Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 10
The Sudden Rain


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem se demorei :p Boa leitura ^~^



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POV Kramisha

Frágil, pequena, devastada. Eu nunca tinha usado aquelas palavras para descrever Lily, mas naquele momento elas pareciam perfeitas. Ela encarava o chão entre meus pés, com lágrimas silenciosas descendo por seu rosto.

– Ei, Lily. – Ela não me encarou. Segurei a barra da minha camisa, nervosamente. Nunca achei que entregar uma carta fosse tão horrível. – Eu...

– Você o que? Poderia fingir que essa carta não existia? Isso realmente teria sido bom, mas agora eu tenho que ler essa droga de despedida. – A mão dela tinha se fechado sobre a palheta. Imaginei o acessório se reduzindo a vários pedaços sob sua força. – Some daqui. SOME!

– Do que você tem medo? – Senti meus olhos queimarem, soltei a camisa. – A culpa não é minha, Lily. Não fui eu quem a matei.

Deixei a ruiva no meio do pátio, sozinha. A chuva que caía estava forte, me encharcando em poucos segundos. Percebi porque meus olhos estavam ardendo quando comecei a chorar.

Me abracei, tentando parar de tremer, mas a chuva parecia entrar nos meus ossos. O frio me fazia tremer ainda mais. Eu tinha saído da escola, caminhando pelas ruas.

Minha casa parecia tão longe. De carro eu gastava poucos minutos, mas a pé me parecia uma eternidade. Me sentei no meio fio depois de dois quarteirões.

As minhas lágrimas se misturavam com os pingos da chuva, mas eu ainda as sentia escorrendo por meu rosto. Coloquei meu rosto nas minhas mãos, soluçando.

– Kramisha. – Ergui a cabeça. Derek estava completamente encharcado, se sentando ao meu lado na calçada. – O que há com você?

– Só você pode sair na chuva? – Respondi, tentando secar meu rosto com as costas da mão, sorrindo. Ele sorriu de volta e respondeu.

– Só saí na chuva para vir atrás de você. Nem minha mochila eu não trouxe. – O sorriso se foi. – É sério, o que houve?

– Lily. Ela não reagiu muito bem à carta. Me disse que eu devia ter fingido que a carta não existia e a deixado em paz.

– Vai ficar tudo bem. – Ele suspirou. – Bem, não “tudo bem”, mas as coisas vão melhorar.

– Assim espero. – Pisquei mais uma vez e me levantei. – Vem, vamos voltar para a escola.

– Atrás de você. – Eu já tinha começado a andar na direção da escola quando ele se levantou e me seguiu.

POV Lily

Eu queria me sentir mal por ter gritado com Kramisha, mas não conseguia. Quando peguei a carta e a palheta, eu senti a necessidade de culpá-la.

Suspirei. Tudo que eu podia fazer era esperar que ela entendesse que aquilo tinha sido apenas uma reação. Ela sabia que eu explodia constantemente. Talvez me entendesse.

No entanto, lá estava. A carta na minha mão, intacta, com meu nome escrito numa letra delicada no envelope. Respirei fundo e abri o envelope, puxando a folha dobrada de seu interior.

Lily,

Me perdoe por não te ajudar...Eu realmente queria aprender a cantar, mas não consegui. Mas tenho certeza que você pode achar alguém logo, suas músicas são ótimas.

O que me lembra da palheta. Não sei, achei a verde tão bonita. Me lembro que você sempre reclamou que suas palhetas eram frágeis. Não sei se essa é mais resistente, mas me parece.

Lily, duvido que você queira ler muito mais, então vou encurtar um pouco as coisas...Eu sei que você costuma explodir, mas pare para pensar um pouco. Um dia alguém não vai te perdoar e você vai perder muito.

Respire fundo. Pense em uma das suas músicas. E se controle.

Claire

Olhei a palheta de novo. Com certeza era mais resistente que as minhas. E verde era minha cor favorita. Fechei meus olhos, fechando minha mão sobre o acessório de novo.

Claire e eu não éramos bem amigas. Só nos víamos nas aulas. Foi assim que nos conhecemos.

Eu sempre passava algum tempo depois das aulas na sala, tocando a guitarra ou o violão da sala de música da escola. Eu geralmente ficava compondo músicas.

Era só mais um dia normal, com meu caderno de música aberto numas anotações rabiscadas, sentada sobre uma mesa, com as pernas cruzadas e o violão.

Meu telefone tocou ao meu lado. Olhei de quem era a chamada. Minha mãe. Não nos dávamos muito bem. Minha mãe não aceitava minha carreira musical, ela sempre sonhara com a filha na faculdade de engenharia civil.

Não a atendi. Desliguei o telefone, para que ela não insistisse. Mas, por mais que eu tentasse fingir que nada me incomodara, as lágrimas passaram a descer pelo meu rosto.

Fechei meus olhos e voltei a tocar as cordas. Minha voz saiu entrecortada e áspera, completamente oposta ao ideal para vocais. Mas não me importei. Ninguém deveria ouvir mesmo.

Abri os olhos com o som de uma das mesas caindo. Claire estava abaixada, pegando a cadeira e a colocando de pé novamente, nervosa.

– Me desculpe, eu só... – Assim que ela se levantou, percebi que também estava chorando. – Esqueci meu celular.

Me levantei e peguei um celular prateado em cima de uma das mesas. O levantei, olhando o aparelho.

– Esse aqui? – O joguei para a menina, que na época era só a moreninha calada que gostava de ler.

– É. – Ela quase caiu, mas conseguiu pegar o celular. – Que música é aquela?

– Você não conhece, esqueça. – Voltei para minha mesa, cruzando as pernas e dando as costas para a garota. – Isso é sua brecha para ir embora.

– Ah, tudo bem. – Ela ficou sem jeito, olhando para o chão. Me perguntei se fui muito grossa. – Era uma música bonita.

Ela guardou o celular na mochila antes de se virar para a porta. A chamei quando metade de seu corpo já estava fora da sala.

– Eu a escrevi. Não costumo cantar, minha voz é muito entrecortada. – Dei de ombros. Ela concordou com a cabeça. – Sou Lily.

– Claire. – Ela deu um sorriso de leve. – Você devia procurar alguém para cantar para você. A não ser que suas composições sejam segredo.

– Algumas são. Quem sabe eu não te peça para ser minha vocalista?

– Tenho que ir. Te vejo por aí, Lily. – Ela saiu antes que eu reagisse.

Abri meus olhos novamente. A chuva tinha aumentado. Me sentei no banco, colocando a palheta no bolso da jaqueta. Peguei meu celular no bolso de trás da calça e disquei o número que eu já tinha decorado, de tanto rejeitar as ligações.

Alô?”

– Oi, mãe. – Eu tinha voltado a chorar, olhando fixamente para a frente. – Posso ir para sua casa hoje? Aconteceu uma coisa aqui na escola.

POV Keane

A chuva tinha começado de repente. O sol tinha sumido atrás das nuvens. Carlotta tinha ido embora com uma carona. Ela ainda estava chorando quando saiu da escola.

Me levantei e fui até o pátio pouco depois que ela se foi. Eu sorria, de um jeito bobo. Aquela carta tinha me deixado triste, claro. Ela tinha se chamado de estorvo, como se ninguém gostasse de tê-la por perto.

Mas também tinha deixado claro que, por mais que ela acreditasse que eu era como os pais dela, que não gostava dela, Claire ainda se preocupava comigo.

Coloquei meus fones de ouvido e saí da escola cantarolando. Eu devia sair correndo por causa da chuva, mas quem liga para chuva? Deixei meu celular no bolso de dentro do meu casaco e fui caminhando lentamente pela rua.

Vi Kramisha e Derek sentados, um ao lado do outro, sob a chuva na calçada. Sorri com a imagem. Parecia uma cena de filme de amorzinho. Eu suspeitava que Derek era afim de Claire, mas era divertido imaginá-lo com Kramisha.

Continuei meu caminho, deixando os dois para trás. Passei pela praça me sentindo tranquilo. Claro que o que acontecera fora horrível, mas era passado. E, sinceramente, não me envolvia.

E então parei em frente à casa. A porta agora estava fechada, com aquelas fitas amarelas policias. Mas ainda era a mesma casa. Aquela em que Claire vivia com os pais, em que Claire sempre trazia Derek. Aquela em que eu já fora convidado para entrar.

Por um instante, parecera que a chuva tinha passado e que o sol tinha voltado a brilhar radiante. Eu sabia que era minha imaginação, mas eu senti o calor do momento no meu rosto. Sorri ainda mais.

Voltei ao meu trajeto, com aquela sensação de leveza. Ri. Ri bem alto, no meio da rua. A chuva ainda caia, forte, mas eu não ligava. Nada mais naquele instante importava.

POV Michael

Eu devia ter falado com Derek hoje, tinha me prometido que falaria, mas simplesmente não consegui me aproximar. Imaginei que aquela não era o tipo de coisa que se contava no meio de várias pessoas.

E depois da aula a chuva começou, de repente. Coloquei meu caderno e minha caneta de qualquer jeito na minha mochila e liguei o player do celular.

Aparentemente, eu era o único estudante que carregava um guarda-chuva, em toda a escola. Let Her Go começou a tocar nos meus fones. Dei um sorriso desanimado.

Only know you Love her when you let her go,

And you let her go.

Fiquei no ponto de ônibus em frente a escola com meu guarda-chuva e a letra infeliz daquela música. Sinceramente, era como se o mundo estivesse me dizendo “Isso é tudo culpa sua, Jehra, porque não a disse que a amava.”

Eu realmente queria trocar a música, colocar uma bem alegre e relaxante, mas ao mesmo tempo, queria ouvir Let Her Go. Afinal, não era mentira. Eu só percebi que a amava quando a deixei ir. Um sorriso melancólico se formou em meu rosto quando pensei naquilo.

O ônibus chegou completamente vazio. Me sentei no último banco, abraçando a mochila. Vi Kramisha e Derek pela janela quando o motorista virou à rua. Fechei meus olhos. No dia seguinte. Eu falaria no dia seguinte.

Por mais que eu odiasse dizer que ela não tinha conseguido escrever mais para ele. Eu a amava, mas tinha recebido uma carta completa. Talvez se ela não tivesse se matado, eu teria ficado na friendzone. A ideia me fez rir.

O ônibus continuou seu trajeto. A música mudou, mas não percebi qual era a nova. Na minha mente, outro verso se repetia.

Only know you love her when you let her go,

And you let her go.


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Notas finais do capítulo

Let Her Go, do The Passenger, para quem não conhece : http://www.youtube.com/watch?v=RBumgq5yVrA :3 Um beijo :*