Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 1
Prologue


Notas iniciais do capítulo

Em 1ª pessoa, narrado por Claire Cooper...Mais para frente na fic eu vou a descrevendo ;3 Boa leitura!



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Tudo em mim doía. Só dor. Meus braços, pernas, pescoço...tudo parecia mais pesado. O rastro das lágrimas no meu rosto estava gelado,enquanto eu era açoitada pelo vento da madrugada.

Mas eu merecia aquilo. Aquele frio, aquela dor, aquele cansaço. Era o mínimo que eu podia receber depois de tudo. Mas não por muito tempo. Logo acabaria. Tudo aquilo.

Era difícil atar os nós com os dedos escorregadios, mas por fim consegui. Me afastei da árvore e do poste da praça da cidade. Lá estava minha obra de arte. A macabra obra que nunca me achei capaz de criar.

O corpo dela dependurado pelo pescoço no galho da árvore, mas o sangue que pingava de seu vestido deixava claro que não tinha sido a corda que tirara sua vida. Ele estava preso ao poste por outra corda, também sujo do próprio sangue.

Me afastei mais um pouco, observando-os. Observando minhas mãos, sujas do sangue deles. Das duas pessoas que eu mais amava, e também mais odiava. Que me levaram ao extremo. Meus próprios pais. Ali, na minha frente, mortos. E quem fez aquilo fui eu.

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~Flashback On

Os gritos hoje começaram na cozinha. Não me envolvi, de novo. Nunca me envolvia. Minha mãe berrava sobre seu cansaço, a falta de atenção, de carinho. Como ela podia querer algo que não sabia dar, como carinho?

Meu pai gritava ainda mais alto que ela. Falava da bagunça da casa, de como odiava aquela vida estúpida que tinha. A parte que mais doía, a que ele berrava, dizendo que não sentiria falta de ninguém daquela casa. Que queria que eu e mamãe estivéssemos mortas.

Me encolhi ainda mais no sofá, tentando me esconder de toda aquela fúria. O barulho do rádio de pilha da cozinha se chocando contra a parede e dos gritos de dor da minha mãe me fez ficar arrepiada.

Ele passou por mim na sala, deixando minha mãe aos prantos na cozinha. Doeu ainda mais ouvi-la chorar, mas eu não fui ajudá-la. Não demorou muito e ela saiu da cozinha, parando na minha frente e me fuzilando com o olhar.

— É tudo culpa sua, inútil. – Mordi a parte de dentro da minha bochecha para não chorar. Ela odiava quando eu chorava. Eu chorava ainda mais quando ela me batia com o cinto do meu pai e me mandava parar. – Você faria um grande favor morrendo.

Ela não disse mais nada. Me deixou ali, encolhida no sofá, começando a machucar a parte de dentro da minha bochecha. Fiquei ali, tremendo, até uma nova gritaria começar.

Eu não aguentava mais. Todo dia era sempre aquilo. Gritos, agressões, acusações...E no fim, eu sabia que era tudo culpa minha. Meu pai só estava casado porque minha mãe engravidou. Se eu não tivesse nascido, ou sequer existido, teria sido melhor. Para todos nós.

Cada grito martelava na minha cabeça, junto às palavras da minha mãe. Você faria um grande favor morrendo. Mais do que dor, eu senti também raiva. Claro que era minha culpa ser um empecilho na vida deles, mas os dois também acabaram comigo. Eles também tinham culpa na própria desgraça. Por que não me mataram na primeira chance que tiveram então?

As palavras estavam me fazendo enlouquecer. Não só as deles, as de todos os outros também. Parentes, amigos, colegas...no final, nenhum deles realmente ligava.

Meu pescoço e minhas costas doíam, meus membros pareciam pesados. Mas quem ligava? Ninguém. Ninguém se importava se eu sentia dor ou não. Ninguém ligava para mim. Nem eu ligava mais. Só ligava para uma coisa. Uma não. Duas.

Me forcei a ficar de pé. Eu estava anestesiada. Só um sentimento ainda me acompanhava. Raiva. Eu não suportava mais, aqueles berros, aquela violência, aquele ódio todo por mim.

O resto passou como um borrão. Me lembro dos gritos. Os últimos que eu ouviria. Me lembro das mãos sujas e do cheiro de ferrugem que invadiu o quarto. Da faca caindo aos meus pés.

Me lembro do peso dos corpos deles. Não sei como, mas me arrastei pelos 3 quarteirões que separavam minha casa da praça principal da cidade.Não sei o motivo também. Só peguei corda antes.

~Flashback Off

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Deixei-os na praça, daquele jeito. Eu queria que todos vissem o que eu tinha feito. Que soubessem que eles mereceram. Que eu não suportava mais.

Voltei para casa. O vento gélido da madrugada não só me açoitava, ele também sussurrava nos meus ouvidos o que eu queria esquecer. Os berros, as acusações, as palavras cruéis...

Eu sabia que ele a tinha, só não sabia onde a escondera. Não fechei a porta da casa. Não me importava se alguém me visse. Nada mais me importava.

O sentimento de dor voltou. Comecei a tremer, soluçando. Eu não queria mais nada. Só acabar logo com aquilo. De uma só vez. O que eu tinha feito?

Abri cada gaveta, cada porta, cada armário daquela casa. O sol começava a raiar agora. O brilho rosado começava a entrar pelas janelas fechadas. O vento que passava pela porta aberta ainda sussurrava as palavras maldosas para mim.

Era como se uma guerra estivesse acontecendo na minha mente. Uma guerra entre a dor e a raiva. E os dois lados da guerra estavam me deixando louca.

Abri a última gaveta. Lá estava. Eu deveria ter trocado de roupa, arrumado minha mochila, deveria esperá-lo do lado de fora da casa, para irmos juntos para a aula.

Nada disso aconteceria. Não mais. Estava carregada. Pronta. O relógio sobre o criado mudo da minha mãe piscava, indicando que já eram 7 da manhã.

A porta estava aberta. Ouvi as tábuas do chão rangendo a medida que os passos se aproximavam do quarto. Me levantei devagar, apertando-a ainda mais em minhas mãos.

A expressão dele era uma mistura de horror e desespero. Ele ergueu o olhar do sangue no chão e encontrou meu olhar. Sussurrei para ele, começando a erguer a arma até minha cabeça.

— Tem uma caixa embaixo da minha cama. – Minha voz tremia. Ele tremia também. Deu um passo na minha direção, erguendo a mão.

— Larga isso, Claire. – Ele queria que eu entregasse a arma para ele. Mas ele não entendia. Não depois daquilo tudo.

Me lembro do rosto horrorizado dele. O último som que ouvi foi o do tiro. E minha tão sonhada paz chegou. Sem brigas, sem falsidade, sem raiva, sem dor. Só o escuro e o silêncio.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Confuso? Como é só o prólogo não é muito esclarecedor, mas mais pra frente as coisas vão se explicando ^~^ Bjs