Olhava Nico Di Ângelo tinha mudado de figura. Não conseguia vê-lo sem me lembrar da humilhação que ele tinha me feito passar, e talvez, sem ter que me repreender por acha-lo atraente.

Ele estava vestindo uma jaqueta de couro nova, camiseta da banda Led Zeppelin, uma calça jeans preta e exageradamente rasgada nos joelhos e os típicos coturnos militares. O cabelo caia nos olhos, estes fixos em mim e o sorriso torto  parecia mais sensual e irônico.

Nico apagou a ponta do cigarro em um copo vazio.

Eu estava, com certeza, mais bem vestida do que no dia do racha. Usava uma camisa cinza cobrindo o shorts jeans preto, meia calça preta e cinza que vinha até a metade da coxa e um All Star rabiscado. Meu cabelo continuava desarrumado, mas já tinha desistido dele, e os olhos tinham uma maquiagem escura e carregada.

Entre nós dois tinham vinte doses de whisky.

- Quais serão as apostas? - perguntou Connor agitando o circulo de adolescentes bêbados e chapados, que se formara entre o mini-bar improvisado em que estávamos posicionados, abandonando a festa.

Tentei pensar em algo humilhante o suficiente para Nico.

Se ele achava que toda aquela história clichê de "Você está me prendendo" ou " Você não vai subir na Senhora O'Leary suja de lama. Tire a roupa" sairia de graça ele estava enganado.

Pigarreei.

- Caso eu ganhe você irá tingir o cabelo de rosa-shocking. - anunciei ouvindo os murmúrios animados atrás de mim, a visão de Di Ângelo com o cabelo cor de rosa era encantadora, porém não era o suficiente - E chamará Tyson para sair.

Seguiu-se uma vaia enorme.

Nico apenas sorriu, como se isso o motivasse.

- O.K. Mas seu eu ganhar você fará uma tatuagem. - o sorriso superior dele dobrou de tamanho enquanto ele dizia e me olhava de cima a baixo, provavelmente imaginando onde eu faria uma tatuagem - E nós teremos um encontro.

Não consegui decidir qual das possibilidades assustava mais.

Sempre imaginei milhares de possibilidades de tatuagens para fazer, a Marca Negra do Harry Potter no antebraço, a frase Carpe Diem no pulso, smile da banda Nirvana. Porém todos não passaram de ideias, só de imaginar chegar perto de uma agulha sentia um arrepio, nada sensual, aterrorizador.

E sair com Nico Di Ângelo? Não imaginava o porque ele iria querer sair comigo, quer dizer, se em um encontro por acaso nós tínhamos acabado fugindo da polícia, onde ele me levaria em um encontro casual? Em uma orgia?

Meu bom senso perdeu para a imagem de Nico chamando Tyson para sair com o cabelo completamente rosa fluorescente.

- Alguma exigência, pessoal? - Travis perguntou, surgindo ao lado do irmão.

Pensei.

- Você tem que manter o cabelo rosa por mais de um mês, Di Ângelo. E não pode contar para o pobre do Tyson que é aposta, ou você aparece no encontro ou dá um bolo nele. Isso não me interessa.

Já que era para apostar eu queria que valesse a pena.

- Isso se você ganhar, o que não vai acontecer. - disse tirando o cabelo do rosto despreocupado - Não tenho exigências, a não ser alertar que nem adianta tentar esses truquezinhos para não cumprir a aposta, Grace.

Suspirei.

- Fechado.

Nós demos as mãos rapidamente.

- A aposta é bem simples. - começou Connor fazendo uma breve explicação - São vinte doses de Whisky, dez para cada um, quem beber as suas dez doses primeiro vence. E começa depois que a Rachel terminar a frase: Eu já lambi o pênis do Connor.

- Não olhe para mim. Não vou dizer uma babaquice dessas - disse Rachel surgindo entre a multidão bebendo uma caipirinha de cereja pelo canudo, sensualmente.

Connor fez cara de decepção.

- Começa no valendo mesmo. Prontos?

Encarei os dez copos de whisky na minha frente e desejei não ter bebido tanto. Tinha tomado umas três garrafas de Heineken e usado uma balinha, o que provavelmente foi o que me levou a topar participar da aposta maluca.

Assenti a pergunta orando em pensamento para ganhar.

Nico bocejou e focou os olhos negros em mim.

- Isso é pela minha jaqueta, Grace. - disse.

Connor e Travis começaram a contagem. Três. Dois.Um.

- Eu já lambi o pênis do Connor! - Rachel gritou entre gargalhadas e lambidas na caipirinha de cerveja.

Levei alguns minutos para entender que isso era o ponta pé inicial para eu começar a devorar o Whisky.

.

.

.

Comecei a beber as primeiras doses em uma golada só. Enquanto Nico deliciava cada uma calmamente, como se ao invés de estar tendo um orgasmo de tabaco, estivesse tendo um orgasmo alcoólico.

Estava no meu quinto copo, enquanto ele estava no segundo. E foi nessa altura da aposta que desejei ter pensado em uma estratégia.

Não aguentava mais beber as doses em uma golada, era como se o álcool houvesse virado pimenta liquida misturada com conhaque, descia queimando a minha garganta. Quando cheguei ao sétimo copo estava começando a sentir náuseas. E Nico parecia mais animado a cada dose, bebendo mais rápido e batendo o copo com força no balcão.

Droga.

Estava na oitava dose quando Nico me alcançou.

Ele virou o nono copo olhando para os dois que faltavam para mim e sorriu em desafio, variando o olhar entre mim e a porcaria do copo, não como encorajamento, mas como pressão psicológica.

Forcei a dose número nove e tive que me segurar para não cuspir todo o Whisky, me obrigando a engolir. Inútil. Di Ângelo já tinha bebido a última dose, soltado um gemido de satisfação e batido o copo com força sobre o balcão.

- Não ... - sussurrei.

Ele sorriu balançando o chaveiro de Angry Birds. Notei que não era o preto que ele usava na Senhora O'Leary e sim um vermelho.

- Vamos? - perguntou se levantando despreocupado.

Do que ele estava falando?

Fiquei espantada por ele ainda não ter soltado nenhum comentário por ter ganhado.

- Vamos onde? - perguntei confusa e sentindo minha cabeça pesar por causa da bebida.

Onde quer que fosse onde, eu não estaria em condições de dirigir e não sabia como Nico poderia estar. Tinha a sensação de que tudo o que tinha bebido fosse quicar no estomago e voltar trazendo a biles juntos.

Di Ângelo deixou o sorriso torto e sensual fluir.

- Onde mais? - fez a pergunta retórica e proposital antes de responder - Vamos providenciar a sua tatuagem, Grace.