O nome dela ecoa na minha mente, a imagem do seu rosto está na minha mente, eu vejo seus olhos com medo. Ao meu redor a Katniss está indo para o palco, sua irmã a agarra pela cintura, o amigo dela o tal do Gale Hawthorne, pega a Prim e a leva para a mãe, e Katniss continua indo para o palco, ao chegar lá Effie alega que talvez ela se voluntariar não seja correto, mas o prefeito diz para deixar, e então Effie pergunta o nome dela, e diz que aposta que ela é irmã da sorteada.

Mas para mim parece que o tempo parou e que nada além dos meus pensamentos estão acontecendo, que eu estou sonhando de novo, que eu nem sai da cama, mas sei que não é isso, que é verdade, e eu só vou me dar conta desses detalhes mais tarde.

Eu comparo meus sonhos com o que está acontecendo, meu pesadelo dessa noite realmente aconteceu, e eu não tenho mais tempo para falar com ela, eu devia ter chamado ela hoje de manhã, mas eu fiquei quieto, não fui atrás de tomar coragem e ir falar com ela, agora ela vai para os jogos e a chance de ela ganhar não são tão favoráveis.

Eu não acredito que eu irei perder o meu amor, sem ao menos ter me declarado, já tinha admitido o fato de viver vendo ela com outro, mas não o fato de ver ela morrer e sem saber o que eu sinto por ela. Meu coração acelera e eu tenho medo de ter um treco aqui no meio, mas uma coisa, uma simples coisa me tira do meu devaneio, era a única coisa que poderia acontecer e me tirar dos meus pensamentos, e agora sim eu não acredito mais em sorte.

Sou tirado do meu devaneio, quando meu nome é chamado na colheita, todos estão me olhando e esperando para que eu suba ao palco, Effie até pergunta se há voluntários, mas eu sei que nem meu irmão consegue ser corajoso a esse ponto.

É agora eu to sem saída, a garota que eu amo vai para os jogos e eu vou junto, nunca consegui revelar meu amor por ela, e acho que agora é que isso nunca vai acontecer. Cerro os punhos para não tremer, enquanto saio do meu lugar.

Eu vou para o palco, subo, Effie diz para todos darem uma salva de palmas aos tributos desse ano, ninguém se manifesta, e ela diz para apertamos as mãos, olho nos olhos dela e vejo um pouco de medo, mas ao mesmo tempo determinação, e assim é o meu primeiro toque com ela, um aperto de mãos antes de ir para um jogo onde minha missão é matá-la e vice-versa. É com certeza eu não tenho sorte em nada, já comecei perdendo tudo que eu poderia ter.

O hino toca e tanto a Katniss, quanto eu ficamos apenas olhando para o nosso distrito, assim que termina, dois pacificadores pegam meu braço e o da Katniss e nos levam para dentro do prédio da justiça, lá cada um de nós é colocado em uma sala, receberemos algumas visitas, antes de partirmos para a Capital.

Enquanto estou pensando no que farei, meus irmãos e minha mãe entram na sala, meus irmãos me abraçam e tentam me dizer palavras de incentivo, mas minha mãe consegue me colocar mais para baixo, ela apenas diz:

– É esse ano o distrito tem uma chance de ganhar os jogos, ela é uma guerreira.

Sim minha mãe não fala de mim, eu até concordo com ela, a chance da Katniss vencer é maior que a minha, mas ela é minha mãe devia tentar me animar ou apenas não dizer nada, mas ela tem que me lembrar da triste verdade.

Dá o tempo que é determinado e minha família sai e eu olho pela janela e sinto meus olhos cheio de água, não sei o que farei, é ai que recebo mais uma visita, é a Delly, minha amiga de infância, ela veio apenas me desejar boa sorte, e dizer que está torcendo por mim, ela me dá um abraço e sai, ao que ela sai eu começo a lacrimejar, tento me segurar, não posso me comportar assim, tenho que pensar em algo.

Mas assim que penso isso entra meu pai, e eu já sei o porquê dele ficar por último, meu pai me da um abraço e eu não aguento mais, eu solto as lágrimas que tanto insistiam em ficar presas.

Digo para o meu pai que não sei o que eu farei, não quero matá-la, mas não quero vê-la morrer. Peço a ele que cuide da irmã dela, que sempre nos vende o queijo da cabra, e que sempre se mostrou uma menina boa, que apenas não tem condições. Ele me promete dar um jeito, já que minha mãe não é muito fã da família Everdeen, mas que não as deixará na mão.

Meu pai sai, estou com os olhos vermelhos, ainda caindo algumas lágrimas, dois pacificadores chegam para me levar para um carro que nos levará até a estação de trem. Effie vai falando o caminho todo, eu apenas vi de canto de olho que a Katniss não chorou, é ótimo, ela vai representar o tributo forte e eu o chorão, mas não to nem ai.

A dor e a raiva que sinto por ir para esses jogos com ela ao meu lado, não poder me declarar e ainda ser uma peça do jogo da Capital é tão grande que nem percebo o caminho feito, chegamos rápido a estação, vejo muitos telões com nossas imagens, e uma galera ali por perto.

Após alguns minutos na frente das câmeras o embarque no trem nos é permitido, entramos e o trem começa a andar, ele vai muito rápido no começo e me desequilibro, mas logo acostumo.

Effie nos mostra o trem, cada um de nós tem um quarto que é grande, com um banheiro todo diferente. Ela diz que posso ficar ali e tomar um banho, que só tenho que ir para lá na hora de comer. Eu decido tomar uma ducha fria, me atrapalho nos botões, mas consigo e fico um tempo embaixo da água absorvendo tudo o que aconteceu na última hora.

Assim que termino abro uma gaveta e encontro algumas roupas, pego uma camiseta simples e uma calça e visto. Deito na cama para ver se minha mente descansa, mas não obtenho sucesso, então decido andar pelo trem. Vou em direção ao vagão que eu lembro ser o do restaurante. Ao chegar lá eu me deparo com o Haymitch, ele está bêbado e não fala coisa com coisa, dou um oi e ele me responde apenas com uma frase:

– To de olho garoto, já to te entendendo, eu sei seu segredo. Agora vou dormir.

Dito isso, me deixa sozinho, o que ele quis dizer com a frase de que sabe meu segredo? Que segredo ele acha que eu tenho? Sento em uma cadeira e fico pensando nisso, passa um tempo e Effie e Katniss chegam, e Effie pergunta:

– Onde está o Haymitch?

– Foi tirar uma soneca, pelo que me falou quando cruzei com ele. – Respondo para ela.

Effie solta um suspiro, e diz que o dia foi cheio, não sei se é alívio por não ter Haymitch aqui ou realmente ela está cansada. Assim que ela e a Katniss se sentam, a comida começa a ser servida, vindo em partes. Durante a refeição Effie falava que sempre iria vir mais coisas para comermos, que era para guardarmos espaço. Até que ela disse:

– Vocês dois pelo menos têm modos ao comer, os últimos dois comeram tudo com as mãos. – Ao que ela termina de falar isso, não sei se a Katniss se irritou, ou o que pensou, ela começou então a comer com a mão o resto da comida e limpou as mãos na toalha e Effie só franze o lábio de irritação, e eu seguro para não dar risada, pois admito foi engraçado.

Mas o que foi guardado para o final me faz sentir falta de casa, a sobremesa foi um bolo de chocolate, estava muito bom, mas me fez sentir falta da padaria, do meu pai e dos meus irmãos. Seguro um pouco a respiração para não chorar, coloco um meio sorriso no rosto e como, acompanhando a Effie e a Katniss.

Assim que tudo acaba, eu percebo que estou cheio, comi mais do que devia, me seguro para não passar mal, vejo pelo canto de olho que a Katniss me deu uma olhada e vejo que ela também está cheia. Com isso Effie nos leva para outro compartimento do trem para que possamos ver a reprise da colheita.

Assim distrito após distrito os tributos são apresentados, e nós vamos vendo quem são nossos companheiros na arena, desde os que se voluntariaram por vontade própria até os nomes tirados, e o distrito 12 onde Katniss se voluntaria no lugar da irmã e o meu nome é tirado.

Ao que termina o programa, Effie que se concentrou em mexer no cabelo, e apenas exclama:

– O mentor de vocês tem muito o que aprender para se apresentar na frente das câmeras.

Eu não me aguento e acabo rindo, algo inesperado para o dia de hoje, mas ao lembrar da cena e saber como Haymitch está eu acabo rindo, elas me olham tipo o que aconteceu e eu apenas digo:

– Ele estava bêbado, todo ano ele está bêbado.

– Todo dia ele está bêbado. – Katniss diz e eu posso ver que ela também esconde um sorriso.

– Pois é – Effie diz – Mas é estranho que vocês dois achem isso engraçado, afinal ele é o mentor de vocês, é ele quem aconselha vocês para a arena, é ele quem acha os patrocinadores, que manda as dádivas. Ele é quem está entre a vida e a morte de vocês dois.

É nisso ela tem razão, eu até concordo, mas todos sabem que depois que Haymitch venceu, ele bebe todo dia o dia inteiro, e ninguém tem como ajudá-lo. Nisso ele entra cambaleando no compartimento.

– Perdi a comida? – Pergunta ele com uma voz que ninguém entende, e então faz algo extremamente nojento, ele vomita no carpete e ainda cai por cima.

– Podem rir agora – Effie diz irritada, contorna a poça nojenta e sai do compartimento, deixando eu e a Katniss olhando para nosso mentor em cima do seu próprio vômito.

Por um certo tempo eu e a Katniss só olhamos para a cena, meio pensando no que fazer, meio pensando na nojeira que está ali e em segurar o que comemos no estômago. O cheiro não é nada agradável, então eu troco olhares com a Katniss meio que perguntando o que fazemos.

E numa espécie de conversa muda, apenas por olhares a gente se entende e decidimos levantar o nosso mentor, pegamos em seus braços e o levantamos. Com isso nosso mentor meio que desperta e diz:

– Eu tropecei e cai? E que cheiro ruim é esse? – Ele passa a mão no nariz e espalha seu vômito pelo rosto, isso me embrulha o estômago, mas eu me seguro. E digo para a Katniss:

– Vamos levá-lo para o quarto dele, temos que limpar ele um pouco.

Ela assente e juntos levamos Haymitch para o quarto dele, meio que conduzindo e arrastando afinal ele tava meio desmaiado. Chegando lá vemos que colocá-lo na cama não é uma boa, então colocamos ele na banheira e eu ligo a água, mas ele nem percebe.

Olho para a Katniss e posso perceber o desconforto nos olhos dela, e sei que não deve ser agradável então apenas digo:

– Pode ir, eu assumo agora. – Também penso que é a oportunidade de saber sobre o que Haymitch falou mais cedo.

– Tudo bem, se você quiser, eu posso pedir para alguém da Capital vir aqui te ajudar, há muitos deles por aqui, para nos ajudar, cuidar, cozinhar e tudo mais.

– Não precisa, não quero eles aqui, eu me viro, obrigado. – Nem pensar alguém da Capital aqui comigo, já não suporto a idéia de ter que conquistá-los por causa dos jogos.

Ela assente, se vira e vai embora, eu solto um suspiro e começo a ajudar meu mentor, coloco a água no gelado para ver se ele desperta, mas parece que não adianta, no que vou tirar a camiseta melada dele, ele abre o olho e diz:

– Obrigado garoto, mas eu faço isso sozinho, mas já que está aqui, vamos falar sobre seu segredinho.