, eu poderia muito bem ter evitado isso.

Ele não quer realmente ficar, mas também não quer ir. Eu deveria saber que ele não vai mudar.

Calma, calma. Respire fundo, Sophia. Você já sabe como ele é, e você não vai cometer o mesmo erro de novo, certo?

“Não vai responder?”

Ignora, ignora, ignora.

(...)

Natasha e Amy vão chegar daqui a pouco, vou me distrair.

–SOPHIAAAAAAAAAA!

Ai meu deus, é só pensar e elas aparecem.

–Como vocês estão? Alguma novidade?- Eu digo, tentando me livrar do abraço de Amy.

–Hm... Então, eu passei na escola esses dias e tinha um menino lindo fazendo matrícula, ele tem a nossa idade, e se chama John, ele é super legal.

Aposto que Amy deixou o garoto assustado.

–Sophia, já pensou se é o mesmo John por quem você teve uma paixão de uma semana? Seria muita coincidência, né?

Eu não acredito que coisas assim aconteceriam na minha vidinha chata, mas o que Natasha acabou de dizer me deixou muito pensativa...

–Amy, como era esse garoto?

–Bom, deixa eu ver... Ele era alto, loiro, e tinha olhos claros, qual era mesmo a cor?

–AZUL?

–Não, acho que era verde...

–Verde? Tem certeza?

–Sim, ele tinha olhos verdes.

Passamos o resto da tarde conversando, e ficar com essas retardadas me faz esquecer qualquer problema. Até que anoitece, e meu pai me chama.

–Filha, vem aqui, alguém quer te ver!

Quem seria?

Desci as escadas, Natasha e Amy vinham atrás de mim. Curiosas.

Apressei o passo quando vi quem era, e me atirei como uma criança nos braços da pessoa.

–Tio Lary!

–Sophia, como você cresceu!

Apresentei as minhas amigas ao Lary, e quando todos se sentaram para conversar, a campainha toca. Estava tão feliz que fui atender sem reclamar.

Até que...

–Olá... Desculpa, eu tinha esquecido uma coisa no carro.

Fiquei paralisada por alguns segundos, admirada por aquela pessoa na minha porta. Seu cabelo estava molhado, estava chovendo. Olhei para trás procurando pelo olhar de apoio das minhas amigas, que estavam tão chocadas quanto eu.

–...Posso entrar?

–Ah, desculpa! Entra.

Lary me apresentou seu filho, John, enquanto Amy me puxava cochichando no meu ouvido “é ele, é ele!”.

Sentamo-nos novamente, e todos na sala começaram a conversar. Nath, Amy e eu acabamos com a tentativa da minha família de parecer elegante e civilizada enquanto conversávamos sussurrando o mais baixo possível:

–Amy, você disse que era verde!

–Mas é verde, olha!

Lá estava eu e minhas duas amigas retardadas encarando John, tentando descobrir a cor de seus olhos.

–É azul?

–Mas parece verde!

Os sussurros eram cada vez mais altos, mas nós não percebíamos.

–É verdade, é azul!

–Tem certeza?

–Sim, os olhos dele são azuis e ponto final!- Acho que falei alto demais. John nos olhou rindo. Meu deus, que vergonha.

–Eu tenho olhos azuis meninas, e não, não uso lentes.- Ele continuou rindo.

O que eu falo? O que eu falo? O que eu falo?!

Meu celular vibra na minha mão, recebi duas mensagens. Por que essas duas idiotas estão me mandando mensagem se eu estou do lado delas?

“Amy: John + Sophia= ♥”

“Nath: Hmmm, vc é rápida heim, já arrumou um namorado”.

Ah... Eu mudo de ideia como uma garota muda de roupa.