P.O.V. Vic

– Bom dia, Domi. – Disse entrando na cozinha. – Papai e a mamãe já foram para o trabalho?

– Já. E o Lou está lá fora voando. Contando que ele não passe do penhasco e vá parar na praia tudo bem.

Olhei pela janela e vi meu irmão passando por ali. Serio, não achei que o Louis voasse tão bem. Apesar de ser uma vassoura para crianças.

Peguei uma xicara de chá e torradas e me sentei na frente de Dominique que estava lendo um livro.

– O que você tem? – Ela perguntou um tempo depois.

– Eu? Nada. Por que?

– Sei lá. Não é normal uma pessoa encarar por tanto tempo uma xicara de chá sem nem se mexer.

– Ah. Eu só estava pensando.

– Você pensa?

– Ha-ha! Que menina engraçada. – Disse e bati nela com o jornal que estava no canto.

– Enfim... pensando em que? Ou em quem?

– Eu... não é nada... é só que... Domi, você acha que eu estou agindo diferente perto do Ted ultimamente?

– Sim. Obvio! Principalmente depois que ele disse que estava namorando!

– O que? É serio isso?

– Claro! Qualquer pessoa com olhos perceberia!

– Como assim qualquer um perceberia?

– Ah, Vi! Acho que todo mundo percebeu que você detestou quando ele disse aquele dia que estava namorando! Menos o tio Rony, mas a tia Hermione diz que ele tem a profundidade emocional de uma colher de chá, então não é nenhuma surpresa.

– Espera! As pessoas estão falando sobre isso?

– Bom, eu estava falando com a mamãe sobre isso outro dia, e ela também acha que você está diferente com ele.

– Só vocês duas?

– O papai também estava na conversa.

– O que?

– Ele estrou na sala quando estávamos conversando. Ah! Tia Gina, tia Hermione, vovó, a senhora Tonks, tia Audrey e tia Angelina também acham.

– Calma ai! Desde quando vocês se juntam pra discutir a minha vida?

– Eu não estava nessa conversa delas, mas a mamãe me contou. Acho que foi naquele dia que elas estavam todas na cozinha d’A Toca enquanto o resto de nós estava lá fora, lembra?

– Sim.

– Mas então é verdade? Você gosta mesmo do Ted?

– Eu... eu não sei.

– Ah...

– Eu não estou tão diferente assim com ele! Nós conversamos normalmente!

– Linguagem corporal, Vi! Você não está normal não!

Não é possível que esteja tão na cara assim!

– E o que você acha?

– Acha o que?

– Você acha que eu gosto dele ou não?

– Você realmente vai deixar eu decidir isso para você?

– Não estou pedindo para você decidir! Só quero uma opinião!

– Você quer uma resposta.

– Eu...

– Mas eu não posso dar essa resposta para você.

O pior é que ela está certa. Tudo bem, pensa, Victorie. Vamos lá. Ok. Eu odiei quando ele contou que está namorando, e por mais que eu tenha achado no começo, é meio obvio que não foi por medo de perdê-lo que eu detestei isso.

Então por qual outro motivo? Só consigo pensar em mais um. Ok, seja racional. Ele é seu amigo, você pode estar só confundindo as coisas, os sentimentos. Mas não acho que estou. E de onde isso veio? Hum, não acho que isso realmente importe. Tudo bem, tudo bem, preciso organizar meus pensamentos.

– Vic... se... bem, se... quando você tiver certeza sobre o que está sentindo você vai falar com ele?

– Não.

– Eu acho que você devia.

– Por quê? Para perder a amizade?

– Não, Vi. Bem... para saber o que acontece.

– Não vou arriscar, Domi.

– Mas ai você nunca vai saber o que iria acontecer.

– Nada iria acontecer se eu falasse com ele. Ele está com a Phoebe. Melhor deixar quieto. “Draco dorminiens nunquan titilandus”.

– Que?

– O brasão de Hogwarts, Dominique! Sabe sua escola? Nunca cutuque um dragão adormecido!

– Ah! Por que você não fala na nossa língua?

– Mas todo mundo sabe o que isso significa!

– Mesmo assim, por que... Ah! Esquece! Isso não importa. A questão é: você tem que decidir logo o que está sentindo.

– Por que se eu não vou fazer nada? Não estou com pressa nenhuma.

– Ótimo então passe o resto da sua vida encarando a xicara de chá esperando o seu medo de decidir passar.

– Cala a boca, Dominique!

– Você sabe que é verdade!

– Eu não estou com medo!

– Está sim e nem adianta mentir.

– Eu já disse que não.

– Quem você quer enganar, Victorie? Só se for você mesma!

– Eu não estou tentando enganar ninguém! E por que você está tão brava com isso?

– Eu não estou brava, só fico irritada que você fique tentando entender o que você já sabe e não quer admitir.

– Achei que você não ia “decidir por mim”.

– Eu não estou decidindo por você. Só disse que está bem obvio.

– Você acabou de dizer que...

– Eu vou contar para a mamãe que vocês estão brigando. – Louis apareceu na cozinha.

– Não estamos brigando. Estamos discutindo. – Domi revirou os olhos.

– Dá na mesma. E Vi, a Naya está batendo na janela. Eu quase derrubei ela com a minha vassoura então vim avisar vocês. Agora vou voltar lá para fora. – O ruivinho disse e saiu correndo pela porta dos fundos.

Peguei a carta da perna de Naya e vi que era de Ted. Ótimo.

Hey, pirralha!

Espero que não tenha esquecido que o treinamento de auror do seu amigo gostosão aqui começa hoje. Então me deseje sorte e espero que eu consiga dessa vez!

Enfim, não foi para isso que eu mandei a Naya(alias acho que podemos dizer que essa coruja não é mais só sua, Vic. Acho que compartilhamos ela.).

Bom, vamos na Florean Fortescue quando eu sair do Ministério no final da tarde? Ás 16h. Acho que está virando uma tradição irmos lá depois do primeiro dia de treinamento. Fizemos isso das outras duas vezes, talvez não tenha dado muita sorte, mas...

Me responda logo, pirralha.

Ted

– De quem é? – Domi perguntou sorrindo por cima da borda da xicara.

– Você sabe. Ele vai começar o treinamento para auror de novo. Me chamou para ir tomar sorvete com ele no fim da tarde quando ele sair do ministério. Você pode ficar com o Lou?

– Tudo bem.

– Obrigada.

Peguei um pedaço de pergaminho, tinta e pena de uma gaveta e respondi.

Ted,

Nem pense em roubar a Naya de mim! Ela é só minha, entendeu?

Mas enfim, tudo bem te encontro às 16h na Florean Fortescue!

E qual seu problema, Ted! Seu padrinho e chefe do departamento de aurores, sabia? Como você pode não entrar? Babaca!

Vic.

P.S.: BOA SORTE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! APOSTO QUE VOCÊ VAI CONSEGUIR DESSA VEZ!

Enrolei o pergaminho e amarrei-o sorrindo na perna de Naya que logo saiu voando pela janela aberta.

– Espero que ele consiga!

– Ele quase conseguiu da ultima vez, não foi? – Perguntou Domi.

– Sim. Chegou bem perto de conseguir, mas não se deu muito bem nos últimos testes.

– Tomara que ele consiga dessa vez.

– É. Ele ficaria tão feliz! E eu também. – Disse sem na realidade perceber que eu falava em voz alta.

– Por quê?

– Por que eu quero que ele consiga o que quer.

– Você gosta dele?

– Claro. Eu amo o Ted.

– Como amigo.

– Não. Com certeza mais que isso.

Calma. O QUE EU DISSE?

– Eu sabia! – Domi gritou. – Sabia! Sabia! Sabia!

– O que você acabou de fazer? – Perguntei meio atordoada.

– Percebi que você estava longe e respondendo sem realmente pensar e achei que essa seria uma grande oportunidade.

– Dominique!

– Ah! Não importa! Agora você já sabe, não é!

– Eu... é! – Sorri mesmo sem querer.

É. Agora eu tenho certeza.