Estou com medo, cansado e perdido, correndo por esses mesmo corredores, entrando em salas aleatórias. Mais uma vez eu estou nesse prédio, naquele meu pesadelo. A única coisa que escuto é minha respiração. Recosto na parede e escorrego devagar, e fico sentado no chão. Até agora eu estava fugindo de um perseguidor fantasma, do qual eu apenas ouço a risada doentia e os passos apressados. Sumindo e aparecendo de repente, um vulto me persegue por todo esse andar. O lugar está frio e escuro... e vai escurecendo cada vez mais, quando percebo que não são as luzes que estão ficando mais fracas, mas sim a minha visão que está ficando turva. Me sinto tonto.. tudo gira e eu ouço um baque alto. Não vejo mais nada.

Minha cabeça dói... Sim, o barulho então foi ela batendo no chão, eu havia desmaiado. Agora acordei mas não sei onde.. Parece uma sala de arquivos, lotada de gavetões e papéis pra todo lado. Sinto uma pressão nos pulsos e descubro que estou amarrado a uma cadeira. Mas por que? Quem havia feito isso? Se for para tirar alguma informação de mim é perda de tempo, eu não sei nada. Eu realmente não sei nada... Está escuro, a luz está muito fraca. Consigo ver que a sala não é muito grande, mas o suficiente para que não haja nada próximo a mim, que me encontro no centro. Há uma porta a minha esquerda, mas não consigo me mover, não posso chegar até ela. Não há ninguém nem nada além de arquivos, nenhum movimento, nenhum som. Por um lado, isso até que é bom..

Devo estar há uma hora sentado aqui, sozinho. Depois de tanto tempo imerso no silêncio que toma conta do lugar, escuto algo. Um sussurro distante começa a dizer alguma coisa. A voz fica mais alta e percebo... ela estava falando o meu nome, repetindo, várias vezes, cada vez mais rapido. Soa como se fossem mais de uma voz, uma sobrepondo a outra no mesmo tom. Fica cada vez mais alto. Vêm de todos os lados e de lugar nenhum. As vozes tomam conta da minha mente.

– Kevin..Kevin..Kevin..Kevin..Kevin..Kevin..

Sem parar. Aumentando gradativamente. Eu grito mas não ouço, as vozes não permitem. Elas são mais altas que qualquer som, que qualquer pensamento. Constantes.

– Kevin..Kevin..Kevin..Kevin..Kevin...

De repente, silêncio. Mas não dura muito, começo a ouvir uma risada... aquela risada. O som que aterrorizava meus sonhos, acompanhado de um vulto. Essa forma misteriosa passava de um canto escuro para outro com rapidez. Apenas em um segundo, a forma passa pela luz fraca e oscilante, esse segundo revela um reflexo avermelhado. A risada fica cada vez mais intensa. Confuso e assustado, olho em volta a procura da fonte desse som desesperador, quando noto um relógio digital em cima da mesa, a qual eu não havia reparado que estava na parede atrás de mim, 3:28. Vejo o minuto passando e no mesmo instante uma dor muito forte toma conta da minha cabeça. A mesma dor de antes, agora misturada ao som da risada. Esse som ecoa em minha mente, a dor cada vez mais forte, eu choro, grito.. "Faça isso parar!" Então um barulho contínuo e agudo, como um zumbido em meus ouvidos, vai ficando mais alto. As risadas estão distantes, quase não as ouço direito. A dor e o zumbido se intensificam, uma dor insuportável, e então tudo acaba.

Silêncio enfim. Respiro forte... Abro meus olhos e, vendo embassado, a sala parece mais escura que antes. Alguém aparece na minha frente e a luz se apaga, havia queimado. Estou na completa escuridão. Ainda fraco por conta da forte dor que senti, estou praticamente adormecendo, quando algo me desperta. Eram passos. Rápidos e rasteiros, percorrem a sala, o medo toma conta de mim e o que eu temia acontece, a maldita risada está de volta. Estou entrando em desespero, não consigo aguentar essa tortura psicológica.

– O que você quer de mim??

Nenhuma resposta. Ao invés disso, os passos se aproximam e sinto uma dor seguida de uma forte ardência me meu braço. Um arranhão? Aquela voz continua me rodeando, se aproxima novamente, uma dor muito forte, agora em meu peito, algo encostando em mim, e sinto como uma lâmina que vai descendo e rasgando minha pele. Eu grito em agonia. Puxo meu braço, mas ele está preso. Descubro então que minhas pernas também estão presas. Seja o que for, para de me cortar. Sinto meu sangue saindo e escorrendo, meu corpo inteiro tenso. Ouço a risada de novo, dessa vez em um som contido de pura satisfação. Respiro rápido e com dificuldade. Mais passos. Arregalo meu olho mas a sala continua um breu. O som se aproxima rápido, uma forte dor, e se afasta, me deixando mais um corte. Novamente, passa me tirando sangue. E de novo. Não aguento essa dor.

– Por favor! Para! - grito, em meio ao choro, para o escuro

Silêncio. Sem passos. Sem risadas. Apenas minha respiraçao sofrida e ofegante e meu suspiros de recuperação após tantas lágrimas.

– O que... você quer? Por que.. por que está fazendo isso..? - pergunto as sombras e mais uma vez sou ignorado

Desabo em choro e as lágrimas se misturam ao sangue dos cortes em meu rosto, arde, mas não tenho forças para me importar. Estou fraco, muito fraco. Então sinto uma pressão na cabeça.. e desmaio.

Acordo em um susto e vejo um homem apavorado, parado bem na minha frente. Era Stevie sentado em minha cama. Ele me olha com uma expressão preocupada e estende a mão para tocar os arranhões no meu rosto, recuo em reação a leve ardência que sinto ao seu toque.

– O que foi que aconteceu? - ele pergunta em um tom baixo e assustado

– Eu... Eu... - não consigo responder

– Espera. Deite-se, eu já volto.

Um tempinho depois, Stevie volta com água, remédios e gaze, e começa a cuidar com calma de um dos cortes do meu braço.

– Então Kevin, sem pressa, o que aconteceu?